2016, Vol. 2(1):
25-37
Rede
social pessoal de jovens acolhidos em Lares de Infância e Juventude
Artigo Original
Sandrine Dias ⓘ ✉, Joana Sequeira ⓘ, Sónia
Guadalupe ⓘ
https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2016.2.1.25
Recebido 12 janeiro 2016
Aceite 28 fevereiro 2016
Objetivos: A rede social pessoal tem sido considerada um fator de proteção
importante para lidar com a adversidade. Este estudo pretende caracterizar as
redes sociais pessoais de jovens em regime de acolhimento prolongado,
comparando os resultados segundo o sexo.
Métodos: Participaram neste estudo 84 jovens, 49 raparigas e 35 rapazes, com
idades entre os 12 e os 20 anos (M ± DP = 15,26 ± 2,17),
acolhidos em 6 Lares de Infância e Juventude do distrito de Santarém
(Portugal), tendo sido avaliados com o Instrumento de Análise da Rede Social
Pessoal para caracterizar as dimensões estrutural, funcional e
relacional-contextual das redes.
Resultados: As redes dos jovens em situação de acolhimento residencial
são constituídas, em média, por 12 elementos, são fragmentadas, diversificadas
e predominantemente compostas por familiares. O nível de apoio social percebido
é elevado, especialmente na função emocional e informativa, registando-se uma
elevada satisfação com o suporte social. A frequência de contactos com os
membros da rede associa-se à distância geográfica. Quanto à análise segundo o
sexo, os rapazes apresentam redes ligeiramente maiores e valorizam mais as
relações familiares que as raparigas (p < 0,05). As raparigas
identificam mais elementos de famílias amigas (p < 0,05), tendem a
identificar redes mais diversificadas e mais densas, assim como percebem as
relações como sendo mais simétricas (p < 0,05). As raparigas
identificam redes maioritariamente femininas e os rapazes tendencialmente
masculinas (p < 0,01). Os rapazes percebem maiores níveis de apoio
informativo (p = 0,031), companhia social (p = 0,040) e acesso a
novos contactos (p = 0,001).
Conclusões: Este estudo confirma a importância da família para os jovens
em regime de acolhimento, apesar da distância, da frequência de contactos e dos
motivos subjacentes ao acolhimento. Estas conclusões remetem-nos para a
importância de perceber a perspetiva dos próprios jovens sobre as suas relações
interpessoais, de forma a potenciar o suporte social informal e a planificar um
processo de autonomização sustentado..
Palavras chave:
Acolhimento Residencial · Rede
Social Pessoal · Suporte Social · Jovens
acolhidos
Rede social pessoal de crianças e jovens em acolhimento
A rede social refere-se ao “conjunto de
sistemas e de pessoas significativas que compõem os elos de relacionamento
existentes e percebidos”
(Habigzang, Azevedo, Koller, &
Machado, 2006, p. 380), remetendo para um conjunto de nós ligados por laços (Wellman, 1981, tal como citado por
Guadalupe, 2001) o que nos reporta para a
“imagem de uma teia” (Andrade & Vaitsman, 2002, p. 927). Siqueira e Dell’ Aglio (2006, p. 77) defendem que a rede de apoio social
estabelece a forma como o indivíduo percebe o seu mundo social, como se orienta
nele, as suas estratégias e competências para estabelecer relações, os recursos
que dispõe ou a que acede para enfrentar as situações adversas com que se confronta.
O apoio social é uma das funções principais das redes sociais, associa-se ao
sentimento de pertença
e à satisfação com o apoio recebido, sendo subjetivo (Parente, Mendes, Teixeira, & Martins,
2014).
Todavia, nem todas as redes sociais se constituem como suportativas (Penha, 1996), algumas
podem constituir-se como fator não salutogéneo, prejudicial ou mesmo
destrutivo, por um lado, ou assumir-se como inócuas ou neutras, por outro, não
assumindo a função primordial expectável que lhe associamos (Guadalupe, 2009).
O apoio social pode ser contínuo, tal como previsto nos relacionamentos
duradouros, ou
intermitente e de curto prazo, como por exemplo em situações agudas ou de crise
(Proctor, Groza, & Rosenthal, s.d.).
Na infância, a família, sobretudo os pais,
constituem a rede fundamental da criança e a sua principal fonte de apoio (Sluzki, 1996). À medida que a criança/jovem
se desenvolve as relações sociais externas vão sendo mais frequentes (Arteaga & del Valle, 2001; Brito
& Koller, 1999; Mc Mahon & Curtin, 2013; Siqueira, 2006), ou seja, expande-se a sua
de rede de contactos e aumenta o suporte. Na adolescência os pares são
identificados como uma das principais fontes de apoio e parte significativa da
rede social (Cepa, 2011; Livi,
Berger, & Schneider, 2009; Lopes & Moleiro, 2012; Mc Mahon & Curtin, 2013; Nunes, 2010; Redondo, Pimentel, & Correia, 2012; Siqueira, Betts, & Dell’ Aglio, 2006; Sluzki, 1996), continuando, porém, a
família a ter um papel central, importante e influente (CNPCJR, s.d.; Dolan, Canavan, & Brady, 2008). A rede social pessoal assume, assim, um
carácter dinâmico.
A rede social dos sujeitos tem sido
considerada fundamental na adaptação social, na saúde, no bem-estar e como
promotora de resiliência ao longo do desenvolvimento, nomeadamente nos momentos
de crise. A investigação desenvolvida tem demonstrado que a ausência ou
escassez de suporte social configura um fator de risco para a ocorrência ou
manutenção de situações do perigo infantil (ISS, I.P.,
2005; Magalhães,
2005;
Penha, 1996; Pereira, 2009). Por
outro lado, as redes de suporte social são percebidas como um mecanismo
importante para a promoção de resiliência
e proteção (Bourdon, 2009; Gomes, 2010; ISS, I.P., 2005; Janeiro, 2011; Mota & Matos, 2008; Penha, 1996; Sani, 2004; Sluzki, 2000; Siqueira et al., 2006). Uma das
funções internas que associamos à ideia de família é a da proteção
dos seus membros, não se constituindo apenas como um dever moral, mas como um
dever consignado na lei. Mas se a família é um lugar de laços afetivos também é um lugar onde a
sua destruição pode acontecer (Amorim, 2011). A paradoxalidade desta ideia deixa um
lastro de risco e de perigo, situações também
associadas a um fraco suporte social informal e formal usufruído por parte das
famílias, geralmente vulneráveis ou excluídas socialmente, que apresentam
interação social e laços sociais precários ou mesmo isolamento
social, entre outros problemas interacionais e sociais (Amorim, 2011).
O acolhimento residencial de uma criança ou
jovem “decorre de falhas graves no cumprimento das responsabilidades parentais”
(Martins, 2004, p. 274), com as casas de acolhimento a procurar promover as
necessidades de desenvolvimento das crianças e jovens e suprir as lacunas no
exercício da função parental. Assim, a medida de acolhimento residencial visa
afastar o perigo em que as crianças e jovens se encontram, proporcionar-lhes
segurança, saúde, formação, educação, bem-estar, condições para o
desenvolvimento integral e garantir a sua recuperação física e psicológica
(art. 34º da Lei n.º 149/99, de 1 de setembro, com as alterações introduzidas
pela Lei n.º 142/2015, de 8 de setembro).
Numa perspetiva sistémica, o acolhimento
residencial é entendido como uma crise, pois trata-se de um acontecimento que
provoca inúmeras e diversas mudanças nas vidas e nas redes de apoio afetivo e
social das crianças e jovens com histórias de maltrato (Martins, 2004; Siqueira et al., 2006). O acolhimento
altera, assim, quer a qualidade quer a frequência e intensidade das relações
com a família (Cavalcante, Magalhães, & Pontes,
2007;
Dell’ Aglio, 2000; Nunes, 2010; Siqueira, 2006; Siqueira et al., 2006; Siqueira & Dell’ Aglio,
2006, 2007). O acolhimento
residencial, por vezes, constitui uma transição necessária, que implica
mudanças, reorganizações e riscos, bem como potencialidades para a
criança/jovem e para a família. Porém, a retirada da criança/jovem poderá
constituir-se como uma resposta paradoxal (Alberto,
2008;
Alves, 2007; Bronfenbrenner, 1979; Browne, 2009; Gomes, 2010; Martins, 2004, 2005; Mota & Matos, 2008; Siqueira & Dell’ Aglio,
2006; Siqueira,
Tubino, Schwarz, & Dell’ Aglio,
2009). Alguns investigadores realçam os riscos de desconexão da rede
associados à institucionalização, sendo este risco mais elevado quando a
colocação residencial é feita longe da residência da criança/jovem (Arteaga & del Valle, 2003; Cavalcante et al., 2007). Todavia, a
investigação destaca que a distância geográfica entre a instituição de
acolhimento e a residência dos elementos da família não impede que a família
continue a ser percecionada como fonte de apoio (Araújo, 2012; Mártin & Dávila, 2008; Mendes, 2011; Nunes, 2010; Pereira, 2010), sendo mesmo, por
vezes, a principal fonte de apoio (Araújo, 2012; Mendes, 2011; Parente et al., 2014; Siqueira et al., 2006),
com um papel importante ao nível da adaptação durante o acolhimento (Arteaga & del Valle, 2003).
Os elementos que compõem a resposta de
acolhimento têm sido considerados importantes fontes de apoio social e afetivo
para os jovens acolhidos
(Arteaga & del Valle, 2003; Cavalcante et al., 2007; ISS, I.P., 2005; Mc Mahon & Curtin, 2013; Mártin & Dávila, 2008; Nunes, 2010; Siqueira et al., 2006; Siqueira & Dell’ Aglio,
2006; Siqueira et
al., 2009), podendo estes
constituir-se “na fonte de apoio social mais próxima e organizada,
desempenhando um papel fundamental para o seu desenvolvimento” (Siqueira & Dell’ Aglio,
2006, p. 77), nomeadamente ao nível das competências sociais (Mota & Matos, 2010).
As investigações realizadas sobre a rede
social de crianças integradas em contextos residenciais concluem que o tamanho
médio da rede social destes jovens difere entre 4,58 (Cepa, 2011) e 31 elementos (Siqueira et al., 2009), o que se traduz numa
enorme amplitude. O valor médio parece situar-se em torno da dezena de membros,
havendo estudos que identificam redes sociais compostas em média por
7,39 elementos (Parente et al.,
2014),
9 (Mendes, 2011), 11 (Arteaga & del Valle, 2003; Araújo, 2012; Blakeslee, 2015), 12 membros (Pereira, 2010) e 15,5 membros (Mc Mahon &
Curtin, 2013). Os estudos realçam a preponderância da família na rede
social pessoal dos jovens (Araújo, 2012; Cepa, 2011; Mc Mahon & Curtin, 2013; Martín & Dávila, 2008; Mendes, 2011; Parente et al., 2014; Pereira, 2010; Siqueira et al., 2006) e que as figuras adultas
são mais valorizadas enquanto fontes de apoio (Arteaga & del Valle, 2003; Martín & Dávila, 2008; Siqueira et al., 2006). Igualmente, os pais são
percebidos como figuras significativas para crianças acolhidas por cuidadores
informais (Farmer, Selwyn, & Meakings, 2013). Cepa (2011) e Mendes (2011) verificaram que as redes sociais são tendencialmente
coesas, os elementos que as compõem estão geograficamente próximos
e mantêm contactos regulares. Quanto ao apoio facultado, a família
tende a ser identificada como principal referência afetiva (Arteaga & del Valle, 2003; Cepa, 2011; Martín & Dávila, 2008; Mendes, 2011; Siqueira et al., 2006; Pereira, 2010). Os resultados da
investigação de Nunes (2010) concluem que uma
maior satisfação com o suporte social percebido está relacionada com uma menor
duração do acolhimento e com a idade mais avançada do jovem no momento do
acolhimento. Parente e colaboradores (2014) não verificaram
diferenças nas características das redes sociais pessoais dos jovens
determinadas pelo sexo, idade e duração do acolhimento das crianças/jovens.
A investigação tem demonstrado de forma
consistente o papel e importância das redes e do suporte social no
desenvolvimento das crianças/jovens, bem como na sua proteção contra riscos e
vulnerabilidades, nomeadamente no contexto residencial (Alves, 2007; Arteaga & del Valle, 2003; Mártin & Dávila, 2008; Martins, 2004; Mota & Matos, 2008, 2010; Siqueira et al., 2006; Penha, 1996), assim como no desenho de
um projeto de vida futuro (Pereira, 2010). No entanto, a investigação nesta área ainda
é escassa e os resultados não são consensuais. Pretende-se, assim, neste
trabalho caracterizar as redes sociais pessoais de jovens em regime de
acolhimento prolongado, apresentando uma análise na perspetiva de género, com
base na variável sexo.
Procedimentos e
amostragem
Desenvolvemos um estudo transversal, utilizando uma metodologia de
análise quantitativa de tipo descritiva, correlacional e inferencial.
De acordo com os procedimentos formais e éticos procedeu-se à solicitação
de autorização para a utilização e adaptação às finalidades da investigação do
IARSP a uma das autoras do instrumento. Apurada a disponibilidade para
colaboração junto dos responsáveis pelos lares de infância e juventude,
solicitou-se por escrito autorização às instituições de acolhimento para a
participação dos jovens no estudo. Após permissão das instituições, foram
apresentados os objetivos do estudo aos jovens e solicitada a sua participação
através de um consentimento informado, no qual se garante o cumprimento de
todos os procedimentos éticos e deontológicos associados à investigação em
psicologia tendo em conta as diretrizes do Código Deontológico dos Psicólogos (OPP, 2011).
Os participantes foram selecionados com base no critério de acessibilidade,
constituindo uma amostra não-probabilística. A amostra integra jovens acolhidos
em 6 lares de infância e juventude no distrito de Santarém (Portugal), com
idades compreendidas entre os 12 e os 20 anos de idade, sem limitações
cognitivas significativas que condicionassem a sua compreensão e capacidade de
resposta às questões colocadas. Das instituições de acolhimento selecionadas, 3
(50,0%) acolhem crianças e jovens do sexo feminino, 2 (33,3%) são masculinas e
1 (16,7%) é mista em relação ao sexo.
Participantes
Participaram neste estudo 84 jovens de ambos os sexos, acolhidos em lares
de infância e juventude. Na maioria são jovens do sexo feminino (n = 49;
58,39%), com 15 anos de idade, em média (M ± DP = 15,26 ± 2,17;
Min = 12; Max = 20 anos), apresentando idades compreendidas entre
os 15 e os 17 (44%) e entre os 12 e os 14 anos (39,2%). A maioria dos
participantes com idades entre os 18 e os 20 anos são do sexo feminino (11 dos
14 nesta faixa etária).
Quanto à escolaridade, mais de metade dos jovens (51,2%) possuem pelo
menos o 2º ciclo de escolaridade concluído. Um quarto da amostra (25%) tem o 1º
ciclo concluído e 51,2% o 2º ciclo, tendo 6% o ensino secundário concluído. As
raparigas apresentam um nível de escolaridade mais elevado (U = 601,00; p
= 0,011). Dos rapazes, 40% têm o primeiro 1º ciclo concluído, contra 14,3%,
no caso das raparigas, o que aponta para um maior insucesso escolar por parte
do sexo masculino.
A maioria dos participantes encontra-se em acolhimento residencial há
menos de 3 anos (70,2%), 25% destes há menos de 1 ano, situando-se também a
média abaixo dos 3 anos (M ± DP = 2,88 ± 1,44; Min =
1; Max = 5). Na duração do acolhimento, as raparigas apresentam maiores
tempos de permanência em instituições de acolhimento (M ± DP = 3,18 ±
1,52; Min = 1; Max = 5) do que os rapazes (M ± DP =
2,46 ± 1,22; Min = 1; Max = 5), havendo diferenças
estatisticamente significativas (U = 619,500; p = 0,026), com uma
magnitude da diferença média (d de Cohen = 0,51; IC95% [0,07;
0,95] (Tabela 1).
Relativamente
aos projetos de vida, 50,0% (n = 42) dos jovens identificam a autonomia
de vida como projeto, sendo esta tendência mais expressiva no caso das
raparigas (n = 30; 61,2%). Os jovens do sexo masculino identificam
maioritariamente o retorno à família nuclear como projeto de vida (n =
20; 57,1%), todavia, não verificámos uma associação significativa do projeto de
vida com a variável sexo (Tabela 1).
|
Projeto de Vida e Tempo de Acolhimento dos Jovens |
|
||||||||
|
|
Total |
Raparigas (n = 49) |
Rapazes (n = 35) |
|
|
||||
|
N |
% |
n |
% |
n |
% |
|
|
||
|
Projeto de vida |
(Re)integração na família nuclear |
34 |
40,5 |
14 |
28,6 |
20 |
57,1 |
χ2 = 9,024 p = 0,061 |
|
|
(Re)integração na família alargada |
4 |
4,8 |
3 |
6,1 |
1 |
2,9 |
|
||
|
Confiança a Pessoa idónea |
1 |
1,2 |
1 |
2,0 |
— |
— |
|
||
|
Adoção |
3 |
3,6 |
1 |
2,0 |
2 |
5,7 |
|
||
|
Autonomização |
42 |
50,0 |
30 |
61,2 |
12 |
34,3 |
|
||
|
|
Total |
84 |
100 |
49 |
100 |
35 |
100 |
|
|
|
Tempo de acolhimento |
< 1 ano |
21 |
25,0 |
11 |
22,4 |
10 |
28,6 |
|
|
|
1 ano |
11 |
13,1 |
4 |
8,2 |
7 |
20,0 |
|
||
|
2-3 anos |
27 |
32,1 |
14 |
28,6 |
13 |
37,1 |
|
||
|
4-6 anos |
7 |
8,3 |
6 |
10,2 |
2 |
5,7 |
|
||
|
≥ 6 anos |
18 |
21,4 |
15 |
30,6 |
3 |
8,6 |
|
||
|
|
Total |
84 |
100 |
49 |
100 |
35 |
100 |
|
|
|
|
|
M |
DP |
M |
DP |
M |
DP |
|
|
|
Tempo de acolhimento (em anos) |
2,88 |
1,44 |
3,18 |
1,52 |
2,46 |
1,22 |
U = 619,50 p = 0,026 |
|
|
|
Nota. χ2 = Qui-Quadrado da
independência; U
= U de Mann-Whitney; p = nível de significância; M = média; DP
= desvio-padrão. |
|
Instrumentos
O Instrumento de Análise da Rede Social Pessoal (IARSP; Guadalupe, 2009; Guadalupe & Alarcão, 2009) foi utilizado para
caracterizar as redes a nível estrutural (tamanho, composição, densidade),
funcional (tipos de apoio social, reciprocidade e satisfação com o suporte) e
relacional-contextual (frequência
de contactos, dispersão geográfica, e homogeneidade/ heterogeneidade etária e
de sexo).
O IARSP foi adaptado para o estudo com autorização da autora. O gerador
de rede (questão inicial) usado no presente estudo foi o seguinte: “indica o nome das pessoas com quem
tenhas estabelecido contacto nos últimos seis meses, te relacionas, são importantes na tua vida
(positiva ou negativamente/ que gostes ou não) e te apoiam”. Seguiu-se uma
questão sobre o vínculo relacional estabelecido entre o sujeito e cada uma das
pessoas enunciadas como membros da sua rede. Atendendo à especificidade contextual dos
participantes, optou-se pela identificação dos seguintes campos relacionais: i)
relações familiares, ii)
relações de amizade (extra instituição), iii) relações de amizade
(instituição), iv) relações
com famílias amigas; v)
relações de trabalho e/ou de estudo; relações institucionais
(educadores/técnicos).
Na dimensão estrutural caracterizámos o tamanho da
rede (número de membros); a composição da rede (através do número de campos
relacionais, do tamanho e da proporção percentual dos campos relacionais na
rede); e a densidade da rede (que expressa percentualmente a interconexão entre
os membros independentemente do jovem respondente; podendo variar entre zero e
cem, categorizando como redes dispersas aquelas que apresentam valores
inferiores a 33,33%, as fragmentadas entre 33,33 e 79,99% e as coesas de 80% a
100%). Na dimensão funcional avaliámos o nível de apoio percebido com uma
escala de Likert de 3 pontos (1. “nenhum”, 2. “algum” e 3. “muito”) quanto ao
apoio emocional, material e instrumental, informativo, companhia social e
acesso a novos contactos; a reciprocidade de apoio avaliada através de 4 níveis
(em que 1. “não dá apoio a nenhuma destas pessoas”, 2. “dá apoio a poucas…”, 3.
“dá apoio a algumas…” e 4. “dá apoio à maior parte…”); e a satisfação com o
suporte social cotada em 3 pontos (1. “nada”, “pouca” e “muita”). Relativamente
às características relacionais-contextuais avaliámos a frequência de contactos
(cotada entre 1 a 5 de 1. “diariamente” a 5. “algumas vezes por ano”); a
dispersão geográfica (numa escala de 5 pontos de 1. “na mesma instituição” a 5.
“a mais de 50 Km”). Foi ainda efetuado um conjunto adicional de questões sobre
o tempo de acolhimento, projeto de vida, mudanças percebidas no tamanho da rede
social pessoal com o acolhimento residencial, possíveis perdas ou cortes
relacionais e a satisfação dos elementos com a rede e com o suporte social percebido.
Análise Estatística
A análise estatística foi efetuada através do Statistic
Package for the Social Sciences (SPSS), versão 21 para Windows. Para
analisar a normalidade das variáveis em estudo recorreu-se ao teste de
Kolmogorov-Smirnov e concluiu-se pela violação da normalidade na distribuição
das variáveis, optando-se pelo uso de testes não paramétricos.
Características
estruturais da rede social pessoal
As redes sociais dos jovens têm em média 12
elementos, sendo a média de elementos nas redes dos rapazes ligeiramente
superior (M ± DP = 13,03 ± 7,84) à das raparigas (M
± DP = 11,71 ± 6,62). As redes que possuem 6 a 10 elementos são as mais
frequentes na amostra, apesar do tamanho médio ser de 12 membros.
As redes são constituídas, em média, por três
campos relacionais distintos (M ± DP = 2,89 ± 0,74). São sobretudo
compostas por relações familiares, de amizade e institucionais em 42,9% (n
= 36) dos casos, seguindo-se as que são compostas por família e amigos (n =
18; 21,4%).
Em termos globais, as relações familiares
assumem a mais destacada proporção das relações nas redes (39,92%), tendo cada
rede, em média, 4,63 (DP = 3,61) elementos da família. Seguem-se as
relações com os pares (29,50%), das quais 16,32% correspondem a relações de
amizade estabelecidas fora da instituição (M ± DP = 2,10 ± 2,12)
e 13,18% a amigos que partilham a instituição (M ± DP = 1,68 ±
2,98). As relações com os elementos das equipas técnicas e educativas
representam uma parte expressiva das relações identificadas como significativas
nas redes dos jovens (M ± DP = 23,89% ± 20,31%), tendência
que é seguida por ambos os sexos.
Os jovens do sexo masculino têm, em média, mais
elementos da família e maior proporção de familiares nas suas redes (p = 0,021;
p = 0,039), com diferenças de efeito insignificante (d de Cohen =
0,56; IC95% [-0,99; -0,11]; de Cohen = 0,44; IC95% [-0,87;
0,01]), assumindo 46,38% (DP = 23,22%) das relações percebidas como
significativas, contra 35,31% (DP = 26,70%) das relações identificadas
pelas raparigas. Verificámos diferenças significativas ao nível das relações
com famílias amigas, tendo as raparigas mais vínculos com estas estruturas
familiares (p = 0,019; p = 0,018), com diferenças de efeito
pequeno (d de Cohen = 0,37; IC95% [-0,07; 0,81]; d de
Cohen = 0,47; IC95% [0,03; 0,91]), ainda que estas relações apresentem
diminuta representatividade em proporção (M ± DP = 3,74% ± 12,32%).
Também as relações de trabalho/estudo assumem
um carácter residual das redes sociais dos jovens (M ± DP = 1,61
± 4,40) (Tabela 2).
|
Características Estruturais da Rede Social Pessoal |
|
|||||||
|
|
Total |
Raparigas (n = 49) |
Rapazes (n = 35) |
U |
|
|||
|
|
M |
DP |
M |
DP |
M |
DP |
|
|
|
Tamanho da Rede |
12,26 |
7,14 |
11,71 |
6,62 |
13,03 |
7,84 |
792,500 |
|
|
Composição da rede (n.º de
membros por campo relacional) |
|
|
|
|
||||
|
Relações
Familiares |
4,63 |
3,61 |
3,82 |
3,09 |
5,77 |
4,02 |
605,50* |
|
|
Relações
de Amizade (extra instituição) |
2,10 |
2,12 |
2,22 |
2,00 |
1,91 |
2,29 |
741,50 |
|
|
Relações
de Amizade (instituição) |
1,68 |
2,98 |
1,84 |
3,61 |
1,46 |
1,80 |
850,50 |
|
|
Relações
com famílias amigas |
0,54 |
2,09 |
0,86 |
2,67 |
0,09 |
0,51 |
706,50* |
|
|
Relações
de Trabalho / Estudo |
0,26 |
0,53 |
0,24 |
0,60 |
0,29 |
0,89 |
823,50 |
|
|
Relações
institucionais (Educadores / Técnicos) |
3,12 |
12,85 |
2,84 |
3,48 |
3,51 |
3,75 |
782,00 |
|
|
Composição da rede (proporção
do campo relacional no tamanho — em
percentagem %) |
|
|
|
|||||
|
Relações
Familiares |
39,92 |
25,75 |
35,31 |
26,70 |
46,38 |
23,22 |
630,50* |
|
|
Relações
de Amizade (extra instituição) |
16,32 |
16,94 |
18,36 |
17,45 |
13,47 |
16,00 |
719,00 |
|
|
Relações
de Amizade (instituição) |
13,18 |
16,41 |
13,06 |
16,37 |
13,35 |
16,70 |
856,50 |
|
|
Relações
com famílias amigas |
3,74 |
12,32 |
6,11 |
15,63 |
0,43 |
2,54 |
704,00* |
|
|
Relações
de Trabalho / Estudo |
1,61 |
4,40 |
1,96 |
4,96 |
1,13 |
3,48 |
811,50 |
|
|
Relações
institucionais (Educadores / Técnicos) |
23,89 |
20,31 |
23,68 |
20,81 |
24,20 |
19,90 |
826,00 |
|
|
Campos Relacionais |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
N.º
de campos relacionais |
2,89 |
0,75 |
2,96 |
0,82 |
2,80 |
0,63 |
776,000 |
|
|
Densidade da Rede
Em percentagem % |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
66,44 |
23,66 |
67,49 |
24,51 |
64,95 |
22,69 |
805,500 |
|
|
|
Nota. M = Média; DP
= Desvio Padrão; U = U de Mann-Whitney. * p < 0,05. |
|
A densidade média das redes
da amostra é de 66,44 (DP = 23,66), sendo as redes sociais pessoais dos
participantes tendencialmente fragmentadas. Realce-se que se identificaram
redes com conexão nula (0%), ou seja em que nenhum membro se encontra
interligado entre si independentemente do ego, e com coesão máxima (100%), em
que todos estão interconectados.
Considerando as mudanças
percebidas no tamanho da rede associadas ao acolhimento residencial, a maioria
dos participantes revela que a rede aumentou com a integração na instituição,
declarando que o número de pessoas com quem se relaciona é superior (32,1%) e
muito superior (36,9%). Apenas 6 jovens percebem restrições na sua rede
associadas ao acolhimento, referindo que o número de pessoas com quem se
relacionam é menor (n = 4; 4,8%) e muito menor (n = 2; 2,4%).
Foram também avaliadas as
perdas e cortes relacionais significativos. A maioria dos jovens (n =
47; 56,0%) declara ter perdido alguém nos últimos anos, maioritariamente
familiares, por falecimento. Quanto aos cortes relacionais, 61,9% (n =
52) dos jovens cortou relações com elementos de referência, principalmente
familiares e amigos, associando a rutura ao afastamento/distância.
Características funcionais da rede social pessoal
O nível de apoio social na rede foi avaliado com base numa
escala de Likert de 3 pontos (nenhum, algum, muito) que reflete o nível
percebido de apoio emocional, material e instrumental, informativo, companhia
social e acesso a novos contactos. Os resultados indicam que os jovens
valorizam de forma mais elevada o apoio emocional (M ± DP = 2,66
± 0,39) e apoio informativo (M ± DP = 2,51 ±
0,42). Já os níveis de companhia social (M ± DP = 2,45 ±
0,44), de apoio material e instrumental (M ± DP = 2,19 ±
0,61), bem como de acesso a novos contactos (M ± DP = 2,12
± 0,65) são percebidos como moderados. Verificámos diferenças
estatisticamente significativas entre os sexos quanto à perceção do nível de
apoio informativo (p = 0,031), companhia social (p = 0,040) e
acesso a novos contactos (p = 0,001), em que os rapazes tendem a
perceber maiores níveis de apoio, apesar do efeito insignificante registado
(respetivamente: d de Cohen = -0,41; IC95% [-0,84; 0,03]; d
de Cohen = -0,44; IC95% [-0,87; 0,00]; d de Cohen = -0,73; IC95%
[-1,17; -0,21]) (Tabela 3).
|
Características
Funcionais da Rede Social Pessoal |
|
|||||||
|
|
Total |
Raparigas (n = 49) |
Rapazes (n = 35) |
|
|
|||
|
|
M |
DP |
M |
DP |
M |
DP |
U |
|
|
Nível de apoio |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Apoio Emocional |
2,67 |
0,39 |
2,63 |
0,39 |
2,72 |
0,38 |
656,50 |
|
|
Apoio Material e
Instrumental |
2,20 |
0,61 |
2,19 |
0,53 |
2,20 |
0,71 |
804,00 |
|
|
Apoio Informativo |
2,51 |
0,42 |
2,44 |
0,42 |
2,61 |
0,41 |
620,50* |
|
|
Companhia Social |
2,45 |
0,44 |
2,37 |
0,44 |
2,56 |
0,42 |
632,50* |
|
|
Acesso a novos contactos |
2,12 |
0,65 |
1,94 |
0,62 |
2,39 |
0,61 |
506,50** |
|
|
|
N |
% |
n |
% |
n |
% |
|
|
|
Reciprocidade de Apoio |
(M = 3,56; |
DP
= 0,59) |
(M = 3,70; |
DP
= 0,51) |
(M = 3,37; |
DP
= 0,65) |
625,50* |
|
|
Não
dá apoio a nenhuma destas pessoas |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
|
|
|
Dá
apoio a poucas destas pessoas |
4 |
4,8 |
1 |
2,0 |
3 |
8,6 |
|
|
|
Dá apoio a algumas destas
pessoas |
29 |
34,5 |
13 |
26,5 |
16 |
45,7 |
|
|
|
Dá apoio à maior parte das
pessoas |
51 |
60,7 |
35 |
71,4 |
16 |
45,7 |
|
|
|
Satisfação com o suporte social |
(M = 2,83; |
DP = 0,41) |
M = 2,80; |
DP = 0,41) |
(M = 2.89; |
DP = 0,40) |
761,00 |
|
|
Nada |
1 |
1,2 |
0 |
0,00 |
1 |
2,9 |
|
|
|
Pouco |
12 |
14,3 |
10 |
20,4 |
2 |
5,7 |
|
|
|
Muito |
71 |
84,5 |
39 |
79,6 |
32 |
91,4 |
|
|
|
Densidade da Rede — em percentagem % |
(M = 66,44; |
DP
= 23,66) |
M = 67,49; |
DP
= 24,51) |
(M = 64,95; |
DP
= 22,69) |
805,500 |
|
|
Nota. M = Média; DP = Desvio Padrão; U = U de Mann-Whitney. * p < 0,05; ** p < 0,01. |
|
A reciprocidade de apoio é
elevada (M ± DP = 3,56 ± 0,59; Min = 1; Max
= 4), dado que 95,2% dos jovens declara dar apoio à maior parte dos membros
da sua rede (60,7%) ou a alguns membros (34,5%). A reciprocidade do apoio
associa-se ao género, assim rapazes e raparigas têm perceções diferentes da
reciprocidade do apoio (p = 0,014), em que as raparigas tendem a
identificar relações mais simétricas (M ± DP = 3,70 ± 0,51),
com efeito médio (d de Cohen = 0,58; IC95% [0,13; 1,01]). Foi ainda
avaliada a satisfação dos jovens com o suporte social recebido. A esmagadora
maioria dos jovens (84,5%) declarou estar muito satisfeita com o suporte
social (M ± DP = 2,83 ± 0,41; Min = 1; Max =
3). Apenas 1 jovem (1,3%) revela insatisfação total com o apoio.
Características relacionais-contextuais da rede social pessoal
Quanto à frequência de contactos entre o sujeito central e
os membros da sua rede, 42,9% mantém contactos algumas vezes por semana, 27,4%
estabelece contactos semanais e 19% diários. A distância geográfica entre os
jovens e os elementos da rede varia entre a residência na mesma localidade (n
= 31; 36,9%) e uma distância até 50 km (n = 31; 36,9%). As relações
são aparentemente duradouras, já que 45,1% da amostra identificou relações com duração
superior a 6 anos, seguidas das relações com duração entre 1 e 3 anos (27,55%)
(Tabela 4).
Quanto à homo/heterogeneidade sexual dos membros da rede,
63,33% da totalidade dos sujeitos referenciados como fontes de suporte são do
sexo feminino, porém as redes sociais pessoais são maioritariamente mistas. As
raparigas apresentam mais elementos do sexo feminino e os rapazes mais
elementos do sexo masculino (p < 0,001), tendo sido a intensidade da
associação entre as variáveis verificada através do V de Cramer.
Os resultados do presente estudo permitiram conhecer algumas das
características das redes social de jovens em acolhimento residencial,
verificando-se que o acolhimento potencia mudanças na vida das crianças e
jovens, nomeadamente nas suas redes sociais pessoais e de suporte social.
A UNICEF estima
que, no mundo, existam 2,2 milhões de crianças e jovens confiados a
instituições (Browne, 2009, p. 5). Em Portugal, de
acordo com a caracterização anual da situação de acolhimento (ISS, IP., 2015), no ano de 2014 estiveram
em acolhimento 8.470 crianças e jovens, dos quais 2.143 são novas situações e
6.327 em continuidade de acolhimento, tendo cessado o acolhimento para 2.433 no
mesmo ano. Os jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 20 anos
correspondem a 68,57% (5.808 jovens) dos casos. O mesmo relatório
de caracterização da situação de acolhimento, revela que no distrito de Santarém, área
administrativa de Portugal onde decorreu a recolha de dados, no ano de 2014,
estiveram em acolhimento 345 crianças e jovens (ISS, IP., 2015), representando os
participantes da presente investigação 24,35% da população em acolhimento no
distrito e 1% do universo nacional.
A sistematização de dados nestes relatórios tem vindo a revelar um
ligeiro predomínio de crianças e jovens do sexo masculino em acolhimento (51,9%
em 2014), especialmente até aos 14 anos, tendência invertida a partir dos 15
anos (ISS, IP., 2015); já a nossa amostra
é predominantemente do sexo feminino, atendendo a que 60,7% dos inquiridos
apresentam idades iguais e superiores a 15 anos.
Os escalões etários com maior representatividade entre os jovens em
acolhimento em Portugal correspondem aos mesmos da amostra do presente estudo,
ou seja, dos 12 aos 20 anos de idade, representando 68,6% do universo de
crianças e jovens em acolhimento, tendo-se verificado um aumento de
adolescentes nos últimos anos.
Os dados nacionais de 2014 evidenciam a mesma tendência de distribuição
do que constatamos na amostra (12-14 anos - 21,1%; 15-17 anos - 35,1%; 18-20
anos - 12,5%) (ISS, IP., 2015). A escolaridade dos
jovens inquiridos revela a percursos marcados por eventual insucesso escolar,
pois 25% têm o 1º ciclo concluído e 51,2% o 2º ciclo, não obstante o facto da
idade normal de frequência do primeiro ciclo ser entre os 6 e os 10 anos e a do
2º ciclo entre os 11 e 12 anos, Apesar de 16,7% dos jovens ter idade
compreendida entre os 18 e 20 anos de idade, apenas 6% da amostra tem o ensino
secundário concluído, ou seja, tem a escolaridade obrigatória concluída.
As redes pessoais dos jovens participantes têm em média 12 elementos,
tendendo os rapazes a apresentar redes maiores, apesar de não se verificar
relação estatisticamente significativa entre estas variáveis, tal como no
estudo realizado por Parente e colaboradores (2014). De acordo com alguns estudos com o mesmo tipo de população
(Araújo, 2012; Arteaga & del Valle, 2003; Mc Mahon & Curtin, 2013; Mendes, 2011; Parente et al., 2014) o tamanho médio das redes sociais de jovens
em acolhimento varia entre os 7,39 e os 15,5 elementos, indo os nossos
resultados ao encontro dos valores médios do intervalo de tamanho. Esta
coincidência intervalar, apesar da ausência de estudos de epidemiologia social
suficientemente amplos e seccionados por faixas etárias, parece indicar que
este será o tamanho médio das redes sociais neste contexto específico, ainda
que expresse um tamanho inferior ao que tem sido indicado para a população
geral (Guadalupe, 2009).
A investigação de Fernández del Valle e Bravo (2000), com jovens
adolescentes entre os 12 e os 18 anos, identifica redes constituídas em média
por 10 elementos. Uma investigação nacional aponta para uma média de 27
elementos por rede de adolescentes entre os 14 e os 18 anos (Antunes, Sequeira, & Alarcão, 2011).
A literatura realça a associação negativa entre o tamanho da rede, a
idade dos jovens acolhidos, e a duração do acolhimento (Nunes, 2010; Siqueira &
Dell’ Aglio, 2006; Sluzki, 1996), apesar de no
presente estudo, tal como no estudo de Mendes (2011), não se terem verificado
associações significativas. De acordo com a investigação desenvolvida por
Parente e colaboradores (2014), a idade das
crianças e jovens e a duração do acolhimento parecem não ter repercussões nas
suas redes sociais pessoais. A maioria dos participantes revelou que com o
acolhimento residencial ocorreu a expansão da rede social pessoal, o que nos
permite inferir que o acolhimento residencial pode também potenciar novos laços
e alargar a rede social pessoal, ou, por outro lado, pensar que apesar da
trajetória mudar nesta fase da vida este alargamento pode acontecer noutro
contexto que não o anteriormente antecipado. Esta ampliação percebida no
tamanho da rede pode ser explicada pelo facto do acolhimento obrigar, na
maioria das situações, a uma mudança do contexto de vida, que se reflete na
manutenção de relações com as crianças e colaboradores da resposta de
acolhimento e integração local em estabelecimentos educativos, formativos,
lúdicos, sociais, entre outros, ou seja, favorece o alargamento dos contextos
e, logo, a diversificação relacional. Adicionalmente, em alguns casos, o
acréscimo de elementos não implica necessariamente perda dos já existentes. Por
outro lado, os participantes encontram-se na fase da adolescência, etapa na
qual os jovens consolidam relações sociais externas (Arteaga & del
Valle, 2001; Brito & Koller, 1999; Siqueira, 2006). Assim, tal pode
dever-se à fase do ciclo vital (Sluzki, 1996; Moral, Miguel, & Pardo, 2007), dado que a
adolescência e a transição para a vida adulta são geralmente associadas a um
período expansionista nas relações interpessoais (Mc Mahon &
Curtin, 2013; Moral et
al., 2007; Sluzki, 1996), convertendo-se a
rede social pessoal na adolescência também numa fonte de autoestima e de aceitação
(Moral et al., 2007). No entanto, as
diferentes trajetórias dos indivíduos no seu curso de vida modificam
substancialmente estes movimentos tidos como normativos. Neste caso, a
circunstância de acolhimento residencial quebra a trajetória normativa e
proporciona afastamento dos anteriores círculos relacionais de inclusão, que
geralmente oferecem laços que se esperam mais perenes, assim como aproximação
de campos relacionais de relação antecipadamente tida como temporária, o que
pode antecipar transformações profundas na futura configuração das redes dos
participantes. A localização das instituições na qual incidiu a investigação
poderá ser um fator facilitador do alargamento da rede, uma vez que a dimensão
mais pequena dos contextos potencia uma maior proximidade entre as pessoas e
facilidade de contactos.
As relações familiares assumem grande parte das relações percebidas como
sendo significativas e de suporte, seguidas das relações com os pares extra e
intrainstituição e das relações com os profissionais das instituições. Estes
dados parecem corroborar os resultados da investigação realizada por Araújo (2012), Mendes (2011), e Parente e colaboradores
(2014). Os resultados
revelam ainda que os rapazes tendem a valorizar mais as relações familiares,
indo ao encontro do estudo de Lopes e
Moleiro (2012). A importância atribuída pelos jovens à
família, bem como a perceção positiva, apesar do evidente afastamento da mesma
com o acolhimento, tem sido explicada como fruto da idealização dos jovens
sobre as relações familiares (Parente
et al., 2014; Siqueira & Dell’ Aglio, 2006), por um lado, ou
relacionar-se com o familismo das redes no contexto cultural português (Portugal, 2014) que nos faz
associar a ideia de família a suporte incondicional, independentemente da
conotação, por outro. O acolhimento residencial pode ainda atenuar recordações
negativas vivenciadas em contexto familiar e contribuir para uma visão mais
positiva da relação com a família (Siqueira &
Dell’ Aglio, 2006). Esta valorização
poderá ter também a ver com a diminuição da conflitualidade e das dificuldades
vividas no quotidiano familiar, entretanto atenuadas pela distância e pela
diminuição dos períodos de convivência. Finalmente, poderá também ser explicada
pelos efeitos terapêuticos do acolhimento para pais e filhos, ao permitir um
tempo de afastamento relacional, potenciador de mudanças no funcionamento da
família e do jovem. O facto de os rapazes apresentarem maior proporção de
relações familiares pode estar relacionado com o fator tempo, atendendo a que
são os que se encontram em acolhimento há menos tempo. Para além disso, os
rapazes apresentam maioritariamente como projeto de vida a reintegração na
família nuclear (57,1% vs. 28,6% nas raparigas), o que pode estar associado à
proximidade e à valorização dos laços familiares.
Contrariamente a alguns estudos (Blakeslee, 2015; Cepa, 2011; Livi et al., 2009; Lopes & Moleiro, 2012; Nunes, 2010; Redondo et al., 2012; Siqueira et al., 2006), os jovens
participantes não privilegiam os pares como principais fontes de apoio.
Note-se, no entanto que as relações de amizade (intra e extrainstitucionais)
ocupam cerca de 1/3 do tamanho da rede, tanto por raparigas como rapazes, sendo
as relações de trabalho/estudo ínfimas, apesar da inserção escolar da
generalidade desta população (ISS, IP.,
2015),
podendo denotar um desinvestimento ao nível das relações no âmbito
escolar ou que as relações neste contexto são concebidas como amizades. As
redes assumem, assim, homogeneidade no grupo adulto. De acordo Arteaga e del
Valle (2003), os adultos são mais valorizados como fontes de apoio,
eventualmente, porque estes dispõem de maior quantidade ou diversidade de
recursos para oferecerem apoio de forma mais efetiva. A composição da rede
apresenta, em média, cerca de 1/4 de relações institucionais com educadores e
técnicos, adultos que assumem as funções executivas no quotidiano dos jovens,
podendo tal revelar o reconhecimento da sua importância na proteção e suporte
sociais, podendo também ser resultante da forma como é colocada a questão
inicial ou mesmo ser influenciada pela desejabilidade social, atendendo ao
contexto da recolha de dados. Também Mota e Matos (2010) reconhecem o papel educativo e protetor das figuras
significativas, nomeadamente as relações institucionais com os profissionais,
durante o acolhimento.
Quanto à interconexão entre os elementos da rede, contrariamente às
investigações de Cepa (2011) e Mendes (2011), que identificaram
redes coesas, os nossos resultados revelaram que os participantes apresentam
redes fragmentadas, com um nível de densidade médio, o que, segundo Sluzki (1996, 2007), favorece a máxima efetividade e eficácia da rede. As redes
fragmentadas são compostas por “subgrupos relativamente independentes entre si,
muitas vezes situados num ou noutro quadrante da rede” (Guadalupe, 2009,
p. 79). As redes dos participantes revelam-se mais diversificadas, dispondo de
elementos de diferentes campos relacionais, o que nos parece um dado
interessante, que aponta tais redes como tendo recursos mais diversos, serem
menos reguladoras e mais capazes de proteger a privacidade e de não gerarem
pressão num sentido de funcionamento específico. Considerando a alteração
contextual associada à integração em instituição, a distância geográfica da
família e o elevado número de cuidadores/funcionários parece expectável que
alguns membros não mantenham qualquer tipo de conexão entre si. Realce-se, no
entanto, que há um pequeno número de jovens, mas importante, que revelam ter
redes dispersas, completamente desligadas entre si, o que pode ser indicador de
eventual isolamento, devendo merecer a atenção dos profissionais. A perceção de
fragmentação da rede nos jovens merece uma reflexão cuidada pois esta ausência
de contactos/relação pode potenciar ou aumentar a demissão da família face a um
exercício participativo na parentalidade dos filhos, que mesmo apesar do
acolhimento residencial, deveria ser incentivado de forma positiva e
integradora.
Sublinhamos novamente que o acolhimento residencial provoca mudanças nas
relações sociais, tanto ao nível da qualidade, como na frequência e intensidade
das relações (Dell
’Aglio, 2000; Nunes, 2010; Siqueira, 2006; Siqueira et al., 2006; Siqueira & Dell’ Aglio,
2006, 2007). A distância geográfica
entre o local de residência da família e a instituição, bem como a frequência de
contactos parece influenciar o afastamento físico e emocional da família (Alberto, 2008; Cavalcante et al., 2007; Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em
Risco, s.d.; Gomes, 2010; Leandro, Alvarez, Cordeiro, &
Carvalho, 2006; Martins,
2004;
Mota & Matos, 2008; Siqueira, 2006; Siqueira et al., 2006; Siqueira et al., 2009), aspeto evidente na
perceção dos cortes relacionais posteriores ao acolhimento residencial, não
obstante a expansão da rede. Também Arteaga e del Valle (2003) afirmam que o
acolhimento pode potenciar a rutura dos laços relacionais, ao que acrescentamos
que tal pode acontecer no momento do acolhimento residencial, da mesma forma
como pode acontecer no momento da autonomização e do terminus da medida
de acolhimento, o que nos leva a reafirmar a necessidade de trabalhar a transitoriedade
dos laços, evitando vinculações ambivalentes no futuro relacional destes
jovens, até porque o projeto de vida de metade dos participantes (50%) e da
maioria das raparigas (61,2%) passa pela autonomização. Exige-se, assim, uma
intervenção que potencie o acesso e consolidação de novos laços, sobretudo
informais, que se constituam como recursos capazes de dar suporte social a
médio e longo prazo a estes jovens.
Os resultados indicam que a frequência de contactos se associa à
dispersão geográfica, verificando-se que quanto mais distante é a residência
dos elementos da rede, mais espaçados são os contactos. No presente estudo, a
distância entre os jovens e os elementos da rede varia entre a residência na
mesma localidade e uma distância até 50 km. Sluzki (2007) defende que a distância geográfica afeta a
sensibilidade e a velocidade de resposta da rede às necessidades do sujeito. A
ausência dos familiares no quotidiano dos jovens, gera menos oportunidades
destes prestarem suporte e aconselhamento, no momento, e promove o recurso a
outras pessoas de uma forma mais constante e regular, o que acaba por alimentar
a desconexão, a falta de afinidade entre os familiares mais próximos e os
jovens e potencia a incapacidade familiar no exercício da parentalidade. Estes
dados remetem-nos para a ideia de que a distância afeta a qualidade dos
vínculos relacionais e afetivos (Arteaga
& del Valle, 2003; Cavalcante et al., 2007), a qual poderá
influenciar a definição do projeto de vida. A distância geográfica dificulta o
envolvimento dos familiares no quotidiano e cuidados das crianças/jovens e, por
conseguinte, poderá afetar os vínculos e a relação estabelecida, assim como
dificulta a intervenção dos profissionais da instituição junto da família.
Pode, assim, tornar-se um contexto paradoxal para todos os envolvidos uma vez
que, o acolhimento que se pretende temporário e promotor da mudança e
ajustamento da criança e da família, resulta num maior distanciamento e
demissão das tarefas parentais, delegadas na instituição, o que prejudica o
potencial transformador do acolhimento para a família.
Os recursos intercambiados na rede são-nos revelados pela sua dimensão
funcional. A esmagadora maioria dos jovens revela estar muito satisfeito com o
suporte social recebido. Segundo Dell’ Aglio (2000), esta perceção é mais importante do que outras
características quantitativas da rede. Realce-se que, aquando da aplicação do
IARSP, foi notória a dificuldade em qualificar a satisfação com o suporte
social, considerando que as alternativas variavam entre a insatisfação total,
um nível reduzido e elevado de satisfação, não se tendo considerado um nível
médio, o qual poderá ter influenciado os resultados. Este dado pode ainda estar
associado a uma perceção positiva do acolhimento (Dell’ Aglio, 2000; Mota & Matos, 2008), com a disponibilidade de
apoio, com o sentimento de pertença, segurança e
proteção (Mártin & Dávila, 2008; Mota & Matos, 2008; Siqueira et al., 2006; Siqueira & Dell’ Aglio,
2006; Siqueira et
al., 2009). Mais especificamente, os jovens percebem níveis elevados de
apoio recebidos pelos elementos da rede, destacando-se o apoio emocional e o
apoio informativo. Apesar dos contornos que levam ao afastamento da família e
dos riscos associados ao acolhimento residencial, nomeadamente a ausência de
referências consistentes e continuas (Siqueira, 2006; Siqueira et al., 2006; Siqueira et al., 2009), este cenário é
valorizado pelos jovens como estando associado a um nível elevado de suporte, o
que poderá refletir-se na adaptação, bem-estar e desenvolvimento dos jovens. A
investigação de Lopes e Moleiro (2012) revela que as raparigas tendem a apresentar valores
mais elevados na perceção de suporte social, mas no nosso estudo verificámos a
tendência oposta. Os rapazes tendem a perceber maiores níveis de apoio
informativo, companhia social e acesso a novos contactos, provavelmente pelo
efeito da maior valorização dos laços familiares e do projeto de vida desenhado
institucionalmente ser distinto do das raparigas, aspetos a explorar em estudos
futuros.
Segundo Guadalupe (2009, p. 86), as
situações-sociais-problema diminuem as possibilidades de trocas funcionais
recíprocas. Todavia, os jovens além de percecionarem níveis elevados de apoio
recebido, percebem-se como fontes de apoio, sendo as relações tendencialmente
simétricas, especialmente no caso das raparigas. Este dado é curioso, dado que
se verifica que os jovens em situação de acolhimento, além de avaliarem o apoio
recebido como elevado, também se percebem como fontes de suporte. Parente
e colaboradores (2014) também identificam
relações sociais recíprocas. Note-se a este propósito que as redes sociais
pessoais não são sinónimo de suporte social, mas sim a sua fonte (Guadalupe, 2009), suporte este que
pode não estar presente, pode não estar ativado e potenciado, ou pode estar
restringido por algum fator endógeno ou exógeno. As redes podem ser inócuas, e
podem apresentar um carácter vulnerabilizador ou mesmo prejudicial (Guadalupe, 2009). Se nos focarmos na
dimensão de vulnerabilidade que podem encerrar, compreenderemos que “os
factores que atingiram os indivíduos na sua capacidade de resposta, afetaram
igualmente as suas redes de solidariedade primárias, limitando a sua
operatividade, tornando-as incapazes de constituir uma fonte alternativa de
segurança” (Hespanha et al., 2002,
p. 46). Esta ideia pode aplicar-se quando falamos de privação material ou de
recursos e competências parentais, por exemplo, já que os contextos de
vulnerabilidade social são marcados pela dificuldade de partilha de recursos
nas redes informais. Assim, paradoxalmente, uma rede sem recursos de proteção
social pode contribuir para um reforço e reprodução da vulnerabilidade social,
pois laços sociais precários e diminuição de recursos sociais tendem a
associar-se (Born & Lionti, 1996), podendo significar
dificuldades futuras nos processos de autonomização destes jovens que passam
pelo acolhimento residencial no seu curso de vida.
Conclusão
Os resultados do nosso estudo indicam que as redes sociais dos jovens em
acolhimento residencial inquiridos são médias no tamanho, tendencialmente
fragmentadas, mistas e multidimensionais, caracterizadas pela reciprocidade e
versatilidade. A família é o campo relacional dominante, seguido do das
relações de amizade (intra e extra-institucionais, consideradas no seu
conjunto) e das relações institucionais com educadores e técnicos. Os elementos
da rede são percebidos como fontes de suporte social a um nível significativo e
o suporte social como muito satisfatório. Os dados indicam que o acolhimento residencial
tende a promover a expansão da rede de suporte social.
Quanto à análise segundo o sexo, os rapazes apresentam redes ligeiramente
maiores e valorizam mais as relações familiares. As raparigas identificam mais
elementos de famílias amigas, tendem a identificar redes mais diversificadas e
mais densas, assim como percebem as relações como sendo mais simétricas. As
raparigas identificam redes maioritariamente femininas e os rapazes
tendencialmente masculinas. Os rapazes percebem maiores níveis de apoio
informativo, companhia social e acesso a novos contactos.
Não podemos deixar de referir algumas limitações do nosso estudo, que,
apesar de oferecer contributos nesta área de intervenção, tratando-se de um
estudo transversal, não permite estabelecer uma relação temporal entre as
variáveis ou generalizar resultados, atendendo ao número e características de
participantes e das respostas residenciais, assim como ao instrumento usado,
pois, apesar do IARSP permitir analisar grande parte das dimensões da rede social
pessoal, exige uma cotação intermédia, o que reduz a riqueza da informação
recolhida (Alarcão & Sousa,
2007).
Este estudo constitui um contributo para a compreensão das redes sociais
pessoais de jovens acolhidos em lares de infância e juventude, assim como
oferece alguns desafios para futuras investigações. Futuramente seria
interessante alargar esta investigação a outras respostas e zonas geográficas;
caracterizar a rede social pessoal dos jovens em acolhimento, numa perspetiva
longitudinal, e/ou com grupos de comparação; e associar a rede social pessoal a
outros indicadores e variáveis presentes nas trajetórias dos indivíduos, de
modo a aprofundar o conhecimento dos fatores protetores do desenvolvimento e
bem-estar dos sujeitos.
A relevância social do aprofundamento e alargamento destes estudos e da
discussão sobre as suas implicações é imensa. Note-se que o Instituto de
Segurança Social reconhece que, no âmbito do acolhimento residencial, “o
constante aumento de adolescentes, verificado nos últimos nos anos, exige cada
vez mais, uma intervenção diferenciada por parte das respostas de acolhimento,
baseada em modelos de intervenção terapêuticos e contentores, capazes de
fazerem toda a diferença na vida destes jovens, prestando especial atenção às
suas fragilidades emocionais e invertendo assim o ciclo de desproteção que
muitas vezes lhes é oferecido” (ISS, IP., 2015, p. 13). Tal exige que sejam pensadas
estratégias de intervenção a partir de um diagnóstico social aprofundado que
inclua a avaliação das redes sociais, bem como a integração de um instrumento
de análise e avaliação da rede social pessoal na prática profissional dos
técnicos, sobretudo centrado nas fontes primárias de suporte social, promovendo
o processo de autonomização do acolhimento residencial.
Conflito de interesses: nenhum.
Fontes de financiamento: nenhuma.
Amorim, D. (2011). Laços familiares, consequências
e desafios na situação de menores em risco [Family ties, consequences and
challenges in the situation of minors at risk]. In M. E. Leandro (Ed.), Laços familiares e
sociais (pp.
173-200). Viseu: Psicosoma. [Google Scholar]
Alarcão, M., & Sousa, L. (2007). Rede social
pessoal: Do conceito à avaliação [Personal social network: From concept to evaluation]. Psychologica, 44, 353-376. [Google Scholar] [Handle]
Alberto, I. (2008). «Como pássaros em gaiolas»?
[“Like birds in cages?”]. In C. Machado & R. A. Gonçalves (Eds.), Violência e vítimas
de crimes: Crianças (3rd
ed., pp. 209-227). Coimbra: Quarteto. [Google Scholar]
Alves, S. N. (2007). Filhos da Madrugada:
Percursos adolescentes em lares de infância e juventude [Children of the Dawn: Routes in
childhood and youth homes]. Lisboa:
Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Ciências Sociais e
Políticas. [Google Scholar]
Andrade, G. R. B., & Vaitsman, J. (2002).
Apoio social e redes: Conectando solidariedade e saúde [Social support and
networks: Connecting solidarity and health]. Ciência e Saúde Coletiva, 7(4), 925-934. [Google Scholar] [CrossRef]
Antunes, R., Sequeira, J., & Alarcão, M.
(2011). Personal social network and perceives life quality in teenagers. International
Journal of Developmental and Educational Psychology, 1(2), 335-346. [Google Scholar] [URL]
Araújo, J. (2012). Auto conceito,
qualidade de vida e rede social em jovens institucionalizados [Self concept, quality of life and
social network in institutionalized youths] (Unpublished master’s
thesis). Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra.
Arteaga, A. B., & del Valle, J. F. (2001).
Evaluación de la integración social en acogimiento residencial [Evaluation of
social integration in residential care]. Psicothema, 13(2), 197-204. [Google Scholar] [URL]
Arteaga, A. B., & del
Valle, J. F. (2003). Las redes de apoyo social de los adolescentes acogidos en
residencias de protección. Un análisis comparativo com pobláción normativo [The
social support networks of adolescents sheltered in protection homes. A
comparative analysis with normative population]. Psicothema, 15(1), 136-142. [Google Scholar] [URL]
Blakeslee, J. E. (2015). Measuring the support
networks of transition-age foster youth: Preliminary validation of a social
network assessment for research and practice. Children and Youth
Services Review, 52, 123-134. [Google Scholar] [CrossRef]
Bourdon, S. (2009). Relaciones sociales y
trayectorias biográficas: Hacia un enfoque comprensivo de los modos de
influencia [Social relations and biographical trajectories: Towards a
comprehensive approach to modes of influence]. REDES – Revista Hispana Para el Análisis de Redes Sociales, 16(6), 159-177. [Google Scholar] [CrossRef]
Born, M., & Lionti, A. M. (1996). Familles pauvres et
intervention en réseau [Poor families and network intervention].
Paris: L’Harmattan. [Google Scholar]
Fernández del Valle, J., & Bravo, A. (2000).
Estructura y dimensiones de apoyo en la red social de los adolescentes
[Structure and dimensions of support in the social network of adolescents]. Anuario de
Psicologia, 31(2), 87-105. [Google Scholar] [URL]
Brito, R. C., & Koller, S. H. (1999).
Desenvolvimento humano e redes de apoio social e afetivo [Human development and
social and affective support networks]. In A. M. Carvalho (Ed.), O mundo social da
criança: Natureza e cultura em ação (pp. 115-130). São
Paulo: Casa do Psicólogo. [Google Scholar]
Bronfenbrenner, U. (1979). The ecology of human
development: Experiments by nature and design.
Cambridge: Harvard University Press. [Google Scholar]
Browne, K. (2009). The risk of harm to
young children in institutional care.
London: Save the Children UK. [Google Scholar] [URL]
Cavalcante, L. I. C.,
Magalhães, C. M., & Pontes, F. A. R. (2007). Institucionalização precoce e
prolongada de crianças: Discutindo aspectos decisivos para o desenvolvimento [Early and prolonged children’s
institucionalization: discussing decisive aspects for the development]. Aletheia, 25, 20-34. [Google Scholar] [Scielo]
Cepa, C. M. A. S. (2011). As redes sociais
pessoais das crianças em acolhimento residencial: O papel dos centros de
acolhimento temporário [Personal social networks of children in residential care: The role of
temporary shelters] (Master thesis). [Google Scholar] [URL]
Comissão Nacional de Proteção de Crianças e
Jovens em Risco. (n.d.). Guia de orientações para os profissionais da ação
social na abordagem de situações de maus tratos ou outras situações de perigo [Guide guidelines for professionals of
social action in addressing situations of abuse or other dangerous situations].
[URL]
Dell’Aglio, D. D. (2000). O processo de
coping, institucionalização e eventos de vida em crianças e adolescentes [The process of coping,
institutionalization, and life events in children and adolescents] (Doctoral
thesis). [Google Scholar] [Handle]
Dolan, P., Canavan, J., & Brady, B. (2008).
Youth mentoring and the parent-young person relationship: Considerations for
research and practice. Youth & Policy, 99, 33-42. [Google Scholar] [Handle]
Farmer, E., Selwyn, J., & Meakings, S.
(2013). 'Other children say you're not normal because you don't live with your
parents'. Children's views of living with informal kinship carers: Social
networks, stigma and attachment to carers. Child and Family
Social Work, 18(1), 25-34. [Google Scholar] [CrossRef]
Gomes, I. (2010). Acreditar no futuro [Believing in the future]. Alfragide: Texto Editores. [Google Scholar]
Guadalupe, S. (2001). Intervenção em rede
e doença mental [Network
intervention and mental illness]. Paper presented at the II Encontro de
Serviço Social em saúde Mental: Novas perspectivas of Hospital Sobral Cid,
Coimbra. [Google Scholar] [URL]
Guadalupe, S. (2009). Intervenção em Rede:
Serviço social, sistémica e redes de suporte social [Network Intervention: Social,
systemic, and social support networks].
Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. [Google Scholar]
Guadalupe, S., &
Alarcão, M. (2009). Instrumento de análise da rede social pessoal: Versão revista
sumária – Manual para o utilizador [Personal social network analysis tool: Summary
revised version - User guide] (Unpublished manuscript). Coimbra: Instituto Superior Miguel Torga.
Habigzang, L. F., Azevedo, G. A., Koller, S. H.,
& Machado, P. X. (2006). Fatores de risco e de proteção na rede de
atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual [Risk and protective factors in the resource
network for children and adolescences victims of sexual violence]. Psicologia: Reflexão
e Crítica, 19(3), 379-386. [Google Scholar] [CrossRef]
Hespanha, P., Damas, A., Ferreira, A. C., Nunes,
M. H., Hespanha, M. J., Madeira, R., . . . Portugal, S. (2002). Globalização
insidiosa e excludente. Da incapacidade de organizar respostas à escala local
[Insidious and excluding globalization. Failure to organize responses at the
local level]. In P. Hespanha & G. Carapinheiro (Eds.), Risco social e
incerteza: Pode o estado recuar mais? (pp. 25-54). Porto:
Afrontamento. [Google Scholar]
Instituto de Segurança
Social, I.P. (2005). Manual de boas práticas: Um guia para o acolhimento residencial
das crianças e jovens [Handbook of good practices: A guide for residential care for children
and young people]. [Google Scholar] [URL]
Instituto de Segurança
Social, IP. (2015). CASA 2014: Caracterização anual da situação de acolhimento das
crianças e jovens [CASA
2014: Annual characterization of shelter situation of children and young
people]. [Google Scholar] [URL]
Janeiro, N. E. F. (2011). Utilização do mapa
de rede no rendimento social de inserção: Construção de um guião de entrevista
e desenho de um programa de formação específico para técnicos de intervenção
social e comunitária [Use
of the network map in the social integration income: Construction of an
interview script and design of a specific training program for social and
community intervention technicians] (Master’s thesis). Instituto Universitário
de Lisboa, Lisboa, Portugal. [Google Scholar] [Handle]
Leandro, A., Alvarez, D. L., Cordeiro, M., &
Carvalho, R. (2006). Manual de boas práticas: Um guia para o acolhimento residencial
para crianças e jovens - para dirigentes, profissionais, crianças, jovens e
familiares [Handbook
of good practices: A guide for residential care for children and young people -
for managers, professionals, children, youth, and families]. Lisboa: Instituto de Segurança Social, I. P. [Google Scholar]
Livi, K., Berger, C., & Schneider, M. I.
(2009). Violência: Prevenção, manejo e identificação de vulnerabilidades na
infância e adolescência [Violence: Prevention, management, and identification
of vulnerabilities in childhood and adolescence]. In M. L. M. Lenz & R.
Flores (Eds.), Atenção
à saúde da criança de 0 a 12 anos (pp. 129-141). Porto Alegre: Editora Hospital Nossa Senhora da
Conceição S.A.
Lopes, R., & Moleiro, C. (2012). Avaliação
do suporte social de crianças e jovens: Estudo de validação da Escala de
Perceção de Suporte da Família Pares e Professores [Evaluation of the social
support of children and young people: Validation study of the Family, Peers,
and Teacher Support Perceived Scale]. In I. M. M. Calheiros, M. V. Garrido,
& S. V. Santos (Eds.), Crianças em Risco e Perigo: Contextos, investigação e
intervenção (vol.
2, pp. 139-155). Lisboa: Edições Sílabo. [Google Scholar]
Magalhães, T. (2005). Maus tratos em
crianças e jovens [Maltreatment
in children and young people] (4rd ed.).
Coimbra: Quarteto. [Google Scholar]
Mc Mahon, C., & Curtin, C. (2013). The
social networks of young people in Ireland with experience of long-term foster
care: some lesson for policy and practice. Child and Family
Social Work, 18(3), 329-340. [Google Scholar] [CrossRef]
Martín, E., & Dávila, L. M. (2008). Redes de
apoyo social e adaptación de los menores en acogimiento residencial [Networks
of social support and adaptation of children in residential care]. Psicothema, 20(2), 229-235. [Google Scholar] [URL]
Martins, P. C. M. (2004). Proteção de crianças
e jovens em itinerários de risco: Representações sociais, modos e espaços [Protection of children and young
people on risky pathways: Social representations, modes, and spaces] (Doctoral
thesis). [Google Scholar] [URL]
Martins, P. C. M. (2005). A qualidade dos
serviços de proteção às crianças e jovens: As Respostas Institucionais [The quality of services for the
protection of children and young people: The Institutional Responses]. Paper
presented at the IV Encontro Cidade Solidária: Crianças em risco: será possível
converter o risco em oportunidade? Of Santa Casa da Misericórdia de Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa. [Google Scholar]
Mendes, E. A. S. (2011). Redes sociais
pessoais e perceção da qualidade de vida das crianças e jovens
institucionalizados. O papel das famílias amigas [Personal social networks and
perception of the quality of life of institutionalized children and youth. The
role of friendly families] (Master Thesis).
[Google Scholar] [Handle]
Moral, J. C. M., Miguel, J. M. T., & Pardo,
E. N. (2007). Análisis de las redes sociales en la vejez a través de la
entrevista Manheim [Analyses of the
social networks for the elderly through the Manheim interview]. Salud Pública de México, 49(6), 408-414. [Google Scholar] [Scielo]
Mota, C. P., & Matos, P. M. (2008).
Adolescência e institucionalização numa perspectiva de vinculação [Adolescence and institutionalization in
attachment perspective]. Psicologia & Sociedade, 20(3), 367-377. [Google Scholar] [CrossRef]
Mota, C., & Matos, P. (2010). Adolescentes
institucionalizados: O papel das figuras significativas na predição da
assertividade, empatia e auto-controlo [Institutionalized adolescents: The role
of significant figures in the prediction of assertiveness, empathy, and
self-control]. Análise
Psicológica, 28(2), 245-254. [Google Scholar] [CrossRef]
Nunes, M. A. C. (2010). Auto-conceito e
suporte social em adolescentes em acolhimento [Self-concept and social support in
foster adolescents] (Master’s Thesis). [Handle]
Ordem dos Psicólogos Portugueses. (2011). Código deontológico
da ordem dos psicólogos Portugueses [Deontological code of the order of the Portuguese
Psychologists]. [Google Scholar] [URL]
Pardo, E. N., Moral, J. C. M., & Miguel, J.
M. T. (2008). Análisis de las redes sociales en la vejez en función de la edad
y el género [Analysis of social networks in aging according to age and gender]. Revista
Multidisciplinar de Gerontología, 18(1), 19-25. [Google Scholar] [Handle]
Penha, M. T. (1996). Crianças em risco [Children at risk]. Lisboa: Direção Geral da Ação Social. [Google Scholar] [URL]
Parente, C., Mendes, E., Oliveira, V., &
Martins, P. (2014). As redes sociais pessoais de crianças e jovens em perigo em
regime de acolhimento residencial [The personal social networks of children and
young people in danger in residential care]. In M. Calheiros & M. Garrido
(Eds.), Crianças
em risco e perigo. Contextos, investigação e intervenção (vol. 4, pp. 77-101). Lisboa: Edições Sílabo. [Google Scholar]
Pereira, S. E. F. N. (2009). Redes sociais de
adolescentes em contexto de vulnerabilidade social e sua relação com os riscos
de envolvimento com o tráfico de drogas [Social networks of adolescents in a context of
social vulnerability and their relation to the risks of involvement in drug
trafficking] (Doctoral dissertation). [Google Scholar] [Handle]
Pereira, V. N. (2010). Jovens
Institucionalizados: Rede de suporte social e sua autonomização [Young Institutionalized: Network of
social support and its empowerment] (Unpublished master's thesis). Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra.
Portugal, S. (2014). Famílias e redes
sociais. Ligações fortes na produção de bem-estar [Families and social networks. Strong
connections in creating well-being].
Coimbra: CES, Almedina. [Google Scholar]
Proctor, C. D., Groza, V. K., & Rosenthal,
J. A. (n.d.).
Social support and adoptive families of children with special needs. [Google Scholar] [URL]
Ramião, T. A. (2007). Lei de protecção de
crianças e jovens em perigo – anotada e comentada [Law on protection of children and
young people in danger - annotated and commented] (5th ed.). Lisboa: Quid Juris – Sociedade Editora. [Google Scholar]
Redondo, J., Pimentel, I., & Correia, A.
(2012). SARAR
– Sinalizar, Apoiar, Registar, Avaliar, Referenciar: Uma proposta de manual
para profissionais de saúde na área da violência familiar/entre parceiros
íntimos [SARAR - Indicate,
Support, Register, Evaluate, Reference: A proposal for a manual for health
professionals in the area of family / intimate partner violence]. Coimbra: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. [Google Scholar]
Sani, A. I. M. (2004). As crenças, o
discurso e a ação: As construções de crianças expostas à violência
interparental
[Beliefs, discourse and action: Constructions of children exposed to
interparental violence] (Doctoral dissertation). [Google Scholar] [Handle]
Siqueira, A. C. (2006). Instituições de abrigo, família e rede de apoio social e afetivo
em transições ecológicas na adolescência [Shelter institutions, family and social and
affective support network in ecological transitions in adolescence] (Master
thesis). [Handle]
Siqueira, A. C., &
Dell’Aglio, D. D. (2006). O impacto da institucionalização na infância e
adolescência: Uma revisão da literatura [The impact of institutionalization on childhood and adolescence: A
literature review]. Psicologia & Sociedade, 18(11), 71-80. [Google Scholar] [CrossRef]
Siqueira, A. C., &
Dell’Aglio, D. D. (2007). Retornando para a família de origem: Fatores de risco
e proteção no processo de reintegração de uma adolescente institucionalizada [Back to the original family: Risk and
protective factors in the reunification process of the family of an
institutionalized adolescent]. Revista Brasileira Crescimento Desenvolvimento Humano, 17(3), 134-146. [Google Scholar] [Scielo]
Siqueira, A. C., Betts, M.
K., & Dell Aglio, D. D. (2006). A rede de apoio social e afetivo de
adolescentes institucionalizados no Sul do Brasil [The Social and
Emotional Support Network of Institutionalized Adolescents in Southern Brazil].
Revista Interamericana de Psicologia, 40(2), 149-158. [Google Scholar]
Siqueira, A. C., Tubino, C.
L., Schwarz, C., & Dell Aglio, D. D. (2009). Perceção das figuras parentais
na rede de apoio de crianças e adolescentes institucionalizados [Perception of parental figures in
institutionalized children and adolescents' support network]. Arquivos Brasileiros
de Psicologia, 61(1), 176-190. [Google Scholar] [Redalyc]
Sluzki, C. E. (1996). La red social:
Frontera de la practica sistémica [The social network: Frontier of the systemic
practice]. Barcelona: Editorial Gedisa. [Google Scholar]
Sluzki, C. E. (2000).
Social network and the elderly: Conceptual and clinical issues, and a family
consultation. Family
Process, 39(3),
271-284. [Google Scholar] [CrossRef]
Sluzki, C. E. (2007). Famílias e rede
[Families and network]. In C. E. Fernandes, L., & M. R. Santos (Eds.), Terapia familiar, redes e poética social (pp. 95-119). Lisboa: Climepsi. [Google Scholar]
ⓘ Psy M. Elaboração do trabalho,
recolha e inserção de dados, análise estatística. Instituto Superior Miguel
Torga, Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Contribuiu significativamente para a revisão e discussão do
trabalho. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Contribuiu significativamente
para a revisão e discussão do trabalho. Instituto Superior Miguel Torga,
Coimbra, Portugal.