Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social 2019 Vol. 6 (2):
1-11
Portuguese Journal of
Behavioral and Social Research 2019 Vol. 6 (2): 1-11
Departamento de Investigação & Desenvolvimento • Instituto Superior
Miguel Torga
ARTIGO ORIGINAL
A utilização de vinhetas na saúde mental:
Tradução e adaptação transcultural de uma vinheta de ansiedade social em
adolescentes
The use of vignettes in mental health:
Translation and cross-cultural adaptation of a social anxiety vignette in
adolescents
Tânia
Morgado (1)
Luís
Loureiro (2)
Maria
Antónia Rebelo Botelho (3)
(1) Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra, Unidade de Investigação em Ciências da Saúde:
Enfermagem, Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, Portugal
(2) Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Unidade de Investigação
em Ciências da Saúde: Enfermagem, Coimbra, Portugal
(3) Escola Superior de Enfermagem de Lisboa,
Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Enfermagem, Lisboa, Portugal
Recebido: 17/06/2020; Revisto: 10/07/2020; Aceite: 20/10/2020.
https://doi.org/10.31211/rpics.2020.6.2.179
Contexto: Apresentar a tradução e adaptação transcultural de uma vinheta de ansiedade social em
adolescentes para o português europeu, para integrar o
“Questionário de Avaliação da Literacia em Saúde Mental — QuALiSMental”. Métodos: Realizou-se um estudo metodológico de tradução e adaptação transcultural da vinheta
de ansiedade social em adolescentes para o português europeu segundo as
etapas: 1) tradução; 2) síntese das traduções; 3) retrotradução;
4) síntese das retrotraduções; 5) painel de peritos,
constituído por oito profissionais de diferentes áreas da saúde; 6) cognitive debriefing, integrando seis adolescentes com uma
média de idades de 14,33 anos (DP = 0,52); 7) revisão e relatório final.
Ao longo deste processo, tivemos em conta as considerações éticas. Resultados: Obteve-se uma vinheta de ansiedade social nos adolescentes
“João” e “Joana” no português europeu. Salientamos os resultados relativos às
etapas: painel de peritos e cognitive debriefing. Foram obtidos os critérios de consenso,
entre os peritos, para a equivalência semântica e idiomática, a equivalência
experiencial e cultural e a equivalência conceptual. No cognitive debriefing verificou-se 100% de
concordância relativamente à clareza do conteúdo da vinheta no português
europeu. Conclusões: Esta vinheta
pode ser utilizada na prática clínica, nos diferentes níveis de cuidados, na
educação/formação e na investigação. Integrada no QuALiSMental
permite a avaliação da literacia em saúde mental sobre a ansiedade em adolescentes
em diversos contextos e/ou avaliação da efetividade de intervenções psicoeducacionais nesta área.
Palavras-Chave: Saúde Mental; Literacia em Saúde Mental;
Ansiedade Social; Adolescentes; Vinhetas; Estudo metodológico.
Objective: To present the translation and
cross-cultural adaptation of a social anxiety vignette in adolescents into
European Portuguese and the consequent integration in the Mental Health
Literacy Assessment Questionnaire — QuALiSMental.
Method: A methodological study of
translation and cross-cultural adaptation of a social anxiety vignette in
adolescents into European Portuguese was carried out, according to the stages:
1) translation; 2) synthesis of translations; 3) back-translation; 4) synthesis
of back-translations; 5) panel of experts with eight professionals from
different areas of health; 5) cognitive debriefing integrating six adolescents
with an average age of 14.33 years (SD = 0.52); 6) review and final
report. Throughout this process, we have taken into account the ethical
considerations. Results: A vignette
of social anxiety was obtained in the teenagers “João” and “Joana” in European
Portuguese. We highlight the results related to the stages: the panel of
experts and cognitive debriefing. Consensus criteria were obtained among
experts for semantic and idiomatic equivalence, experiential and cultural
equivalence, and conceptual equivalence. In the cognitive debriefing, a 100%
agreement was found regarding the clarity of the vignette's content in the
European Portuguese. Conclusions:
This vignette can be used in clinical practice at different levels of care,
education/training, and research. Integrated with QuALiSMental
allows the assessment of mental health literacy on anxiety in adolescents in
different contexts and/or assessments of psychoeducational interventions'
effectiveness in this area.
Keywords: Mental Health; Health Literacy; Social phobia; Adolescent; Vignette; Methodological
Study.
A palavra “vinheta” corresponde à tradução
portuguesa da palavra francesa vignette e a sua
utilidade vai desde as artes gráficas e outras áreas da comunicação, às
ciências sociais e da saúde, à educação e desenvolvimento profissional e à
investigação. Pode ser definida como uma ilustração em palavras,
descrevendo um evento, acontecimento, circunstância ou cenário, representativos
da realidade ou fictícios, permitindo avaliar crenças, atitudes e/ou
comportamentos (Eifler & Petzold,
2019; Steiner et
al., 2016).
A introdução de vinhetas nas ciências sociais
e na investigação como estratégia de colheita de dados terá ocorrido nos anos
50 do século XX por Herskovits (1950), numa época de predomínio do paradigma
positivista, em que eram elaboradas descrições sistemáticas de situações
concretas que se mostravam favoráveis à expressão da opinião dos entrevistados
(Torres, 2009). Contemporaneamente, nas ciências da
saúde e mais especificamente na área da saúde mental, Woodward
(1951) e Star (1952; 1955) foram pioneiros na utilização de vinhetas nas suas
investigações sobre o conhecimento e as atitudes da população perante descrições
de pessoas com perturbações mentais. Seguiram-se autores como Kluckhohn, Strodtbeck e Ervin-Tripp na década de 60; Rossi, Alexander
e Becker na década de 70; Finch nos anos 80; Hughes, Huby, Richman,
Mercer, Barter e Renold nos anos 90 e 2000 (Torres,
2009).
No contexto das ciências da saúde adotaram a
denominação de vinhetas clínicas e a sua utilização vai desde a
educação, a formação e desenvolvimento profissional à intervenção e
investigação, sendo utilizadas em diferentes manuais e apresentadas enquanto
casos clínicos, inclusive em eventos científicos.
A literatura mostra que a utilização de
vinhetas como estratégia de colheita de dados evoluiu ao longo do tempo,
podendo ser usadas em diferentes formatos e para diferentes fins (Steiner et al., 2016), em função
do tipo (de conteúdo específico e de ancoragem), da forma (face-a-face, por
escrito, áudio e/ou vídeo), do contexto e da população a que se destinam.
As vinhetas de conteúdo específico são
descrições baseadas em experiências pessoais ou situações hipotéticas, em que
introduzem os participantes num cenário que lhes é comum, no qual uma
personagem é o foco, e exploram as diferentes dimensões em interação nas
respostas dos participantes (Keane et
al., 2012). Estas vinhetas são particularmente úteis quando o seu conteúdo
é manipulado num contexto experimentalmente controlado para analisar os efeitos
de variáveis específicas (Keane et al.,
2012).
Por sua vez, as vinhetas de ancoragem são
breves descrições hipotéticas referentes a situações fictícias relacionadas com
um único conceito ou caraterística em estudo, através de itens de autoavaliação
e utilizando a mesma escala de resposta, por exemplo uma escala do tipo Likert
(Grol-Prokopczyk et al., 2015;
King et al., 2004; King & Wand, 2007). Este tipo de vinhetas é usado para obter
comparabilidade entre populações e ajustar diferentes expetativas dos
participantes (Keane et al., 2012;
King et al., 2004; King & Wand, 2007) e simultaneamente, pelas suas
caraterísticas, aumentam consideravelmente a validade interna e fidelidade dos
estudos (Steiner et al., 2016).
Investigadores da Organização Mundial de Saúde concluíram que as vinhetas de
ancoragem, das estratégias disponíveis, eram as mais promissoras (Grol-Prokopczyk et al., 2015;
Keane et al., 2012).
O desenho e validação de vinhetas requer um
processo elaborado e sistemático com vista a obtenção de dados adequados em
resposta aos objetivos do estudo, exigindo que as situações descritas sejam
realistas, concretas, relevantes, estruturadas, compreensíveis, consistentes,
concisas, flexíveis e neutras (Steiner
et al., 2016; Keane
et al., 2012). Assim, as perguntas associadas a vinhetas são mais
realistas, menos abstratas e mais atrativas do que as perguntas convencionais (Steiner et al., 2016), podendo
ser utilizadas no desenvolvimento de role-playing
para avaliação de opiniões, preferências, intenções ou decisões dos
participantes (Rungtusanatham
et al., 2011). Devido à sua flexibilidade podem ser usadas como
técnica projetiva para evitar respostas socialmente desejáveis ou politicamente
corretas ao lidar com tópicos sensíveis (Eifler & Petzold, 2019; Gourlay et al., 2014; Steiner et al., 2016). Quer na investigação, quer na intervenção,
os autores acrescentam outras vantagens da utilização de vinhetas, como
facilitar a comunicação entre os profissionais/investigadores e os
utentes/participantes, incentivando o relato das suas experiências pessoais
através da criação de um ambiente favorável e da identificação com uma terceira
pessoa (Eifler & Petzold, 2019;
Findor, 2017; Gourlay et al., 2014; Steiner et al., 2016; Winters & Weitz-Shapiro,
2013).
Na área da saúde mental e psiquiatria, mais
recentemente, vários estudos têm sido desenvolvidos com recurso a vinhetas,
nomeadamente na promoção da literacia em saúde mental e redução do estigma,
inclusive em crianças, adolescentes e jovens (Attygalle et al., 2017; Clark et al., 2020; Dey et al., 2019;
DuPont-Reyes et
al., 2020; Hart et al., 2019;
Jorm et al., 2007; Loureiro & Freitas, 2020; Reavley & Jorm, 2011; Rosa; 2018; Rosa et al., 2014).
Destacamos o trabalho desenvolvido por
Anthony Jorm e colaboradores, que definiram o
conceito de literacia em saúde mental no final da década de 90 (Jorm et al., 1997), na sequência da
definição de literacia em saúde pela Organização Mundial de Saúde (Nutbeam, 1993). Passados alguns
anos, Jorm et al. (2007), numa
investigação sobre as crenças de primeira ajuda em saúde mental de adolescentes
e jovens e respetivos pais, recorreram ao instrumento de colheita de dados Survey of Mental Health Literacy in Young People – Interview Version, utilizando
vinhetas sobre a depressão, a depressão com abuso de álcool, a esquizofrenia e
a ansiedade social nos adolescentes “John” e “Jenny”.
A vinheta de ansiedade social foi incluída
pela elevada prevalência de perturbações de ansiedade (Reavley & Jorm, 2011) e retratava uma
situação de ansiedade comum, mas incapacitante, que muitas vezes não chegava a
ser diagnosticada (Jorm et al., 2007).
Este instrumento de colheita de dados foi trazido para Portugal por Loureiro e
colaboradores, que procederam à sua tradução, adaptação transcultural e
validação para o português europeu (Loureiro, 2015;
Loureiro et al., 2012), com as vinhetas de
depressão, esquizofrenia e uso de álcool, originando a versão portuguesa Questionário
de Avaliação da Literacia em Saúde Mental (QuALiSMental).
Mundialmente, aproximadamente 16% das
crianças e adolescentes sofrem de alguma perturbação mental e a prevalência
mundial de qualquer perturbação da ansiedade em crianças e adolescentes é de
6,5% (Organização Mundial de Saúde, 2018). Em
Portugal, as perturbações de ansiedade são as perturbações psiquiátricas mais
comuns com uma prevalência anual de 16,5% (Caldas de
Almeida et al., 2015), tendo-se verificado o predomínio da ansiedade em
66,3% dos 1403 adolescentes com idades entre os 13 e os 17 anos que recorreram
à urgência de um hospital pediátrico, de 2011 a 2014 (Trinco
& Santos, 2015). Estes dados reforçam a importância da promoção da
saúde mental e da literacia, da prevenção das perturbações mentais, incluindo
as de ansiedade e da respetiva identificação, avaliação e intervenção, o mais
precocemente possível.
Neste contexto, o presente artigo pretende
apresentar o processo de tradução e adaptação transcultural da vinheta de
ansiedade social em adolescentes, do instrumento Survey
of Mental Health Literacy in Young People – Interview Version (Jorm et
al., 2007) para o português europeu e consequente integração no QuALiSMental.
Realizou-se um estudo
metodológico de tradução e adaptação transcultural, segundo Beaton
et al. (2007), Wild et al.
(2005) e Sousa e Rojjanasrirat
(2011), da vinheta de ansiedade social nos
adolescentes “John” e “Jenny” (Jorm et al., 2007) para o português europeu, que
decorreu em junho e julho de 2015.
Etapa 1 - Tradução
Após a permissão
dos autores da vinheta, iniciou-se o processo de tradução da vinheta do inglês
para o português europeu por dois tradutores independentes, originando duas
traduções: T1 (por tradutor oficial, português, bilingue) e T2 (por tradutor
português, bilingue, enfermeira, conhecedora dos objetivos do estudo).
Etapa 2 – Síntese das traduções
A partir da vinheta
original e da comparação com as duas traduções T1 e T2, a investigadora
juntamente com os tradutores realizaram uma síntese das traduções produzindo
uma tradução comum (T-12), que originou a primeira versão da vinheta no
português europeu.
Etapa 3 – Retrotradução
Partindo da
primeira versão da vinheta no português europeu, novamente dois tradutores
independentes traduziram a vinheta do português europeu para o inglês: R1 (por
tradutor oficial, nativo inglês, bilingue) e R2 (por tradutor nativo inglês,
bilingue, enfermeira, conhecedora dos objetivos do estudo).
Etapa 4 – Síntese das retrotraduções
As duas retrotraduções R1 e R2 foram comparadas com a versão
original da vinheta e foram enviadas ao autor para verificação e validação
semântica, o qual se manifestou positivamente, recomendando apenas duas
alterações. Deste processo resultou a retrotradução
R-12, que deu origem à segunda versão da vinheta no português europeu.
Etapa 5 – Painel de peritos
Seguidamente foi
constituído um painel interdisciplinar de oito peritos, indo ao encontro das
recomendações de Beaton et al. (2007)
e Sousa e Rojjanasrirat (2011).
Os peritos foram selecionados intencionalmente, segundo os seguintes critérios:
1) ser profissional de saúde perito no domínio da saúde mental e/ou ansiedade
e/ou adolescência; 2) ter experiência profissional de, pelo menos, cinco anos;
3) possuir mestrado ou doutoramento; 4) ter experiência curricular relevante na
área de perícia (desenvolvimento e implementação de projetos, publicações e
comunicações orais e/ou pósteres em eventos científicos). Os peritos foram
convidados por email, apresentando o objetivo, a metodologia e a clarificação
dos conceitos. Este painel de peritos teve como objetivo avaliar a equivalência
semântica/idiomática; experiencial/cultural e conceptual entre a versão
original e a segunda versão da vinheta no português europeu (Beaton et al., 2007), atribuindo
uma pontuação numa escala de Likert de cinco níveis e sendo dada a
possibilidade de apresentar sugestões.
Foram definidos os
critérios de consenso (adaptado de Fink et al., 1991): a) média aritmética das pontuações igual ou superior a quatro, com
pontuação mínima de três em cada item; b) Pelo menos, 87,5% de consenso dos
peritos (7 em 8 peritos) com pontuação ≥ 4 em cada item. Os resultados obtidos
foram devolvidos a todos os peritos. Desta etapa resultou a terceira versão da
vinheta no português europeu.
Etapa 6 – Cognitive debriefing
Tal como
recomendado por Wild et al. (2005)
e Sousa e Rojjanasrirat (2011),
para garantir que a terceira versão da vinheta no português europeu era clara e
compreensível para a população em que viria a ser utilizada, realizou-se um cognitive debriefing
com seis adolescentes a frequentar o nono ano de escolaridade, selecionados intencionalmente.
Este número vai ao encontro da sugestão de Wild et
al. (2005), de cinco a oito participantes. Dos
adolescentes que participaram, 50% eram do sexo feminino, com uma média de
idades de 14,33 anos (DP = 0,52), idêntica à das personagens da vinheta.
Foi solicitado aos adolescentes que lessem a terceira versão da vinheta no
português europeu, analisassem a sua clareza e, caso sentissem necessidade,
apresentassem sugestões de melhoria. Como critério de consenso, teria de
verificar-se pelo menos 80% de concordância, entre os adolescentes,
relativamente ao texto da vinheta e às respetivas alterações sugeridas, tal
como referido por Sousa e Rojjanasrirat (2011). Adicionalmente, os adolescentes foram questionados
sobre o reconhecimento da situação descrita na vinheta. Desta etapa resultou a
quarta versão da vinheta no português europeu.
Etapa 7 – Revisão e relatório final
Após a revisão
final obteve-se a última versão da vinheta no português europeu. Ao longo de
todo o processo, tivemos em conta as seguintes considerações éticas: obtenção
da autorização do autor da vinheta original para a tradução e adaptação
transcultural para o português europeu; a garantia de anonimato dos tradutores
envolvidos; a obtenção do consentimento informado dos peritos e garantia de
anonimato e confidencialidade; a obtenção do consentimento informado dos
adolescentes e respetivos representantes legais para a participação no cognitive debriefing.
Por fim, foi realizado o relatório final do processo de tradução e adaptação
transcultural da vinheta de ansiedade social em adolescentes para o português
europeu, nas versões do “João” e da “Joana”.
A partir da versão
original (Quadro 1) da vinheta de ansiedade social nos
adolescentes “John” e “Jenny” (Jorm et al., 2007), iremos apresentar a sua versão
final no português europeu para os adolescentes “João” e “Joana”, dando ênfase
aos resultados do painel de peritos e do cognitive debriefing, respetivamente.
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Versão Original
da Vinheta de Ansiedade Social em Adolescentes |
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John/Jenny
is a 15-year-old living at home with his/her parents. Since starting his/her
new school last year he/she has become even more shy than usual and has made
only one friend. He/she would really like to make more friends but is scared
that he/she’ll do or say something embarrassing when he/she’s around others.
Although John/Jenny’s work is OK he/she rarely says a word in class and
becomes incredibly nervous, trembles, blushes and seems like he/she might
vomit if he/she has to answer a question or speak in front of the class. At
home, John/Jenny is quite talkative with his/her family, but becomes quiet if
anyone he/she doesn’t know well comes over. He/she never answers the phone
and he/she refuses to attend social gatherings.
He/she knows his/her fears are unreasonable but he/she can’t seem to control
them and this really upsets him/her. |
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O painel de peritos
foi constituído de acordo com os critérios de seleção e a sua caracterização
apresenta-se na Tabela 1.
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Caracterização
dos Peritos (N = 8) |
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Características |
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M (DP) |
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|
Idade (anos) |
|
49,25
(7,52) |
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Tempo de exercício
profissional (anos) |
|
25,25
(6,78) |
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n (%) |
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Sexo |
Feminino |
5
(62,5) |
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Masculino |
3
(37,5) |
|
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Atividade Profissional |
Enfermeiros EESMP (Clínica e/ou Docência) |
4
(50,0) |
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Psicólogos (Clínica e/ou Docência) |
3
(37,5) |
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Pedopsiquiatra (Clínica) |
1
(12,5) |
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Formação Académica |
Mestrado |
4
(50,0) |
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Doutoramento |
4
(50,0) |
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Nota. EESMP = Especialistas em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica. |
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Foram obtidos os critérios de consenso no painel de peritos (Tabela 2). A maioria das alterações sugeridas pelos peritos
foram integradas, resultando deste processo, a terceira versão da vinheta no
português europeu.
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Níveis de
Consenso no Painel de Peritos |
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Equivalência |
Média (DP) |
% (Pontuação ≥ 4) |
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Equivalência Semântica e Idiomática |
4,75 (0,49) |
100 |
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Equivalência Experiencial e Cultural |
4,63 (0,53) |
100 |
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Equivalência Conceptual |
4,69 (0,63) |
87,5 |
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No cognitive debriefing, após
a leitura e análise da terceira versão da vinheta no português europeu pelos
adolescentes, verificou-se 100% de concordância relativamente à clareza do seu
conteúdo. Referiram que compreenderam o significado e o sentido de todas as
palavras e não apresentaram sugestões. Relativamente ao esclarecimento de
algumas questões colocadas pelos peritos: 1) manifestaram preferência pela
palavra “exagerados” em vez de “irracionais”; 2) concordaram com a referência
ao telefone, apesar de reconhecerem que atualmente os adolescentes utilizam
mais frequentemente o telemóvel. Relativamente ao reconhecimento da situação
descrita na vinheta, 50% dos adolescentes consideraram que o(a) adolescente
apresentava “falta de confiança”; 33,33% referiram “ansiedade” e 16,6% referiram
“medo de comunicar”; “stress”; “timidez”; “dificuldade nas relações
interpessoais” e “problemas da adolescência”. Deste processo resultou a quarta
versão da vinheta no português europeu, que após revisões finais deu origem à
versão final (Quadro 2).
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Versão Final da
Vinheta de Ansiedade Social em Adolescentes no Português Europeu |
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O(A) João/Joana é um(a) adolescente de 15 anos
que vive com os pais. Desde que mudou para uma nova escola no ano passado,
tornou-se ainda mais tímido(a) do que habitualmente e fez apenas um(a)
amigo(a). Ele(a) gostaria de fazer mais amigos, mas tem medo de fazer ou
dizer algo embaraçoso quando está com outras pessoas. Embora o desempenho
escolar do(a) João/Joana seja razoável, raramente participa nas aulas e fica
muito nervoso(a), corado(a), a tremer e sente que pode vomitar se tiver de
responder a alguma pergunta ou falar na frente da turma. Em casa, o(a)
João/Joana é muito conversador(a) com a família, mas fica calado(a) quando
recebem alguém que não conhece bem. Nunca atende o telefone e recusa-se a
participar em eventos sociais. Ele(a) sabe que os seus medos são exagerados,
mas não consegue controlá-los e isso realmente perturba-o(a). |
|
O principal resultado deste estudo foi a obtenção e a disponibilização
de uma vinheta de ansiedade social em adolescentes no português europeu.
Em relação à metodologia, não se tratando de uma escala ou
questionário, optámos por terminar o processo no cognitive
debriefing, revisão e relatório final, tal como é
sugerido por Wild et al. (2005), apesar de alguns autores alertarem para a
necessidade de estudos piloto e estudos de avaliação das características
psicométricas de instrumentos (Beaton
et al., 2007; Sousa & Rojjanasrirat, 2011). Relativamente à constituição do painel de peritos, Wild et al. (2005) sugerem aumentar o número de
participantes, diversificando os conhecimentos e as experiências. Por exemplo,
poderiam ter sido incluídos peritos na área linguística para facilitar o
esclarecimento imediato de dúvidas, relacionadas com a equivalência semântica,
idiomática e conceptual (Beaton
et al., 2007; Sousa & Rojjanasrirat, 2011; Wild et al.,
2005). Da mesma forma, apesar do cognitive debriefing
ter sido constituído de acordo com as orientações de Wild
et al. (2005),
outros autores sugerem um maior número de participantes para diversificar e
enriquecer a partilha de opiniões (Sousa & Rojjanasrirat,
2011).
Em Portugal, o presente estudo surge na continuidade do processo de
tradução, adaptação transcultural e validação do instrumento de avaliação da
literacia em saúde mental de Jorm et al. (1997) para o
português europeu por Loureiro e colaboradores, originando o QuALiSMental (Loureiro, 2015; Loureiro et
al., 2012, 2013a, 2013b). Segundo o autor, este
instrumento demonstra ser um instrumento válido, com validade de construto e de
conteúdo, e fidedigno, com índices de fidelidade satisfatórios (Loureiro, 2015),
opinião reiterada por Guo et al. (2018). Pode ser utilizado, quer como
instrumento de avaliação da literacia em saúde mental, quer como instrumento de
avaliação do impacto das intervenções de promoção da saúde mental em
adolescentes e jovens (Loureiro, 2015). No entanto, alguns autores optaram por
traduzir e adaptar transculturalmente outros instrumentos de avaliação da
literacia em saúde mental em jovens (Loureiro, 2018) ou criar novas vinhetas e/ou novos
instrumentos para avaliação da literacia em saúde mental em adolescentes (Campos et al., 2016; Kutcher et al., 2016; O’Connor et al., 2014), inclusive no âmbito do conhecimento específico
de enfermagem (Rosa; 2018; Rosa
et al., 2014).
Apesar das múltiplas vantagens da utilização das vinhetas, têm vindo a
ser referidas algumas desvantagens, nomeadamente no que se refere à validade
interna e externa. O caráter multivalente das vinhetas permite uma investigação
simultânea de vários fatores e os efeitos da interação entre eles pode ser
estimada e testada, sendo que o uso de desenhos experimentais nos estudos com
vinhetas garantem-lhes uma elevada validade interna (Steiner et al., 2016). Alguns autores questionam a capacidade de representatividade da
realidade nas vinhetas e a generalização dos resultados, devido aos possíveis
desvios nas respostas dos participantes às vinhetas e em contexto real, por
exemplo no que se refere à intenção de comportamento e ao comportamento real (Eifler & Petzold, 2019; Telser & Zweifel, 2007). Em relação a tópicos sensíveis, as
opiniões divergem e, se por um lado, os autores afirmam que o comportamento
real dificilmente é determinado com a utilização de vinhetas (Petzold & Wolbring 2019),
por outro lado, quando esses tópicos sensíveis são abordados em estudos
experimentais, o viés de desejabilidade social pode ser minimizado com a
utilização de vinhetas e com o discurso na terceira pessoa (Eifler & Petzold, 2019; Gourlay et al., 2014; Steiner et al., 2016). Em particular, o estudo de Winters e Weitz-Shapiro (2013) relativo ao tópico “corrupção política”, recorreu a um estudo
experimental e comparou resultados perante vinhetas na terceira e na segunda
pessoa que se revelaram idênticos, concluindo que provavelmente perante tópicos
moderadamente sensíveis, não será necessária a utilização de vinhetas na
terceira pessoa.
Vários autores preocupados com a validade externa têm desenvolvido
estudos que avaliam as escolhas e as decisões dos participantes com recurso
simultâneo a vinhetas e ao contexto real (Eifler & Petzold, 2019; Findor, 2017; Hainmueller et al., 2015; Steiner et al., 2016).
No contexto da ansiedade em adolescentes e jovens, inúmeros autores
evidenciam as vantagens da utilização de vinhetas (Attygalle
et al., 2017; Clark
et al., 2020; Dey et al., 2019;
DuPont-Reyes et al., 2020;
Hart et al., 2019; Jorm et al., 2007; Loureiro & Freitas, 2020; Reavley & Jorm, 2011; Rosa; 2018; Rosa et al., 2014). Apenas um número reduzido de autores
alerta para alguns aspetos relacionados com as caraterísticas desenvolvimentais dessa faixa etária, que tidos em conta,
incrementam a qualidade dos estudos. Nomeadamente, as possíveis dificuldades de
interpretação dos adolescentes e jovens; o facto da sua personalidade estar em
desenvolvimento e a grande influência dos pares e do coletivo para o
comportamento desejado, em detrimento da posição pessoal e individual (O’Dell et al., 2012).
Conclusão
Este artigo teve como objetivo apresentar o processo de tradução e
adaptação transcultural de uma vinheta de ansiedade social em adolescentes para
o português europeu que, além da integração no QuALiSMental,
fica disponível para utilização em variados contextos, nomeadamente na prática
clínica, na educação/formação e na investigação.
Esta vinheta pode ser utilizada na prática clínica, no âmbito da
intervenção na saúde mental da adolescência, seja nos cuidados diferenciados,
seja nos cuidados de saúde primários e em contexto escolar, facilitando a
intervenção psicoeducacional para promoção da
literacia em saúde mental e prevenção da ansiedade, nomeadamente sobre as
estratégias de autorregulação, de autoajuda e procura de ajuda profissional
especializada.
Na educação e formação, pode ser utilizada quer no âmbito da formação
graduada e pós-graduada e de especialização, quer na formação contínua dos
profissionais de saúde mental e psiquiatria, na discussão de casos clínicos e
no treino de competências com técnicas de simulação e jogos de papéis ou role-playing.
Este estudo tem implicações também para a investigação, evidenciando a
necessidade de se desenvolverem estudos experimentais que recorram à utilização
desta vinheta integrada no QuALiSMental, para
avaliação da literacia em saúde mental sobre a ansiedade dos adolescentes e/ou
para avaliação da efetividade de intervenções psicoeducacionais
nesta área.
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