2015, Vol. 1(2): 3-14
Apoio
social e solidão: Reflexos na população idosa em contexto institucional e
comunitário
Artigo Original
Maria Helena Reis Amaro da Luz i ✉, Isabel Migueli
http://dx.doi.org/10.7342/ismt.rpics.2015.1.2.20
Recebido 31 julho 2015
Aceite 29 setembro 2015
Objetivos: O apoio proveniente das redes sociais
reflete, junto dos idosos, níveis de satisfação diferenciados, os quais se
associam a variáveis contextuais, facultando, de igual modo, leituras
explicativas sobre a predição da solidão. Deste modo, pretende-se, neste
estudo, distinguir as redes sociais dos idosos que constituem a amostra,
discutir os níveis de satisfação que apresentam com as redes de apoio social e
a perceção que evidenciam relativa a sentimentos de solidão, tendo por base a
influência da variável residência. A par, será retida a perceção subjetiva da
solidão, para analisar os modelos explicativos que lhe estão hierarquicamente
subjacentes.
Método: A amostra deste estudo envolveu 221
idosos, dos quais 99 (44, 8%) vivem na comunidade e 122 (55,2%) residem em
instituição. O protocolo foi composto por: Questionário
Sociodemográfico; Escala de Redes Sociais de Lubben; Escala
de Satisfação com o Suporte Social (ESSS) e Escala de Solidão
da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA).
Resultados: A comparação nas
redes de apoio social entre os participantes revela, a partir dos testes
univariados, a existência de diferenças estatisticamente significativas em
todas as dimensões consideradas: os residentes na comunidade apresentam uma
rede de suporte familiar, de amigos e de confidentes mais alargada do que os
residentes em estrutura residencial para idosos. Os testes subsequentes
relativos à satisfação com a rede de apoio revelam diferenças estatisticamente
significativas nas dimensões relativas à satisfação com os amigos, família e
apoio social, sendo os participantes residentes na comunidade os mais
satisfeitos. A regressão hierárquica múltipla revela acréscimos na variância
explicada da solidão, evidenciando o modelo final que a satisfação com a
família, a existência de confidentes e de uma rede de amigos se revelam bons
preditores negativos da solidão.
Conclusões: Os idosos a
residir na comunidade reportam, comparativamente aos participantes em lar,
níveis mais elevados de suporte social ativo ou recebido, bem como de suporte
social percebido como disponível em caso de necessidade. Por si só, a variável
residência não influi na perceção subjetiva da solidão dos grupos em análise.
No entanto quando se focalizam as vivências em lar, o apoio recebido e a
satisfação com o suporte social revelam ser contributos importantes para
minimizar a solidão destes idosos.
Palavras chave: Rede de apoio social; Satisfação com o suporte social;
Solidão; Idosos.
O apoio social, numa ótica de ajuda percebida e
recebida por parte dos outros, traduz, na atualidade, um recurso amplamente
valorizado, para suportar o conhecimento acerca das dinâmicas relacionais que
se associam às vivências dos mais velhos, bem como, para distinguir níveis de
satisfação aferidos com as correspondentes redes de apoio. Neste contexto, as
abordagens com esta focalização revelam elementos preditores de elevada
relevância, no que concerne à vulnerabilidade afetiva experienciada na idade
avançada. Em concreto, tal significa, que o capital relacional na velhice e a
multidimensionalidade das vertentes que o apoio social reveste nesta fase da
vida constituem fatores distintivos, que se mostram inerentes à compreensão das
vivências contextuais dos mais idosos.
Velhice
e capital relacional
De uma forma unânime, a velhice tende a ser acoplada à fase
correspondente à plenitude da vida humana, não existindo, contudo, uma idade
única universal que marque o seu início. Ainda que os limiares da idade
perdurem como fronteiras enquadradoras desta fase da vida, perdura também o
entendimento de que a velhice se constrói em função de percursos individuais,
assumindo os fatores sociais e, em particular, as relações sociais um lugar de
destaque nas vivências bem-sucedidas dos mais velhos. Como enfatizam diversos
estudos (Bandeira, 2014; CES, 2013; Pimentel & Albuquerque, 2010), o
retrato das sociedades envelhecidas do presente reflete um conjunto de
impactes, que importa, sobretudo, avaliar, não apenas de uma forma absoluta,
mas também relativa, ou seja, ainda que a maior atenção deva ser atribuída ao
aumento do número de idosos, à diminuição do número de jovens, ao declínio da
fecundidade e ao aumento da esperança de vida, importa, de igual modo,
equacionar as variáveis que informam acerca das repercuss.es que a longevidade
acarreta no plano social, por forma a ser possível mediar alternativas que
contribuam para positivar a velhice, no que se refere à maximização do
bem-estar da população idosa. Em Portugal, o quadro demográfico atual acentua a
prevalência da população idosa, de uma forma significativamente representativa.
Por referência aos últimos indicadores estatísticos (INE, 2012; PORDATA, 2015),
a sua ponderação na população total representa 19%, situando-se o índice de
envelhecimento nos 138,6% e o índice de longevidade nos 47,9%. Esta
configuração que generaliza entre nós a velhice tem vindo a ser interpretada de
forma ampliada, para dar conta da diversidade dos modos de viver a longevidade,
sublinhando-se que os diferentes perfis de necessidades, capacidades e
expectativas das pessoas idosas colocam desafios sérios, particularmente ao
nível da dependência, solidão, pobreza, saúde, entre outros (Amaro da Luz,
2014; Fonseca, 2006; Mauritti, 2004; Paúl & Fonseca, 2005; Quaresma, 2008)
e cuja superação pode ser melhor conseguida por via da manutenção ou do reforço
do capital relacional na velhice. Neste contexto, traduzindo um conjunto de
recursos imateriais, que os indivíduos constroem ao longo do ciclo de vida, as
distribuições do capital relacional evidenciam elevada relevância na velhice,
essencialmente no que concerne à família e redes de proximidade (Amaro da Luz e
Miguel, 2013; Lopes, 2015). Com efeito, diversos estudos (Domingues, 2012;
Freitas, 2011; Martins, 2005; Paúl, 2005; Sluzki, 2006) vêm enfatizando que, na
idade avançada, as redes relacionais fundamentalmente erguidas na base da
proximidade familiar, social e territorial se estabelecem também por força do
tempo que os idosos percorreram ao longo das suas vidas, o que explica os
argumentos que sublinham que o capital relacional dos mais velhos seja
geralmente mais reforçado do que o dos jovens (Chaumont-Chancelier, 2003). Tal
significa, que o quadro de experiências singulares vivenciado por cada idoso se
estrutura muito a partir de interações relacionais repetidas, que revelam
diferentes combinações, seja ao nível de relações familiares, de vizinhança ou
de amigos. Adicionalmente, a literatura vem sublinhando que a rede relacional
produz vantagens que se concretizam em amizades e solidariedades, revelando-se
primordialmente o valor das relações ou a interação com os outros nas esferas
do apoio emocional, potenciando esta fase da vida, contrariamente ao que por
vezes se pensa, a preservação e ganhos evolutivos em determinados domínios,
nomeadamente no foro afetivo, sendo este último, capaz de atuar de maneira
compensatória, sobre várias limitações, sobretudo de cariz cognitivo (Oni,
2010; Fonseca, 2006; Neri, 2004; Paúl, 1997; Paúl e Fonseca, 2005; Silva,
2006). O domínio das sociabilidades que se materializa na velhice adquire ainda
outras repercuss.es que a investigação tem vindo a enfatizar, por um lado, um
efeito protetor do stress, próprio desta fase da vida (Paúl, 2005), amortecendo
efeitos resultantes de situações como a viuvez e problemas de saúde,
contribuindo também, para a permanência dos idosos na comunidade (Esgalhado,
Reis, Pereira, & Afonso, 2010). Neste âmbito, o apoio social emerge como um
recurso amplamente valorizado, para suportar o conhecimento acerca das
dinâmicas relacionais que se associam às vivências dos mais velhos, bem como
para distinguir, níveis de satisfação aferidos com as correspondentes redes de
apoio, revelando as abordagens com esta focalização, elementos preditores
distintivos, acerca da vulnerabilidade afetiva dos longevos.
As
vertentes multidimensionais do apoio social na velhice
O conceito de apoio social ou suporte social agrega em si uma
multiplicidade de significados (Gottlieb & Bergen, 2010; Guadalupe, 2008;
Martins, 2005), assentes na ideia transversal de que o mesmo resulta de um
processo dinâmico de transações entre o indivíduo e o contexto, que abrange os
recursos disponibilizados pela comunidade e suscetíveis de serem usufruídos
pelos indivíduos. Não obstante este denominador comum, o entendimento acerca
deste conceito espelha diferentes formulações, refletidas numa ampla
diversidade terminológica que, frequentemente, aporta alguma confusão
concetual, com implicações ao nível da operacionalização destes constructos.
Com efeito, o apoio social é uma das funções primordiais exercidas pelas redes
sociais, pelo que o conceito de apoio social se confunde frequentemente com o
conceito de redes sociais (Guadalupe, 2008). Nos últimos anos, têm vindo,
assim, a tomar forma algumas abordagens que procuram esclarecer a complexidade
e trazer maior consenso à compreensão teórica do apoio social, facilitando, a
par, a sua medição. Neste sentido, Gottlieb e Bergen (2010) discutem a
variedade de conceitos associados ao apoio social, permitindo eliminar algum
grau de sobreposição entre os mesmos (cf. Quadro 1).
|
Conceitos
e Definições Relacionadas com o Apoio |
|
|
|
Conceitos relacionados com o apoio |
Definições |
|
|
Apoio Social |
Os recursos sociais que as
pessoas percebem estar disponíveis, ou que são efetivamente prestados por não
profissionais no contexto de ambos os grupos de apoio formais e informais das
relações de ajuda. |
|
|
Rede
Social |
Unidade de estrutura social
composta de relações sociais do indivíduo e os laços entre eles. |
|
|
Integração
Social |
A medida em que um indivíduo
participa em interações sociais, públicas e privadas. |
|
|
Apoio
Funcional |
Os vários tipos de recursos
que fluem através dos laços sociais da rede. |
|
|
Apoio
Estrutural |
O número e padrão de laços
sociais diretos e indiretos que cercam o indivíduo. |
|
|
Tipos
de Suporte |
Apoio emocional,
instrumental, informacional, companheirismo e estima. |
|
|
Apoio
Percebido |
Crenças do indivíduo sobre a
disponibilidade dos variados tipos de apoio da rede. |
|
|
Apoio
Recebido |
Relatos sobre os tipos de
apoio recebidos. |
|
|
Apoio
Adequado |
Avaliações da quantidade
e/ou qualidade do apoio recebido. |
|
|
Direccionalidade
do Apoio |
Determinação quanto ao facto
do apoio ser unidirecional ou bidirecional (mútuo). |
|
|
Nota. Adaptado
de "Social support concepts and measures" por B.H. Gottlieb e A. E. Bergen, 2009, Journal of Psychosomatic Research, 69(5), p. 512. |
|
Paralelamente,
diversos autores têm vindo a organizar os conceitos de apoio social em torno de
dimensões objetivas e subjetivas. Na perspetiva de Caplan (1979), a vertente
objetiva induz a indicadores observáveis de transmissão do suporte, ao passo
que a componente subjetiva estaria mais associada à perceção do apoio a partir
do próprio indivíduo. Neste sentido, a rede social abrange, simultaneamente os
aspetos quantitativos e estruturais das relações humanas, bem como o aspeto qualitativo
do apoio percebido, no qual se inclui o conteúdo e a avaliação das relações com
outras pessoas significativas (Monteiro & Neto, 2008). A abordagem
multidimensional deste constructo tem, igualmente, vindo a ser visibilizada
numa tipologia tripartida do apoio social, onde se retomam as dimensões da
integração social – ou seja, a frequência de contactos com os outros –, do
apoio recebido – concernente à quantidade de ajuda fornecida por elementos da
rede –, e o apoio percebido (Barrera, 1986; Paúl, 2005).
Estas
últimas dimensões são, reiteradamente, associadas ao bem-estar individual e à
concretização de necessidades sociais básicas, constituindo um importante
elemento extensivo a todo o ciclo de vida e, por isso mesmo, igualmente
associado a um envelhecimento bem-sucedido. Autores como Fiorillo e Sabatini
(2011) enfatizam que a quantidade, bem como a qualidade das interações sociais
e o contacto com a família, revelam ser fatores indutores do bem-estar junto
dos mais velhos. Não obstante, tem vindo a salientar-se que é a perceção
subjetiva do apoio social, mais do que a quantidade e frequência do apoio
social recebido, que influencia, de forma favorável, a qualidade de vida e a
competência dos idosos (Paúl, 2005). No âmbito da população idosa, o apoio social
proveniente das redes sociais reflete múltiplas configurações que, de um modo
geral, têm vindo a ser tipificadas na dualidade que se expressa a partir de
redes formais — de cariz institucional e formalizado, abrangendo instituições
estatais e não-estatais — e informais — reportadas ao núcleo familiar, grupos
de amigos e vizinhança. Sendo ambas amplamente valorizadas em termos dos
recursos dos indivíduos, as investigações têm vindo a enfatizar que, para
muitos idosos, as redes de suporte informal constituem uma alavanca de apoio
para a manutenção da independência e autonomia em idade avançada, sublinhando,
a par, que níveis reduzidos de suporte social acarretam maior risco de
institucionalização (Bowling, Farquhar, & Browne, 1991), podendo igualmente
constituir-se como preditores da perceção subjetiva de solidão.
Solidão e velhice
O conceito
de solidão tem sido diferentemente trabalhado na literatura (Sarason &
Sarason, 1985), mostrando-se transversal, entre as várias propostas, o facto de
este traduzir o resultado de dificuldades das relações sociais e, deste modo,
dar conta de um processo psicológico subjetivo (Neto & Barros, 2001; Peplau
& Perlman, 1982; Victor & Boldy, 2006). Como refere Neto (1989), a
solidão exprime a insatisfação com o relacionamento social, resultante da
discrepância entre as relações sociais desejadas e as relações sociais tidas.
Assim, a solidão, como experiência subjetiva, pode ser vivenciada não só quando
o indivíduo está sozinho, mas, de igual forma, quando estamos com outras
pessoas cuja companhia não é a desejada (Fernandes, 2000; Neto, 1989). Reúne,
pois, amplo consenso a ideia de que o conceito de solidão agrega três vertentes
principais: “a solidão é uma experiência subjetiva que pode não estar
relacionada com o isolamento objetivo; esta experiência subjetiva é
psicologicamente desagradável para o indivíduo; a solidão resulta de alguma
forma de relacionamento deficiente” (Neto, 2000, p. 321).
Ainda que a
investigação tenha vindo a produzir análises que relacionam a maior prevalência
da solidão em contextos de institucionalização, vários estudos recentes, que
incorporam a sua perceção subjetiva da solidão atestam a complexidade do
fenómeno (Capitanini, 2000; Cohen-Mansfield, &
Parpura-Gil, 2007; Oni, 2010). As argumentações sugerem
que, estando inseridos em redes de suporte formal, os idosos experienciam menos
solidão e depressão, facto que pode relacionar-se com fatores como o sentimento
de proximidade e segurança em regra proporcionados por estes contextos (Oni,
2010). A par e, como atesta o estudo desenvolvido por Capitanini (2000) junto
de idosos residentes na comunidade, quando existe o contacto com amigos e
familiares, o sentimento de solidão tende a decrescer. Assim, e ainda que o
sentimento de solidão se mostre mais característico na idade avançada, o acesso
a redes de suporte social tende globalmente a fazer reportar menores níveis de
solidão entre idosos (Cohen-Mansfield & Parpura-Gil, 2007).
Em síntese,
a literatura vem enfatizando que o apoio das redes sociais reflete níveis de
satisfação diferenciados para os idosos, em muito associados a variáveis
contextuais. Perante este quadro teórico, o presente estudo visa distinguir as
redes sociais dos idosos que constituem a amostra, bem como discutir os níveis
de satisfação que apresentam com as redes de apoio social e a perceção que
evidenciam relativamente a sentimentos de solidão, tendo por base a influência
da variável contextual residência, determinada pela vivência em instituição ou
na comunidade. Paralelamente, ser. retida a perceção subjetiva da solidão, para
analisar os modelos explicativos que hierarquicamente a induzem, seguindo a
lógica inferencial step by step.
Amostra
A amostra do estudo é composta por 221
idosos da região centro de Portugal, dos quais 99 (44.8%) vivem na comunidade e
122 (55.2%) se encontram institucionalizados. Em termos de amostra total, as
idades dos participantes oscilam entre 65 e 98 anos, sendo a média de 76,6 (DP = 8,7). Considerados separadamente, a
idade média dos participantes da comunidade é de 71,15 (DP = 7,33; idades entre 65 e 95) e dos participantes residentes em
instituição é de 80,98 (DP = 7,14;
idade mínima de 65 e máxima de 98) [t(218)
= -10,03, p < 0,001]; a idade
média dos participantes do sexo masculino é de 75,4 (DP = 8,1) e dos participantes do sexo feminino é de 77,42 (DP = 9,1) [t(218) = -6,08, p >
0,05]. A Tabela 1 apresenta uma caracterização mais
pormenorizada do grupo de estudo.
|
Caracterização da Amostra em Relação a
Algumas Variáveis Sociodemográficas |
|
|||||||||
|
|
|
Comunidade |
|
Estrutura residencial para idosos |
|
Total |
|
|||
|
n |
% |
|
n |
% |
|
n |
% |
|
||
|
Sexo |
Masculino |
47 |
21,3 |
|
44 |
19,9 |
|
91 |
41,2 |
|
|
Feminino |
52 |
23,5 |
|
78 |
35,3 |
|
130 |
58,8 |
|
|
|
Estado civil |
Solteiro(a) |
8 |
3,6 |
|
23 |
10,4 |
|
31 |
14,0 |
|
|
Casado(a) |
64 |
29,0 |
|
28 |
12,7 |
|
92 |
41,6 |
|
|
|
Viúvo(a) |
21 |
9,5 |
|
63 |
28,5 |
|
84 |
38,0 |
|
|
|
Separado(a) |
6 |
2,7 |
|
8 |
3,6 |
|
14 |
6,3 |
|
|
|
Habilitações literárias |
Analfabeto(a) |
7 |
3,2 |
|
43 |
19,5 |
|
50 |
22,7 |
|
|
1º Ciclo |
36 |
16,4 |
|
60 |
27,3 |
|
96 |
43,6 |
|
|
|
2º Ciclo |
12 |
5,5 |
|
7 |
3,2 |
|
19 |
8,6 |
|
|
|
3º Ciclo |
3 |
1,4 |
|
3 |
1,4 |
|
6 |
2,7 |
|
|
|
Ensino Secundário |
16 |
7,3 |
|
6 |
2,7 |
|
22 |
10,0 |
|
|
|
Ensino Superior |
24 |
10,9 |
|
3 |
1,4 |
|
27 |
12,3 |
|
|
|
Nota. n
= frequência/número de sujeitos. |
|
Questionário Sociodemográfico.
O questionário sociodemográfico é constituído por um conjunto de questões,
visando recolher informações relativas à idade, sexo, estado civil,
habilitações literárias, profissão anteriormente desempenhada e contexto de
residência.
Escala
de Redes Sociais de Lubben. A
Escala de Redes Sociais de Lubben (1988) — Lubben
Social Network Scale — é um instrumento desenvolvido para avaliar o
isolamento social das pessoas idosas, através da perceção que o indivíduo tem
relativamente ao suporte social que recebe por parte da sua família e amigos.
Mais especificamente, a escala permite obter informação sobre a quantidade, a
periodicidade e a intimidade do contacto com elementos da rede de suporte
(Fonseca, Paúl, Martín, & Amado, 2005). A escala é constituída por um total
de 11 itens, avaliados numa escala de Likert de 6 níveis, repartidos por quatro
dimensões principais: rede familiar (3 itens), rede de amigos (3 itens),
relações de confiança (2 itens) e auxílio/cuidados prestados (3 itens).
Pontuações elevadas traduzem níveis elevados de suporte social. Para o presente
estudo, apenas são consideradas as três dimensões iniciais, apresentando estas
níveis satisfatórios de consistência interna (rede familiar: α = 0,85; rede de amigos: α = 0,88; auxílio/cuidados prestados: α = 0,68).
Escala de Satisfação com o Suporte Social. A Escala de Satisfação com o Suporte Social (ESSS) é
um instrumento que pretende avaliar a satisfação com o suporte social percebido
(Ribeiro, 1999). É constituído por 15 itens, relativamente aos quais os participantes
expressam, numa escala Likert de 5 pontos (1 = discordo totalmente, 5 = concordo
totalmente), o seu grau de acordo ou desacordo. A estrutura fatorial do
instrumento compõe-se por quatro dimensões. O primeiro fator, denominado de satisfação com os amigos, mede a
satisfação com os amigos e inclui cinco itens. O segundo fator — intimidade —, é composto por quatro
itens que medem a perceção de existência de suporte social íntimo. O terceiro
fator, composto por três itens, mede a satisfação com o suporte social
existente, pelo que foi batizado de satisfação
com a família. Por último, o quarto fator, atividades sociais, mede a satisfação com as atividades sociais
realizadas e inclui dois itens. A consistência interna das subescalas oscila
entre os 0,64 e 0,83, verificando-se, na escala total, uma consistência interna
de 0,85 (Ribeiro, 1999). No presente estudo, a consistência interna das
subescalas varia entre 0,62 e 0,95.
Escala de Solidão da UCLA. A
Escala de Solidão da UCLA na versão adaptada para o contexto português por Neto
(1989) a partir da UCLA
Loneliness Scale (Russel, Peplau,
& Cutrona, 1980), permite a avaliação da solidão e dos sentimentos
associadas à mesma, encarando-a como um estado psicológico e de um modo
unidimensional. Relativamente curta e de simples aplicação, é constituída por
18 itens, em relação aos quais os participantes indicam a respetiva frequência
de ocorrência numa escala Likert de 4 pontos (1 = nunca, 4 = muitas vezes). A
pontuação final é obtida através do somatório dos 18 itens, após a inversão dos
itens assinaladas por Neto (1989). A pontuação final da escala situa-se entre
um mínimo de 18 e um máximo de 72 pontos, sendo que a pontuações elevadas
corresponde um nível elevado de solidão percebida.
A versão adaptada para a população portuguesa revelou boa consistência
interna (α = 0,87) e uma boa validade,
confirmada mediante as correlações entre a solidão pessoal e diversos estados
emocionais avaliados (Neto, 1989). No presente estudo, as análises de consistência
interna revelam, igualmente, níveis bastante satisfatórios (α = 0,92).
Procedimentos de recolha dos dados. Foram critérios para inclusão no estudo os
participantes apresentarem idade cronológica igual ou superior a 65 anos,
residirem em contexto comunitário ou institucional e não apresentarem
comprometimento mental/cognitivo. A recolha de dados junto dos idosos
residentes em instituição seguiu uma amostragem não-probabilística. Foram, em
primeira instância, contactadas as direções das instituições, explicitando os
objetivos do estudo e solicitando a colaboração para a aplicação dos
questionários. A recolha de dados junto dos idosos residentes na comunidade foi
feita a partir do contacto com vários interlocutores, individuais e/ou
institucionais, e por amostragem de tipo bola de neve, ou seja, os idosos foram
indicados através de informadores iniciais. Em ambos os casos, os dados foram
recolhidos após consentimento informado dos participantes, entre junho e
setembro de 2012.
Procedimentos de análise dos dados. A análise das diferenças dos participantes relativamente às suas redes
sociais de apoio e à satisfação com a rede social de apoio foi efetuada por
meio de análises unifatoriais multivariadas da variância (MANOVA), tomando como
variável independente o contexto de residência dos participantes (em comunidade
vs. estrutura residencial para idosos) e como variáveis dependentes as
diferentes dimensões da rede social de apoio (família, amigos e confidentes) e
da satisfação com a rede social de apoio (satisfação com os amigos, satisfação
com a intimidade, satisfação com a família, satisfação com as atividades
sociais). Para analisar as diferenças ao nível da solidão percebida entre ambos
os grupos de participantes, procedeu-se a uma análise t de Student para amostras independentes. Por fim, de modo a
identificar as variáveis preditoras do nível de solidão, procedeu-se a uma
regressão hierárquica múltipla, tomando o nível de solidão como variável
dependente e as variáveis sociodemográficas, as dimensões da rede de apoio
social e as dimensões da satisfação com o suporte social como preditores
sucessivamente introduzidos no modelo. Todas as análises efetuadas cumpriram os
respetivos pressupostos estatísticos.
A comparação das
redes de apoio social entre os participantes (Tabela 2)
revela um efeito multivariado estatisticamente significativo [traço de Pillai =
0,39; F(3, 22) = 45,48, p < 0,001], indicando os testes
univariados a existência de diferenças estatisticamente significativas em todas
as dimensões consideradas: os participantes residentes na comunidade apresentam
uma rede de suporte familiar (M =
12,08; DP = 2,12), de amigos (M = 9,67; DP = 3,78) e de confidentes (M
= 9,05; DP = 2,06) mais alargada do
que os participantes residentes em estrutura residencial para idosos (família: M = 7,61; DP = 3,28; amigos: M =
7,30; DP = 4,97; confidentes: M = 7,04; DP = 2,74). Os resultados da análise das diferenças relativamente à
satisfação com a rede social de apoio revelam um efeito multivariado
estatisticamente significativo [traço de Pillai = 0,15; F(4, 211) = 9,13, p <
0,001]. Os testes univariados subsequentes (cf. Tabela 2) mostram que essas
diferenças se verificam nas dimensões relativas à satisfação com os amigos,
família e apoio social, sendo os participantes que residem na comunidade os
mais satisfeitos (satisfação com os amigos: M
= 3,78; DP = 0,65; satisfação com a
família: M = 4,31; DP = 0,83; satisfação com as atividades
sociais: M = 2,58; DP = 1,07).
Os resultados evidenciam, ainda, a inexistência de
diferenças estatisticamente significativas entre os grupos de participantes
relativamente ao nível de solidão percebido [t(207) = 0,84, p =
0,386].
|
Estatísticas
Descritivas e Diferenças entre Grupos nas Variáveis Observadas |
|
||||||||
|
|
Amostra Total (N = 221) |
Residentes na
comunidade (N = 99) |
Residentes em instituição (N = 122) |
F ou t |
|
||||
|
|
M |
DP |
M |
DP |
M |
DP |
|
||
|
Apoio social |
Família |
9,62 |
3,59 |
12,08 |
2,12 |
7,61 |
3,28 |
135,99*** |
|
|
Amigos |
8,36 |
4,62 |
9,67 |
3,78 |
7,30 |
4,97 |
15,21*** |
|
|
|
Confidentes |
7,94 |
2,65 |
9,05 |
2,06 |
7,04 |
2,74 |
36,51*** |
|
|
|
Satisfação suporte social |
Satisfação com os amigos |
3,57 |
0,71 |
3,78 |
0,65 |
3,41 |
0,72 |
15,35*** |
|
|
Intimidade |
3,28 |
0,53 |
3,24 |
0,57 |
3,30 |
0,49 |
0,53 |
|
|
|
Satisfação com a família |
3,90 |
1,23 |
4,31 |
0,83 |
3,58 |
1,40 |
20,67*** |
|
|
|
Atividades sociais |
2,44 |
0,90 |
2,58 |
1,07 |
2,33 |
0,71 |
5,34* |
|
|
|
Solidão |
30,85 |
8,26 |
31,40 |
7,11 |
30,42 |
9,06 |
0,87 ns |
|
|
|
Nota. M
=
Média; DP = Desvio padrão. *p < 0,05; ***p < 0,001; ns. = não estatisticamente significativo. |
|
A análise de regressão hierárquica
múltipla (cf. Tabela 3) revelou que o primeiro modelo não
se mostrou estatisticamente significativo [F(3,
200) = 0,84, p > 0,05],
evidenciando que as variáveis sociodemográficas e contextuais – idade, sexo e
residir em estrutura residencial para idosos – não influenciam os níveis
percebidos de solidão. A introdução das variáveis relativas à rede de apoio
social produziu um modelo estatisticamente significativo [F(6, 197) = 16,16, p <
0,001], capaz de explicar 33,0% da solidão percebida pelos idosos e que acresce
um valor estatisticamente significativo de 31,7% na variância explicada. Após a inclusão, no terceiro passo, das
variáveis de satisfação com o suporte social, o total de variância explicada
pelo modelo foi de 46,9% [F(10, 193)
= 17,06, p < 0,001]. A inclusão
destas variáveis explicou um acréscimo de 13,9% na variância explicada da
solidão [∆R2 = 0,139; F(4, 193) = 12,66, p < 0,001]. Neste modelo final, quatro das dez variáveis
revelaram-se estatisticamente significativas, sendo que a satisfação com a
família (β = -0,40, p
< 0,001), a existência de confidentes (β = -0,32, p < 0,001) e de uma rede de amigos (β = -0,15, p < 0,05) se revelam bons preditores
negativos da solidão. De igual modo, viver em estrutura residencial para idosos
constitui um preditor negativo da solidão (β = -0,33, p < 0,001).
|
Resultados
da Regressão Linear Múltipla (Variável Dependente: Solidão) |
|
|||||||
|
|
R |
R2 |
∆R2 |
B |
SE |
β |
|
|
|
Passo 1 |
|
0,11 |
0,01ns. |
0,01ns |
23,49 |
5,76 |
|
|
|
|
Idade |
|
|
|
0,11 |
0,08 |
0,12 |
|
|
|
Sexo |
|
|
|
0,06 |
1,20 |
0,004 |
|
|
|
Viver em ERPI |
|
|
|
-1,97 |
1,42 |
-0,12 |
|
|
Passo 2 |
|
0,57 |
0,33 |
0,32*** |
40,05 |
5,21 |
|
|
|
|
Idade |
|
|
|
0,14 |
0,07 |
0,15* |
|
|
|
Sexo |
|
|
|
0,36 |
1,01 |
0,02 |
|
|
|
Viver em ERPI |
|
|
|
-7,25 |
1,43 |
-0,44*** |
|
|
|
Família |
|
|
|
-0,29 |
0,19 |
-0,12 |
|
|
|
Amigos |
|
|
|
-0,34 |
0,13 |
-0,19** |
|
|
|
Confidentes |
|
|
|
-1,35 |
0,24 |
-0,44*** |
|
|
Passo 3 |
|
0,69 |
0,47 |
0,14*** |
42,09 |
5,77 |
|
|
|
|
Idade |
|
|
|
0,11 |
0,06 |
0,12 |
|
|
|
Sexo |
|
|
|
-0,25 |
0,93 |
-0,02 |
|
|
|
Viver em ERPI |
|
|
|
-5,51 |
1,35 |
-0,33*** |
|
|
|
Família |
|
|
|
0,37 |
0,20 |
0,16 |
|
|
|
Amigos |
|
|
|
-0,27 |
0,13 |
-0,15* |
|
|
|
Confidentes |
|
|
|
-0,99 |
0,22 |
-0,32*** |
|
|
|
Satisfação amigos |
|
|
|
-1,45 |
0,85 |
0,13 |
|
|
|
Satisfação intimidade |
|
|
|
1,34 |
0,90 |
0,09 |
|
|
|
Satisfação família |
|
|
|
-2,60 |
0,52 |
-0,40*** |
|
|
|
Satisfação apoio social |
|
|
|
0,39 |
0,53 |
0,04 |
|
|
Nota. ERPI
= Estrutura residencial para idosos. R2
= coeficiente de determinação; ∆R2
= coeficiente de determinação ajustado; B = coeficiente de regressão não-padronizado; SE = erro padrão não-padronizado; β =
coeficiente de regressão padronizado. *p < 0,05; p <
0,001; ns. = não estatisticamente significativo. |
|
A expressão sociodemográfica da amostra situa, em termos absolutos e de
acordo com a classificação de Baltes e Smith (2003), os participantes do estudo
num perfil de transição da terceira para a quarta idade (M = 76,6) fazendo sobressair, em termos relativos, a prevalência da
quarta idade (M = 80,9), nos idosos
que residem em estrutura residencial para idosos. A par, o estudo assinala, de
forma distintiva, uma maior presença de participantes do sexo feminino, quer a
residir na comunidade ou em estrutura residencial para idosos. Ainda que não
tenham existido intenções de produzir conclusões comparativas, a partir das
variáveis sociodemográficas - como a idade, sexo, estado civil e habilitações
literárias -, o que é facto é que o estudo exprime algumas tendências que vão
ao encontro de indicadores, que refletem características associadas a
parâmetros que vêm definindo a velhice, nos tempos mais recentes.
Neste sentido, Neri (2001, p. 9), sublinha que “a literatura
internacional sobre diferenças entre homens e mulheres idosos é reduzida,
talvez porque, em todo o mundo, a população idosa masculina seja menor do que a
feminina, o que dificulta a realização de estudos comparativos válidos”. Ainda
assim, a feminização da velhice vem sendo crescentemente assinalada pelas
estatísticas oficiais e por entre vários estudos. Deste modo, e de acordo com o
INE (2002), a superioridade numérica das mulheres, que é devida à maior
esperança de vida, aumenta, naturalmente, com o avançar na idade. A partir
desta constatação, Daniel, Simões e Monteiro (2012) sublinham que, não apenas
as mulheres vivem mais tempo, como tendem a predominar nas instituições de
acolhimento de pessoas idosas. Com efeito, e como informa a Carta Social
relativa a 2013 (GEP, 2013), do total de utentes que frequentava a resposta
estrutura residencial, 71,0% tinha mais de 80 anos, dos quais, 47,0% tinha 85
ou mais anos, o que visibiliza uma institucionalização da população idosa em
idades muito avançadas, similarmente à investigação por nós conduzida.
Adicionalmente, e quanto ao sexo, o mesmo relatório conclui, que a proporção de
utentes do género feminino se acentua com o aumento da idade. No que se refere
ao estado civil, constata-se no estudo que a presença em instituição tende a
ser fortemente marcada por idosos que experienciam o estado civil de viúvo(a),
o que corrobora a realidade evidenciada em outras investigações (Chaves, 2015;
Leal, Apóstolo, Mendes & Marques, 2014). Assim, e de igual modo, no estudo
conduzido por Cortelletti, Casara e Herédia (2004) junto de 107 idosos
institucionalizados, no Brasil, prevalece este estado civil de forma
significativa (42,99%). Aliás, a viuvez é reiteradamente evocada na literatura
como uma condicionante à permanência continuada dos idosos no seu domicílio
(Hooyman, 1983). A variável concernente às habilitações literárias denuncia
para ambos os grupos, valores percentuais mais expressivos nos baixos níveis de
escolarização (1º ciclo). Este facto encontra paralelo em indicadores recentes
(PORDATA, 2015), que informam que em Portugal a percentagem de população
residente com 15 e mais anos possui como nível de escolaridade predominante, o
ensino básico, ao nível do 1º ciclo (23,8%), não sendo, portanto, este um
indicador exclusivo da atual população com 65 ou mais anos. Todavia, resultado
da crescente escolarização nacional, será de esperar que, em anos vindouros, a
população idosa se venha a revelar mais diferenciada no ponto de vista
académico. Este facto não negligenciável sustenta a necessidade de
desenvolvimento de estudos que abranjam maior percentagem de idosos com níveis
educativos mais avançados, alargando, assim, a compreensão acerca do perfil
evolutivo da população idosa.
A abordagem comparativa quanto às redes de suporte social permite uma
distinção da amostra que realça favoravelmente os residentes na comunidade,
quanto ao maior apoio social recebido e à maior satisfação com o suporte
social. A este nível, os resultados da nossa investigação mostram-se
convergentes com outras abordagens empíricas, que distinguem o apoio social
proveniente da família, amigos e confidentes como promotores de uma maior
qualidade de vida, na idade avançada. Com efeito, a família continua a ser
apontada como o primeiro suporte de ajuda aos seus membros idosos em situação
de maior fragilidade, mostrando-se decisiva na prestação de cuidados e, em
particular para a satisfação das suas necessidades básicas, contribuindo para o
retardamento da institucionalização (Martins, 2005; Paúl, 1997; Pimentel, 2005;
Quaresma, 1996; Quaresma & Bernardo, 1996). Para além da família, e como
surge largamente enfatizado (Erbolato, 2002; Hooyman, 1983; Sánchez Ayéndez,
1994), os amigos mostram-se melhor posicionados para desenvolver certas tarefas
e para fornecer apoio emocional diferentemente da família, vizinhos ou
profissionais. Por referência à rede de confidentes, Paúl (1997) sublinha que,
na velhice, estes apresentam um potencial relacional de elevada relevância.
Pode, pois, entender-se que, “a existência de relações mais próximas e
significativas (confidentes), em que há um investimento afetivo e solidário é
fundamental (…) na velhice”, revelando ser a existência de um confidente, i.
e., alguém em quem confiar, um factor preventivo da solidão (Freitas, 2011, p.
42). Complementarmente, e indo de encontro aos resultados por nós encontrados,
o estudo desenvolvido por Drennan, Treacy, Butler, Fealy, Frazer e Irving
(2008), junto de 683 idosos irlandeses a residir na comunidade, revela mesmo
que a grande maioria destes indivíduos vive inserida em redes de suporte social
estáveis, reportando elevados níveis de contacto com a família e amigos. Não
obstante estas evidências, quando se considera a perceção subjetiva da solidão
a partir da análise multivariada entre os grupos, não são aferidas diferenças
significativas entre os residentes na comunidade e em estrutura residencial
para idosos. Este resultado ainda que contrastante com todo um conjunto de
investigações desenvolvidas mostra-se, contudo, facilitado em termos de
interpretação, a partir de investigações recentes (Chau, Soares, Fialho, &
Sacadura, 2012; Reis, 2010) que sublinham que, no presente, existe já uma diferente
perceção da institucionalização e das condições de vivência associadas aos
lares/estruturas residenciais. Assim, e a partir do estudo desenvolvido por
Choi, Ransom e Wyllie (2008), evidencia-se o facto de que vários residentes
manifestavam a sua preferência pela residência em instituição, atendendo a que
a sua vivência prévia à entrada para a estrutura residencial para idosos tinha
sido marcada pela solidão e reduzidos contactos sociais. Paralelamente, a
investigação conduzida por Böckerman, Son e Saarni (2012) junto de idosos
finlandeses com 60 ou mais anos a residir na comunidade e em instituição ergue
as variáveis estatuto funcional e controlo da saúde para justificar diferenças
ao nível da satisfação subjetiva dos participantes, quanto ao seu bem-estar,
apresentando-se esta como uma das principais conclusões do estudo. De acordo
com esta explicação, pode, pois, admitir-se que fatores associados a
vulnerabilidades múltiplas e, em particular, ao nível da saúde contribuam para
ditar a preferência pela vivência em instituição, justificando assim
sentimentos subjetivos de bem-estar, onde se inclui a valorização da esfera
relacional, em participantes inseridos nestes contextos.
Complementarmente, e no que concerne à análise inferencial centrada na
regressão hierárquica múltipla, foi possível constatar que as variáveis
objetivas (Passo 1 = idade, sexo e residência) não influem nos sentimentos
percebidos de solidão, os quais se manifestam sobretudo quando são introduzidas
variáveis relacionais. Deste modo e tal como salientam diversos autores
(Freitas, 2011), as expectativas que cada idoso tem relativamente aos contactos
sociais revela-se um fator explicativo para o seu sentimento de solidão. De
facto, no estudo, a perceção relativa ao suporte social recebido introduz
(Passo 2) a diferença relativa ao sentimento de solidão experienciado pelos
idosos na instituição, pressuposto este que se mostra convergente com a
explanação avançada por Kimondo (2012), quando salienta que as medidas
estruturais tais como a frequência dos contactos sociais e os indicadores
funcionais relacionados com a qualidade da rede social e suporte social são
aspetos centrais da rede de apoio social. Assim, a valorização da rede de
amigos e confidentes, nos quais se incluem muitas vezes os prestadores de
cuidados institucionais revertem níveis mais elevados de satisfação relacional
nas instituições. No modelo final (Passo 3), constata-se que os preditores mais
significativos da solidão se associam a níveis de satisfação percebida com a família,
existência de uma rede de amigos e existência de confidentes. Esta constatação
mostra-se coincidente com vários estudos desenvolvidos, os quais enfatizam que
a qualidade e satisfação das relações são determinantes mais importantes da
solidão do que o atual número de contactos. Como enfatizam Wen, Hawkley e
Cacioppo (2006), a perceção positiva dos idosos acerca do apoio de vizinhos, de
amigos e da família está diretamente ligada à boa saúde dos idosos. Aliás, e
como vem sendo sugerido, as medidas de apoio percebido refletem um apoio mais
forte e consistente na saúde e no bem-estar dos mais velhos (Norris &
Kaniasty, tal como citado por Paúl, 1997). Globalmente, resulta desta
investigação a constatação de que os idosos a residir na comunidade reportam
comparativamente aos participantes em estrutura residencial para idosos, níveis
mais elevados de suporte social ativo ou recebido, bem como de suporte social
percebido como disponível em caso de necessidade. Por si só, a variável
residência que foi utilizada para distinguir os dois grupos em análise não
influi na perceção subjetiva da solidão. No entanto quando se focalizam as
vivências em estrutura residencial para idosos, o apoio recebido e a satisfação
com o suporte social revelam ser contributos importantes para minimizar a
solidão destes idosos. Assim, a institucionalização mostra-se associada a
características relacionais marcadas por vínculos mais frágeis e menor
satisfação com os mesmos, o que sugere que a solidão, enquanto dimensão
subjetiva, se reporta a diferentes contextos, sendo, todavia, relativamente
independente dos mesmos. Neste sentido, estudos que aprofundem a solidão
enquanto experiência subjectiva e associada a características psicológicas
internas poderão constituir terreno fértil para o avanço do conhecimento neste
domínio.
Conflito de interesses: nenhum.
Fontes de financiamento: nenhuma.
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