Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social 2019 Vol. 5 (1): 87-98
Portuguese Journal of
Behavioral and Social Research 2019 Vol. 5 (1): 87-98
Departamento de Investigação & Desenvolvimento • Instituto
Superior Miguel Torga
ARTIGO ORIGINAL
Atitudes face à doação de gâmetas e gestação
de substituição
Attitudes toward gamete donation and surrogacy
Nair Carolino (1)[a]
Ana Galhardo (1,2)
Marina Cunha (1,2)
(1) Instituto Superior Miguel Torga, Portugal
(2) Centro de
Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental,
Portugal
Recebido: 18/02/2019; Revisto: 28/02/2019; Aceite: 28/02/2019.
https://doi.org/10.31211/rpics.2019.5.1.119
Objetivo: A parentalidade constitui-se como um desejo
comum a muitos indivíduos, mas em alguns casos a sua concretização implica o
recurso a técnicas de reprodução medicamente assistida, como a doação de
gâmetas ou a gestação de substituição. Em virtude da escassez de estudos sobre
atitudes face à doação/receção de gâmetas e gestação de substituição, este
estudo pretendeu explorar as atitudes de indivíduos em idade reprodutiva
relativamente a estas técnicas. Métodos: Participaram 551 sujeitos com
idades entre os 18 e os 40 anos, recrutados através de amostragem por bola de
neve. Foi solicitado o preenchimento de um questionário desenvolvido
especificamente para o estudo, disponibilizado numa plataforma online, que avaliou o posicionamento dos
sujeitos face à doação/receção de gâmetas e gestação de substituição. Resultados:
A maioria dos participantes revelou uma atitude positiva perante a
doação/receção de gâmetas. No caso da doação a principal motivação indicada foi
a de ajudar um casal que não pode ter filhos. Relativamente à receção de
gâmetas, os dados sugerem tratar-se de uma circunstância bem aceite pelos
participantes. Já no que se refere à gestação de substituição, ainda que exista
um posicionamento favorável à sua legalização, nem todos os participantes
considerariam essa possibilidade, ainda que aqueles que a equacionariam refiram
que se sentiriam felizes por concretizar o sonho de se tornar mãe/pai. Conclusões:
Na globalidade, a receção/doação de gâmetas é vista de um modo favorável.
Aspetos como realizar o desejo de parentalidade e poder cuidar de uma criança
desde o seu nascimento são relevantes, sugerindo uma menor valorização da
componente genética. Por sua vez a doação de gâmetas parece relacionar-se com
motivações altruístas, podendo ser potenciada com a existência de
aconselhamento. A complexidade da gestação de substituição poderá contribuir
para a existência de uma menor abertura, ainda que os sujeitos estejam de
acordo com a sua legalização em Portugal.
Palavras-Chave: Obtenção de tecidos e órgãos; Gestação
de substituição; Conhecimentos, atitudes e prática em saúde.
Aims: Parenting is a common desire for many individuals, although for some
becoming a parent implies the use of assisted reproductive technologies, such
as gamete donation or gestational surrogacy. Given the paucity of studies
addressing attitudes towards gamete donation/reception and gestational
surrogacy, the current study aimed to explore the attitudes of individuals of
reproductive age concerning these techniques. Methods: The study was
conducted in a sample of 551 subjects, aged between 18 and 40 years old.
Participants were recruited through a snow ball sampling and completed an
online questionnaire specifically developed for the study. The questionnaire
encompassed a set of questions related the subjects' positioning towards gamete
donation/reception and gestational surrogacy. Results: The majority of
participants revealed a positive attitude towards the gamete
donation/reception. The primary motivation for gamete donation was to help a
couple who cannot have children. Concerning gamete reception, data suggest that
this is a well-accepted circumstance by the participants. Regarding gestational
surrogacy, although there is an approving position to its legalization, not all
the participants would consider this possibility. Those who would consider it
stated that they would feel happy to accomplish the dream of becoming a
mother/father. Conclusions: Overall, gamete reception/donation is
well-accepted. Aspects such as achieve parenthood and being able to care for a
child from birth are relevant, suggesting the genetic component to be less
important. In turn, gamete donation seems to be related to altruistic
motivations, and can be enhanced by the existence of counselling. The
gestational surrogacy complexity may contribute to less openness, even if the
subjects agree with its legalization in Portugal.
Keywords: Tissue and organ procurement; Gestational surrogacy; Health knowledge, attitudes,
and practice.
A parentalidade constitui-se como um desejo ou objetivo comum a
muitos indivíduos/casais. Porém, nem todos os sujeitos conseguem alcançar uma
gravidez de forma espontânea tendo, cada vez mais, que recorrer a técnicas
médicas para concretizar o seu desejo (Boivin, Bunting,
Collins, & Nygren, 2007). Na atualidade o adiamento da parentalidade,
principalmente nas mulheres, resulta de múltiplas alterações sociais, entre as
quais uma maior aposta no prosseguimento da formação académica e valorização da
carreira profissional (Lampic, Svanberg, Karlström, & Tydén,
2006; Nouri et al., 2014). Neste sentido, e
maioritariamente no Ocidente, o projeto da parentalidade tende a ser adiado
para idades em que a probabilidade de ocorrência de infertilidade aumenta
exponencialmente (Lampic et al., 2006; Rovei
et al., 2010).
De acordo com o International
Committee for Monitoring Assisted Reproductive Technology, a infertilidade
pode ser definida como uma doença do sistema reprodutivo que se traduz na
incapacidade de alcançar uma gravidez clínica após 12 meses de relações sexuais
desprotegidas ou devido a danos na capacidade do sujeito para se reproduzir,
quer como indivíduo, quer com o seu/sua parceiro/a (Zegers-Hochschild
et al., 2017). Para além da definição médica, alguns autores referem que a
infertilidade pode igualmente ser conceptualizada como uma condição social na
qual os indivíduos ou casais evidenciam dificuldades em alcançar a
parentalidade ou o papel reprodutivo na sociedade (Allan &
Mounce, 2015). Do ponto de vista da prevalência, estima-se que
aproximadamente 9% dos casais em idade reprodutiva apresentem problemas de
fertilidade (Boivin et al., 2007). Especificamente em
Portugal, no estudo Afrodite (Silva-Carvalho &
Santos, 2009) foi encontrada uma prevalência ao longo da vida entre os 9% e
os 10%.
Os avanços tecnológicos no domínio da medicina da reprodução têm
vindo a possibilitar a crescente resolução de problemas de fertilidade. De
notar que o 18.º Relatório da European
Society for Reproductive Medicine and Embriology aponta para uma expansão
gradual, quer no número de tratamentos de reprodução medicamente assistida
realizados na Europa, quer na maior variabilidade das modalidades de
tratamento, conduzindo a um maior contributo para a taxa de natalidade dos diferentes
países (De Geyter et al., 2018). Neste contexto, o
alargamento das técnicas de reprodução medicamente assistida, ao englobar, por
exemplo, o recurso a gâmetas/embriões doados, a gestação de substituição (GS) e
a preservação de gâmetas, veio permitir dar resposta a situações complexas para
as quais anteriormente não existiam opções disponíveis. Com efeito, a
construção de família, a gravidez e a conceção sofreram alterações muito
relevantes neste último século. Exemplo disso é o aumento significativo do
número de nascimentos como resultado da doação de gâmetas, que nos Estados
Unidos da América foi de 30.000 para 60.000 nos últimos 20 anos (Nahata, Stanley, & Quinn, 2017). Na Europa, em 2014, o
número de ciclos de tratamento realizados com ovócitos doados foi de 56 516, sendo
493 destes em Portugal (De Geyter et al., 2018). Face
ao adiamento da parentalidade anteriormente mencionado, o recurso a gâmetas de
dador, mais especificamente de ovócitos, constitui-se como um procedimento
indicado para muitas mulheres que adiam a maternidade. No entanto, continua a
ser uma questão sensível em virtude de desafiar a filiação genética da família,
sendo esta valorizada por muitas sociedades (ESHRE Task Force
on Ethics and Law, 2002). Paralelamente, aspetos relacionados com o
anonimato dos dadores, a revelação do modo de conceção às crianças que resultam
de tratamentos realizados com gâmetas doados e o designado “cross-border reproductive care”
assumem-se como elementos que suscitam discussão (e.g., Pennings,
Ravel, Girard, Domin-Bernhard, & Provoost, 2018; Provoost,
Van Rompuy, & Pennings, 2018; Salama et al., 2018).
Um outro tópico controverso é o da GS, tendo esta diferentes
enquadramentos legais consoante os países, sendo em muitos deles, proibida.
Esta é uma técnica que apresenta múltiplos requisitos que a tornam um processo
complexo ao envolver aspetos médicos, psicológicos e legais (Goldfarb
et al., 2000). A GS é realizada com gâmetas do casal beneficiário ou
gâmetas doados, sendo que os ovócitos não poderão ser doados pela gestante, ou
seja, esta não possui vínculo genético com o embrião. Na generalidade, podem
usar esta técnica, pessoas com ausência de útero ou condição médica relacionada
com este órgão ou outro, que tornem uma gravidez claramente desaconselhada (Dar et al., 2015). No nosso país, até há bem pouco tempo, a GS
não constava do Decreto-Lei n.º 32/2006, artigo
2.º, enquanto técnica de procriação medicamente assistida. Com a Lei n.º 25/2016, de 22 de agosto, artigo 1.º, passou a
ser permitido “o acesso à gestação de
substituição nos casos de ausência de útero, de lesão ou de doença deste órgão
que impeça de forma absoluta e definitiva a gravidez”. Ainda assim, existem
detalhes da lei acerca dos quais se aguarda reformulação face ao Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 225/2018.
Atendendo à escassa informação em Portugal acerca das atitudes da
população em geral relativas ao recurso a técnicas de reprodução medicamente
assistida com gâmetas de dador e à GS, a presente investigação procurou
explorar aspetos relativos às atitudes de indivíduos em idade reprodutiva no
que respeita a estas técnicas. O conhecimento destes elementos poderá
contribuir para o delinear de medidas de sensibilização potenciadoras de
atitudes mais informadas acerca da doação/receção de gâmetas e da gestação de
substituição.
Participantes
Para a participação no estudo foi
estipulado como critério de inclusão os sujeitos encontrarem-se em idade
reprodutiva, definida entre os 18 e os 40 anos de idade. Participaram 551
indivíduos (com idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos, inclusive), de
ambos os sexos. A Tabela 1 apresenta as características
sociodemográficas dos participantes. Da amostra recolhida, 432 (78,4%) sujeitos
são do sexo feminino e 119 (21,6%) do sexo masculino, com uma média de idade de
27,56 anos (DP = 5,05). Considerando
o estado civil, 75,0% (n = 413) dos
sujeitos são solteiros(as), 23,6% (n
= 130) são casados(as) e 1,4% (n = 8)
são divorciados(as)/viúvos(as). A maioria dos participantes não tem filhos
(97,8%). Relativamente às habilitações literárias, 40,1% dos sujeitos detêm o
grau de mestre e 37,4% o grau de licenciatura, apresentando, em média 15,58
anos de escolaridade.
|
Tabela 1 Características Sociodemográficas |
|
||
|
|
Amostra Total |
|
|
|
Sexo |
N |
% |
|
|
Masculino |
119 |
21,6 |
|
|
Feminino |
432 |
78,4 |
|
|
Total |
551 |
100 |
|
|
M (DP) |
Variação |
|
|
|
Idade |
27,56 (5,05) |
18 – 40 |
|
|
Anos de
Escolaridade |
15,58 (2,02) |
9 – 22 |
|
|
Estado
Civil |
N |
% |
|
|
Solteiro/a |
413 |
75,0 |
|
|
Casado/a |
130 |
23,6 |
|
|
Divorciado/a ou Viúvo/a |
8 |
1,4 |
|
|
Total |
551 |
100 |
|
|
Filhos |
N |
% |
|
|
Tem |
12 |
2,2 |
|
|
Não tem |
539 |
97,8 |
|
|
Total |
551 |
100 |
|
|
Habilitações
Académicas |
N |
% |
|
|
Até ao Ensino
Secundário/Equivalente |
92 |
16,6 |
|
|
Licenciatura |
206 |
37,4 |
|
|
Mestrado |
221 |
40,1 |
|
|
Doutoramento |
14 |
2,6 |
|
|
Pós-Graduação |
4 |
0,7 |
|
|
Não responderam |
14 |
2,5 |
|
|
Total |
551 |
100 |
|
Instrumentos
Questionário
Sociodemográfico. Os dados
sociodemográficos recolhidos englobaram questões relativas ao sexo, idade,
estado civil e habilitações académicas. Foi ainda recolhida informação
relativamente ao facto de os participantes terem ou não filhos.
Em virtude da inexistência de instrumentos
específicos para avaliação das atitudes face à doação de gâmetas e à gestação
de substituição, foi desenvolvido um conjunto de questões em função dos
objetivos estipulados para o presente estudo, as quais resultaram da revisão da
literatura e discussão entre os investigadores:
Questionário de Atitudes
face à Doação de Gâmetas. Este questionário
integrou questões sobre a atitude do sujeito perante a possibilidade de um amigo
ser dador/recetor de gâmetas e em que medida esta técnica é um recurso relevante
para as pessoas com infertilidade. Foi também colocada a questão sobre a
hipótese de se tornar dador/recetor de gâmetas e como se sentiria face a essa
possibilidade, bem como recolhida informação relativamente ao facto de o
sujeito ser ou ter sido dador de órgãos ou tecidos. Assim, e a título de
exemplo, foram elaboradas as seguintes questões: “Colocaria a hipótese de alguma vez doar gâmetas
(ovócitos/espermatozoides)?”, “Como
se sentiria face à possibilidade de ter que recorrer a gâmetas de dador(es)?”
[Atitudes face à possibilidade de ter que recorrer a gâmetas de dador(es)], “É ou já foi dador de órgãos ou tecidos (ex.,
sangue, medula, óvulos)?”. Neste
questionário, e consoante o tipo de questão, as respostas são assinaladas num
formato dicotómico (Sim/Não) ou numa escala de 5 pontos (variando de 1 =
Discordo totalmente a 5 = Concordo totalmente ou 1 = Nada verdadeiro para mim a
5 = Totalmente verdadeiro para mim).
Questionário de Atitudes
face à Gestação de Substituição.
O
presente questionário recolheu a opinião dos sujeitos em relação à legalização
da GS, as suas atitudes face a um amigo/a que pretendesse recorrer a esta
técnica ou uma amiga que pretendesse atuar como gestante de substituição e as
atitudes face à possibilidade de os respondentes virem a fazer uso desta
técnica, em caso de necessidade. Neste questionário foram inseridas questões,
como por exemplo: “Concorda com a
legalização da gestação de substituição, também conhecida por maternidade de
substituição ou “barriga de aluguer”, no caso de mulheres com ausência de útero
ou situação médica impeditiva de ocorrência de uma gravidez?” e “Se não conseguisse ter filhos de forma
espontânea e querendo ter um filho biológico, consideraria a hipótese de
recorrer à gestação de substituição?”. Uma vez mais neste questionário, e
consoante o tipo de questão, as respostas são assinaladas num formato
dicotómico (Sim/Não) ou numa escala de 5 pontos (indo de 1 = Discordo totalmente
a 5 = Concordo totalmente; ou 1 = Nada verdadeiro para mim a 5 = Totalmente
verdadeiro para mim).
Procedimentos
Na sequência da elaboração dos instrumentos anteriormente
descritos, procedeu-se à sua disponibilização na plataforma online LimeSurvey, entre fevereiro e
abril de 2015. Trata-se de uma amostra por conveniência, recolhida com recurso
ao método de amostragem bola de neve. Num primeiro momento, foi criada uma mailing-list com os contactos de um
grupo de indivíduos da comunidade, que foram convidados,
via correio eletrónico, a participar no estudo e a colaborar na sua divulgação.
O e-mail enviado disponibilizava
informações acerca do âmbito e objetivos da investigação e o link de acesso à plataforma na qual o
protocolo era preenchido. Após o acesso ao referido link, era solicitado o consentimento informado aos participantes,
sem o qual não poderiam prosseguir. As questões foram assinaladas como de
resposta obrigatória, pelo que não se verificaram valores em falta.
Análise Estatística
A análise estatística dos dados foi
realizada com recurso ao software Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS), versão 20 (IBM SPSS Statistics).
Conduziram-se testes paramétricos em virtude do número de sujeitos da amostra (Marôco, 2010).
Para a descrição da amostra,
realizaram-se análises descritivas, tendo sido obtidas as frequências e
percentagens para as variáveis categóricas, tais como, sexo, estado civil e
habilitações académicas. Para as variáveis contínuas, como a idade, foram
calculadas médias e desvios-padrão. Para a análise das atitudes face à doação
de gâmetas e à gestação de substituição, recorreu-se à análise das frequências
e percentagens das respostas dos participantes. A existência de eventuais
diferenças entre sexos foi analisada com recurso ao teste do Qui-quadrado.
Em todas as análises realizadas
considerou-se o intervalo de confiança de 95%.
Atitudes face à doação de gâmetas
A maioria dos
participantes (70,9%; n = 370) do
estudo não é dador, quer de órgãos, quer de tecidos. No que respeita às
atitudes perante a doação de gâmetas, 52,0% dos indivíduos apoiariam totalmente
um/a amigo/a que quisesse doar gâmetas a outro casal e 53,0% apoiaria
totalmente se um/a amigo/a tencionasse ser recetor de gâmetas. Face à afirmação
“se uma pessoa não pode ter filhos, então
não deveria tê-los”, 82,1% (n = 428) dos indivíduos discordam totalmente e 48,0% (n = 250) concordam totalmente que a
doação de gâmetas é uma boa técnica para ajudar casais que não podem ter filhos
de uma forma espontânea (Tabela 2).
Dos 551
participantes, 318 (61,2%) consideraram a possibilidade de doar gâmetas.
Destes, 63,3% (n = 202) dos
indivíduos sentir-se-iam motivados por ajudar um casal que não pode ter filhos
e 27,3% (n = 87) sentir-se-ia a
contribuir para ajudar o seu semelhante. Ainda em relação às motivações face à
possibilidade de doar gâmetas, 41,7% (n
= 133) dos participantes indicaram não recear vir a ser contactados mais tarde
e 49,5% (n = 158) não se sentiriam
incomodados por existir uma pessoa com a sua informação genética.
Na Tabela 3 são apresentados os resultados relativamente às
atitudes dos participantes face à possibilidade de ter que recorrer a gâmetas
de dador(es). Da amostra total de 551 indivíduos, 520 (94,4%) sujeitos responderam
afirmativamente, sendo que 31,9% (n =
166) consideraram como totalmente verdadeiro para si que se sentiriam felizes
por concretizar o sonho de virem a ser mãe/pai. De acrescentar que 38,1% (n = 198) referiram ser totalmente
verdadeiro para si sentirem-se contentes por cuidar de uma criança desde o
nascimento. Ainda, 28,3% (n = 147)
referem que não se sentiriam nada receosos por virem a sentir que o filho não é
realmente seu.
No que se refere
aos fatores que aumentariam/diminuiriam a probabilidade de doar gâmetas,
verifica-se que para 39,2% (n = 204)
dos indivíduos receber uma compensação financeira não influenciaria a sua
decisão de atuar como dador. Ter aconselhamento (55,0%; n = 286), poder falar com outros dadores (45,0%; n = 234) e ter mais informações sobre o
que é não poder ter filhos (49,6%; n
= 258) revelam-se como os fatores importantes na decisão de doar gâmetas.
Tendo sido
explorada a eventual existência de diferenças entre homens e mulheres
relativamente às várias questões anteriormente abordadas, não foram apuradas
quaisquer diferenças.
Atitudes face à gestação de substituição
Relativamente à GS,
73,5% (n = 405) dos participantes
revelam-se a favor da sua legalização em Portugal. Tanto no sexo masculino,
como no feminino, a maioria dos sujeitos indica ser a favor da legalização da GS,
não tendo sido encontradas diferenças entre os sexos. No entanto, a percentagem
de homens que concorda com a legalização (76,5%; n = 48) é superior à das mulheres (72,7%; n = 154).
No que se refere a
vir a usar esta técnica de reprodução medicamente assistida em caso de
necessidade, 57,9% (n = 300) dos
indivíduos não colocaria essa hipótese. Novamente, não foram encontradas
diferenças entre homens e mulheres relativamente a esta questão.
Analisando de forma
mais específica as atitudes face à GS, a maioria dos participantes indica que
se um/a amigo/a recorresse à GS apoiaria a sua decisão (59,6%; n = 224) e apoiaria uma amiga se esta
viesse a atuar como gestante de substituição (51,2%; n = 189). Na globalidade, a maioria dos sujeitos (51,3%; n = 192) concorda totalmente que a GS é
uma boa forma de ajudar casais com infertilidade.
Relativamente à
possibilidade de recorrer à GS apenas 218, dos 551 participantes, considerariam
essa hipótese. Como se pode observar na Tabela 4, constatou-se que 52,3% (n = 114) concorda totalmente que se
sentiria contente por cuidar de uma criança desde o seu nascimento, 49,1% (n = 107) concorda totalmente que se
sentiria feliz por concretizar o sonho de ser mãe/pai, 45,0% (n = 98) refere que seria totalmente
verdadeiro para si sentir-se feliz pelo facto de poder transmitir os seus
valores familiares e 38,1% (n = 83)
discorda totalmente que se sentiria receoso por poder vir a sentir que o filho
não é realmente seu.
Por último, e no
que concerne a apreensão sobre eventuais problemas que poderiam surgir durante
a gravidez, os respondentes apresentam uma maior dispersão nas diferentes
categorias de resposta, sendo a categoria 3 (ponto médio da escala de resposta)
aquela em que se verifica uma maior frequência (33,5%; n = 73).
Atitudes Face à Possibilidade de Recorrer à Gestação
de Substituição |
|||||
|
1 (Nada verdadeiro para mim) |
2 |
3 |
4 |
5 (Totalmente verdadeiro para mim) |
Feliz por
concretizar o meu sonho de ser mãe/pai |
— |
5 (2,3%) |
35 (16,1%) |
71 (32,6%) |
107 (49,1%) |
Contente por
cuidar de uma criança desde o seu nascimento |
1 (0,5%) |
2 (0,9%) |
24 (11,0%) |
77 (35,3%) |
114 (52,3%) |
Feliz pelo facto
de poder transmitir os meus valores familiares |
3 (1,4%) |
9 (4,1%) |
35 (16,1%) |
73 (33,5%) |
98 (45,0%) |
A certa altura,
iria sentir que o filho não era verdadeiramente meu |
83 (38,1%) |
48 (22,0%) |
51 (23,4%) |
23 (10,6%) |
13 (6,0%) |
Apreensivo/a
sobre eventuais problemas que poderiam surgir durante a gravidez |
19 (8,7%) |
35 (16,1%) |
73 (33,5%) |
63 (28,9%) |
28 (12,8%) |
O presente estudo pretendeu
explorar as atitudes de indivíduos em idade reprodutiva relativamente a
técnicas de reprodução medicamente assistida, especificamente em relação à
doação de gâmetas e à gestação de substituição.
No que respeita às
atitudes face à doação de gâmetas, foi possível verificar que, à semelhança do
estudo de Provoost e colaboradores (2018), a maioria dos participantes revela
uma atitude positiva perante a doação/receção de gâmetas. Ajudar um casal que
não pode ter filhos e sentir-se a contribuir para o seu semelhante são os
principais fatores referenciados como eventuais motivações dos participantes
para virem a doar gâmetas (ovócitos/espermatozoides). Ainda neste sentido,
outros fatores que se apresentam como relevantes para ponderarem vir a atuar
como dadores de gâmetas são ter aconselhamento e dispor da oportunidade de
falar com outros dadores. Atendendo a estes dados, poderá ser de utilidade,
para os centros de reprodução medicamente assistida, nos quais se realiza a
recolha de gâmetas, investir em ações de carácter informativo e disponibilizar
serviços de aconselhamento com vista a um aumento do número de doações. Adicionalmente
sessões de partilha de experiências de dadores, num formato presencial ou por recurso
às tecnologias de informação (e.g., fóruns, websites)
poderão, também, ser promovidas. Uma vez que os tratamentos no âmbito da medicina
da reprodução têm vindo a aumentar na globalidade, mas também no que se refere
a tratamentos realizados com gâmetas de dador (Nahata et al.,
2017), é fundamental que as doações acompanhem este crescimento. No que
concerne à receção de gâmetas, os resultados sugerem tratar-se de uma
circunstância bem aceite pelos participantes. A maioria destes considerou que
se sentiria feliz por concretizar o sonho da parentalidade e por cuidar de uma
criança desde o seu nascimento, ainda que tivesse revelado alguma preocupação
com a possibilidade da criança vir a evidenciar algum problema de saúde de
natureza genética. De acrescentar que os resultados, no que respeita ao receio
de vir a sentir que o filho não era verdadeiramente seu, sugerem uma maior valorização
do vínculo afetivo comparativamente com a componente genética. Com efeito,
apesar de alguma dispersão nas diferentes categorias de respostas, as
percentagens foram mais expressivas nas categorias correspondentes à
inexistência de preocupação com este aspeto. No entanto, é de referir que os
participantes neste estudo não se encontravam numa circunstância efetiva de
recorrer a tratamentos médicos com gâmetas doados. Com efeito, num estudo
realizado com pessoas com um diagnóstico de infertilidade, constatou-se que
estas revelavam uma clara preferência pela parentalidade genética, apresentando
resistência no que respeita ao recurso a gâmetas de dador (Hendriks
et al., 2017). Assim, estudos futuros poderão abordar as atitudes
relativamente à receção de gâmetas em pessoas que possuam indicação para o uso
de gâmetas de dador/a ou pessoas que tenham já beneficiado deste recurso.
Relativamente às
atitudes face à GS, a maioria dos indivíduos é a favor da sua legalização no
nosso país. A este respeito, relembre-se que à altura da recolha dos dados esta
era ainda uma questão pertinente, considerando que o enquadramento legal da
época não permitia a realização desta técnica, havendo apenas propostas de lei
em discussão. Independentemente de um posicionamento favorável em relação à
legalização, na impossibilidade de ter filhos de forma espontânea e querendo
ter um filho biológico, a maioria dos participantes não colocaria a hipótese de
recorrer à GS. Com efeito, apesar de estudos conduzidos noutros países
sugerirem que a GS não compromete o bem-estar, funcionamento conjugal e a
capacidade de parentalidade do casal beneficiário (Gouveia,
Galhardo, Cunha, & Couto, 2017), bem como os indicadores perinatais das
crianças nascidas por recurso a este método serem idênticos aos encontrados
para outras técnicas de reprodução medicamente assistida (fertilização in vitro, injeção intracitoplasmática de
espermatozoide e doação de ovócitos) (Söderström-Anttila
et al., 2016), não existindo diferenças significativas em termos
desenvolvimentais (Golombok, Blake, Casey, Roman, &
Jadva, 2013), a GS continua a gerar controvérsia, em virtude da sua
complexidade. Apesar desta técnica não ser considerada como uma hipótese, em
caso de necessidade, para a maioria dos sujeitos, os participantes que na
impossibilidade de conceber um filho biológico recorreriam a esta técnica
consideraram que se sentiriam felizes por concretizar o seu sonho de se tornar
mãe/pai e que não se sentiriam receosos de vir a sentir que o filho não era realmente
seu. De referir que, apesar das diferenças culturais e do facto da GS não ser
permitida no Japão, num estudo realizado neste país, com 2500 sujeitos da
população geral, com idades compreendidas entre os 20 e os 50 anos, também se
observou uma maior percentagem de sujeitos (40,9%) que eram favoráveis ao uso da
GS, por comparação com 21,8% que discordavam da sua utilização (Yamamoto et al., 2018). Outro dado desta mesma
investigação que vai ao encontro dos resultados obtidos no nosso estudo é o de
as participantes do sexo feminino se revelarem mais conservadoras, ou seja,
menos apoiantes do uso da GS, comparativamente com os participantes do sexo
masculino (Yamamoto et al., 2018).
A presente investigação
apresenta limitações metodológicas que devem ser ponderadas para estudos
posteriores. A elevada escolarização da amostra e o elevado número de
participantes do sexo feminino não viabiliza uma generalização dos resultados
obtidos para a população geral. Para além disso, a inexistência de investigação
em Portugal relativamente às atitudes perante a doação de gâmetas e a GS
impossibilita, de igual forma, a comparação dos resultados obtidos.
Apesar das
limitações acima elencadas, este estudo apresenta importantes contributos para
a área. Reconhecendo que em Portugal estes tópicos não foram alvo de
investigação no âmbito da psicologia, este trabalho revela-se pioneiro por
abordar atitudes dos sujeitos em idade reprodutiva relativamente à doação/receção
de gâmetas e à GS. Adicionalmente, é de referir que o tema abordado se reveste
de atualidade e, neste sentido, poderá ser um contributo relevante para
profissionais da área da fertilidade.
Conclusão
Na generalidade, os
resultados obtidos neste trabalho remetem para a existência de atitudes
favoráveis, de abertura e compreensão, por parte de indivíduos em idade
reprodutiva, relativamente à utilização de gâmetas de dador em caso de
necessidade para a concretização do seu protejo de parentalidade. Por sua vez,
a possibilidade de atuar como dadores/as parece estar mais relacionada com a
existência de aconselhamento e partilha da experiência com outros dadores, do
que com a compensação financeira daí resultante, remetendo para uma motivação
de natureza altruísta. Por último, os participantes evidenciaram uma atitude
aberta e favorável relativamente à inclusão da GS no enquadramento da lei
portuguesa, ainda que tenham evidenciado, por comparação com a doação de
gâmetas, uma maior dispersão nas respostas manifestadas.
Conflito de interesses | Conflict of interest: nenhum | none.
Fontes de financiamento | Funding sources: nenhuma | none.
Contributos | Contributions: NC: Contributo significativo na recolha e
tratamento dos dados, redação do manuscrito e análise estatística. AG: Contributo
significativo no desenvolvimento do desenho metodológico, análise estatística e
redação e revisão do manuscrito. MC: Contributo significativo na revisão
do manuscrito.
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