Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social 2019 Vol. 6 (1):
1-18
Portuguese Journal of
Behavioral and Social Research 2019 Vol. 6 (1): 1-18
Departamento de Investigação & Desenvolvimento • Instituto
Superior Miguel Torga
ARTIGO ORIGINAL
O papel de
processos relacionados com a regulação emocional e da vergonha associada à
doença crónica nos sintomas de depressão, ansiedade e stress de pessoas
com doença celíaca
The role of emotion regulation related processes and chronic
illness-related shame in depression, anxiety and stress symptoms of people
facing coeliac disease
Melanie Fernandes(1)
Ana Galhardo(1,2)
Ilda Massano(1,3, 4)
(1) Inst Sup Miguel
Torga, Coimbra, Portugal
(2) Univ Coimbra, CINEICC, FPCEUC, Portugal
(3) Univ Coimbra, FMUC,
Portugal
(4) Univ Coimbra,
CEISUC, FEUC, Portugal
Recebido: 13/12/2019; Revisto: 06/03/2020; Aceite: 08/04/2020.
https://doi.org/10.31211/rpics.2020.6.1.162
Contexto: O presente estudo, de carácter exploratório, teve como principal
objetivo examinar o papel preditor de processos relacionados com a regulação
emocional (fusão cognitiva, evitamento experiencial,
autocompaixão e autojulgamento) e da vergonha associada à doença nos sintomas
psicopatológicos de depressão, ansiedade e stress
em pacientes com diagnóstico de doença celíaca. Métodos: Através de uma
associação de pacientes, foram recrutados 67 sujeitos com diagnóstico de doença
celíaca autorreportado, os quais completaram online um questionário
sociodemográfico e clínico e um conjunto de instrumentos de autorresposta, mais
precisamente as Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress – 21 (EADS-21),
o Cognitive Fusion Questionnaire – Chronic Illness (CFQ-CI),
o Acceptance and Action Questionnaire-II
(AAQ-II), a Self-Compassion Scale (SCS), e a Chronic Illness-related Shame Scale (CISS). O papel mediador dos
processos relacionados com a regulação emocional e da vergonha associada à
doença crónica foi analisado através do cálculo de regressões lineares
múltiplas hierárquicas. Resultados: O
índice compósito de autojulgamento (autocriticismo, isolamento e
sobreidentificação) revelou-se como o único preditor significativo dos sintomas
de depressão, ansiedade e stress
em pessoas com doença celíaca. Conclusões: Nas intervenções
psicológicas dirigidas a pacientes com doença celíaca a avaliação e
integração do autojulgamento enquanto processo de regulação emocional poderá
ser relevante para a obtenção de ganhos terapêuticos no que se refere aos
sintomas emocionais negativos de depressão, ansiedade e stress.
Palavras-Chave: Doença celíaca;
Regulação emocional; Sintomas psicopatológicos; Vergonha associada à doença
crónica.
Aim: The current
exploratory study sought out to examine the predictive role of emotion
regulation related processes (cognitive fusion, experiential avoidance,
self-compassion, and self-judgment) and chronic illness-related to shame in the
psychopathological symptoms of depression, anxiety and stress in patients
presenting a diagnosis of coeliac disease. Method: Sixty-seven
participants with self-reported coeliac disease were recruited through a
patients’ association and completed an online sociodemographic and clinical
questionnaire and a set of self-report instruments, namely the Anxiety,
Depression, and Stress Scales – 21 (DASS-21), the Cognitive Fusion Questionnaire – Chronic Illness
(CFQ-CI), the Acceptance and Action Questionnaire-II (AAQ-II), the
Self-Compassion Scale (SCS), and the Chronic Illness-related Shame Scale
(CISS). The mediating role of the emotion regulation related processes and the
chronic illness-related shame was analyzed by calculating hierarchical multiple
linear regressions. Results: The self-judgment
composite index (self-criticism, isolation, and overidentification) was the
only significant predictor of depression, anxiety, and stress symptoms in
people with coeliac disease. Conclusions:
In
psychological interventions designed for patients with coeliac disease,
assessment and clinical work targeting self-judgment as an emotion regulation
process may be relevant to promote therapeutic gains regarding the negative
emotional symptoms of depression, anxiety, and stress.
Keywords: Coeliac disease; Chronic
illness-related shame; Emotion regulation; Psychopathological symptoms.
Doença Celíaca
A Doença Celíaca (DC) é tida como uma doença crónica, autoimune,
que se caracteriza por alterações na absorção dos nutrientes decorrentes da
destruição das vilosidades intestinais quando é ingerido glúten. A DC tem uma
componente hereditária, pelo que os sujeitos com antecedentes familiares têm
uma maior probabilidade de vir a sofrer de DC (Butterworth
& Los, 2019).
De acordo com a Associação Portuguesa de Celíacos (APC), na Europa
a DC está presente em 1% da população (Associação
Portuguesa de Celíacos [APC], 2019). Por sua vez, os dados de
prevalência em Portugal indicam que entre 1% a 3% da população apresenta DC. No
entanto, estima-se que existam entre 70.000 a 100.000 pacientes com DC sem
diagnóstico em Portugal (APC, 2019). De acrescentar que existe uma maior prevalência
de DC no sexo feminino (Mariné et al., 2011). No entanto, Bai et al. (2005) referem que no sexo
masculino o diagnóstico efetivo tende a ser estabelecido mais rapidamente,
possivelmente pelo facto de os homens terem propensão para apresentar um maior
número de sintomas adversos da absorção deficitária.
Melicharova et al. (2016) sugerem que, na etapa
de diagnóstico, a aceitação, em muitos casos, não é imediata e os pacientes
manifestam dúvidas em relação à doença, podendo também evidenciar sentimentos
negativos decorrentes do carácter invasivo das técnicas de diagnóstico utilizadas. De
acrescentar que a DC sem diagnóstico, ou sem tratamento, pode acarretar uma
multiplicidade de outras condições clínicas (e.g., anemia ferropénica;
osteoporose de início precoce ou osteopenia; infertilidade e aborto espontâneo;
intolerância à lactose; deficiências de vitaminas e minerais; distúrbios do
sistema nervoso central e periférico; insuficiência pancreática) (Celiac Disease Foundation [CDF], 2019). Além disso, é
também de referir a existência de várias doenças comórbidas, como anemia,
doença autoimune da tiroide, dermatite herpetiforme, ataxia de glúten,
cardiomiopatia dilatada idiopática, síndrome de fadiga crónica, hepatite
autoimune, doença hepática, colite linfocítica, colite microscópica, neuropatia
periférica, cirrose biliar primária, síndrome de Sjögren, diabetes tipo I e
infertilidade inexplicada (CDF, 2019).
O tratamento da DC consiste na realização de uma dieta isenta de
glúten (DIG), a qual visa evitar outras consequências no decorrer da doença (Butterworth & Los, 2019; Leonard
et al., 2017) e aumentar a qualidade de vida (Nachman
et al., 2010). Na maioria dos pacientes são observadas melhorias após duas
a três semanas do início de uma DIG (Catassi &
Lionetti, 2020). De acordo com o National Canadian Survey (Zarkadas et al., 2006), o ano que se segue ao
diagnóstico tende a ser aquele em que se verifica uma pior qualidade de vida,
em virtude da introdução de uma DIG e das mudanças no estilo de vida que esta
exige. Hall et al. (2009) sublinham precisamente a existência de
dificuldades no cumprimento de uma DIG por parte dos pacientes. Dowd et al. (2015) indicam que a eficácia autorreguladora se
constitui como um construto relevante no que se refere ao cumprimento da DIG em
pacientes com DC.
Aspetos psicológicos na doença celíaca
A DC pode igualmente traduzir-se em consequências significativas do
ponto de vista do bem-estar psicológico. Estas poderão, por um lado, estar
relacionadas com a doença e o seu impacto bioquímico e, por outro, com a
vivência do paciente, não apenas da própria doença, mas também do respetivo
tratamento (Zingone et al., 2015). Com efeito, Siniscalchi et al. (2005) reportaram a existência de relação entre
depressão e sintomas de fadiga em pacientes com DC que ainda não haviam
iniciado tratamento. De um modo geral, os sujeitos com DC tendem a apresentar
maiores níveis de ansiedade, depressão e stress comparativamente com adultos saudáveis (Zingone
et al., 2015). No entanto, esses sintomas podem sofrer flutuações em função
das diferentes fases do diagnóstico. Previamente ao conhecimento do diagnóstico
de DC, são frequentes sentimentos de preocupação sobre os sintomas (que não são
compreendidos), e desapontamento com consultas médicas (sem obtenção de
informação concreta). Uma vez definido o diagnóstico, as preocupações tendem a
centrar-se em conteúdos relativos ao modo como vão lidar com a doença a longo
prazo, experienciando simultaneamente sentimentos de alívio pelo facto de,
finalmente, saberem qual a sua doença (Zingone et al.,
2015). Em alguns pacientes as
dificuldades psicológicas atenuam-se à medida que aumenta o seu conhecimento
acerca da doença, mas noutros as dificuldades de adaptação e adesão à DIG,
assim como a adaptação em termos sociais, persistem (Ludvigsson
et al., 2015; Zingone et al., 2015).
Efetivamente, os sintomas de ansiedade e depressão podem exercer
influência na adesão a uma DIG e na qualidade de vida (Zingone
et al., 2015). Segundo
Smith e Gerdes (2012), a prevalência e severidade da
depressão é superior em pacientes com DC quando comparados com grupos de
controlo sem a doença. Nos pacientes com DC a depressão pode advir dos sintomas
físicos e/ou das restrições/impedimentos sociais que a doença crónica implica (Smith & Gerdes, 2012). Cossu et al. (2017) referem que os sintomas depressivos podem
resultar do impacto da
doença crónica no bem-estar dos indivíduos, não existindo evidência de uma
relação direta entre a depressão e a DC. Por sua vez, a persistência dos
sintomas depressivos pode estar associada com uma qualidade de vida mais pobre,
e esta, por seu turno, pode resultar das restrições alimentares e do impacto da
DC na vida social (Addolorato, 2001).
Neste contexto, Zingone e colaboradores (2015) sublinham a importância de os profissionais de
saúde atenderem às consequências que a doença encerra, do ponto de vista
psicológico, com o intuito de facultar apoio aos pacientes. Assim, é desejável
que os pacientes com DC usufruam de acompanhamento psicológico de modo a
promover a sua adaptação à DIG, assegurando uma maior adesão a este tratamento
e diminuindo a probabilidade de desenvolverem complicações comórbidas (Melicharova et al.,
2016; Zarkadas et al., 2006). Esta recomendação é corroborada por Addolorato et al. (2004) que verificaram a existência de uma redução dos sintomas depressivos, bem como uma
maior adesão à DIG, em pacientes com DC que tiveram apoio psicológico para
redução do stress e
identificação e esclarecimento de preocupações relativas à DIG,
comparativamente com pacientes que integraram um grupo de controlo (treatment as usual).
Processos de regulação emocional e vergonha
associada a doença crónica
Os processos relacionados com a regulação emocional têm vindo a ser
apontados como desempenhando um importante papel no desenvolvimento e
manutenção de sintomas psicopatológicos (e.g., Hayes et al., 2006; Levin
et al., 2014; Masuda et al., 2014). Neste âmbito, e partindo de um enquadramento
das terapias cognitivo-comportamentais contextuais, construtos como os de
evitamento experiencial, fusão cognitiva, autocompaixão e autojulgamento têm
suscitado o interesse de investigadores e clínicos, sendo sugeridos como
elementos transdiagnósticos, pelo que a sua investigação em pessoas com DC pode
contribuir para a inclusão mais fundamentada destes em intervenções
psicológicas que lhes sejam dirigidas.
Ao considerar a fusão cognitiva, é possível reconhecer um
sobreenvolvimento com o conteúdo dos acontecimentos privados, o que pode
conduzir a inflexibilidade psicológica (Gillanders et
al., 2014). Nestas circunstâncias, quando o sujeito está excessivamente
fusionado, é mais provável que as suas direções de vida valorizadas estejam
focadas no controlo ou evitamento de experiências internas desagradáveis (Hayes et al., 2006). No caso da doença crónica, tal pode originar o evitamento de consultas
médicas ou a toma da medicação (Trindade, 2018). Com efeito, a fusão cognitiva associada à doença
crónica conduz a uma diminuição do bem-estar geral, físico e psicológico (Trindade,
Ferreira, & Pinto-Gouveia, 2018). Dahl et al. (2009) referem que nas situações em que as
experiências internas são identificadas como negativas ou adversas, os sujeitos
tendem a fusionar-se com essas experiências e a evitar experienciá-las.
Assim, a ligação estreita entre a fusão cognitiva e o evitamento
experiencial tem sido amplamente sugerida (Gillanders et al., 2014). O
evitamento experiencial é definido como um mecanismo através do qual os
sujeitos procuram controlar, alterar ou escapar a experiências internas
adversas ou dolorosas (e.g., pensamentos, sensações corporais, emoções,
recordações), ainda que estas o possam afastar dos seus valores e ter
consequências negativas (Hayes et al., 1996). Ainda que o evitamento experiencial possa, no
imediato, ter um efeito positivo, quando utilizado de forma rígida e repetida
tende a ter efeitos negativos, afastando o sujeito das ações consistentes com
os seus valores (Hayes et al., 2006). De facto, o evitamento experiencial tem vindo a
ser indicado como interferindo na qualidade de vida, ansiedade, depressão e
autogestão da doença (Chawla & Ostafin, 2007).
Recentemente a autocompaixão tem sido identificada como um processo
fundamental na melhoria do bem-estar e na redução do stress em pessoas com um diagnóstico de doença crónica
(Sirois & Rowse, 2016). A autocompaixão engloba
uma atitude de compreensão, calor e bondade para consigo mesmo, a capacidade de
estar no momento presente, e o reconhecimento da humanidade comum da própria
experiência (Neff, 2003). Efetivamente, no âmbito da doença crónica,
por exemplo na doença inflamatória do intestino e na artrite, verifica-se que a
autocompaixão se associa a estratégias de coping mais adaptativas (Sirois et al., 2015).
Por sua vez, o autojulgamento pode ser concetualizado como a combinação
de autocriticismo, sobreidentificação e isolamento (Neff, 2003, 2019). Como tal, quando os sujeitos apresentam
níveis elevados de autojulgamento evidenciam uma atitude crítica dirigida a si
mesmos perante erros ou inadequações, um sobreenvolvimento com o seu problema e
maior dificuldade em perceber a sua experiência como integrando a experiência
humana mais vasta. Ao considerar especificamente a doença crónica, o
autojulgamento relacionado com a condição de doente, as adversidades
resultantes da própria doença e das exigências do seu tratamento, e a dificuldade
em corresponder às suas expectativas e às das outras pessoas, tendem a aumentar
a probabilidade de surgirem sentimentos de vergonha e sintomas psicopatológicos
(Trindade,
2018).
Adicionalmente aos
processos relacionados com a regulação emocional, um outro construto que tem
merecido o interesse dos investigadores é o da vergonha experienciada por
pessoas com doença crónica. De acordo com o modelo evolucionário
biopsicossocial proposto por Gilbert (2007), a vergonha pode integrar uma dimensão de
vergonha externa e uma dimensão de vergonha interna, relacionadas entre si. A
vergonha externa é mais focada nos outros, considerando que estes têm uma ideia
ou opinião negativa acerca do self (o
indivíduo crê existir de uma forma negativa na mente dos outros), tendo a
função de regulação das ameaças sociais (Gilbert, 2002). Por sua vez, a vergonha interna é autofocada,
e o sujeito apresenta uma visão do self como
inferior, defeituoso e/ou sem valor (Gilbert, 2002). Apesar da ligação entre vergonha e
psicopatologia (Matos & Pinto-Gouveia, 2010), a associação entre a vergonha relacionada com
a doença crónica e saúde mental poderá ser mediada por processos de regulação
das emoções mais específicos. Com efeito, Trindade, Marta‐Simões, et al. (2018) referem que a associação entre a vergonha e a
saúde psicológica é mediada pela fusão cognitiva associada à doença crónica.
Tal significa que quando os pacientes se fusionam com pensamentos cujo conteúdo
tem a ver com uma doença crónica, a vergonha tende a exercer um maior efeito na
sua saúde mental (Trindade,
Marta‐Simões et al., 2018).
Para além disso, é também importante mencionar
que o facto de o paciente evidenciar sintomas físicos pode conduzir a um
acréscimo da vergonha relacionada com esses mesmos sintomas e originar
autojulgamento (Gilbert, 2007).
Nos últimos anos tem-se verificado um maior interesse pelos
aspetos de natureza psicológica no contexto da doença crónica. No entanto, há
ainda muitos mecanismos que não se encontram clarificados e que poderão ser
úteis, não apenas para uma melhor compreensão das consequências psicológicas
destas condições clínicas, mas também para o desenho de intervenções mais
específicas, com vista a diminuir o potencial impacto negativo, em termos
psicológicos, da doença crónica. Assim, o presente estudo procurou examinar o
papel de processos relacionados com a regulação emocional (fusão cognitiva,
evitamento experiencial, autocompaixão e autojulgamento) e da vergonha
relacionada com a doença crónica enquanto preditores dos sintomas
psicopatológicos de depressão, ansiedade e stress em pessoas com doença
celíaca.
Participantes
O presente estudo foi desenvolvido em
pessoas com idades compreendidas entre os 18 e os 69 anos, de ambos os sexos. A
amostra foi constituída por 67 sujeitos, sendo que 60 (89,6%) eram do sexo
feminino e sete (10,4%) do sexo masculino, todos eles com o diagnóstico de
doença celíaca autorreportado (não existiu consulta de processos médicos). Nos
67 participantes, a média de idades foi de 36,99 anos (DP = 11,23).
Trinta e oito (56,7%) sujeitos eram casados(as)/viviam em união de facto, 26
(38,8%) eram solteiros, dois (3,0%) eram divorciados(as) e apenas um indivíduo
(1,5%) era viúvo. Os participantes habitavam maioritariamente em meio urbano (n
= 54; 80,6%) e 13 (19,4%) residiam em meio rural. Relativamente aos anos de
escolaridade, observou-se uma média de 14,96 (DP = 3,17). Quanto à
situação laboral, 50 participantes (74,6%) encontravam-se empregados, oito
(11,9%) eram estudantes, seis (9,0%) estavam desempregados e, por último, três
(4,5%) encontravam-se já reformados. Os participantes haviam sido diagnosticados
com doença celíaca há no mínimo um e no máximo 37 anos, correspondendo a uma
média de 9,04 (DP = 9,90) anos. Este diagnóstico foi realizado, em
média, quando tinham 28,19 (DP = 15,57) anos de idade. Apenas três
participantes (4,5%) referiram ter recorrido a acompanhamento psicológico
relacionado com a doença.
Instrumentos
De modo a obter informação acerca de
variáveis sociodemográficas e clínicas foi elaborado especificamente para este
estudo um questionário sociodemográfico e clínico. Em relação aos restantes
instrumentos de autorresposta que foram integrados no protocolo de avaliação,
realizou-se a seleção com base nos objetivos do estudo.
Questionário sociodemográfico e clínico. O questionário
sociodemográfico englobou as seguintes variáveis: sexo, idade, estado civil,
zona de residência, anos de escolaridade concluídos e situação laboral. De
forma a obter informações clínicas acerca da doença celíaca foi definido um
conjunto de questões: “Há quanto tempo foi diagnosticado/a com doença
celíaca?”; “Que idade tinha quando a doença foi diagnosticada” e, por fim, “Tem
ou teve acompanhamento psicológico relacionado com a Doença Celíaca?”.
Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress – 21 (EADS-21; Depression, Anxiety and
Stress Scale, Lovibond &
Lovibond, 1995; versão
Portuguesa de Pais-Ribeiro et al., 2004). A EADS-21 é composta
por 21 itens distribuídos por três subescalas, nomeadamente de depressão (e.g.,
“Não consegui sentir nenhum sentimento positivo”), ansiedade (e.g., “Senti
dificuldades em respirar”) e stress
(e.g., “Tive tendência a reagir em demasia em determinadas situações”). É solicitado
aos respondentes que indiquem o grau em que cada uma das afirmações se lhes
aplicou “na semana passada”, utilizando uma escala de resposta de quatro
opções: 1. “Não se aplicou nada a mim”, 2. “Aplicou-se a mim algumas vezes”, 3.
“Aplicou-se a mim muitas vezes”, 4. “Aplicou-se a maior parte das vezes”. Pontuações mais altas em cada subescala sugerem estados
afetivos mais negativos. Na versão portuguesa os valores da consistência
interna foram de 0,85 para a subescala de depressão, de 0,74 para a subescala
de ansiedade, e 0,81 para a subescala de stress
(Pais-Ribeiro
et al., 2004). No presente
estudo os valores de alfa de Cronbach encontrados foram de 0,93 (depressão),
0,78 (ansiedade) e 0,92 (stress).
Cognitive Fusion
Questionnaire – Chronic Illness (CFQ-CI; Gillanders et al.,
2014; versão portuguesa de Trindade, Ferreira, & Pinto-Gouveia, 2018). O CFQ-CI avalia o nível de fusão cognitiva
relacionada com o facto de se ter um diagnóstico de doença crónica e respetiva
sintomatologia. Este questionário é composto por sete itens, que são
respondidos através de uma escala de sete pontos, indo de 1 “Nunca verdadeiro”
a 7 “Sempre verdadeiro”. São exemplos de itens “Fico tão enredado/a (“preso/a”)
nos meus pensamentos em relação à minha doença que me torno incapaz de fazer as
coisas que eu mais quero fazer” e “Sinto muita dificuldade em “largar” os meus
pensamentos perturbadores, relacionados com a minha doença, mesmo quando sei
que seria mais vantajoso fazê-lo”. Na versão portuguesa, o valor reportado para
a sua consistência interna foi de 0,90 (Trindade,
Ferreira, & Pinto-Gouveia, 2018).
No presente estudo foi encontrado um valor de alfa de Cronbach de 0,95.
Acceptance and Action
Questionnaire-II (AAQ-II; Bond
et al, 2011; versão
portuguesa de Pinto-Gouveia et al., 2012). O AAQ-II destina-se a avaliar o evitamento experiencial (Bond et al, 2011). Este questionário integra sete itens,
respondidos numa escala de sete pontos, em que 1 corresponde a “Nunca
verdadeiro” e a 7 “Sempre verdadeiro”. São exemplos de itens “As minhas
experiências e memórias dolorosas dificultam que eu viva uma vida que valorize”
e “As minhas preocupações atravessam-se no caminho do meu sucesso”. Pontuações mais elevadas são indicadoras de maiores níveis
de evitamento experiencial. A consistência interna, medida através do alfa
de Cronbach na versão portuguesa, foi de 0,90 (Pinto-Gouveia
et al., 2012). Neste estudo
o alfa de Cronbach encontrado foi 0,95.
Self-Compassion Scale (SCS; Neff, 2003; versão portuguesa de Castilho & Pinto-Gouveia, 2011). A SCS é composta por 26
itens divididos em seis subescalas: calor/compreensão (e.g., “Sou tolerante
com os meus erros e inadequações”); autocriticismo (e.g., “Desaprovo-me e faço
julgamentos acerca dos meus erros e inadequações”); humanidade comum (e.g.,
“Tento ver os meus erros e falhas como parte da condição humana”); isolamento
(e.g., “Quando penso acerca das minhas inadequações e defeitos sinto-me mais
separado e desligado do resto do mundo”); mindfulness
(e.g., “Quando alguma coisa dolorosa acontece tento ter uma visão equilibrada
da situação”) e sobreidentificação (e.g., “Quando alguma coisa me aborrece ou
entristece deixo-me levar pelos meus sentimentos”). Os itens são respondidos
através de uma escala de cinco pontos, sendo que 1 corresponde a “Quase nunca”
e 5 “Quase sempre”. Relativamente à consistência interna na versão portuguesa,
foi encontrado um valor de 0,89 para o total, variando de 0,73 a 0,84
relativamente às subescalas (Castilho & Pinto-Gouveia, 2011). No presente estudo foram utilizados os
índices compósitos de autocompaixão (somatório das subescalas de calor/compreensão,
humanidade comum e mindfulness) e de autojulgamento (somatório das
subescalas de autocriticismo, isolamento e sobreidentificação). O uso dos dois
índices compósitos independentes que captam os aspetos positivos e negativos da
autocompaixão é recomendado por Brenner et al. (2017), em vez de cálculo de um score total, o que é igualmente
sugerido pela análise fatorial confirmatória conduzida por Costa et al. (2016). No presente estudo foram obtidos valores
de alfa de Cronbach de 0,95 e de 0,96, para os índices de autocompaixão e de
autojulgamento, respetivamente.
Chronic Illness-related
Shame Scale (CISS; Trindade
et al., 2017). A CISS é uma
medida de vergonha especificamente relacionada com a doença crónica. Esta
escala integra sete itens (e.g., “Sinto vergonha de falar com os outros sobre a
minha doença ou sintomas”; “Sinto-me inseguro/a devido à minha doença”), que
são respondidos mediante uma escala de cinco pontos, variando de 0 “Nunca
verdadeiro” a 4 “Sempre verdadeiro”. Os valores de consistência interna da
versão portuguesa obtidos em diferentes amostras variaram
entre 0,91 e 0,93 (Trindade et al., 2017). No presente estudo a CISS revelou um valor
de alfa de Cronbach de 0,95.
Procedimentos
metodológicos
O recrutamento dos participantes foi realizado através da APC.
Esta associação de pacientes foi informada acerca do âmbito, objetivos e
procedimento de recolha de dados definidos para o estudo, tendo considerado
estarem assegurados os aspetos éticos e colaborado na divulgação deste junto
dos seus associados. A recolha de dados foi efetuada online, entre março e abril de 2019, sendo disponibilizado um link com acesso ao conjunto dos
instrumentos de autorresposta. Através deste link os participantes tomaram conhecimento do âmbito e objetivos do
estudo, da natureza voluntária da participação que lhes era solicitada e da
garantia do anonimato e confidencialidade dos dados. Todos os participantes
facultaram o seu consentimento informado, sendo esta uma condição obrigatória
para prosseguirem para o preenchimento do protocolo.
Procedimentos analíticos
Na descrição da amostra recorreu-se a
estatística descritiva, sendo calculadas as médias e desvios padrão das
variáveis contínuas e frequências e percentagens das variáveis categoriais,
sociodemográficas e clínicas. As medidas de tendência central foram analisadas
para as diferentes variáveis em estudo, sendo comparadas com as médias obtidas
noutras amostras de pessoas com doença crónica através do cálculo de testes t
para uma amostra. Na comparação dos valores médios entre os participantes do
sexo masculino e feminino, relativamente às diferentes variáveis em estudo,
procedeu-se ao cálculo do teste Wilcoxon-Mann-Whitney. A existência de
associações entre as variáveis idade, anos de escolaridade e duração do
diagnóstico com as demais variáveis foi explorada através do cálculo de
correlações de Pearson. Com o objetivo de identificar a contribuição
independente dos diferentes fatores preditores (variáveis relativas aos
processos de regulação emocional e vergonha associada à doença crónica) na
explicação dos sintomas emocionais negativos (variáveis dependentes) foram
conduzidas análises de regressão linear múltipla hierárquica. Ainda que o
critério do tamanho da amostra não se tenha verificado (seriam necessários 82
sujeitos), uma vez que se tratava de uma amostra clínica, a análise foi
efetuada atendendo a que não se observou multicolinearidade (todas as variáveis
independentes revelaram valores de tolerância superiores a 0,10 e de VIF
inferiores a 10; Tabachnick & Fidell, 2013).
De acrescentar que não se encontraram violações severas ao pressuposto da
normalidade, sendo que os valores de assimetria foram |< 3| e de achatamento
|< 10| (Kline, 2005). Relativamente às correlações,
foram consideradas baixas (r entre 0,10 e 0,29), moderadas (r
entre 0,30 e 0,49) e elevadas (r entre 0,50 e 1), de acordo com Pallant
(2013). Em todas as análises foi considerado o nível
de significância inferior a 0,05.
Os valores médios
das variáveis em estudo, mais precisamente dos sintomas emocionais negativos,
dos processos relacionados com a regulação emocional, e da vergonha associada à
doença crónica, assim como os referidos valores separadamente para homens e
mulheres, são apresentados na Tabela 1.
Ao comparar os
valores médios obtidos na presente amostra de pacientes com DC com os
reportados por Trindade et al. (2019) numa amostra de pacientes com doença
inflamatória do intestino (DII), também recrutada online, não se
verificaram diferenças estatisticamente significativas nos sintomas de
depressão (t = 1,65; p = 0,104) e de stress (t =
-1,84; p = 0,070), evidenciando os pacientes com DC mais sintomas de
ansiedade (t = 2,53; p = 0,014). Quanto à fusão cognitiva, a
comparação dos resultados da presente amostra com os obtidos com pacientes com
DII (Trindade, Ferreira, & Pinto-Gouveia,
2018) não indicou a existência de diferenças estatisticamente
significativas (t = -1,23; p = 0,224), o mesmo acontecendo na
comparação dos níveis de vergonha associada à doença crónica (t = -1,10;
p = 0,277) e ao evitamento experiencial (t = -1,97; p =
0,053) (Trindade et al., 2017). Por sua vez, a
comparação da média do autojulgamento em pacientes com DC com as médias obtidas
por Pinto-Gouveia et al. (2013) não revelou
existirem diferenças relativamente aos encontrados numa amostra de pacientes
com diversas doenças crónicas e numa amostra de pacientes com cancro,
evidenciando estas duas amostras o mesmo valor de autojulgamento (t =
-1,88; p = 0,064).
Tendo sido
examinada a eventual existência de diferenças entre homens e mulheres
relativamente a estas variáveis, não se observou a existência de diferenças
estatisticamente significativas em nenhuma delas (p > 0,05).
Enquanto análise
preliminar à condução de regressões lineares múltiplas hierárquicas, foi
efetuado o cálculo de correlações entre as variáveis em estudo, sendo estes
resultados reportados na Tabela 2.
|
Correlações entre Sintomas Psicopatológicos,
Processos de Regulação Emocional e Vergonha Relacionada com Doença Crónica
Numa Amostra de Pessoas com Doença Celíaca |
|
||||||||
|
|
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
8 |
|
|
1. EADS-21 (Depressão) |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
|
|
2. EADS-21 (Ansiedade) |
0,65** |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
|
|
3. EADS-21 (Stress) |
0,83** |
0,73** |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
|
|
4. CFQ-CI |
0,55** |
0,42** |
0,50** |
— |
— |
— |
— |
— |
|
|
5. AAQ-II |
0,68** |
0,44** |
0,67** |
0,60** |
— |
— |
— |
— |
|
|
6. SCS-Comp |
-0,34** |
-0,20 |
-0,40** |
-0,13 |
-0,38** |
— |
— |
— |
|
|
7. SCS-Julg |
0,75** |
0,52** |
0,72** |
0,55** |
0,84** |
-0,36** |
— |
— |
|
|
8. CISS |
0,56** |
0,39** |
0,53** |
0,85** |
0,65** |
-0,21** |
0,59** |
— |
|
|
Nota. EADS-21 = Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress; CFQ-CI = Cognitive
Fusion Questionnaire-Chronic Illness; AAQ-II = Acceptance and Action
Questionnaire- II; SCS-Comp = Self-Compassion Scale –
Self-Compassion; SCS-Julg = Self-Compassion Scale – Self-Judgment; CISS
= Chronic Illness-related Shame Scale. *p < 0,05; **p < 0,01. |
|
Verificaram-se
correlações estatisticamente significativas entre todas as variáveis em estudo,
à exceção da associação entre o índice compósito de autocompaixão e os sintomas
de ansiedade, e entre esse mesmo índice compósito e a fusão cognitiva
relacionada com a doença crónica. Para além disso, foi analisada a existência
de associações entre as variáveis sociodemográficas (idade e anos de
escolaridade), a duração do diagnóstico e demais variáveis. Os resultados
mostraram apenas a existência de uma correlação negativa estatisticamente
significativa entre o tempo de diagnóstico e a vergonha relacionada com a
doença crónica (r = -0,29; p < 0,050).
Com o intuito de explorar quais os preditores dos sintomas depressivos
em pessoas com doença celíaca, procedeu-se ao cálculo da regressão linear
múltipla. Os processos relacionados com a regulação emocional (fusão cognitiva
relacionada com a doença crónica, evitamento experiencial, índices compósitos
de autocompaixão e de autojulgamento) foram integrados no primeiro bloco e a
vergonha relacionada com a doença crónica inserida no segundo bloco, atendendo
a que esta não corresponde a uma variável processo, mas sim a uma medida de
sentimentos de vergonha associados especificamente à condição de doença
crónica. O primeiro bloco explicou 57% da variância dos sintomas depressivos e
o segundo bloco não contribuiu para o aumento da variância, não se revelando
significativo (Tabela 3).
Análise de Regressão Linear Múltipla dos
Preditores (Processos de Regulação Emocional e Vergonha) dos Sintomas
Depressivos Numa Amostra de Pessoas com Doença Celíaca |
||||||||||
|
Preditores |
r |
R2Ajustado |
F |
p |
B |
t |
p |
|
|
|
Modelo 1 |
0,77 |
0,57 |
22,85 |
< 0,001 |
|
|
|
|
|
|
CFQ-CI |
|
|
|
|
0,19 |
1,81 |
0,075 |
|
|
|
AAQ-II |
|
|
|
|
0,07 |
0,45 |
0,653 |
|
|
|
SCS-Comp |
|
|
|
|
-0,08 |
-0,10 |
0,322 |
|
|
|
SCS-Julg |
|
|
|
|
0,56 |
3,72 |
<0,001 |
|
|
|
Modelo 2 |
0,77 |
0,56 |
0,03 |
0,875 |
|
|
|
|
|
|
CFQ-CI |
|
|
|
|
0,17 |
1,07 |
0,287 |
|
|
|
AAQ-II |
|
|
|
|
0,07 |
0,42 |
0,678 |
|
|
|
SCS-Comp |
|
|
|
|
-0,09 |
-0,98 |
0,331 |
|
|
|
SCS-Julg |
|
|
|
|
0,55 |
3,67 |
0,001 |
|
|
|
CISS |
|
|
|
|
0,03 |
0,16 |
0,875 |
|
|
Nota.
CFQ-CI = Cognitive Fusion Questionnaire-Chronic Illness; AAQ-II = Acceptance
and Action Questionnaire- II; SCS-Comp = Self-Compassion Scale
– Self-Compassion; SCS-Julg = Self-Compassion Scale – Self-Judgment; CISS
= Chronic Illness-related Shame Scale. Os valores
a negrito indicam a existência de significância estatística. |
De referir que
apenas o índice compósito de autojulgamento se mostrou significativo na
predição da depressão ( = 0,55; p = 0,001).
Uma análise idêntica
foi também conduzida, considerando num primeiro bloco a fusão cognitiva
relacionada com a doença crónica, o evitamento experiencial, e o índice
compósito de autojulgamento e num segundo bloco a vergonha relacionada com a
doença crónica, na predição dos sintomas ansiosos. Como se pode observar na Tabela 4, o primeiro bloco explicou 27% da variância dos
sintomas de ansiedade e o segundo bloco não contribui para o aumento da
variância deste tipo de sintomas, não se mostrando significativo.
Análise de Regressão Linear Múltipla
dos Preditores (Processos de Regulação Emocional e Vergonha) dos Sintomas
Ansiosos Numa Amostra de Pessoas com Doença Celíaca |
|||||||||
|
Preditores |
r |
R2Ajustado |
F |
p |
B |
t |
p |
|
|
Modelo 1 |
0,55 |
0,27 |
8,94 |
< 0,001 |
|
|
|
|
|
CFQ-CI |
|
|
|
|
0,22 |
1,62 |
0,110 |
|
|
AAQ-II |
|
|
|
|
-0,10 |
-0,48 |
0,631 |
|
|
SCS-Julg |
|
|
|
|
0,48 |
2,48 |
0,016 |
|
|
Modelo 2 |
0,55 |
0,26 |
0,13 |
0,718 |
|
|
|
|
|
CFQ-CI |
|
|
|
|
0,27 |
1,34 |
0,186 |
|
|
AAQ-II |
|
|
|
|
-0,09 |
-0,41 |
0,683 |
|
|
SCS-Julg |
|
|
|
|
0,49 |
2,49 |
0,016 |
|
|
CISS |
|
|
|
|
-0,08 |
-0,36 |
0,718 |
|
Nota. CFQ-CI = Cognitive
Fusion Questionnaire-Chronic Illness; AAQ-II =Acceptance and Action
Questionnaire-II; SCS-Julg = Self-Compassion Scale –
Self-Judgment; CISS = Chronic Illness-related Shame Scale. Os valores a
negrito indicam a existência de significância estatística. |
De modo semelhante ao
sucedido com os sintomas de depressão, também no que se refere aos sintomas de
ansiedade, o único preditor que se revelou significativo foi o autojulgamento ( = 0,49; p = 0,016).
Relativamente aos
sintomas de stress nas pessoas com
doença celíaca, também num primeiro bloco da análise de regressão linear foram
inseridos os processos relacionados com a regulação emocional, sendo a vergonha
relacionada com a doença crónica adicionada num segundo bloco. O primeiro bloco
explicou 54% da variância dos sintomas de stress
e o segundo bloco não contribuiu para o aumento da variância deste tipo de
sintomas, não revelando significância estatística (Tabela 5).
Relativamente aos
sintomas de stress, o único preditor
significativo foi o autojulgamento (índice compósito de autocriticismo,
isolamento e sobreidentificação; = 0,49; p = 0,003).
Este estudo pretendeu examinar
o papel preditor de processos relacionados com a regulação emocional (fusão
cognitiva, evitamento experiencial, autocompaixão e autojulgamento) e da
vergonha relacionada com a doença crónica em indivíduos com doença celíaca.
O cálculo dos valores médios para as variáveis
em estudo e a comparação destes com os encontrados noutras amostras de
pacientes com doença crónica (e.g., DII) revelou que os pacientes com DC da
presente amostra não apresentam diferenças em termos de sintomas de depressão e
de stress, bem como dos níveis de evitamento experiencial, mas revelam
mais sintomas de ansiedade (Trindade et al., 2019). A inexistência de diferenças
estatisticamente significativas também se observou relativamente à fusão cognitiva
e aos níveis de vergonha associada à doença crónica reportados em doentes com
DII (Trindade, Marta‐Simões et al., 2018). No caso do autojulgamento também não se
verificaram diferenças entre os pacientes com DC e pacientes com diversas
doenças crónicas ou pacientes com cancro (Pinto-Gouveia et al., 2013). Na sua globalidade, os resultados sugerem
que os pacientes com DC não diferem de pacientes com outras patologias crónicas,
no entanto, estes resultados poderão encontrar uma maior sustentação em estudos
futuros com amostras maiores de pacientes com DC, assim como a exploração de
resultados relativamente aos sintomas de ansiedade. Para além disso,
hipotetizamos que o tamanho da amostra, a duração do diagnóstico, bem como as
manifestações da própria doença poderão contribuir para os resultados
encontrados no presente estudo. Efetivamente, é de salientar que as
manifestações de doença não se traduzem em alterações da imagem corporal,
avaliação negativa por parte dos outros, limitações major de natureza social,
podendo ter um menor impacto nos sentimentos de vergonha.
Ao considerar a relação entre as variáveis
sociodemográficas da idade e anos de escolaridade, os processos relacionados
com a regulação emocional e a vergonha relativa à doença crónica, não foram
encontradas associações significativas. Assim, o recurso a diferentes processos
para regular as emoções em pacientes com DC parece não depender da idade ou do
nível de escolaridade dos pacientes. Estudos anteriores têm apontado resultados
diversos relativamente a estes aspetos. Por exemplo, Carvalho et al. (2019) referem que,
num estudo de natureza longitudinal realizado numa amostra de pacientes com dor
crónica, as variáveis demográficas, como a idade ou os anos de escolaridade não
se revelaram associadas com os sintomas de depressão em nenhum dos momentos de
avaliação considerados no estudo. No entanto, Pinto-Gouveia et al. (2013),
reportaram a existência de uma correlação negativa entre o nível de
escolaridade e o autojulgamento, os sintomas de depressão, ansiedade e stress,
num grupo de pacientes com diversas doenças crónicas e num grupo de
pacientes com cancro. Assim, ainda que a associação entre os anos de
escolaridade, a regulação emocional e os sintomas psicopatológicos possa vir a
ser alvo de análise em estudos futuros, é de referir que na nossa amostra a
média de anos de escolaridade dos participantes se situou ao nível do ensino
superior, ao passo que a indicada no estudo acima referido se localizava no 3º
ciclo do ensino básico.
Tendo em conta a relação entre a duração do
diagnóstico e as variáveis analisadas, apenas foi encontrada uma correlação
negativa baixa com a vergonha associada à doença crónica. Esta poderá ser
compreendida se atendemos a que um maior tempo de vivência com a DC poderá
conduzir a uma diminuição dos sentimentos de vergonha resultantes da
experiência da doença, face a uma maior adaptação e normalização das
manifestações da doença e das implicações da DIG.
No presente estudo, a análise de eventuais
diferenças entre homens e mulheres no tocante às diferentes variáveis
consideradas não revelou a existência de diferenças estatisticamente
significativas em nenhuma das variáveis. Com efeito, a existência de maiores
níveis de sintomas psicopatológicos em mulheres comparativamente com homens
encontra-se largamente documentada (American Psychiatric Association, 2014). Já no que se refere aos processos
relacionados com a regulação emocional, os resultados de estudos anteriores não
são conclusivos. Por exemplo, Dinis et al. (2015) não encontraram diferenças no evitamento experiencial, mas referem
que as mulheres apresentaram valores mais elevados de fusão cognitiva
comparativamente com os homens. Já Ruiz et al. (2017), num estudo que englobou diversas amostras, reportam que em algumas
existem diferenças nas pontuações médias de um instrumento de fusão cognitiva,
enquanto que noutras tal não se verifica. Por sua vez Galhardo et al. (2013) relatam a existência de maiores níveis de
autojulgamento e de vergonha nas mulheres com um diagnóstico de infertilidade,
mas não indicam a existência de diferenças entre os sexos relativamente à
autocompaixão. Independentemente da
literatura não ser conclusiva a este respeito, há que referir que a presente
amostra de pacientes com DC é reduzida e que os homens são em número ainda mais
reduzido. Como tal, consideramos que numa amostra de maior dimensão global, em
que ambos os sexos se encontrem representados com maior equivalência, este
resultado poderá ser diferente.
Relativamente ao principal objetivo deste
estudo, o índice compósito de autojulgamento, que integra as componentes de
autocriticismo, isolamento e sobreidentificação, revelou-se o único preditor
significativo dos sintomas emocionais negativos de depressão, ansiedade e stress.
Estes resultados sugerem que quando os pacientes evidenciam maior autocritica,
se isolam e se sobreidentificam com a sua doença, têm mais probabilidade de
desenvolver sintomas de depressão, ansiedade e stress. Efetivamente, um
padrão idêntico já tinha sido identificado num estudo anterior que comparou
sujeitos com diversas doenças crónicas (hipertensão, insuficiência cardíaca,
artrite reumatoide, psoríase, osteoporose, doenças alérgicas, hipertiroidismo,
doença de Crohn, bronquite asmática e glaucoma), controlos saudáveis e
pacientes com cancro, no qual o autojulgamento foi também reportado como o
único preditor significativo dos sintomas de depressão e de stress no
grupo de pacientes com um diagnóstico de doença crónica (Pinto-Gouveia et al.,
2013). De modo idêntico, Kane et al. (2018) observaram, em pacientes com diabetes tipo
2, que as dimensões negativas da autocompaixão, que correspondem ao índice
compósito de autojulgamento, se associavam com o stress inerente à
diabetes. Assim, também na DC, a adoção de uma atitude mais ajuizadora, mais
autocrítica, a visão de si como isolado dos outros, e uma sobreidentificação
com os problemas que a doença pode acarretar, parecer ser facilitadores do
surgimento e manutenção de sintomas psicopatológicos.
Na globalidade, os resultados sugerem que em
pacientes com DC, as abordagens terapêuticas que fomentam a
redução do autojulgamento, como é o caso da Terapia Focada na Compaixão (TFC),
podem ser particularmente adequadas no que respeita à diminuição dos sintomas
emocionais negativos. Esta abordagem terapêutica transdiagnóstica integra
contributos da psicologia evolucionária, social, desenvolvimental e Budista,
assim como das neurociências. A TFC tem o intuito de desenvolver motivações e
competências compassivas que, por sua vez, contribuem para uma maior abertura e
tolerância face a dificuldades (como as que tendem a resultar da experiência de
doença crónica) (Gilbert,
2014). De mencionar que a
TFC tem demonstrado efeitos benéficos na depressão, ansiedade e stress (Leaviss & Uttley, 2014), promovendo o bem-estar e a
diminuição dos níveis de stress em pessoas com doença crónica (Sirois & Rowse,
2016). De acrescentar que, para além da TFC se mostrar eficaz na redução de
sintomas psicopatológicos, há a referir que um dos mecanismos associados a esta
redução é precisamente o da diminuição dos níveis de autocriticismo (Cuppage et al., 2018). De notar ainda que a TFC tem
vindo a ser descrita como fácil de compreender, bem tolerada, útil e conducente
a uma melhoria das dificuldades psicológicas em contextos naturalistas (Judge et al., 2012). Tal é válido, mesmo num formato de
autoajuda guiada (Sommers-Spijkerman et al., 2018),
o que facilita a sua aplicação em diversas populações, sendo apontada como uma
estratégia de promoção de saúde mental promissora.
Na análise dos resultados deste estudo há que atender a algumas
limitações. Em primeiro lugar, o estudo foi conduzido numa amostra de tamanho
reduzido, não assegurando a representatividade dos pacientes com DC. Assim,
investigações futuras deverão ser realizadas em amostras de maior dimensão e,
como já referido, com um maior equilíbrio entre participantes do sexo masculino
e feminino. Outra limitação prende-se com o procedimento de recolha dos dados.
Por um lado, os participantes foram recrutados através de uma associação de
pacientes, sendo que a sua participação numa entidade deste tipo pode traduzir
uma melhor adaptação à sua condição de doença e contribuir para níveis mais
baixos de psicopatologia. Por outro lado, a recolha de dados num formato online
fez com que o diagnóstico de DC fosse autorreportado, não tendo havido consulta
de processos médicos.
Conclusão
Não obstante as limitações indicadas, o estudo contribuiu para uma
melhor compreensão do papel dos processos relacionados com a regulação
emocional em pessoas com DC e sua ligação com sintomas emocionais negativos.
Neste contexto, foi identificado o autojulgamento como um alvo de intervenção
relevante nestes pacientes, sendo que a recomendação da existência de apoio psicológico destinado a sujeitos com DC havia
já sido apontada (e.g., Addolorato,
2001; Addolorato et
al., 2004; Zarkadas et al., 2006). Mais especificamente, a integração de aspetos relacionados com as
competências de regulação emocional, nas intervenções terapêuticas, contribui
para a eficácia das referidas intervenções (Berking et
al., 2008; Wierenga et al., 2017),
o que parece poder também aplicar-se em pacientes com DC.
Agradecimentos | Acknowledgements: Os autores gostariam de agradecer à Associação Portuguesa de Celíacos
(APC) pela colaboração na divulgação do estudo para efeitos de recolha da
amostra clínica.
Conflito de interesses | Conflict of interest: nenhum | none.
Fontes de financiamento | Funding sources: nenhuma | none.
Contributos: MF:
Pesquisa bibliográfica; Revisão da literatura; Preparação das medidas e
escrita do protocolo; Recrutamento dos participantes; Análise estatística;
Escrita do manuscrito. AG: Desenho do estudo; Preparação das medidas e
escrita do protocolo; Análise estatística; Supervisão da escrita do manuscrito
e aprovação do manuscrito final. IMC: Análise estatística; Revisão final
e aprovação do manuscrito.
Addolorato,
G. (2001). Anxiety but not depression decreases in coeliac patients after
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