2016, Vol. 2(1): 3-13
Título
Português de artigo escrito em português
Artigo Original
Albertina Lima de Oliveira i ✉, Margarida Pedroso
de Lima i, Patrícia Portugal i
https://doi.org/ 10.7342/ismt.rpics.2016.2.1.29
Recebido
07 setembro 2015
Aceite
13 janeiro 2016
Objetivos: O presente artigo
apresenta um estudo que visa aprofundar as qualidades psicométricas da Escala
de Autoeficácia para a Atividade com Sentido (EAASentido), através de análises
de fidelidade e validade. A escala foi desenvolvida a partir dos constructos
teóricos da autoeficácia, da aprendizagem autodirigida e da atividade de
pessoas de idade avançada no âmbito do projeto europeu PALADIN, com o objetivo
de criar um instrumento apto a avaliar até que ponto os seniores se sentem confiantes
para realizarem atividades com sentido, por si próprios.
Métodos: A investigação é
de natureza não experimental e incidiu sobre uma amostra de 503 seniores e
idosos das regiões Norte e Centro de Portugal com uma média etária de 71,66 (51
a 96 anos) a quem foram aplicadas a EAASentido, a Escala de Autoestima de
Rosenberg (Rosenberg, 1989), a Positive Affect and Negative Affect Scale
(Watson e Clark, 1994), a Satisfaction With Life Scale (Diener et al.,
1985), o Meaning in Life Questionnaire (Steger, Frazier, Oishi e Kaler,
2006), a Escala de Autoeficácia para a Autodireção na Saúde (Oliveira, 2011) e
a Instrumental Activities of Daily Living (Lawton e Brody, 1969).
Resultados: A consistência
interna encontrada foi de 0,94 (alfa de Cronbach) e a validade de constructo
revelou muito bons indicadores. No que respeita à análise de componentes
principais, os resultados apontaram para três dimensões e não as cinco
inicialmente previstas: atividades de desenvolvimento pessoal e participação
social, atividades instrumentais, e atividades espirituais/religiosas.
Analisadas as saturações dos itens propôs-se a reformulação da escala,
eliminando cinco itens. A consistência interna global dos 15 itens manteve-se
elevada (0,92).
Conclusões: Conclui-se que a
EAASentido, com 15 itens, é bastante consistente e adequada para avaliar em que
medida os seniores têm confiança na sua capacidade para se envolverem em
atividades com sentido (em termos de indicador global), possuindo boa validade
de constructo. Em estudos futuros sugere-se a continuidade da avaliação da sua
estrutura dimensional, nomeadamente através de análises confirmatórias.
Palavras chave: Autoeficácia · Atividade · Adultos
idosos · Envelhecimento ativo · Atividade com Sentido
O
envelhecimento crescente da população e o aumento da esperança média de vida
constituem um marco indelével das sociedades contemporâneas, suscitando
numerosos desafios, entre os quais os de ordem política e os que se prendem com
a saúde. Sobretudo nas duas últimas décadas, tem-se assistido à emergência de
estudos científicos à volta dos fatores que contribuem para o aumento da
esperança de vida ativa e saudável. E a nível político, a União Europeia, no
âmbito da estratégia 2020, veio a definir como meta fundamental para todos os
estados membros aumentar em dois anos o período de vida saudável.
Pretende-se,
assim, que os estados membros convirjam neste desígnio comum, criando as
condições necessárias para que o envelhecimento ativo, saudável e digno das
suas populações seja uma realidade (Fernandez-Ballesteros et al.,
2013; Walker, 2008). Efetivamente, de acordo com diversos relatórios e
documentos Europeus sobre as mudanças demográficas e a solidariedade entre
gerações (e.g., Age Platform Europe, 2012; European
Parliament Report, 2010), é
necessário elevar a dignidade das pessoas de idade avançada, a sua saúde,
qualidade de vida e autonomia (Moulaert & Léonard, 2011; Jacob, 2012; São José & Teixeira, 2014; RUTIS, 2015; Walker & Maltby, 2012).
Este
desígnio implica definir políticas e ações em diversos sistemas, capazes de
promover o envolvimento das pessoas e dos seniores em estilos de vida saudável,
e por estabelecer como prioridade a implementação efetiva do envelhecimento
ativo, entendido como “o processo de maximizar o potencial das pessoas para se
manterem saudáveis, participarem na vida das suas comunidades e melhorarem a sua
qualidade de vida, à medida que avançam em idade” (European
Parliament Report, 2010, p.
25).
Têm sido
numerosas as políticas da União Europeia de incentivo à promoção do
Envelhecimento Ativo, tais como, a título de exemplo, a aprovação e apoio a
numerosos projetos de reconhecida utilidade para que os seniores e os serviços
a eles destinados possam dispor de recursos inovadores, de onde se destaca o
projeto PALADIN (Promoting Active Learning and Aging of Disadvantage Seniors),
no âmbito do qual foi desenvolvida a Escala de Autoeficácia para a Atividade
com Sentido[1],
objeto de análise neste artigo, o qual pretende fundamentalmente aprofundar o estudo
psicométrico da referida escala e apresentar uma breve revisão teórica sobre a
importância da atividade com sentido na idade avançada. A elaboração de
instrumentos que permitam ao sénior conhecer em que medida tem confiança de que
se envolve em atividades que lhe são significativas, é de grande utilidade. Foi
neste contexto que se elaboraram de raiz vários instrumentos
(http://projectpaladin.eu), partindo da teoria da autoeficácia (Bandura, 2006; Silva, 2009; Oliveira, 2009) e de princípios da aprendizagem autodirigida (Oliveira, 2005; Oliveira et al., 2011). Por conseguinte, considerou-se que avaliar os
comportamentos do dia-a-dia associados a diferentes atividades e desenvolver
confiança pessoal em termos de controlo desses comportamentos, é fundamental
para que a pessoa sénior se possa manter ativa e saudável ao longo de todo o
processo de envelhecimento, ou seja, ao longo da sua vida.
Em suma, a
validação psicométrica de escalas no domínio do Envelhecimento Ativo é
fundamental visto permitir investigação que direcione intervenções
empiricamente fundamentadas.
Porquê a importância da atividade com sentido na idade
avançada?
Na contemporaneidade a importância dada à Atividade
deve-se ao facto de ser proclamada como uma das chaves para os problemas da
saúde, da integração e da qualidade de vida das pessoas mais velhas. A confirmar
esta importância temos, a título de exemplo, a proclamação, em 2012, do Ano
Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações ou a
Estratégia 2020 atrás referida da União Europeia.
Embora muitas questões sejam pertinentes de refletir
em torno do tema Atividade, nesta breve revisão teórica sublinharemos as
seguintes: de que atividades estamos a falar? As atividades relacionam-se com a
valoração e sentido de vida nesta faixa etária? As atividades dão sentido de
controlo aos indivíduos que as executam? As atividades contribuem para o desejo
de continuar a viver, isto é, qual o contributo das ocupações significativas
para a vinculação ativa da pessoa mais velha à sua vida?
Para Stevens-Ratchford (2011), as
atividades ocupacionais significativas são aquelas desenvolvidas ao longo do
tempo (embora nem sempre do mesmo modo, podendo haver um reajustamento do
interesse ocupacional), às quais corresponde um sentido atribuído que perpetua
a participação. Esse sentido pode ser expresso como uma dimensão de valor, isto
é, o que o indivíduo percebe na ocupação como importante e significativo.
Já Bonder (2009) classifica
as atividades ocupacionais por temas de sentido: sentido instrumental
(correspondente a atividades da vida diária, instrumentais e básicas, que
permitem a sobrevivência); sentido avaliativo/emocional (aquelas que sustentam
uma avaliação positiva da vida); sentido existencial (atividades espirituais,
de reminiscência e transmissão de saberes, promotoras da integridade do ego);
sentido identitário (atividades de manutenção e desenvolvimento pessoal).
As atividades ocupacionais significativas incorporam
elementos, ou fatores, da experiência ótima (ou experiência de fluxo), definida
por Csikszentmihalyi (2002), e do lazer, tal
como é concetualizado por Bundy e Clemson (2009).
A experiência de fluxo (Csikszentmihalyi, 2002),
na qual reside a experiência ótima, é alcançada quando a energia psíquica da
pessoa é investida em objetivos intrínsecos, na correspondência entre as
oportunidades de ação percecionadas e as capacidades do indivíduo, quando
existe concentração total, envolvimento profundo, clareza de objetivos,
possibilidade de resposta imediata e sensação de controlo. Por seu lado, os
elementos do lazer, como propõem Bundy e Clemson (2009),
também remetem para o controlo, a motivação intrínseca, a libertação de
constrangimentos da realidade e um total envolvimento.
A nível de constructos relacionados com a atividade,
não podemos deixar de referir o de valoração da vida que incide sobre a
vinculação ativa do indivíduo à sua vida (Jopp, Rott, & Oswald, 2008; Lawton et al., 2001). Este constructo, sugerido por Lawton, surge como
uma consequência afetivo-cognitiva resultante da avaliação do indivíduo dos
aspetos internos (fatores pessoais, e.g., saúde e patologia) e externos
(fatores ambientais), positivos e negativos, da qualidade de vida (Jopp et al., 2008). O constructo representa, pois, um equilíbrio entre
razões positivas e negativas para se
continuar a viver, indo para além de aspetos da qualidade de vida e
distanciando-se de itens objetivos de saúde física e mental.
Cinco constructos-chave representam o conceito de
valoração da vida (Lawton et al., 2001): i) futuridade (antecipar e planear o futuro); ii)
esperança (a expetativa positiva face ao presente e ao futuro); iii)
autoeficácia (a perspetiva de competência futura); iv) persistência (a
convicção de que vale a pena envidar esforços para resolver um problema); v)
propósito (o leque de objetivos que orienta a vida individual).
O constructo de valoração da vida está
particularmente ligado ao conceito de sentido de vida, na medida em que ambos
se debruçam sobre as razões subjacentes ao desejo de viver, apesar de eventuais
obstáculos. O papel do sentido de vida em idades avançadas surge ligado a um
envelhecimento bem-sucedido de acordo com diversos autores (e.g., Bowling, 2008; Bryant et
al., 2001; Duay & Bryan, 2006; Liang &
Luo, 2012; Wong 1998-2007).
Apesar de existir uma grande diversidade de modelos
e teorias sobre o que é o sentido de vida (Steger, 2012), verifica-se um paralelismo entre os constructos
de valoração da vida e definições relacionadas com o sentido de vida. O sentido
de vida surge, por exemplo, como: a compreensão da vida pessoal (i. e., como o
self se integra e funciona no mundo) e o propósito que motiva a atividade
relevante; aquilo que dá coerência à vida, reunindo o passado, o presente e o
futuro do indivíduo em continuidade (Moore, Metcalf, & Schow, 2006).
Em Schnell (2011), as fontes de sentido em idades avançadas
associam-se, precisamente, a questões identitárias e motivacionais. A pessoa é
responsável por preencher o sentido da sua vida (Frankl, 2012),
selecionando objetivos concordantes com interesses e valores pessoais. O
sentido pessoal resulta, pois, de um processo de seleção psicológica derivado
do contexto cultural e do sistema de valores da pessoa, pelo que o sentido é
entendido simultaneamente como individual e social/cultural (Delle Fave, 2009).
Assim, a atividade ou os desafios ocupacionais, em
idades avançadas surgem, em primeira instância, como uma procura de sentido (Bonder, 2009), sobretudo numa altura em que se
pode assistir a uma ausência de papéis definidos ou à assunção de papéis
percecionados como tendo um estatuto social mais reduzido (Corbett,
2013).
Na literatura são enumeradas diversas fontes de
sentido inerentes às atividades ocupacionais nas pessoas idosas (e.g, Bonder, 2009; Liddle, Parkinson, & Sibbritt, 2013; Schnell, 2011; Wright-St Clair, 2012). Entre essas fontes ou esses fatores de sentido
encontram-se:
i) Identidade e desenvolvimento pessoal: na
idade avançada as atividades ocupacionais significativas desempenham um papel importante
na estabilidade identitária da pessoa, promovendo a integração do seu passado,
do seu presente e do seu futuro (Wright-St Clair, 2012). As atividades ocupacionais, quando ligadas a uma
motivação intrínseca, poderão propiciar a integridade do ego e a realização
pessoal (cf. «antítese integridade do ego vs. desespero» Erikson, 1985), facilitando a autoaceitação e promovendo a
valoração e o sentido de vida. Por outro lado, através das atividades de
ocupação significativas, as pessoas podem experimentar uma atualização do self (Schnell, 2011).
ii) Generatividade e utilidade percebidas:
nas últimas décadas de vida tende a assistir-se a uma transcendência do self,
em detrimento das preocupações do ego e das ambições pessoais (cf. «antítese
generatividade vs. autoabsorção e estagnação», Erikson, 1985). A questão de se
deixar um legado, ou herança, nomeadamente através de contributos sociais,
torna-se fundamental para a preservação da utilidade do self.
iii) Controlo e competência percebidos: o
sentido de domínio sobre a própria vida e o ambiente envolvente, a autonomia, o
propósito de vida, a motivação para o crescimento pessoal e a autoaceitação,
surgem em Fry e Debats (2010) como fatores de controlo — elemento que é definido
como fonte de resiliência e saúde. De facto, o controlo é particularmente
importante na vida dos mais velhos podendo gerar crenças de autoeficácia, isto
é, uma perceção positiva da competência pessoal para resolver problemas e
influenciar o ambiente.
iv) Propósito e envolvimento com a vida: o
envolvimento numa vida com propósito, com uma direção definida pelo próprio,
orientada por objetivos pessoais, num processo contínuo de adaptação perante
possíveis diminuições de capacidades é também uma importante fonte de sentido (Fry &
Debats, 2010).
As ocupações instrumentais, ou de autocuidado, são
consideravelmente mais centrais na vida dos mais velhos, do que na vida dos
mais novos, pelo declínio de competências funcionais e, eventualmente, doença (Bonder, 2009). As “antigas” competências de
autocuidado podem ser transformadas em atividades de autocuidado (Söderhamn, Dale, & Söderhamn, 2013),
contribuindo para a identidade pessoal e autoestima, para o relacionamento
social e bem-estar psicológico (Christiansen, Haertl, & Robinson, 2009).
A participação social, que implica a interação de um
indivíduo com outros dentro de certos contextos sociais, é um dos aspetos de
relevo nas principais conceções de envelhecimento bem-sucedido e de qualidade
de vida (e.g., Bonder, 2009; Duay &
Bryan, 2006; Fry & Debats, 2010; Levasseur et al., 2010; Wright-St Clair, 2012; Ziegler,
2012).
As relações sociais próximas e os laços familiares
são uma poderosa fonte externa de força para os mais velhos (Fry &
Debats, 2010). As relações
sociais servem para proteger a identidade social da pessoa, proporcionando saúde
e resiliência (Ryff & Singer, 2000, tal como citado por Fry &
Debats, 2010). Por outro
lado, um sentido de bem-estar social resulta do reconhecimento de que a vida
pessoal é útil e construtiva para o bem-estar geral (Fry &
Debats, 2010).
Como se antevê pelo que já foi referido, um tipo de
ocupações de grande importância na idade avançada refere-se aos sentidos
existenciais, incluindo-se aqui as atividades religiosas e espirituais (Fry &
Debats, 2010). Os indivíduos
que participam em atividades religiosas/espirituais relatam níveis elevados de
satisfação com a vida, autoestima e otimismo (Krause 2003, tal como citado por Bonder, 2009) apresentando mais resistência ao stress
e às circunstâncias trágicas e traumáticas sobre as quais o indivíduo não tem
controlo (e.g., acidentes ou doença grave), ou face a sentimentos de desamparo
e abandono, sendo uma fonte de conforto e coragem (Fry &
Debats, 2010).
Partindo da revisão da literatura que apresentámos e
muito particularmente dos conceitos de atividades ocupacionais significativas (Stevens-Ratchford,
2011) e de temas de sentido
(Bonder, 2009), delinearam-se as dimensões
principais que deveriam estar subjacentes à Escala
de Autoeficácia para a Atividade com Sentido. Por conseguinte,
considerou-se que o domínio de funcionamento relevante para a atividade com
sentido deveria ser constituído pelas seguintes cinco dimensões: 1) Atividades
instrumentais (sentido instrumental); 2) Atividades profissionais/ocupacionais
(sentido ocupacional); 3) Atividades de participação social (sentido de
participação); 4) Atividades de desenvolvimento pessoal e de lazer (sentido
identitário); 5) Atividades espirituais/religiosas (sentido existencial).
Uma vez
que, no âmbito do projeto Europeu PALADIN, não foi possível aprofundar o estudo
da escala mencionada, nomeadamente a sua validade fatorial, a presente
investigação empírica visa prosseguir os estudos de validação psicométrica da Escala de AutoEficácia para a Atividade com
Sentido, através da obtenção de indicadores de fidelidade, de validade de
constructo e da análise da sua estrutura dimensional, baseando-se numa amostra
significativamente maior.
O processo de desenvolvimento empírico
da Escala EAASentido foi iniciado através de 10 entrevistas de grupo focais com
23 seniores que frequentavam Centros de Dia e Centros Novas Oportunidades na
cidade de Coimbra e seus arredores, tendo como objetivo principal identificar
os comportamentos específicos dos seniores nas dimensões referidas, os
obstáculos com que se deparavam, bem como tentativas prévias de mudança da sua
condição. Para além disso, procurou-se identificar a linguagem, palavras e
expressões utilizadas, de modo a que os itens da escala pudessem refletir uma
linguagem adequada e acessível à maioria das pessoas seniores.
Os itens gerados neste processo foram
submetidos ao primeiro teste junto das mesmas pessoas que haviam participado
nas entrevistas focais e em seniores de um Centro de Dia em Salónica (Grécia).
Após a introdução de alguns melhoramentos na construção frásica dos itens, a
escala foi traduzida para Inglês, Espanhol, Grego, Italiano, Húngaro e Maltês
(idiomas dos países parceiros do projeto PALADIN) e iniciaram-se os respetivos
estudos piloto (30 a 50 sujeitos).
Analisados os primeiros dados quantitativos
e qualitativos, avançou-se para estudos com amostras maiores nos diversos
países referidos, embora não tão extensas quanto seria desejável do ponto de
vista psicométrico (60 a 217 sujeitos), dadas as limitações de financiamento do
referido projeto. Em termos de um perfil geral, a maioria dos seniores vivia em
casa com as respetivas famílias, pertenciam ao sexo feminino, detinham um nível
de habilitações escolares igual ou inferior ao 9º ano, eram casados, tinham um
baixo rendimento mensal (inferior à média nacional), não tendiam a participar
em ações de formação e viviam predominantemente em zonas urbanas.
De seguida apresentaremos os
procedimentos utilizados para a recolha dos dados desta investigação mais
aprofundada, caracterizaremos o instrumento em estudo e a amostra na qual o
mesmo se baseou.
Procedimento
A Escala de Autoeficácia para a
Atividade com Sentido contém uma primeira página que apresenta um exercício
de familiarização com a escala de resposta, a qual varia entre 0 (não consigo
de maneira nenhuma) e 10 (totalmente certo/a de que consigo). A escala de
resposta é colorida com predominância de azul-marinho e contém os números em
tamanho grande (Figura 1). Seguem-se as instruções, a escala de
resposta e os seus 21 itens, 20 dos quais se iniciam por “Estou confiante de
que sou capaz, por mim próprio/a…” e são respondidos numa escala de Likert
de 5 pontos. O item 21 “Gostaria de dizer algo mais sobre a confiança que
tem em si próprio/a, para se manter activo/a e produtivo/a na sua vida?” é
de natureza aberta e finaliza a escala. No que respeita aos primeiros 20 itens
(os de autoeficácia para a atividade), eles encontram-se distribuídos pelas
cinco dimensões da seguinte forma: três itens relativos a atividades
instrumentais, três itens relativos a atividades profissionais/ocupacionais,
três itens relativos a atividades de participação social, seis itens relativos
a atividades de desenvolvimento pessoal e de lazer, e cinco itens relativos a
atividades espirituais/religiosas.
0 |
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
8 |
9 |
10 |
Não consigo de maneira
nenhuma |
Um pouco certo/a de que consigo |
Moderadamente certo/a de que consigo |
Bastante certo/a de que consigo |
Totalmente certo/a de que
consigo |
Figura 1. Escala de Resposta da Escala de Autoeficácia para a
Atividade com Sentido[2].
A Escala
de Autoestima de Rosenberg (ROS) foi desenvolvida por Rosenberg (1965)
para avaliar a autoestima global. Possui apenas 10 itens (cinco de orientação positiva
e cinco de orientação negativa), podendo os valores totais variar entre 10 e 40
uma vez que a escala de resposta, de tipo Likert, tem quatro alternativas de
resposta. O instrumento por nós utilizado foi traduzido e adaptado para a
população portuguesa por Simões e Lima (1992), e
tem revelado muito boas propriedades psicométricas em diversos estudos que
abrangem toda a idade adulta, incluindo a mais avançada (e.g., Oliveira, Lima, & Simões, 2007; Simões et al., 2010).
A Escala
Atividades Instrumentais da Vida Diária (IADL) foi concebida por Lawton
e Brody (1969) para avaliar o grau de autonomia da pessoa idosa respeitante à
realização de atividades da vida do quotidiano. A proposta dos autores
centrou-se na avaliação de oito tarefas, tais como usar telefone, fazer
compras, preparar alimentos, fazer a lida da casa, tratar da roupa, usar
transportes, tomar a medicação e gerir o dinheiro. A versão utilizada no
presente estudo foi adaptada por Simões et al. (2010), para efeitos de
investigação, e tem uma escala de resposta de quatro níveis (de Sem ajuda a
Incapaz de o fazer), sendo constituída por nove itens (foi-lhe acrescentado o
item “Despejar o lixo”). A consistência interna encontrada, medida pelo alfa de
Cronbach, foi de 0,91.
A Positive
Affect and Negative Affect Scale (PANAS) é um instrumento utilizado
para medir a componente afetiva do bem-estar subjetivo, sendo constituído pelas
subescalas Afeto Positivo (PA) e Afeto Negativo (NA). Os seus 20 itens (10 de
cada tipo de afeto) são pontuados num formato de resposta de Likert, de 1
(muito pouco ou nada) a 5 (muitíssimo). A escala foi desenvolvida por Watson,
Clark e Tellegen (1994) e no presente estudo recorremos à versão
portuguesa utilizada no projeto europeu PALADIN (Oliveira et al., 2011).
A Satisfaction
With Life Scale (SWLS) é da autoria de Diener et al. (1985)
e proporciona um indicador da apreciação global e subjetiva da satisfação que
as pessoas sentem na sua vida, de acordo com critérios estabelecidos por si e
não em função de padrões impostos externamente. Na versão utilizada no presente
estudo (adaptação de Simões, 1992),
o instrumento é composto por 5 itens, tendo uma escala de resposta de Likert
com cinco níveis. Encontram-se, habitualmente, bons indicadores de validade e
fidelidade com esta escala (Simões, 1992; Neto, 1999).
O Meaning
in Life Questionnaire (MLQ) é um dos instrumentos mais utilizados a
nível internacional para medir o sentido da vida, o qual é definido como o
sentido e o significado que a vida tem para a pessoa no que respeita à natureza
do seu ser e à sua própria existência (Steger, Frazier, Oishi, &
Kaler, 2006). Este questionário é composto por duas subescalas: Presença e Procura
de sentido da vida, constituídas por cinco itens cada, com escala de resposta
de Likert. No presente estudo foi apenas utilizada a subescala Presença de
sentido na vida (MLQ_Pre). O instrumento foi adaptado para português por Simões
e colaboradores (2010), revelando bons indicadores psicométricos.
A Escala
de Autoeficácia para a Autodireção na Saúde (EAAS) foi
desenvolvida no âmbito do projeto PALADIN e possui 20 itens com escala de
resposta que varia entre 0 (não consigo de maneira nenhuma) e 10 (totalmente
certo/a de que consigo), sendo a pontuação mínima possível de 0 e a máxima de
200 valores. Avalia até que ponto as pessoas seniores têm confiança de que são
capazes por si próprias de cuidar da sua saúde. Revelou bons indicadores psicométricos
nos primeiros estudos de validação (Oliveira, 2011).
Participantes
Os 503 sujeitos em estudo apresentam
idades que variam entre 51 e 96 anos, sendo a média de 71,66 e o desvio padrão de
7,77. Relativamente a subgrupos etários, os valores distribuem-se do seguinte
modo: 50-64 anos (13,1%), 65-74 anos (49,9%), 75-84 anos (31,8%) e com 85 ou
mais anos (5%).
Quanto ao sexo, 63% são mulheres e 37%
homens. A nível do estado civil, maioritariamente são casados (52,9%), sendo
seguidos pelos viúvos (29,4%), os solteiros (7,6%), divorciados/separados
(7,6%) e os que se encontram em união de facto (2,2%).
No que respeita à situação profissional,
a grande maioria encontra-se reformado (88,7%), 4,6% estão empregados, 2,4%
desempregados e 3,8 indicaram outra condição.
Quanto ao nível de escolaridade, 6,0%
são analfabetos, 35,8% têm o 1º ciclo (ou equivalente), 9,9% o 2º ciclo, 9,5% o
3º ciclo, 8% o 12º ano, 7% formação pós-secundária e 14,3% têm estudos
superiores. Só 8,5% estão institucionalizados.
Análise estatística
A Tabela 1
apresenta as principais estatísticas descritivas obtidas nos estudos dos 6
países participantes no projeto PALADIN, bem como no estudo português mais
alargado.
Pode verificar-se
que as médias mais elevadas são obtidas em Malta e Portugal, situando-se entre
116 e 163, e que os desvios-padrão variam entre 21,5 e 34,53. Porém, os
resultados mais fiáveis são os da amostra portuguesa de maior dimensão (n
= 503), uma vez que as restantes são de reduzido tamanho, não representando de
modo algum as respetivas populações.
|
Estatísticas
Descritivas Obtidas nos Vários Estudos |
|
|||||
|
|
Países
|
Média (n)
|
DP
|
Min.
|
Máx.
|
|
|
Estudos PALADIN
|
Portugal
|
151,73
(n = 217)
|
31,16
|
39
|
200
|
|
|
Espanha
|
134,24
(n = 99)
|
37,67
|
19
|
194
|
|
|
|
Grécia
|
109,66
(n =103)
|
31,17
|
63
|
140
|
|
|
|
Malta
|
146,07
(n = 60)
|
34,21
|
45
|
196
|
|
|
|
Hungria
|
156,45
(n = 108)
|
32,51
|
28
|
200
|
|
|
|
Suíça
|
139,22
(n = 79)
|
34,44
|
68
|
200
|
|
|
|
Estudo de maior dimensão
|
Portugal
|
137,09
(n = 503)
|
41,42
|
14
|
200
|
|
|
Nota. DP
=
Desvio padrão. |
|
Fidelidade da escala
Os primeiros estudos
realizados no âmbito do projeto PALADIN apontavam já para índices de fidelidade
muito bons (0,91, Portugal; 0,95, Espanha; 0,97, Grécia; 0,97, Malta; 0,93,
Hungria; 0,92, Suíça) (Oliveira
et al., 2011), apesar da
limitação do reduzido tamanho das amostras.
Na Tabela 2
apresentamos as estatísticas descritivas dos itens da escala e os valores dos
alfas de Cronbach na amostra portuguesa de grande dimensão (n = 501), os
quais dão origem a um alfa global de 0,94.
Se considerarmos as
cinco dimensões de que se partiu para a elaboração da escala, os alfas de
Cronbach são os seguintes: 0,84 (itens atividades instrumentais), 0,71
(atividades profissionais/ocupacionais), 0,74 (atividades de participação
social), 0,87 (atividades de desenvolvimento pessoal e de lazer), 0,82 (atividades
espirituais/religiosas).
|
Estatísticas Descritivas dos Itens da Escala
de Autoeficácia para a Atividade com Sentido (n = 501) |
|
|||||
|
Média (DP)
|
Assimetria (EP)
|
Curtose (EP)
|
Correlação
item-total
|
α Cronbach
sem o
próprio item
|
|
|
|
Item 1
|
4,86
(3,52)
|
-0,07 (0,109)
|
-1,38
(0,217)
|
0,52
|
0,941
|
|
|
Item 2
|
7,04
(2,77)
|
-1,01 (0,109)
|
0,23
(0,217)
|
0,64
|
0,939
|
|
|
Item 3
|
6,81
(3,04)
|
-0,86 (0,109)
|
-0,26
(0,217)
|
0,75
|
0,937
|
|
|
Item 4
|
7,80
(2,45)
|
-1,29 (0,109)
|
1,16
(0,217)
|
0,70
|
0,938
|
|
|
Item 5
|
7,15
(2,85)
|
-0,90 (0,109)
|
-0,11 (0,217)
|
0,66
|
0,938
|
|
|
Item 6
|
6,66
(3,24)
|
-0,72 (0,109)
|
-0,67
(0,217)
|
0,64
|
0,938
|
|
|
Item 7
|
5,49
(3,32)
|
-0,23 (0,109)
|
-1,15
(0,217)
|
0,71
|
0,937
|
|
|
Item 8
|
7,98
(2,40)
|
-1,25 (0,109)
|
0,87
(0,217)
|
0,53
|
0,940
|
|
|
Item 9
|
6,76 (3,37)
|
-0,88 (0,109)
|
-0,60
(0,217)
|
0,72
|
0,937
|
|
|
Item 10
|
7,13
(2,95)
|
-1,06 (0,109)
|
0,18
(0,217)
|
0,64
|
0,938
|
|
|
Item 11
|
7,20
(2,95)
|
-1,08 (0,109)
|
0,16
(0,217)
|
0,73
|
0,937
|
|
|
Item 12
|
6,70
(3,22)
|
-0,81 (0,109)
|
-0,56
(0,217)
|
0,59
|
0,939
|
|
|
Item 13
|
6,70
(3,17)
|
-0,76 (0,109)
|
-0,60
(0,217)
|
0,65
|
0,938
|
|
|
Item 14
|
7,59
(2,45)
|
-1,06 (0,109)
|
0,36 (0,217)
|
0,72
|
0,938
|
|
|
Item 15
|
6,41
(3,37)
|
-0,74 (0,109)
|
-0,74
(0,217)
|
0,70
|
0,937
|
|
|
Item 16
|
7,22
(2,53)
|
-0,96 (0,109)
|
0,37
(0,217)
|
0,73
|
0,937
|
|
|
Item 17
|
7,62
(3,28)
|
-1,30 (0,109)
|
0,32
(0,217)
|
0,71
|
0,937
|
|
|
Item 18
|
5,19 (3,28)
|
-0,20 (0,109)
|
-1,12
(0,217)
|
0,58
|
0,940
|
|
|
Item 19
|
7,07 (3,11)
|
-1,01 (0,109)
|
-0,14 (0,217)
|
0,64
|
0,939
|
|
|
Item 20
|
7,89 (2,54)
|
-1,24 (0,109)
|
0,78 (0,217)
|
0,46
|
0,941
|
|
|
|
Validade de constructo e discriminante
Com o objetivo de
se aferir a validade de constructo e discriminante, procurou-se relacionar a
EAASentido com as atividades instrumentais da vida diária (IADL), a autoestima
(ROS), a afetividade positiva (PA) e negativa (NA), a satisfação com a vida
(SWLS), a presença de sentido na vida (MLQPre), a autoeficácia para a saúde
(EAAS) e a idade.
A Tabela 3
expõe os diversos indicadores de validade obtidos, através dos respetivos
coeficientes de correlação. Verifica-se que todas as correlações são
significativas e que o padrão esperado de correlações positivas com o IADL
(cuja correlação é bastante elevada como seria de esperar), a ROS, o PA, a
SWLS, o MLQPre e a EAASentido foi efetivamente encontrado, o mesmo sucedendo
com as correlações negativas que se esperava ocorrerem com NA e a idade,
significando que quanto mais a pessoa sénior se sente capaz de se envolver em
diversas atividades, mais autonomia nas atividades da vida diária manifesta,
maior é a sua perceção de autoestima, de afeto positivo, de satisfação com a
vida, de presença de sentido na vida e de autoeficácia para a saúde.
Contrariamente,
quanto mais afeto negativo vivencia e mais idade apresenta, mais baixos são os
resultados em autoeficácia para atividades com sentido.
|
Indicadores de Validade de Constructo e Discriminante (n = 503) |
|
||||||||
|
|
IADL
|
ROS
|
PA
|
NA
|
SWLS
|
MLQ-Pre
|
EAAS
|
Idade
|
|
|
EAASentido |
0,73***
|
0,29***
|
0,39***
|
-0,32***
|
0,38***
|
0,34***
|
0,71***
|
-0,34***
|
|
|
Nota. ROS = Escala de Autoestima de Rosenberg (Rosenberg, 1989;
Oliveira, 2005); PA = Positive Affect e NA = Negative Affect
(Watson & Clark, 1994; Oliveira et al., 2011a); SWLS = Satisfaction
With Life Scale (Diener et al., 1985; Simões, 1992); IADL = Instrumental
Activities of Daily Living (Lawton e Brody, 1969; Simões et al., 2010);
MLQ = Meaning in Life Questionnaire (Steger, Frazier, Oishi, &
Kaler, 2006; Simões et al., 2010); EAAS = Escala de Autoeficácia para a
Autodireção na Saúde (Oliveira et al., 2011b). *** p < 0,001. |
|
Validade dimensional: análise de componentes principais
Numa primeira
exploração da dimensionalidade da EAASentido, e após a verificação dos
requisitos para levar a efeito este tipo de teste (KMO = 0,95; teste de
Bartlett: p < 0,001; MSA > 0,5), uma análise de componentes
principais (CP) revelou uma estrutura com três dimensões, explicando 60,2% da
variância total.
As dimensões ‘Atividades
instrumentais’ e ‘Atividades espirituais/religiosas’ foram
encontradas com uma grande consistência, já que quase todos os itens
apresentaram as saturações mais elevadas na respetiva componente [variando os loadings
entre 0,63 e 0,84 e entre 0,48 e 0,73, respetivamente, exceto o 11 (Estou
confiante de que sou capaz por mim próprio/a de me envolver em atividades que
me tornam melhor pessoa) e o 14 (Estou confiante de que sou capaz por
mim próprio/a de fazer o melhor por mim fisicamente, mentalmente e
espiritualmente), que surgem com saturações mais elevadas numa componente
distinta (a 1ª emergente desta análise, com loadings de 0,56 e 0,68] (Tabela 4).
|
Matriz de Componentes Rodada da Escala de Autoeficácia para a Atividade
com Sentido |
|
|||
|
|
Componentes
|
|
||
|
Itens
|
1
|
2
|
3
|
|
|
Item
1
|
0,71 |
-0,06 |
0,18 |
|
|
Item
2
|
0,66 |
0,26 |
0,15 |
|
|
Item
3
|
0,71 |
0,30 |
0,26 |
|
|
Item
4
|
0,53 |
0,62 |
0,11 |
|
|
Item
5
|
0,44 |
0,60 |
0,17 |
|
|
Item
6
|
0,22 |
0,24 |
0,84 |
|
|
Item
7
|
0,53 |
0,25 |
0,49 |
|
|
Item
8
|
0,14 |
0,70 |
0,27 |
|
|
Item
9
|
0,71 |
0,23 |
0,28 |
|
|
Item
10
|
0,53 |
0,30 |
0,32 |
|
|
Item
11
|
0,56 |
0,48 |
0,25 |
|
|
Item
12
|
0,17 |
0,25 |
0,79 |
|
|
Item
13
|
0,65 |
0,27 |
0,20 |
|
|
Item
14
|
0,68 |
0,38 |
0,16 |
|
|
Item
15
|
0,74 |
0,15 |
0,27 |
|
|
Item
16
|
0,49 |
0,64 |
0,20 |
|
|
Item
17
|
0,44 |
0,26 |
0,63 |
|
|
Item
18
|
0,44 |
0,16 |
0,46 |
|
|
Item
19
|
0,44 |
0,37 |
0,37 |
|
|
Item
20
|
0,01 |
0,73 |
0,28 |
|
|
Nota. As estatísticas
apresentadas nesta tabela reportam-se a uma análise de componentes
principais. |
|
Os Itens 4
(Estou confiante de que sou capaz por mim próprio/a de me sentir feliz a
realizar atividades da minha escolha) e 5 [Estou confiante de que sou capaz
por mim próprio/a de realizar atividades (profissionais, da vida diária,
físicas, etc.) que me satisfaçam] apresentam também a sua saturação mais
elevada na dimensão ‘espiritual/religiosa. Todos os outros itens das
componentes ‘Atividades profissionais/ocupacionais, ‘Atividades de participação
social, e ‘Atividades de desenvolvimento pessoal e lazer’ apresentam os seus
itens com as maiores saturações de forma indiferenciada na primeira componente
emergente da análise (11 itens).
Estes
resultados, dado que se baseiam numa grande amostra, proveniente de grande
parte do país, sugerem uma redefinição das dimensões da escala reduzindo-as a
três.
Verifica-se
um fator principal que se designaria por desenvolvimento pessoal e participação
social, mantendo-se os fatores atividades espirituais/existenciais e atividades
instrumentais.
Neste artigo sublinhou-se a importância
das atividades significativas na idade avançada e a pertinência da investigação
nesta área de molde a poder, de forma eficaz e consistente, ir de encontro ao
ideal do Envelhecimento Ativo. O projeto PALADIN enquadra-se neste desafio.
Tendo em consideração que um dos seus objetivos principais foi o de construir
uma escala cientificamente válida, visualmente atrativa e simples de usar e
compreender, e que na atual investigação se pretendeu aprofundar as qualidades
psicométricas da EAASentido, julgamos que os resultados obtidos que
apresentámos na secção anterior vão ao encontro, de forma consistente, desses
objetivos.
No que respeita à fidelidade, os coeficientes de Cronbach obtidos são
bastante bons, nomeadamente no que respeita à fidelidade global (0,94), o que significa que a
escala apresenta uma consistência interna bastante
robusta. Sabemos que as amostras estão associadas a culturas e hábitos
populacionais bastante diferentes, típicos dos diversos países. Todavia, parece
que os itens da escala não são sensíveis a
essas diferenças, captando o que de essencial há em termos de atividades com
sentido.
No que respeita à validade, de acordo com Carmines e Woods (2004), ela é geralmente
definida como o grau em que um instrumento de medida mede o que se propõe medir”
(p. 1171). Tendo em consideração que há
diferentes tipos de validade e que o processo de validação de um instrumento é um processo inacabado, torna-se necessário reunir
vários indicadores de validade, tendo sido este o percurso seguido.
Considerando a validade de constructo, que se “centra na extensão em que uma medida se comporta de acordo com previsões teóricas” (p. 1172), com base nos estudos prévios esperava-se que a Escala de Autoeficácia
para a Atividade com Sentido se correlacionasse positivamente com as
‘Atividades instrumentais da vida diária’, a ‘Autoestima’, o ‘Afeto positivo’,
a ‘Satisfação com a vida’ a ‘Presença de
sentido na vida’ e a ‘Autoeficácia para
a saúde’.
Contrariamente, era espectável encontrar correlações negativas com o ‘Afeto negativo’ e com a ‘Idade’. Efetivamente, os padrões de relação que emergiram revelaram-se bastante consistentes
com as predições, sendo as correlações obtidas de magnitude média, exceto no caso das atividades instrumentais e
da autoeficácia para a saúde cujas magnitudes se revelaram elevadas.
Relativamente à sua validade fatorial, apesar de não se ter
confirmado o modelo em cinco dimensões teoricamente esperadas, com base na
revisão da literatura, parece fazer sentido a proposta de um modelo mais
reduzido, com três
dimensões, em que estariam implicados
sobretudo os domínios: instrumental (sentido instrumental), pessoal e social
(sentido de desenvolvimento pessoal e participação social) e
espiritual/religioso (sentido existencial). No que respeita à importância das
atividades ligadas aos sentidos instrumental e existencial, elas não deixam
qualquer dúvida, a nível da sua centralidade nas pessoas de idade avançada,
tendo em conta a revisão da literatura (Pocinho et al., 2013; Villar,
2012; Vilar et al., 2015).
Quanto à dimensão, sentido de desenvolvimento pessoal e
participação social, recordemos que para Schnell (2011)
as fontes de sentido em idades avançadas se associam a questões identitárias e motivacionais, e que para Delle Fave (2009),
o sentido pessoal, ao resultar de um processo de seleção psicológica derivado do contexto cultural e do sistema de
valores da pessoa, é entendido simultaneamente como
individual e social/cultural. Assim, julgamos que os itens integrados na
dimensão desenvolvimento pessoal e participação social dizem efetivamente
respeito às
questões identitárias e motivacionais que se traduzem no interesse
pelo desenvolvimento pessoal e pela participação social (Fernandez-Ballesteros et al., 2013).
Continuando a analisar e discutir os
resultados obtidos na análise fatorial, tendo em conta que vários itens se
revelaram complexos (saturando de forma elevada em mais que um fator) e, por
outro lado, não apresentam um conteúdo que se considere de grande pertinência do ponto de vista teórico, sugere-se a sua eliminação, sendo o caso dos
itens 4, 5, 11, 18 e 19, respetivamente: ‘De me sentir feliz a realizar
atividades da minha escolha’; ‘De realizar actividades (profissionais,
da vida diária, físicas, etc.)
que me satisfaçam’; ‘De me envolver em actividades que me tornam
uma melhor pessoa’; ‘De ajudar na comunidade ou planeta (limpar
florestas, plantar árvores) ’; e ‘De
preparar a minha reforma, ou qualquer outra grande mudança, quando for o
momento (ou for necessário) ’. Para
além disso, sugere-se a reformulação do item 14 (‘De
fazer o melhor por mim fisicamente, mentalmente e espiritualmente’), o qual
se revelou igualmente complexo, embora com conteúdo que se enquadra no
respetivo fator, para ‘De fazer o melhor por mim espiritualmente’.
A nova configuração da escala terá assim
15 itens, oito de sentido de desenvolvimento pessoal e participação social (1,
2, 3, 7, 9, 10, 13 e 15), quatro de sentido existencial (8, 14, 16 e 20) e três
de sentido instrumental (6, 12 e 17). De acordo com esta proposta, e tendo sido
recalculada a consistência interna global e por dimensão, foram obtidos
respetivamente os valores de 0,92 (global), 0,89, 0,77 e 0,84.
Da investigação efetuada concluímos
então que a escala final, constituída por 15 itens, aparenta possuir suficiente
robustez e adequação psicométrica para uso aplicado no domínio da atividade de
pessoas de idade avançada, mais especificamente quando se pretende avaliar em
que medida estas pessoas têm confiança na sua capacidade para se envolverem em
atividades com sentido, com elevado grau de autonomia. Os indicadores de
fidelidade e de validade de constructo apontam para boas qualidades
psicométricas, ao utilizar-se a escala como um todo. Porém, no que respeita à
sua dimensionalidade são necessários mais estudos que testem a reconfiguração
proposta, nomeadamente através de análises fatoriais mais robustas sendo o caso
das confirmatórias.
Conflito
de interesses: nenhum.
Fontes
de financiamento: nenhuma.
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[1] O principal objetivo deste projeto
foi criar recursos que pudessem ser utilizados por pessoas seniores para
favorecer a sua autonomia em áreas consideradas centrais na sua vida, como a
saúde, a atividade, a cidadania, a educação e as finanças.
[2] Para aceder à escala
completa, consultar
http://projectpaladin.eu