2015,
Vol. 1(2): 1-2
Editorial
Fernanda
Daniel, PhD (1,2) ✉ i
https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2015.1.2.19
Afirmar que o envelhecimento da
população é um fenómeno expressivo em vários países do mundo, e que Portugal quase que encima o ranking dos países
mais envelhecidos, poderá parecer redundante, considerando a profusão de
referências que sobre esta questão são tecidas no discurso contemporâneo.
Contudo, este fenómeno permite múltiplos vértices de análise, que nem sempre
são considerados, optando‐se
frequentemente por um prisma simplista e redutor, do envelhecimento como
problema ou dilema para o qual se procuram encontrar escapatórias. Olhado
assim, de forma linear, como acento demográfico numa época de grandes desafios
de sustentabilidade, o fenómeno escapa a outras perspetivas de análise, mais
densas e complexificadoras. Não foi esse o caminho
trilhado no trabalho que ora damos à estampa. Partimos para uma outra obviedade
deste tempo histórico, denominado de era do envelhecimento, evidenciando que
este reflete, tão só, a melhoria das condições socioeconómicas e sanitárias da
população. Porque comumente se esquece, mas nós evidenciamos, que este êxito na
longevidade das pessoas contribuiu notoriamente para a democratização do
envelhecimento, com pessoas de diferentes grupos e estratos sociais a ganharem
anos de vida. Assim sendo, podemos afirmar que vivemos num tempo onde quase
todas as gerações poderão conviver durante muito mais tempo, e que esse tempo
de coexistência entre as diferentes coortes geracionais traz-nos, tanto obrigações, como benefícios. Urge
refletir nos inúmeros desafios que se impõem às sociedades de hoje,
nomeadamente na integração plena das pessoas idosas no desenvolvimento da
sociedade e no impacto financeiros que as sociedades envelhecidas impõem. Mas
importa igualmente considerar os novos horizontes experienciais e relacionais
abertos por este aumento da longevidade e expansão geracional, e os contributos
societais que configuram.
Este número da revista conta com uma
secção temática “Envelhecimento” onde são apresentados artigos empíricos
relevantes no domínio das Ciências Sociais e do Comportamento e que se centram
na exploração de algumas problemáticas relevantes nesta área. Os três artigos
que aqui nos são apresentados na secção temática cartografam importantes
facetas do conhecimento, necessárias a uma intervenção robusta junto de um segmento
da população de idade avançada.
O primeiro artigo “Apoio social
e solidão: Reflexos na população idosa em contexto institucional e comunitário”
avalia, numa primeira fase, e tendo por base contextos residenciais diferentes
(pessoas idosas residentes na comunidade vs. residentes em estruturas
residenciais para idosos), níveis de apoio social, satisfação com suporte
social e solidão, para numa segunda fase, retendo a perceção subjetiva da
solidão, analisar os modelos explicativos que lhe estão hierarquicamente
subjacentes. Desta forma o artigo confirma evidências de que a satisfação com a
família, a existência de confidentes e de uma rede de amigos se revelam bons
preditores negativos da solidão. De igual modo, viver numa estrutura
residencial para idosos, como ambiente potencialmente ativador de relações,
constitui um preditor negativo da solidão (Artigo 1: Amaro da Luz e Miguel).
Em segundo lugar temos um trabalho
intitulado “Propriedades
psicométricas da versão portuguesa do Inventário de Ansiedade Geriátrica numa
amostra de utentes de estruturas residenciais para idosos” que nos
poderá ajudar a avaliar a ansiedade com novos referenciais métricos para os
contextos institucionalizados. Importará salientar que o enfoque na ansiedade e
sua mensuração na velhice assume particular relevância, considerando que se
verifica uma tendência na literatura a focar substancialmente as perturbações
depressivas. Trata-se de uma pesquisa que envolveu 805 pessoas idosas
institucionalizadas e que contou com a colaboração na avaliação das pessoas
idosas de estudantes graduados que participaram no projeto Trajetórias do Envelhecimento. O projeto nasceu da colaboração
entre o Departamento de Investigação & Desenvolvimento do Instituto
Superior Miguel Torga e o Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
e propunha-se caracterizar multidimensionalmente as
pessoas que frequentavam respostas sociais, utilizando na recolha dos dados
instrumentos de avaliação neuropsicológica, comportamental, emocional, física e
funcional. No artigo são apresentados os resultados dos estudos de validade e
de fidedignidade da versão portuguesa do Inventário de Ansiedade Geriátrica,
com acrónimo de GAI, numa amostra de idosos institucionalizados (Artigo 2:
Daniel, Vicente, Guadalupe, Silva e Espírito Santo).
O terceiro artigo “Reabilitação
Neuropsicológica Grupal de Idosos Institucionalizados com Défice Cognitivo sem
Demência” é um estudo preliminar, exploratório, ancorado na segunda
fase do projeto Trajetórias do
Envelhecimento que pretende, apoiado em análises longitudinais, criar e
implementar programas de intervenção que objetivam melhorar a qualidade de vida
das pessoas idosas. O programa, aqui apresentado, denominado de Reabilitação Neuropsicológica Grupal de
Idosos, parece oferecer resultados promissores relativamente à melhoria do
funcionamento executivo e dos sentimentos de solidão (Artigo 3: Silva, Espírito
Santo, Costa, Cardoso, Vicente, Martins e Lemos).
Na secção não-temática dois artigos
trazem à comunidade académica e profissional dois instrumentos que alargarão, com
certeza, o leque da nossa capacidade de avaliar constructos como a depressão e
a qualidade de vida nas fases mais precoces do ciclo de vida.
O primeiro artigo apresenta uma escala
de avaliação da Depressão desenvolvida por um prestigiado Centro de Estudos
Epidemiológicos (Center for Epidemiologic
Studies). A escala, aqui trabalhada, com acrónimo
CES-DC (Center for Epidemiological Studies Depression Scale for Children)
manifesta boas qualidades psicométricas numa amostra de 417 inquiridos (Artigo
4: Carvalho, Cunha, Cherpe, Galhardo e Couto).
O segundo artigo desta secção não
temática apresenta-nos
um instrumento de mensuração da qualidade de vida para jovens. O instrumento,
aplicado no presente estudo a uma amostra de 507 adolescentes com idades
compreendidas entre os 12 e os 19 anos, apresenta-se com o acrónimo YQOL (Youth Quality of Life).
O estudo aqui apresentado evidencia as boas propriedades psicométricas,
apoiando empiricamente a sua utilização nas práticas de saúde e investigação em
amostras da comunidade (Artigo 5: Mendes, Cunha, Xavier, Couto e Galhardo).
Coimbra, 30 de Setembro de 2015
A Editora Convidada