Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social 2019 Vol. 5 (2): 68-85
Portuguese Journal of
Behavioral and Social Research 2019 Vol. 5 (2): 68-85
Departamento de Investigação & Desenvolvimento • Instituto
Superior Miguel Torga
ARTIGO DE REVISÃO
Pedido de ajuda em vítimas de violência no
namoro: Revisão sistemática
Help seeking in dating violence victims: A systematic review
Inês Pinheiro (1)
Sónia Caridade (2)
(1) Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Fernando
Pessoa, Porto, Portugal
(2) Centro de Investigação em Ciências Sociais e do Comportamento,
Observatório Permanente Violência e Crime, Portugal
Recebido: 12/06/2019; Revisto: 22/07/2019; Aceite: 20/10/2019.
https://doi.org/10.31211/rpics.2019.5.2.124
Objetivo: Este estudo tem como objetivo sistematizar o conhecimento
produzido sobre o pedido de ajuda em adolescentes e jovens adultos que
experienciaram violência no namoro, através da identificação e análise dos
estudos empíricos realizados neste âmbito. Métodos: Para tal adotámos os procedimentos para a realização de
uma revisão sistemática dos estudos centrados nos comportamentos de
pedido de ajuda em vítimas de violência no namoro. Resultados: Foram identificados 18 estudos com
enfoque nos comportamentos de pedido de ajuda por parte dos/as adolescentes e
jovens adultos vítimas de violência no namoro. A grande maioria dos estudos
constatou que as vítimas revelam uma preferência pelo recurso a fontes de
revelação informais, privilegiando os pares. As vítimas de sexo feminino
surgiram como as que demonstraram uma maior tendência para a revelação do abuso
íntimo, surgindo ainda como as expectadoras que prestam mais suporte e apoio às
vítimas. Foram, ainda, identificadas múltiplas barreiras à revelação da
experiência abusiva por parte dos/as participantes (e.g., legitimação da
violência, medo de perder o/a parceiro/a, vergonha e autossuficiência para
resolver a situação). Conclusões: Consideramos que a investigação neste domínio
deverá procurar incluir outras amostras, estudos de continuidade, beneficiando
de uma maior uniformização no tipo de instrumentos usados para efetuar a
recolha de dados.
Palavras-Chave: Adolescentes; Jovens adultos; Pedido de
ajuda; Revisão sistemática; Violência no Namoro.
Objective: This study aims to
systematize the knowledge about seeking help by adolescents and young adults
experiencing dating violence through the identification and analysis of
empirical studies in this field. Method: The procedures for
conducting a systematic review of research on dating violence among adolescents
and young people aged between 12-35, were adopted. Results: We identified 18
studies focusing on the behavior of requests for help from adolescents and
young adults' victims of dating violence. The results show that dating violence
victims expressed their preference for informal sources of disclosure in all
studies, favoring friends. Female victims have shown a clear tendency to report
violence, usually acting as spectators, and offering more help when compared to
men. In this systematic review, it was also possible to identify the main
barriers reported by adolescents and young people in accessing the sources of
disclosure (i.e., legitimacy of violence, fear of losing the partner, shame,
and lack of self-sufficiency to solve the situation). Conclusions: The conducted
research can be applied to other samples, and continuity studies, benefiting
from a uniform selection of the instruments used for data collection. The
instruction of young people about the boundaries between normative and
non-normative behavior in a dating relationship is essential, so that young
people do not legitimize dating violence aggression, and may consequently seek
help.
Keywords: Adolescent; Dating
violence; Young adults; Seeking help; Systematic review.
A violência no namoro tem sido amplamente reconhecida como um
sério problema de saúde pública e social (Centers for Disease Control and
Prevention, 2016; Organização Mundial de Saúde, 2016). Os diversos estudos produzidos no âmbito
internacional (e.g., Hamby & Turner, 2013; Jennings,
Okeem,
Piquero, Sellers, Theobald, & Farrington, 2017;
Straus, 2004) e no contexto português (e.g., Machado,
Caridade, & Martins, 2010; Neves, Cameira,
Machado, Duarte, & Machado, 2016; Santos, Caridade,
& Cardoso, 2019) apontam para indicadores de
prevalência preocupantes e que atestam a necessidade premente de medidas
preventivas e interventivas neste âmbito. Assim, no contexto português, um dos
primeiros estudos conduzidos, e que inquiriu 4.665 jovens (Machado et al., 2010), apurou que um/a em cada quatro jovens já
experienciou pelo menos um episódio de violência no namoro ao longo da vida.
Num outro trabalho (Guerreiro et al., 2017),
envolvendo 2.500 jovens com idades compreendidas entre os 12 e 18 anos de
idade, 7% da amostra admitiu ter sido alvo deste tipo de abuso íntimo, pelo
menos uma vez. No contexto internacional, estima-se que este fenómeno poderá
situar-se entre os 15% e os 80% (Carter-Snell, 2015).
Uma revisão sistemática (Jennings et al., 2017),
envolvendo 169 estudos com jovens entre os 15 e os 30 anos, apurou estimativas
de prevalência mais baixas entre os/as mais jovens (< 10%) comparativamente
com os/as mais velhos/as (entre 20 e 30%), relatando as mulheres elevados
indicadores de vitimação.
A adolescência assinala,
geralmente, o período em que se iniciam as primeiras relações amorosas, sendo
também, e não raras vezes, palco para a manifestação dos primeiros padrões de
violência na intimidade. Os adolescentes podem ser confrontados com situações
relacionais inesperadas, pautadas por comportamentos violentos e outras formas
de coerção, face aos quais poderão ser levados a adotar uma postura de
legitimação, percecionando tais atos como uma manifestação de amor e/ou ciúme
(Caridade & Machado, 2013). Tem sido
igualmente documentado que a violência nas relações de intimidade poderá ter
início na pré-adolescência e prolongar-se até à idade adulta (Caridade, 2011).
Os efeitos e implicações perniciosas da violência no namoro no
funcionamento psicológico, físico e sexual dos adolescentes e jovens adultos
têm sido igualmente documentado por diversos estudos internacionais (e.g., Carter-Snell,
2015; Exner-Cortens, Eckenrode, & Rothman, 2013; Foshee, Reyes, Gottfredson, Chang, &
Ennett, 2013) e alguns nacionais (e.g., Caridade &
Barros, 2018; Santos et al., 2019).
Tem sido defendido que muitas vítimas de violência no namoro têm mais
probabilidades de sofrer sequelas ao nível da saúde física, psicológica e
social (e.g., lesões, abuso de substâncias, depressão, isolamento social,
infeções sexualmente transmissíveis, gravidezes não desejadas e baixo
desempenho escolar) do que jovens que não vivenciam conflitos nos seus
relacionamentos íntimos (Centers for Disease Control and Prevention, 2012; Dixe, Rodrigues, Freire, Rodrigues, Fernandes, &
Dias, 2010). Está documentada relutância dos jovens em
procurar ajuda para a situação de violência de que são alvo (Soares, Lopes,
& Njaine, 2013), devido a diversos fatores (e.g.,
não reconhecimento do comportamento abusivo e da condição de vitimação; o
receio de serem responsabilizados pela experiência abusiva ou de que a
informação não permaneça em segredo; incapacidade dos/as adolescentes em
identificarem os problemas para os quais precisam de ajuda; a ausência de
informação e competências para procurar ajuda; a crença de que os/as
profissionais não lhes poderão proporcionar a ajuda e apoio que necessitam)
(Caridade, Pinheiro, & Dinis, 2019). Essa
relutância tende a acentuar a gravidade desses efeitos, tornando oculto o
problema da violência (Hébert, Van Camp, Lavoie, Blais, & Guerrier, 2015). Por sua vez, tal poderá colocar a vítima num maior
risco de uma nova vitimização e de sofrer os efeitos negativos associados à
violência no namoro, os quais poderão ser minorados a partir do momento em que
os/as jovens/adolescentes encetam o pedido de ajuda (Caridade, 2018). Quando a divulgação ou o pedido de ajuda é
efetivamente levado a cabo, verifica-se que a divulgação informal (e.g., junto
de amigos, familiares, colegas, vizinhos) é priorizada em relação à divulgação
formal (e.g., junto da polícia, instituições de apoio à vítima, professores)
(Sabina & Ho, 2014). A este respeito cabe ainda
referir que o pedido de apoio formal versus
informal tem sido alvo de algum debate. Se, por um lado, se considera que o
pedido de apoio informal proporciona apoio e suporte emocional, não permite,
porém, providenciar a informação necessária, as competências e os recursos
existentes para lidar com esta problemática e eventuais preocupações com a
saúde mental das vítimas (Hedge, Sianko, & McDonell, 2017).
Por outro lado, outros autores (e.g., Whitlock, Wyman, & Moore, 2014) consideram que o pedido de apoio junto de certos
contextos sociais (e.g., escola) incrementa a possibilidade de os/as
adolescentes procurarem os serviços de apoio, minimizando, deste modo, o risco
de suicídio.
A configuração do apoio e suporte social, seja informal ou formal,
revela-se fundamental na gestão e cessação das práticas abusivas em que os/as
adolescentes/jovens se encontram envolvidos/as e nas consequências/efeitos que
possam advir para o seu bem-estar, algo que deverá ser atendido, promovido e potenciado
nas diferentes políticas de prevenção/intervenção que possam emergir (Caridade,
2018).
Face à documentada importância desta matéria, com a presente
revisão sistemática da literatura procurou-se sistematizar o conhecimento
produzido em matéria de pedido de ajuda por parte dos/as adolescentes e jovens
adultos/as que experienciaram algum tipo de violência no âmbito das suas
relações amorosas. De forma mais concreta pretendeu-se identificar as
principais fontes de revelação eleitas pelos/as jovens para denunciar a sua
experiência abusiva e a sua eficácia percebida, bem como as barreiras inerentes
ao pedido de ajuda.
Procedimentos de pesquisa
A pesquisa para efeitos da revisão
sistemática foi conduzida nas seguintes bases de dados eletrónicas: Complementary Index, B-on, Medline, Sage
Journal, Scopus e Social Science
Citation Index, entre fevereiro e abril de 2018. Foram identificadas as
seguintes palavras-chave usadas nas combinações e/ou nas línguas portuguesa (Violência no Namoro, Jovens, Pedido de Ajuda
e Vítimas);
inglesa (Dating violence, Youth’s; Help-seeking and Victims); e
espanhola (Violencia de pareja, Jóvenes, Pedido de ayuda y Víctimas).
Não foi colocada qualquer restrição em termos de períodos de publicação. Também
foi realizada uma pesquisa no Google, utilizando a mesma combinação de
palavras-chave nas diferentes línguas, a fim de integrar outros trabalhos de
relevância sobre o assunto e publicações encontradas através do método bola de
neve, que não apareceram nas bases de dados citadas anteriormente.
Critérios de inclusão e exclusão. Os critérios de
inclusão definidos para a integração dos estudos na presente revisão
sistemática foram: i) os estudos que incluíam nas suas amostras participantes
que admitiram estar ou ter estado envolvidos em situações de violência no
namoro; ii) estudos que utilizassem as seguintes metodologias: qualitativas,
quantitativas ou mistas e iii) estudos centrados nos comportamentos efetivos de
pedidos de ajuda formal e/ou informal. Neste sentido, os critérios de exclusão
foram: i) artigos de revisão simples, estruturada ou sistemática da literatura;
ii) estudos que explorassem apenas intenções ou presunções de pedido de ajuda e
iii) estudos que contemplassem relacionamentos fora do contexto de namoro
(e.g., casamento).
Seleção dos artigos. A pesquisa permitiu identificar um
total de 248 artigos para análise. A primeira fase da análise consistiu na revisão
do título, onde foram excluídos 73 artigos por não terem relação com o tema,
surgirem em duplicado e estudos que apenas estavam focados nos agressores de
violência no namoro. Os estudos revistos positivamente foram tidos em conta
segundo a informação do seu resumo, na qual 150 artigos foram excluídos por não
se tratarem de estudos empíricos, por serem estudos focados na violência nas
relações familiares e/ou conjugais e, por último, pela amostra do estudo não
ser constituída por vítimas de violência no namoro. Feita esta análise, apenas
26 artigos preencheram os critérios de seleção para revisão numa segunda fase (Figura 1).
Mediante uma leitura integral dos 26 artigos,
chegou-se ao número final de 15 estudos que cumpriam todos os critérios
pretendidos. Numa terceira fase, procedeu-se à análise das referências
bibliográficas dos materiais selecionados, através da técnica de bola de neve, e identificaram-se 19
estudos relevantes para o tema, no entanto apenas 3 se revelaram passíveis de
serem integrados nesta revisão sistemática. Neste sentido, chegou-se ao número
de 18 artigos que preencheram todos os critérios de inclusão definidos
anteriormente. A Figura 1
ilustra como se desenvolveu todo o processo da seleção dos artigos nas duas
fases da presente revisão sistemática da literatura.
De modo a autenticar os estudos que
devem ou não ser incluídos (de acordo com os critérios inicialmente definidos)
na revisão sistemática, foi utilizada uma versão traduzida da checklist de qualidade The PRISMA Statement (Moher, Liberati,
Tetzlaff, Altman, & PRISMA Group,
2009). Esta checklist
tem como objetivo apurar a cientificidade dos artigos e é constituída por treze
tópicos de análise (título, resumo, introdução (2), métodos (6), resultados (2)
e conclusão). A classificação de cada artigo processou-se através de uma escala
de Likert de zero a dois, onde: 0 – “Não reportado/Não especificado” (o
artigo em análise não apresenta informações acerca do item em questão); 1 – “Pouco
claro/ Relatado” (o item foi mencionado, mas não pormenorizado); 2 – “Adequadamente
feito” (o item em análise foi mencionado e explicado ao longo do artigo). A
avaliação dos artigos foi imprescindível para que nesta revisão sistemática
fossem apenas incluídos os estudos de qualidade respeitantes ao tema em estudo.
Posteriormente, e para analisar o acordo interavaliadores, procedeu-se ao
cálculo do coeficiente capa de Cohen, através do software de análise estatística Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS). Após o cálculo deste coeficiente,
verificou-se que o valor obtido foi de 0,75 (p = 0,05), o que representa
um grau de concordância moderado/elevado entre as avaliadoras, assim como um
nível moderado de confiabilidade.
Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos artigos para a revisão sistemática.
Uma vez que desde o momento da
identificação de artigos ao momento de extração dos mesmos decorreu um espaço
temporal considerável (quatro meses), decidiu-se realizar um follow-up de identificação de novos
artigos, tendo por base todos os procedimentos de pesquisa anteriormente
descritos. Através deste follow-up identificaram-se
seis artigos, no entanto apenas um foi integrado na revisão sistemática por
apenas este corresponder aos critérios de inclusão definidos.
Os dados dos 19
artigos foram extraídos e constam na Tabela 1, a qual apresenta informação
detalhada sobre as principais características dos estudos, designadamente:
características da amostra, instrumentos, e os principais resultados de cada um
dos estudos de pesquisa em termos dos comportamentos relativos ao pedido de
ajuda (diferenças de sexo, fontes utilizadas e ainda resposta percebida) e
barreiras ao pedido de ajuda.
|
Tabela
1 Síntese dos Estudos Considerados na Revisão
Sistemática |
|
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||||||||
|
Objetivos do estudo/País |
Principais resultados |
|
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|||||||
|
N, idade, sexo: M = Mulheres H = Homens |
Medidas |
Comportamentos de pedido de
ajuda |
Barreiras à revelação |
|
|
|||||
|
% |
Diferenças H e M |
Fontes |
Resposta percebida |
|
|
|||||
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Mahlstedt & Keeny, 1993 |
Comportamentos de pedido de ajuda E.U.A. |
130 M 18 - 31 anos |
Entrevista elaborada para o efeito pelos autores |
92,0 |
— |
80,0 % amigos 47,0% irmãs 43,0% irmãs 25,0% profissionais, professores e psicólogos 9,0% polícias |
Professores, amigos e mães percebidos como os mais úteis e os
pais como menos úteis. Mães e os pais pressionam para a vítima terminar a relação, com
20,0% e 18,0% respetivamente |
Invasão de privacidade Medo de perder o parceiro |
|
|
|
Comportamentos de pedido de
ajuda e eficácia da atuação das fontes formais de apoio E.U.A. |
100 M 26 - 35 anos |
Questionário comportamentos
de pedido de ajuda e a sua eficácia |
78,0 |
— |
— |
57,0% classificaram casas
abrigo, a atuação das polícias e psicólogos como pouco eficazes/competentes |
Ineficiência dos serviços
de apoio à vítima |
|
|
|
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Comportamentos de pedido de ajuda Nova Zelândia |
373 alunos 16 - 20 anos 53,6% M 46,4% H |
Questionário de comportamentos de ajuda |
— |
Vítimas violência sexual (46,8% H e 46,1% M) ou violência física
(55,2% M e 45,5% H) não revelaram |
— |
Pedido de ajuda percebido pelos participantes como sendo benéfico |
Medo de represálias e retaliação |
|
|
|
|
Watson, Cascardi,
Avery-Leaf, & O’Leary, 2001 |
Comportamentos de pedido de ajuda E.U.A. |
476 alunos do ensino médio Média = 16,63 anos 44,0% M e 56,0% H |
Listas de verificação de resposta da vitimização com 5 categorias |
— |
Mulheres (57,0%) > Homens (27,0%); |
Apoio informal (43,0%) > apoio formal (8,0%) |
— |
— |
|
|
|
Amar & Gennaro, 2005 |
Comportamentos de pedido de ajuda E.U.A. |
863 M estudantes universitárias 18 - 25 anos |
Abuse Assessment Screen |
40,0 |
— |
Amigos (50,0%) Familiares (25,0%) |
— |
— |
|
|
|
Comportamentos de pedido de ajuda e fontes utilizadas no pedido
de ajuda E.U.A. |
225 vítimas adolescentes 14 - 16 anos 72,0% M e 28,0% H |
Questionários elaborados para o efeito do estudo |
50,0 |
Homens (63,0%) > Mulheres (34,0%) apoio formal |
Apoio informal (93,0%) > apoio formal (40,0%) Amigos (89,0%) |
— |
— |
|
|
|
|
Black, Tolman,
Callahan, Saunders, & Weisz, 2008 |
Comportamentos de pedido de ajuda E.U.A. |
57 alunos do 9.º ao 12.º anos 56,0% M; 44,0% H |
Questionário “Response
Options for Survey Questions” elaborado para o efeito do estudo |
67,0 |
Mulheres (78,1%)> Homens (52,0%) |
— |
— |
Desvalorização da violência (75,0%) e naturalização do ciúme como
prova de amor |
|
|
|
Próspero &
Vohra-Gupta, 2008 |
Comportamentos de pedido de ajuda e fontes utilizadas no pedido
de ajuda E.U.A. |
200 estudantes universitários 18 - 25 anos 69,0% M; 31,0% H |
Questionário elaborado para o efeito do estudo |
42,0 |
— |
Amigos e familiares Serviços de saúde mental (16,0%) |
— |
Vergonha Despesa financeira Ineficácia do sistema Receio de estigmatização |
|
|
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Edwards, Dardis, & Gidycz, 2011 |
Comportamentos de pedido de ajuda E.U.A. |
107 M estudantes universitárias M = 19 anos |
Checklist Três questões abertas elaboradas para o efeito do estudo |
75,0 |
73,0% M |
Amigas |
Amigos como os úteis após a divulgação (56,0%) Amigos como igualmente vistos como os menos úteis de apoio/ajuda
(49,0%) |
Desvalorização da violência (80,0%) |
|
|
|
Comportamentos de pedido de ajuda e barreiras inerentes ao pedido
de ajuda Taiwan |
10 M 20 e 28 anos |
Entrevista semiestruturada |
4,0 |
— |
— |
Inexistência
de apoio de amigos e família |
Não importunar os outros Receio
de revitimização da família Desconhecimento dos serviços disponíveis |
|
|
|
|
Comportamentos de pedido de
ajuda Nigéria |
362 estudantes 18- 35 anos 51,7% M; 48,3%
H |
Questionário elaborado para
o efeito do estudo |
7,4 93,7 não divulgou |
— |
— |
— |
Gravidade da violência (5,3%) |
|
|
|
|
Fry, Messinger, Rickert, O’Connor, Palmetto, Lessel,
& Davidson, 2014 |
Comportamentos de pedido de
ajuda e identificar barreiras ao pedido de ajuda E.U.A. |
1.312 alunos do secundário 14 - 17 anos 56,0% M; 44,0% H |
Questionários
comportamentos de ajuda elaborados para o efeito do estudo |
61,0 |
— |
Apoio informal, junto dos
amigos (72,0%) |
Abandonar o/a agressor/a
sugerido por 80.1% das fontes |
— |
|
|
|
Sabina,
Cuevas, & Rodriguez, 2014 |
Comportamentos de pedido de
ajuda E.U.A. |
1.525 adolescentes 12 - 18 anos 50,7% M; 49,3%
H |
Questionário modificado
utilizado no estudo Sexual Assault between Latinas (SALAS) |
60,5 |
Raparigas (18,4 vezes) >
Rapazes, de pedir ajuda formal |
Apoio informal (60,7%) >
apoio formal (15,6%) |
— |
Vergonha Legitimação da violência |
|
|
|
Hébert
et al., 2015 |
Comportamentos de pedido de
ajuda E.U.A. |
8.194 estudantes 14 - 21 anos |
Questionário “Self-efficacy
to Deal with Violence Scale” |
— |
Raparigas (63,1%) >
Rapazes (50,6%) |
— |
— |
Vergonha Impotência Baixa autoestima e autoeficácia |
|
|
|
Comportamentos de pedido de ajuda E.U.A. |
64 adolescentes 15 - 17 anos 62,5% M; 37,5% H |
20 Focus group (divididos por aculturação e
género) |
— |
— |
— |
Raparigas são mais pressionadas a deixar a relação que os rapazes |
Medo de perder o/a parceiro/a Medo de retaliação |
|
|
|
|
Sylaska
& Edwards, 2015 |
Comportamentos de pedido de
ajuda E.U.A. |
391 estudantes 18 - 25 anos 42,9% M; 51,9% H 75,3% homossexual, 19,5% queer e 2,6% bissexual |
Questionário sobre
comportamentos de ajuda. |
35,1 |
__ |
Apoio informal |
43,0% das vítimas
considerou o apoio empático como o mais fornecido pelas fontes. |
Relativização da gravidade
da violência Invasão de privacidade |
|
|
|
Gonzalez-Guarda,
Ferranti, Halstead, & Ilias, 2016 |
Comportamentos de pedido de
ajuda E.U.A. |
11 M 18 - 24 anos |
Entrevista semiestruturada
elaborada para o efeito. |
91,0 |
__ |
— |
Avaliação positiva após
recurso aos serviços formais. |
Falta de conhecimento dos
serviços |
|
|
|
Ameral,
Palm Reed, & Hine, 2017 |
Comportamentos de pedido de
ajuda E.U.A. |
4.710 estudantes
universitários Média idades = 21 anos 70,3% M; 27,2% H |
Checklist elaborada para o efeito do estudo |
11,8 |
Rapazes < raparigas |
— |
— |
Não reconhecimento da
violência Manutenção da privacidade Vergonha |
|
|
|
Nichols, Bonomi, Kammes, & Miller, 2018* |
Comportamentos de pedido de
ajuda E.U.A. |
27 M estudantes 19 - 24 anos |
Entrevista semiestruturada |
81,5 |
— |
Apoio formal: terapia e aconselhamento
(71,4%) e serviços médicos (37,0%) 14,8% polícia 7,3% investigação
universitária 3,7% advogados |
— |
Não reconhecer a violência Receio estigmatização Preocupações financeiras Precedente experiência
negativa com os serviços Autoculpabilização da
violência |
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Nota. * Estudo apurado no follow-up. |
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Caraterísticas
amostrais. De acordo com a
análise efetuada, o número de participantes envolvidos nos estudos variou entre
10 (Shen, 2011) e 8.194 (Hébert et al., 2015). Os estudos apresentam grande diversidade em termos
das características amostrais, seja em termos da idade dos/as participantes,
sexo e orientação sexual. Também ao nível da localização geográfica dos estudos
se verifica dispersão. O intervalo de idades dos/as participantes situou-se
entre os 12 anos (e.g., Sabina et al., 2014)
e os 35 anos (e.g., Renzetti, 1988), sendo que oito
estudos identificaram uma faixa etária dos 12 aos 18 anos, 11 estudos dos 19
aos 25 anos e cinco estudos apresentaram idades compreendidas entre os 26 e os
35 anos. Seis estudos apontaram como
amostra estudantes do ensino médio (e.g., Ashley & Foshee, 2005; Black et al., 2008) e oito
estudos continham uma amostra constituída por estudantes universitários/as
(e.g., Amar & Gennaro, 2005; Ameral et al., 2017; Boladale et al., 2013).
Quanto ao sexo
dos/as participantes, verificou-se que em dez estudos o número de participantes
de sexo feminino era superior aos de sexo oposto (e.g., Ameral et al., 2017; Ashley & Foshee, 2005;
Próspero & Vohra-Gupta, 2008). Em sete estudos a
amostragem envolvia apenas mulheres (e.g., Amar & Gennaro, 2005;
Edwards et al., 2011; Gonzalez-Guarda et al., 2016). Ademais, somente em dois estudos (Sylaska
& Edwards, 2015; Watson et al., 2001),
a percentagem de homens a participar nos estudos era superior à participação
feminina. Relativamente à orientação sexual dos/as participantes, o estudo de
Renzetti (1988) foi constituído por 100 mulheres
lésbicas e no estudo de Sylaska e Edwards (2015) a
amostra envolveu 77 vítimas de violência no namoro, sendo que 75,3%
identificou-se como sendo homossexual, 19,5% queer (pessoas que não seguem o modelo
de heterossexualidade ou do binarismo de género) e 2,6% bissexual.
Nos restantes 17 estudos, não foi realizada qualquer menção à orientação sexual
dos/as inquiridos/as.
No que diz respeito
à localização dos estudos, a grande maioria (n = 16) foram realizados nos Estados Unidos da América, um estudo
(Boladale et al., 2013) foi realizado no sul da
Nigéria, com uma amostra estudantil; outro estudo (Jackson et al., 2000) envolveu 304 adolescentes de cinco escolas
secundárias da Nova Zelândia e, por último, um outro (Shen, 2011)
que envolveu uma amostra de 10 mulheres, com idades entre os 20 e 28 anos.
Medidas usadas. Em termos de
medidas usadas, a Escala Tática de Conflitos Revisada (The Revised Conflict Tactics Scales –
CTS-R) de Murray Straus et al. (1996) surgiu
mencionada em cinco estudos (e.g., Ameral et al., 2017;
Black et al., 2008; Boladale et al., 2013). Sylaska e Edwards (2015)
utilizaram apenas a subescala de agressão física da CTS-R que avaliou as experiências
dos participantes sobre as suas relações de namoro. No estudo de Watson et al.
(2001) foi administrada a Escala Tática de Conflito
Modificada (MCTS), uma versão modificada da Escala Tática de Conflito (CTS) de
Straus et al. (1996) que permitiu a inclusão de
testemunhos de relacionamentos atuais e com duração inferior ao critério da CTS
de 12 meses.
O Inventário de
Conflitos nas Relações de Namoro entre Adolescentes (CADRI) foi administrado
nos estudos de Hébert et al. (2015)
e Rueda et al. (2014) como forma de averiguar a
vitimização dos adolescentes inquiridos. Em quatro estudos a vitimização foi
verificada através de entrevistas ou questionários a jovens (e.g., Ashley & Foshee, 2005;
Fry et al., 2014).
Principais resultados dos estudos.
Comportamentos de pedido de ajuda: indicadores. Em relação à
adoção de algum tipo de comportamentos de pedido de ajuda, um número
considerável de estudos (n = 9)
(e.g., Amar & Gennaro, 2005; Black et al., 2008; Edwards et al., 2011), registou
considerações de pedidos de ajuda por parte das vítimas, situam-se estas entre
um mínimo de 40,0% (Amar & Gennaro, 2005) e de máximo
de 92,0% (Mahlstedt & Keeny, 1993). Em
contrapartida, em oito estudos verificou-se também uma tendência para a não
denúncia (e.g., Ameral et al., 2017; Ashley & Foshee,
2005; Boladale et al., 2013;
Jackson et al., 2000). Assim, no estudo de Boladale et
al. (2013) 92,6% dos/as estudantes universitários/as
vítimas de violência nas suas relações amorosas não denunciaram a violência
sofrida e apenas 7,4% pediram ajuda. Também Ashley e Foshee (2005)
verificaram que das 225 vítimas inquiridas somente 90 pediram ajuda. Esta
reduzida expressão do pedido de ajuda foi também corroborada pelo estudo de
Sylaska e Edwards (2015), em que apenas um terço das 77 vítimas, na sua
maioria homossexuais, revelaram os abusos na relação de intimidade. No estudo
de Jackson et al. (2000), que aborda o pedido de ajuda
nas diferentes tipologias abusivas, verificou-se que perante a vitimização por
violência física e sexual as vítimas tendem a não denunciar estes abusos. No
entanto Fry et al. (2014) encontraram uma taxa de pedido
de ajuda superior a 60,0% nos casos de vitimação por violência física e/ou
sexual.
Comportamentos de
pedido de ajuda: diferenças de género. Relativamente às diferenças de género
ao nível dos comportamentos de pedido de ajuda foi registada uma maior
tendência para as mulheres pedirem ajuda comparativamente com os homens (n
= 6) (e.g., Ameral et al., 2017; Black et al., 2008; Edwards et al., 2011; Hébert
et al., 2015). Os homens surgiram como sendo mais
propensos a não adotar qualquer tipo de ação e assumiram que abordam menos o
tema ou consideram mesmo que não necessitam de efetuar tal abordagem. Em
anuência ao referido, as percentagens de pedidos de ajuda por parte de homens
situavam-se entre um mínimo de 27,0% (Watson et al., 2001)
e um máximo de 63,0% (Ashley & Foshee, 2005). Já o
pedido de ajuda por parte das mulheres oscilou, consoante os estudos, entre os 46,8%
(Jackson et al., 2000) e os 78,1% (Black et al., 2008). No estudo de Hébert et al. (2015),
comparou-se a prestação de ajuda por fontes de divulgação que presenciassem a
violência com o pedido de ajuda das vítimas e verificou-se que o número de
oferta de ajuda (16,4% mulheres vs. 15,1% homens) foi superior ao número de
pedido de ajuda (14,9% mulheres vs. 14,0% homens), revelando-se as mulheres
mais propensas a oferecer e a pedir ajuda em situações de violência no namoro.
Comportamentos de
pedido de ajuda: fontes. Quanto às fontes a quem foi realizado o pedido de
ajuda, dois estudos (Edwards et al., 2011; Mahlstedt
& Keeny, 1993) comprovaram que as vítimas de
violência no namoro revelaram a situação abusiva a pelo menos uma fonte. Nos
dez estudos que abordaram as fontes de divulgação perante uma situação de
violência no namoro, a divulgação informal surgiu como tendo sido a mais
adotada por vítimas de violência no namoro (n
= 9) (e.g., Amar & Gennaro, 2005; Ashley &
Foshee, 2005; Edwards et al., 2011).
No estudo de Watson et al. (2001) 43,0% dos/as
participantes revelaram recorrer a ajuda informal, seguido de terminar o
relacionamento abusivo (37,0%), depois de resposta agressiva (35,0%), a opção
de não ter qualquer tipo de ação violenta (32,0%) e por último 8,0% das vítimas
relataram recorrer a ajuda formal. Ao nível das fontes de divulgação informal,
as vítimas revelaram preferência no pedido de ajuda a amigos, seguido de
irmã/o(s) e pai(s)/mãe(s) num número considerável de estudos (n = 6) (e.g., Amar & Gennaro, 2005; Ashley & Foshee, 2005;
Edwards et al., 2011).
No estudo de Fry et al. (2014) foi também clara a preferência de
divulgação a amigas, com 72,0% das vítimas a pedir ajuda junto destas. Na
divulgação formal, a fonte de revelação mais escolhida pelas vítimas de
violência no namoro foram os/as agentes educativos/as ou terapeutas em cinco
estudos (e.g., Amar & Gennaro, 2005; Ashley &
Foshee, 2005; Edwards et al., 2011),
a polícia em quatro estudos (Ashley & Foshee, 2005; Boladale et al., 2013; Mahlstedt & Keeny, 1993;
Sabina et al., 2014; Sylaska &
Edwards, 2015) e professores/as em três estudos
(Ashley & Foshee, 2005; Mahlstedt & Keeny, 1993; Sylaska & Edwards, 2015).
Segundo dados de Ashley e Foshee (2005), os homens eram
mais propensos a pedir ajuda formal do que as mulheres (63,0% e 34,0%, respetivamente).
Contrariamente ao referido, as mulheres mostravam um aumento de 18,33 vezes nas
probabilidades de pedir ajuda formal quando comparadas aos homens (Sabina et
al., 2014).
Comportamentos de
pedido de ajuda: resposta percebida. A família e os amigos surgiram, em seis
estudos (e.g., Edwards et al., 2011; Fry et al., 2014; Jackson et al., 2000),
identificados pelas vítimas de violência no namoro como sendo os mais prováveis
a oferecer um apoio adequado. Porém, em três estudos (Edwards et al., 2011; Renzetti, 1988; Shen, 2011), os/as amigos/as também foram considerados/as os/as
menos úteis, dada a maior probabilidade de efetuar julgamentos ou provocar
aborrecimentos. Shen (2011) verificou no seu estudo que a
ajuda destes era muitas vezes inapropriada, indiferente ou limitada a apoio
emocional ou material; os/as amigos/as e a família tendiam
a atribuir a responsabilidade à vítima e a promoveram a autossuficiência desta
para lidar com a situação abusiva. Dos seis estudos que abordaram os tipos
de apoios fornecidos pelas fontes às vítimas de violência no namoro, quatro
apresentaram como tipo de ajuda mais oferecido e percebido como sendo mais
útil, o apoio sentimental, ações como ouvir e conversar com a vítima e fornecer
conselhos (Edwards et al., 2011; Fry et al., 2014; Jackson et al., 2000; Sylaska
& Edwards, 2015). Concomitantemente, em três
estudos (e.g., Edwards et al., 2011; Jackson et al., 2000; Sylaska & Edwards, 2015)
foram identificados comportamentos em que as fontes de divulgação não
compreendiam e ridicularizavam a situação e tentavam assumir o controlo da
situação. Em outros três estudos, as fontes de revelação abordaram diretamente
o/a agressor/a da vítima, exigindo uma mudança de comportamento (Fry et al., 2014; Rueda et al., 2014; Sylaska
& Edwards, 2015). O incentivo ao término da
relação foi um comportamento registado em seis estudos (e.g., Edwards et al., 2011; Fry et al., 2014; Jackson et
al., 2000). No estudo de Mahlstedt e Keeny (1993), a mãe e o pai surgiram percebidos como os que
mais pressionam para o fim do relacionamento (30,0% e 18,0%, respetivamente).
Em quatro estudos (Fry et al., 2014; Jackson et al., 2000; Rueda et al., 2014; Watson
et al., 2001) as mulheres surgiram como sendo as mais
pressionadas a abandonar a relação abusiva e a acabar efetivamente por terminar
o relacionamento abusivo comparativamente com o sexo oposto. Por fim, em três
estudos (Jackson et al., 2000; Rueda et al., 2014; Watson et al., 2001) as
vítimas de sexo masculino optaram por não adotar qualquer atitude resolutiva
depois do pedido de ajuda.
Barreiras ao pedido de ajuda. De entre as
principais barreiras listadas nesta análise que tendiam a bloquear e/ou inibir
a ação das vítimas, identificou-se: i) legitimação da
violência e menorização da violência (n =
7) (e.g., Ameral et al., 2017; Black et al., 2008; Boladale et al., 2013;
Edwards et al., 2011);
ii) vergonha (n = 5) (e.g., Ameral et
al., 2017;
Hébert et al., 2015;
Nichols et al., 2018);
iii) sentimento exacerbado e medo de perder o/a parceiro/a (n = 4); (e.g., Jackson et al., 2000;
Mahlstedt & Keeny, 1993); iv) autossuficiência para resolver a
situação (n = 3) (Boladale et al., 2013; Gonzalez-Guarda et al., 2016;
Shen, 2011);
v) ausência de conhecimento acerca dos serviços disponíveis (n = 3) (Boladale et al., 2013;
Gonzalez-Guarda et al., 2016; Shen, 2011), vii) evasão da privacidade (n = 3) (Ameral et al., 2017;
Mahlstedt & Keeny, 1993; Sylaska & Edwards, 2015) e viii) o medo de represálias e
retaliação por parte do/a parceiro/a violento/a após uma possível divulgação
das vítimas (n = 2) (Jackson et al., 2000; Rueda et al., 2014). De
entre os motivos mais apontados pelas vítimas de violência no namoro para o não
pedido de ajuda junto de profissionais de saúde destacou-se: o facto de estes
serem percecionados como sendo dispendiosos (n = 2) (Nichols et al., 2018; Próspero
& Vohra-Gupta, 2008); a perceção da inutilidade
daqueles e o facto de recearem serem percebidos como doentes (Próspero &
Vohra-Gupta, 2008), ou, ainda, o facto de temerem ser
rotulados como vítimas de violência por parte do/a parceiro/a e a existência de
anterior experiência negativa com este tipo de serviços (Nichols et al., 2018). Por fim, no estudo de Renzetti (1988), os/as participantes mencionaram que os serviços
de apoio a vítimas não estão preparados para atender situações que envolvam
relações homossexuais e as suas especificidades.
A presente revisão sistemática centrou-se na análise de 19 estudos que
focaram os comportamentos efetivos de pedido de ajuda por parte de vítimas de
violência no namoro, excluindo investigações que abordassem intenções e ações
indiretas de pedido de ajuda e/ou revelação da experiência íntima abusiva.
A análise dos 19 estudos permitiu concluir pela não consensualidade
quanto à tendência de revelação ou não por parte das vítimas de violência no
namoro, sendo que o pedido de ajuda parece oscilar entre os 78,0%, apurado no
estudo de Renzetti (1988)
conduzido com uma amostra de 100 mulheres, nos Estados Unidos da América, com
idades compreendidas entre os 26 e os 35 anos e os 11,8% no estudo de Ameral et
al. (2017),
com uma amostra de 4.710 estudantes universitários/as na sua maioria mulheres,
média de idade 21 anos e também realizado nos Estados Unidos da América.
Relativamente ao sexo das fontes disponíveis para prestar ajuda em situações de
violência no namoro, as mulheres foram identificadas como sendo as mais
propensas a prestar ajuda comparativamente com o sexo oposto (Hébert et al., 2015).
No que diz respeito à faixa etária das vítimas de violência no namoro,
verificou-se que nos estudos com uma amostra com idades superiores a 18 anos (n
= 13), em sete destes estudos uma grande parte das vítimas admitiu
priorizar o silêncio (e.g., Amar & Gennaro, 2005; Shen, 2011; Sylaska & Edward, 2015). Não
obstante, foi possível observar nos diferentes estudos, uma maior tendência por
parte das participantes de sexo feminino em admitir o pedido de ajuda (n
= 6) para fazer face à situação de vitimização na intimidade (e.g., Ameral et
al., 2017;
Black et al., 2008; Hébert et al., 2015) comparativamente com o sexo oposto. De
igual modo, as mulheres admitiram, nos estudos, maior probabilidade de se
separarem do/a agressor/a (Watson et al., 2001), sendo que foram também as mulheres
aquelas que relataram maiores indicadores de vitimização. Por sua vez, os
participantes de sexo masculino surgiram como sendo menos propensos a
responderem a itens de pedido de ajuda quando comparados com as mulheres,
apresentando uma certa inação perante a violência na medida em que não procuram
revelar a situação violenta ou mesmo cessar a relação abusiva. Além disso, os
homens que mantêm relações com outra pessoa do mesmo sexo aumentam o estigma
social que inibe o pedido de ajuda (Sabina et al., 2014).
Segundo Allen, Ridgeway e Swan (2015), as barreiras à divulgação são mais acentuadas quando o problema é
percecionado como sendo não-normativo na sociedade, logo esta inércia poderá
ser melhor compreendida se atendermos a certas representações ideológicas
associadas aos homens e as quais tendem a interferir ou inibir a sua capacidade
de pedido de ajuda e de reação à vitimização em geral (Fry et al., 2014; Watson et al.,
2001).
Ademais, foram vários os estudos (e.g., Jackson et al., 2000; Lavoie, Vézina,
Piché, & Boivin, 1995) que
concluíram que os homens tendem a minimizar e a tolerar mais a violência do que
as mulheres. Tais evidências revelam-se algo preocupantes e devem ser devidamente
consideradas nas políticas de prevenção e intervenção no fenómeno da violência
das relações de intimidade.
A legitimação da violência foi a barreira mais apontada pelos/as
participantes dos estudos (n = 7) (e.g., Ameral et al., 2017; Black et al., 2008; Boladale et al., 2013; Edwards
et al., 2011); em que os/as jovens consideraram a agressão não gravosa (“não era
nada sério”). Não raras as vezes os/as jovens podem ser confrontados com
situações relacionais, pautadas por comportamentos violentos e outras formas de
coerção, face aos quais poderão ser levados a adotar uma postura de
legitimação, percecionando tais atos como uma manifestação de amor e/ou ciúme
(e.g., Black et al., 2008; Caridade & Machado, 2013). Adicionalmente tem sido documentado que as vítimas tendem a resolver
as situações de vitimação sozinhas — cultura de autossuficiência (n = 3)
— seja por vergonha de se assumirem como vítimas, seja por temerem perder a sua
privacidade ou mesmo por não quererem importunar a família e amigos com
assuntos desta natureza (Shen, 2011). O desconhecimento dos meios de ajuda
formal existentes surgiu identificada como uma outra importante barreira para a
procura de ajuda por parte das vítimas (n = 3), algo que se afigura
deveras preocupante dado que as instituições de apoio às vítimas são aquelas
que se revelam qualificadas para prestar o devido suporte e apoio à vítima
(Black et al., 2008; Fry et al., 2014).
As fontes de revelação informais
surgiram como sendo as mais usadas pelas vítimas e de forma mais específica
os/as amigos/as (n = 9) (e.g., Black et al., 2008; Boladale et al., 2013; Edwards
et al., 2011; Rueda et al., 2014). Os pares de sexo feminino foram
identificados pelas vítimas como os mais procurados (Edwards et al., 2011; Fry et
al., 2014),
ainda que os de sexo masculino surjam percebidos como os mais prováveis de
manterem a informação em segredo (Jackson et al., 2000).
Concomitantemente, e no que respeita ao tipo de orientação mais
fornecida às vítimas pelos pares (n = 3) envolve o aconselhar o pedido
de ajuda junto de um adulto ou falar diretamente com este, considerando-os como
sendo as fontes com mais poder para intervir caso a violência escale (Fry et
al., 2014; Jackson et
al., 2000;
Mahlstedt & Keeny, 1993). Todavia, como indicação menos frequente a
dar às vítimas (n = 3) verificou-se a sugestão de recorrer a serviços
formais de ajuda (Amar & Gennaro, 2005; Fry et al., 2014; Próspero & Vohra-Gupta, 2008).
Denota-se, deste modo, que parece existir uma certa desconfiança/insegurança
relativamente ao recurso aos sistemas formais de apoio, motivada
fundamentalmente por fatores de privacidade, aplicação correta das leis e
julgamentos que podem advir da divulgação, que não raras vezes, promovem uma revitimização
(Nichols et al., 2018). A vitimização secundária é especialmente emergente quando estão
presentes nestes/as profissionais, crenças e atitudes erróneas que potenciam a
invalidação da experiência da vítima, acabando por se constituir como barreiras
à denúncia (Machado et al., 2009). Também
Sabina et al. (2014) referem que os/as jovens tendem a não
recorrer a serviços formais por receio de proibição do contacto com o/a
parceiro/a e para não expor toda a situação abusiva sofrida aos pais e envolver
estes em todo o processo. As vítimas referiram que tendem a rejeitar o pedido
de ajuda nas fontes de divulgação formal como os/as agentes educativos/as, órgãos
de polícia criminal e professores/as, priorizando os/as amigos/as como os/as
mais prováveis a oferecer bom apoio (n = 5) (Amar & Gennaro, 2005; Ashley &
Foshee, 2005; Mahlstedt & Keeny, 1993; Rueda et al., 2014; Sylaska & Edwards, 2015). Não
obstante, os/as jovens não estão habilitados para ajudar os outros perante uma
situação de violência no namoro, podem ter medo do/a agressor/a do amigo ou até
podem responsabilizar a vítima (Jackson et al., 2000; Sabina et al., 2014).
Conclusões
O presente estudo
forneceu uma revisão abrangente e sistemática de 19 estudos sobre o pedido de
ajuda em situações de violência no namoro, permitindo, deste modo, extrair
importantes conclusões. Primeiramente, os principais objetivos dos estudos
foram analisar o comportamento de pedido de ajuda, as fontes de revelação
utilizadas e/ou as barreiras inerentes à divulgação da experiência abusiva por
parte de vítimas de violência no namoro. Os estudos abordaram estes objetivos
de uma forma diferente e nem sempre com a mesma metodologia, levando a
resultados marcadamente variáveis. Neste sentido, seria interessante investir
em futuras investigações apenas com uma metodologia, de modo a providenciar
resultados mais uniformes. Mais especificamente, foi percetível uma grande
dispersão entre as taxas de divulgação da violência no namoro, possivelmente
motivada pelos diferentes critérios adotados em cada estudo.
Não obstante,
importa também referir que a presente revisão sistemática assentou em critérios
e tomadas de decisão que condicionam a generalização de conclusões. De referir,
desde logo, que se trata de um estudo teórico delimitado a um período temporal,
e focado numa temática amplamente estudada. Além disso, apenas uma minoria dos
estudos (n = 2) contemplados na
presente revisão sistemática usaram amostras não heterossexuais, algo que seria
de explorar em estudos futuros. A não inclusão de estudos não publicados
(dissertações e relatórios de pesquisa) pode influenciar os resultados obtidos
e também é possível que alguns estudos relevantes, pese embora o recurso a
amostragem por bola de neve, não tenham emergido na pesquisa efetuada.
A informação
sistematizada no presente trabalho pode, é nossa expectativa, desempenhar um
contributo importante na formação dos/as profissionais que trabalham com
vítimas de violência nas relações de namoro. Um conhecimento mais estruturado
acerca dos motivos que levam os/as jovens a não procurar ajuda e a permanecer
na relação abusiva, pode assumir um papel central na proteção das vítimas,
nomeadamente na adoção de ações que facilitem a saída segura e permanente da
relação abusiva, como por exemplo a indicação de um abrigo para vítimas onde
estas podem permanecer de forma a garantir a sua segurança. Na presente revisão
sistemática, os amigos surgiram identificados como as fontes preferenciais de
revelação, sendo certo que estes se revelam, não raras vezes, imaturos e que
não possuem conhecimentos suficientes para prestar um adequado suporte e apoio
em situações de violência no namoro. Torna-se, deste modo, crucial que as
iniciativas em matéria de prevenção e intervenção continuem a sensibilizar
os/as jovens para estas temáticas, de forma a precaver casos de banalização da
violência e permanência na relação abusiva aquando o pedido de ajuda junto dos
pares.
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