2016, Vol. 2(2): 25-40
Avaliação breve do défice executivo em pessoas
idosas com Acidente Vascular Cerebral: Validação da Bateria de Avaliação
Frontal
Artigo Original
Helena Espirito-Santo ⓘ ✉, Inês Queiroz
Garcia ⓘ, Bárbara Monteiro ⓘ, Naír Carolino ⓘ, Fernanda
Daniel ⓘ
https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2016.2.2.39
Recebido 19 agosto 2016
Aceite 29 setembro 2016
Objetivos: O Acidente Vascular Cerebral (AVC) potencia o desenvolvimento
de disfunção executiva, conduzindo a défice no desempenho das tarefas do
quotidiano. A avaliação neuropsicológica das funções executivas é importante
para desenvolver estratégias de reabilitação adequadas. Assim, são objetivos
descrever os dados normativos, precisão de diagnóstico, propriedades
psicométricas e análise fatorial da Bateria de Avaliação Frontal (FAB),
instrumento breve e de rápida administração, numa amostra de idosos com AVC.
Métodos: Inserida no projeto Trajetórias do Envelhecimento de Idosos em
Resposta Social, esta investigação conta com uma amostra de 112 pessoas
idosas com diagnóstico médico de AVC e 157 pessoas idosas de um subgrupo de
controlo sem AVC. Os sujeitos apresentam idades compreendidas entre os 60 e os
100 anos (M = 78,20; DP = 7,57) sendo maioritariamente do sexo
feminino (n = 194). A avaliação inclui entrevistas e testes
neuropsicológicos agrupados em medidas de funcionamento executivo, medidas
cognitivas de referência e medidas clínicas de controlo.
Resultados. As variáveis idade e escolaridade
interferiram nas pontuações obtidas na amostra clínica, não sendo verificado
impacto da variável sexo. Para um ponto de corte de 7, a FAB teve uma
sensibilidade de 83,4% e especificidade de 66,1 % (AUC = 0,64); revelou
um alfa de Cronbach de 0,79 e correlações fortes com os testes executivos
(teste de Stroop, Figura Complexa de Rey, fator Atencional-Executivo do Montreal
Cognitive Assessment e Alternância nos testes de Fluência verbal). A
análise fatorial confirmatória apontou uma estrutura com um fator.
Conclusões. A FAB apresenta boa consistência
interna, validade convergente e validade de constructo, aparentando ser uma
escala útil para avaliar o défice executivo em pessoas idosas com AVC. Dadas
algumas limitações do estudo, que poderão explicar a fraca precisão diagnóstica
da FAB, são incentivadas investigações futuras pois a FAB revelou-se um
instrumento com propriedades psicométricas promissoras.
Palavras chave:
AVC · Disfunção Executiva · FAB · Idosos · Validação
As funções executivas têm um papel central
em tarefas do quotidiano, regulando o comportamento humano. O estabelecimento de
metas, planeamento, antecipação de consequências das ações, realização de
comportamentos e adaptação dos mesmos a diversas mudanças ambientais, decorrem
do funcionamento executivo (Cicerone et al., 2000; Kennedy et al., 2008). O
planeamento (organização de estratégias), abstração, tomada de decisão,
auto-noção, flexibilidade cognitiva, inibição de respostas imediatas (Benton, 1994),
controlo atencional, processamento de informação (fluência, eficiência e
velocidade) e estabelecimento de objetivos (Anderson, 2002) estão
então catalogadas como funções executivas. O comprometimento destas funções, ou
seja, os défices ou disfunções executivas, surgem quando existem alterações não
só no lobo frontal, mas também no tálamo, gânglios da base, cerebelo e na
matéria branca, que integram circuitos frontosubcorticais, podendo decorrer
quer do envelhecimento saudável (Fisk & Sharp, 2004), quer de patologias
neurológicas como o acidente vascular cerebral (AVC) (Alexander, DeLong, & Strick, 1986;
Benke, Karner,
& Delazer, 2013).
O AVC, incluído nas doenças vasculares
cerebrais, é uma das principais causas de morte (Feigin et al., 2014). O
AVC poderá ser categorizado por Tipo e com frequências variáveis. Assim, a
menor incidência, ainda que mais letal, remete para o AVC de tipo hemorrágico (Rosamond et
al., 1999) que se subdivide em intracerebral primário e subaracnóide
(Wolfe, 2000).
Este tipo de AVC caracteriza-se pela existência de sangramento, sendo que o
Intracerebral primário decorre principalmente do enfraquecimento de um vaso no
tecido cerebral (Ropper & Brown, 2005; Weinstein & Swenson, 2008),
enquanto o subaracnóide pela rutura de aneurisma sacular (Ropper & Brown, 2005).
A maior incidência de AVC é do tipo isquémico (Rosamond et al., 1999),
apresentando-se em dois subtipos: transitório e prolongado, sendo este último
também conhecido por enfarte (Foulkes, Wolf,
Price, Mohr & Hier, 1988; Hacke et al., 2003; Ropper &
Brown, 2005). O AVC transitório ou acidente isquémico transitório
(AIT), caracteriza-se por um défice focal transitório que pode durar menos de
15 minutos e ser resolvido entre 30 e 60 minutos (Ropper & Brown, 2005; Weinstein
& Swenson, 2008). Por sua vez o AVC prolongado ou enfarte
resulta da suspensão de nutrientes ao cérebro, maioritariamente oxigénio e
glicose, procedente de uma interrupção de fluxo sanguíneo (Beaumont, 2008; O’Sullivan,
2006; Weinstein & Swenson, 2008). O seu desenvolvimento abrupto
e não convulsivo de sintomas de défice cerebral focal, cuja duração é superior
a 24 horas leva a que, durante esse período temporal, em determinada região
cerebral a irrigação seja insuficiente (Foulkes et al., 1988; Investigators,
1988; Wolfe, 2000). As alterações subjacentes à interrupção de fluxo
sanguíneo levam a uma sequência de acontecimentos neuronais e químicos, levando
à apoptose (morte celular) de alguns dos neurónios afetados (Ropper & Brown, 2005).
Para além da existência de múltiplas causas, são identificáveis fatores de
risco (fatores de risco vascular) para a ocorrência de um AVC. O fator de risco
mais importante e evidente, devido ao aumento da incidência de AVC ao longo dos
anos, é a idade (Delbari, Salman Roghani, Tabatabaei, Rahgozar, & Lokk, 2011;
Feigin,
Lawes, Bennett, & Anderson, 2003; Lavados et al., 2007). O
sexo é também considerado um fator de risco (devido ao perfil endócrino, os
indivíduos de sexo masculino estão mais vulneráveis) (Feigin et al., 2003; Howard &
Grau, 2014; Lavados et al., 2007; Tang et al., 2014), bem
como o baixo nível de escolaridade (Lavados et al., 2007).
Sendo o AVC uma das principais causas de
morbidade do mundo (Feigin et al., 2003; Hacke et al., 2003) e a
disfunção executiva uma das suas possíveis consequências, a avaliação
neuropsicológica das funções executivas é um procedimento importante no
processo de reabilitação dos doentes (Cicerone et al., 2000).
Existem diversos testes neuropsicológicos apropriados para a avaliação das
funções executivas, sendo que a presente investigação apresenta o seu foco na
Bateria de Avaliação Frontal (FAB).
A FAB figura como uma bateria de testes que
objetiva a avaliação da disfunção executiva global (Appollonio et al., 2005).
Com uma administração breve, sensivelmente 10 minutos (Matsui et al., 2006; Nagata et al.,
2010), esta bateria prima por se constituir numa ferramenta
aplicável a diferentes contextos clínicos (Boban, Malojčić, Mimica, Vuković, & Zrilić, 2012; Dubois, Slachevsky, Litvan, & Pillon, 2000).
Elaborada por Dubois et al. (2000), a FAB é constituída por seis subtestes,
cada um correspondente a uma tarefa, os quais pretendem avaliar funções
associadas ao lobo frontal, designadamente a conceptualização (tarefa das
semelhanças), flexibilidade mental (tarefa da fluência lexical), programação
motora (séries motoras de Luria), sensibilidade à interferência (tarefas com
instruções antagónicas), controlo inibitório (tarefa do Go-No-Go) e
autonomia ambiental frontal (comportamento de preensão) (Appollonio et al., 2005; Chong et al.,
2010). No que respeita à cotação, cada subteste da FAB é cotado numa
escala de 4 pontos (entre 0 a 3), variando o somatório da pontuação total num
intervalo de 0 a 18 pontos, indicando a existência ou não de disfunção
executiva bem como a sua gravidade (Dubois et al., 2000; Lima, Meireles, Fonseca, Castro,
& Garrett, 2008; Oguro et al., 2006). Esta bateria apresenta ainda boas
propriedades psicométricas no seu estudo original (Dubois et al., 2000; α de
Cronbach de 0,78). No estudo de adaptação para a língua portuguesa (Lima et al., 2008),
o alfa de Cronbach foi de 0,69.
A FAB prima também pela sua versatilidade na
aplicação clínica, integrando diversos estudos e revelando-se sensível na
discriminação de patologias neurodegenerativas. Esta bateria permitiu, assim, a
diferenciação de doentes com demência de Alzheimer e demência vascular de
indivíduos sem patologia (Oguro et al., 2006) e doentes com demência
frontotemporal de doentes com demência de Alzheimer (Slachevsky et al., 2004).
Estudos que envolveram patologias como Parkinson (Bugalho & Vale, 2011),
perturbação bipolar tipo I (Barbosa et al., 2012) e défices cognitivos
ligeiros (Chong
et al., 2010; Nagata et al., 2010) utilizaram a FAB como uma das
escalas dos seus protocolos. No que respeita especificamente ao AVC, existe um
número vasto de estudos relativamente à função motora após o acidente vascular
cerebral, no entanto o mesmo não se verifica em relação ao número de estudos
que avaliam a função/disfunção executiva (Conti, Sterr, Brucki, & Conforto,
2015).
No que respeita especificamente ao AVC,
existe um número vasto de estudos relativamente à função motora após o acidente
vascular cerebral, no entanto o mesmo não se verifica em relação ao número de
estudos que avaliam a função/disfunção executiva (Conti et al., 2015).
A presente investigação tem como objetivo
preliminar analisar as pontuações na FAB em função das variáveis
sociodemográficas da amostra. Objetiva ainda avaliar a precisão diagnóstica e
as propriedades psicométricas da FAB (confiabilidade, validade convergente e
estrutura fatorial) numa amostra clínica de idosos com diagnóstico médico de
acidente vascular cerebral.
Procedimentos
Esta investigação está inserida no projeto Trajetórias do
Envelhecimento de Idosos em Resposta Social (TEIRS) do Instituto Superior
Miguel Torga, cujo objetivo primordial é o rastreio e avaliação cognitiva de
idosos sob resposta social no distrito de Coimbra. A recolha de dados para este
projeto teve início em novembro de 2010. Posterior aos pedidos e aprovações
pelas instituições, foi cedido o consentimento informado a cada idoso, ou ao
seu responsável, para a administração de uma bateria de testes. Esta bateria,
administrada em várias sessões, integra nove testes neuropsicológicos, duas
entrevistas e cinco questionários relativos a sintomatologia. De forma a
confirmar os elementos fornecidos pelos idosos sobre a sua saúde física, e
adquirir informação clínica, foram entrevistados enfermeiros e diretores ou
consultados os processos clínicos disponibilizados.
Neste estudo serão analisados os dados recolhidos através de um conjunto
de instrumentos, de seguida apresentados e descritos, integrados na bateria
supracitada.
Participantes
Os dados aqui reportados são parte integrante do TEIRS e procede de uma
amostragem por conveniência. Em conformidade com os objetivos propostos para
este estudo, da amostra global das pessoas idosas com idades superiores ou
igual a 60 anos e que preencheram a FAB (N = 771), foram selecionadas
112 pessoas idosas com acidente vascular cerebral (AVC) e 157 pessoas idosas
sem AVC (S/AVC; subgrupo de controlo). As pessoas idosas com AVC foram
selecionadas segundo diagnóstico médico, não sofrendo de afasia e com
capacidade motora para poder executar as tarefas da FAB. O diagnóstico médico
de AVC baseou-se na presença de sintomas neurológicos e lesões compatíveis
fornecidas por exames imagiológicos. Entre o diagnóstico e a avaliação
neuropsicológica decorreram mais de 12 meses. O tipo de AVC não foi
identificado e a influência de défice pré-existente não foi avaliada. Entre as
pessoas S/AVC (n = 598) foram excluídas 441 pessoas de acordo com os
seguintes critérios: pontuações inferiores aos pontos de corte para o Mini-Mental
State Examination (n = 228; 38,1%) e para o Montreal Cognitive
Assessment[1]
(n = 137; 23,6%); diagnóstico de doença mental (alcoolismo,
esquizofrenia e doença bipolar: n = 51; 8,5%) e diagnóstico de doença
neurológica com impacto no funcionamento cognitivo (epilepsia, doença de
Parkinson sem demência e doença de Alzheimer: n = 79; 13,2%)[2].
Foram ainda removidas sessenta e uma pessoas (7,9%) devido à inexistência de
qualquer tipo de informação clínica.
Instrumentos
Medidas do Funcionamento Executivo. Foram utilizados
quatro testes neuropsicológicos para medir aspetos chave do funcionamento
executivo, nomeadamente o controlo inibitório, planeamento e alternância
(flexibilidade). Três destes testes
foram usados para depois se proceder à análise da validade convergente da FAB.
A Bateria de Avaliação Frontal,
objeto de estudo da presente investigação e anteriormente apresentado, é
uma prova de rastreio cognitivo de administração breve, constituída por seis
tarefas. A primeira tarefa designa-se por Semelhanças, a qual pretende avaliar
o pensamento abstrato. Nesta tarefa é solicitado ao sujeito que refira em que é
que dois elementos são semelhantes (e.g., Diga
em que são semelhantes uma banana e uma laranja?). É considerada uma
resposta correta se o sujeito fizer referência a uma categoria. A Fluência
Lexical é a segunda tarefa desta bateria sendo o seu foco a avaliação da
flexibilidade mental. Aqui, o sujeito terá que enunciar o maior número de
palavras começadas pela letra P (excluindo nomes próprios e apelidos), num
período limitado de 60 segundos. A esta tarefa segue-se a Séries Motoras de
Lúria, tendo como objetivo a avaliação da programação motora. Nesta é
solicitado ao sujeito que execute a série de exercícios motores punho – eixo –
palma, inicialmente com a ajuda do examinador e, posteriormente, sozinho, o
maior número de vezes consecutivas. É cedida pontuação se o sujeito conseguir
executar pelo menos três vezes consecutivas a tarefa, preferencialmente sem o
auxílio do examinador. A tarefa Instruções Antagónicas pretende avaliar a
sensibilidade à interferência do sujeito. Inicialmente, o examinador realiza
dois estímulos diferentes aos quais o sujeito terá de responder
diferenciadamente. No Estímulo 1, o examinador bate uma vez com a mão na mesa e
o sujeito deverá bater duas vezes. No Estímulo 2, o examinador bate duas vezes com
a mão na mesa e o sujeito deverá bater apenas uma vez com a mão na mesa. De
forma a avaliar a sensibilidade à interferência e após as instruções
previamente cedidas, o examinador executa uma série de 10 estímulos aos quais o
sujeito terá de responder. Após esta tarefa e de forma a avaliar a capacidade
de controlo inibitório é realizada a tarefa Go-No-Go.
Pretende-se nesta tarefa que o sujeito, face ao estímulo do examinador de bater
uma vez com a mão na mesa, bata igualmente uma vez e, face ao estímulo de bater
duas vez na mesa, que este não realize qualquer tipo de resposta motora, isto
é, que não bata na mesa. Idêntico à tarefa anterior, o examinador realiza uma
série de 10 estímulos aos quais o sujeito terá de responder conforme as
instruções prévias. Por fim, na tarefa Comportamento de Preensão o examinador
posiciona as mãos do sujeito sobre os joelhos do mesmo, com as palmas para
cima. De seguida e sem qualquer tipo de instrução antecipada, coloca as suas
mãos sobre as do sujeito com o intuito de verificar se este as aperta
espontaneamente. Se se verificar esta resposta, o examinador deverá indicar ao
sujeito que não deve apertar as suas mãos e repete novamente o exercício (Dubois et al.,
2000).
O Teste Stroop (Stroop
Neuropsychological Screening Test, Trenerry, Crosson, DeBoe, &
Leber, 1989; versão portuguesa: Castro, Martins, & Cunha,
2003; versão Torga: Garcia et al., 2016) objetiva avaliar a atenção seletiva, o
controlo inibitório e a velocidade de processamento de informação (Stroop, 1935;
Trenerry et
al., 1989), sendo composto pela realização de um exercício de
leitura de palavras e um exercício de nomeação de cor, ambos com a duração de
120 segundos. A sua administração conta com dois treinos prévios ao registo do
Teste Stroop num total de quatro exercícios: 1) Pré-teste de
reconhecimento de cor (através da nomeação da cor de quatro “X” impressos em
cores distintas numa folha); 2) Treino de leitura e de nomeação de cor (folha
com quatro palavras escritas em cores incongruentes); 3) Leitura de palavras da
folha estímulo; e 4) Nomeação de cor das palavras da mesma folha estímulo. A
folha estímulo consiste em 112 palavras impressas em cores incongruentes. No
que respeita à cotação, são registadas o número de respostas corretas de cada
tarefa realizada e o tempo despendido para as mesmas, não sendo cotados os
exercícios de treino. Por fim, é dividido o número de respostas corretas pelo
tempo utilizado em cada tarefa por forma a colmatar as diferenças individuais
de nomeação de cor (Castro et al., 2003). Este instrumento revelou uma
consistência interna muito boa no presente estudo (α de Cronbach = 0,99).
O teste da Figura Complexa de
Rey-Osterrieth (FCR-O, Rey Complex Figure Test; Osterrieth,
1944), desenvolvido por Rey (1941) e padronizado por Osterrieth (1944),
é um teste neuropsicológico que avalia estratégias de resolução de problemas,
planeamento, aptidões organizacionais, função motora, perceção e memória (Meyers &
Meyers, 1995). O FCR-O é constituído por três provas, administradas
em três momentos distintos: cópia, memória imediata (3 minutos) e memória
diferida (20 minutos). Neste estudo usou-se somente a prova da cópia. Nesta
prova, a imagem é apresentada horizontalmente ao sujeito, para que ele copie. A
correção e cotação da prova tem como critério o método definido por Osterrieth
(1944)
que avalia, quer a forma como o sujeito constrói a cópia (da mais racional para
a menos racional), quer a pontuação global. Quanto à forma, o tipo I indica uma
construção sobre a armação; o tipo II refere-se à reprodução dos detalhes
englobados na armação; o tipo III faz referência ao contorno geral;
o tipo IV indica uma construção na justaposição de detalhes; o tipo V
refere-se aos detalhes sobre o fundo confuso; o tipo VI coincide com a redução
a um esquema familiar e o tipo VII é designado por garatuja, no qual
o rabisco é irreconhecível, não se identificando nenhuma forma (Lezak, Howieson, Biegler, &
Tranel, 2012; Rocha & Coelho, 1988). Quanto à pontuação
global da prova, varia entre os 0 pontos e os 36 pontos, sendo os pontos
cedidos consoante a construção dos 18 elementos da figura (Rocha & Coelho, 1988).
Neste estudo, recorreu-se ao método de Osterrieth para a cotação segundo o
tipo, visto que este se relaciona com o funcionamento executivo (Caffarra,
Vezzadini, Dieci, Zonato, & Venneri, 2002). No presente estudo
revelou um nível elevado de concordância (𝜅 = 0,99; p <
0,001) e uma boa consistência interna (α de Cronbach = 0,86).
Os testes de Fluência Verbal
são tarefas cognitivas complexas, tendo como propósito a avaliação da
capacidade de produção de palavras específicas num limitado período de tempo (Lezak et al.,
2012). Relativamente a estes testes, distinguem-se o formato fonémico
e o semântico. No teste de fluência verbal fonémica, a tarefa consiste
na produção de palavras iniciadas por determinadas letras, ao longo de 60
segundos, estando excluídos nomes próprios, conjugações verbais da mesma
palavra ou palavras derivadas (e.g., “casa” e “casinha”) (Borkowski, Benton, & Spreen, 1967;
Simões, 2003).
Na investigação levada a cabo no projeto TEIRS, foi solicitado aos
participantes para nomearem palavras iniciadas pela letra P, pela letra M
e pela letra R, sendo esta seleção de letras considerada a mais
apropriada na língua portuguesa, revelando uma boa consistência interna (α de
Cronbach = 0,89) (Cavaco et al., 2013). A cotação deste teste é realizada
consoante as médias de cada letra e por total fonémico. No teste de fluência
verbal semântica, o sujeito, a partir de uma pista, deve produzir o maior
número de palavras pertencentes a determinada categoria em 60 segundos (e.g.,
animais; frutas; cidades) (Lezak et al., 2012; Simões, 2003). No TEIRS,
foi solicitado aos sujeitos que produzissem palavras pertencentes à categoria animais
e à categoria alimentos que se podem comprar num supermercado. A
pontuação deste teste resulta da média obtida nas categorias. No estudo de
Cavaco et al. (2013) foi somente incluída a categoria animais, com um
nível de concordância inter-avaliadores de 0,996. No TEIRS foram calculadas três
pontuações relativas aos testes de fluência verbal: número de palavras
(excluindo erros e repetições); tamanho médio do agrupamento; e número
de alternâncias. No presente estudo, recorreu-se ao número de alternâncias
que se referem ao número de mudanças entre categorias de palavras, fazendo-se
incluir palavras isoladas para a fluência fonémica e semântica (Troyer,
Moscovitch, & Winocur, 1997). A consistência interna foi boa no
compósito dos testes de fluência verbal (α de Cronbach = 0,80).
Medidas Cognitivas de
Referência. Para avaliar o estado cognitivo atual de cada
participante recorreu-se a duas baterias que avaliam os principais domínios
cognitivos (i.e., atenção, linguagem, memória, orientação e construção
visiospacial). Estas medidas foram também utilizadas para o estudo da validade
convergente, por apresentarem correlações elevadas com a FAB em estudos prévios
(Bugalho
& Vale, 2011; Lima et al., 2008; Varalta et al., 2015).
O Montreal Cognitive Assessment
(MoCA) (Nasreddine
et al., 2005) é um instrumento breve de rastreio cognitivo cujo
tempo de aplicação é de aproximadamente 10 minutos. Este teste avalia oito
domínios cognitivos, através de onze tarefas: função executiva (e.g., Trail
Making Test); capacidade visiospacial (e.g., Desenho do Teste do Relógio);
memória (e.g., Evocação Diferida de Palavras); atenção, concentração e memória
de trabalho (e.g., Subtração em série de 7), linguagem (e.g., Fluência Verbal
Fonémica) e orientação (e.g., Temporal). A pontuação máxima deste instrumento é
de 30 pontos. Na versão portuguesa, é considerada normal uma pontuação igual ou
superior a 26 pontos (Duro, Simões, Ponciano, & Santana, 2010). Segundo
Nasreddine et al. (2005) este instrumento apresenta uma boa
consistência interna (α de Cronbach = 0,83) e elevada fiabilidade teste-reteste (r
= 0,92; p < 0,001), o mesmo acontecendo na versão portuguesa (α de
Cronbach = 0,90) (Freitas, Simões, Marôco, Alves, & Santana, 2012). De
acordo com o estudo fatorial de Duro et al. (2010), o MoCA apresenta um
fator Memória (Evocação Diferida, Dígitos invertidos, Nomeação,
Repetição e Orientação) e um fator Atencional-Executivo (Cópia de cubo, Desenho
de relógio, Trilhas, Fluência, Semelhanças, Dígitos diretos, Subtração). Na
presente investigação, o alfa de Cronbach foi de 0,65, sendo aceitável dado o
número reduzido de itens do instrumento (Pallant, 2011).
O Mini-Mental State Examination
(MMSE; Folstein,
Folstein, & McHugh, 1975) é um instrumento amplamente utilizado
na avaliação do estado mental em prática clínica e investigação clínica (Santana et al.,
2016). Este permite avaliar a função cognitiva e auxiliar no
rastreio de défice cognitivo, monitorizar quadros demenciais e outros estados
de alteração cognitiva (Morgado, Rocha, Maruta, Guerreiro, & Martins, 2009;
O'Keeffe,
Mulkerrin, Nayeem, Varughese, & Pillay, 2005; Santana et al.,
2016), sendo de administração breve (5 a 10 minutos aproximadamente). Este
instrumento é constituído por 30 tarefas divididas em seis domínios cognitivos:
Orientação (e.g., Orientação Temporal); Retenção (e.g., Repetição de 3
palavras); Atenção e Cálculo (e.g., Série de 5 Subtrações de 3); Linguagem
(e.g., Nomeação); e Capacidade Construtiva (e.g., Cópia de uma figura) (Folstein et
al., 1975). A pontuação máxima deste teste é de 30 pontos, onde cada
tarefa é cotada por 1 ponto (quando o sujeito responde corretamente) ou 0
pontos (quando o sujeito não responde ou responde incorretamente) (Santana et al.,
2016). Este instrumento, consoante a população clínica, revela uma
boa consistência interna, com variações entre 0,54 e 0,96, e boa confiabilidade
teste-reteste (0,80 a 0,95) (Tombaugh & McIntyre, 1992). Na presente
investigação, o alfa de Cronbach foi de 0,71.
Medidas Clínicas de Controlo.
Para avaliar o estado físico e de saúde mental atual de cada
participante, por forma a controlar condições que potencialmente poderão afetar
os resultados, recorreu-se a duas entrevistas clínicas.
A Entrevista Estruturada de
Avaliação da Saúde Física do Idoso foi desenvolvida no âmbito do TEIRS
e consiste em seis grupos de perguntas. O primeiro grupo sobre a saúde em geral
engloba seis questões de resposta dicotómica (febre, dor, exercício físico,
tabagismo, consumo de álcool, internamento ou intervenção cirúrgica) e seis
perguntas abertas referentes a eventos graves de saúde (enfarte agudo do
miocárdio, acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico ou outros)
e presença de doenças específicas (hipertensão, diabetes ou outras). O segundo
grupo consiste em quatro questões sobre a visão e audição. O terceiro inclui
quatro perguntas sobre sintomatologia cardiovascular; o quarto duas questões
sobre sintomatologia geniturinária; o quinto três questões sobre sintomatologia
respiratória e o sexto engloba sete perguntas relativas a sintomatologia neurológica
(e.g., cefaleias, tremores, tonturas).
A Mini International
Neuropsychiatric Interview (M.I.N.I. PLUS; Sheehan et al., 1997;
versão portuguesa: Amorim, 2000) foi utilizada para confirmar o diagnóstico de
perturbação depressiva major (PDM). Esta entrevista segue os critérios da
DSM-IV para várias perturbações incluídas em 16 secções independentes de
diagnóstico. A M.I.N.I. consiste em perguntas de resposta dicotómica (sim/não),
existindo em cada secção uma ou duas questões de partida que permitem excluir
ou incluir o diagnóstico. A versão portuguesa apresentou uma concordância entre
avaliadores de 0,58, com uma proporção de classificação correta de 0,88 (Amorim, 2000).
No presente estudo, a secção referente à PDM correlacionou-se com a Geriatric
Depression Scale (r = 0,31; p < 0,001), com uma proporção
de classificação correta de 0,80.
Análise estatística
Para a análise e tratamento dos dados, recorreu-se ao Programa
Estatístico Statistical Package for the Social Sciences (IBM SPSS
Statistics, versão 24.0 para Macintosh Mavericks, SPSS, 2012).
Realizaram-se análises estatísticas descritivas, incluindo frequências,
percentagens, médias, desvios-padrão. O teste do qui-quadrado da independência
foi utilizado para explorar se as variáveis sociodemográficas se associavam ao
diagnóstico.
Foi verificada a normalidade da distribuição quer da pontuação total da
FAB quer dos testes utilizados na validade convergente através do teste
Kolmogorov-Smirnov e ainda dos coeficientes de assimetria e de achatamento
seguindo os critérios de Kim (2013) (valor z absoluto abaixo de 3,29 da
curtose e da assimetria são indicadores de normalidade para amostras inferiores
a 300 sujeitos).
Foi utilizado o teste t/ANOVA de um e dois fatores para explorar
os efeitos das variáveis sociodemográficas (sexo, idade, escolaridade,
profissão e tipologias de áreas urbanas) sobre o desempenho da FAB nos
subgrupos. Relativamente à ANOVA, a homogeneidade das variâncias foi
determinada segundo o teste de Levene. Na presença de homogeneidade (p
> 0,05) recorreu-se ao teste post hoc Hochberg, e na sua ausência ao
teste post hoc Games-Howell, ambos com a correção de Bonferroni (p / n.º
de comparações par-a-par). Também foram analisadas as pontuações médias da FAB
nos subgrupos, consoante as categorias de idade e de escolaridade dos
participantes.
Para a análise dos itens, observaram-se as distribuições de cada
pontuação nos itens dos dois subgrupos, através da frequência dos itens e do
Qui-Quadrado de Mantel-Haenszel (associação linear-por-linear).
Para a análise da precisão diagnóstica da FAB foram calculadas a curva
ROC (Receiver-Operating Characteristics) com área sob a curva (Area
Under Curve, AUC), a sensibilidade (a probabilidade de indivíduos com AVC
terem um teste positivo) e a especificidade (a probabilidade de indivíduos
S/AVC terem um teste negativo), o ponto de corte otimal (valor de que otimiza a
combinação da sensibilidade e especificidade através do índice J de
Youden) (Youden,
1950).
Para a análise das propriedades psicométricas, determinou-se a
consistência interna através do alfa de Cronbach. Recorreu-se à análise correlacional
com os testes utilizados no estudo para a validade convergente. Para verificar
se os coeficientes de correlação obtidos em cada subgrupo eram diferentes de
forma estatisticamente significativa, converteram-se primeiro os valores de r
em z e depois foi testado se o valor z observado (zobs) se
situava na região crítica ]-1,96 a 1,96[ de acordo com o procedimento descrito
por Pallant (2011,
pp. 139-141).
Identificaram-se ainda os fatores principais da FAB em cada subgrupo
através de uma análise fatorial. A estrutura relacional da FAB foi avaliada,
inicialmente, pela Análise Fatorial Exploratória (AFE) sobre a matriz das
correlações, com extração dos fatores pelo método das componentes principais
(ACP) seguida de uma rotação Varimax com normalização de Kaiser. Os
fatores comuns retidos foram aqueles que apresentavam um eigenvalue
superior a 1, em consonância com o gráfico de sedimentação e a percentagem de
variância retida (Marôco, 2014). Para avaliar a AFE utilizou-se o critério
Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) com os critérios de classificação definidos em
Pestana & Gageiro (2014). A análise paralela foi efetuada através do
PCA Monte Carlo (Watkins, 2000), para além, de uma Análise Fatorial
Confirmatória (AFC) através do programa estatístico AMOS (Arbuckle, 2014a; 2014b).
Características sociodemográficas e clínicas da
amostra
Nos subgrupos (Tabela 1),
a maioria dos sujeitos encontrava-se institucionalizada (AVC: n = 102;
91,1%; S/ AVC: n = 103; 65,6%), era do sexo feminino (AVC: n = 83;
74,1%; S/ AVC: n = 111; 70,7%), frequentara o ensino primário (AVC: n
= 60; 53,6%; S/ AVC: n = 100; 63,7%), exercera uma profissão manual
(AVC: n = 97; 86,6%; S/ AVC: n = 126; 80,3%) e residia numa zona
rural (AVC: n = 81; 72,3%; S/ AVC: n = 82; 52,2%). Não se
verificou associação entre a maioria destas variáveis e ter ou não AVC (p
> 0,05), à exceção de uma associação estatisticamente significativa entre a
tipologia de áreas urbanas e o diagnóstico, com os idosos S/AVC a residir
maioritariamente em meio urbano e misto. Na variável idade por categorias, uma
vez que se verificou um número de células com contagem esperada superior a 5,
recorreu-se à sua recodificação em duas categorias com base na mediana (Md
= 80 anos), não se observando associação desta com o diagnóstico (χ2 =
0,31; p > 0,05). Tendo acontecido o mesmo com a variável
escolaridade, realizou-se a recodificação da em duas categorias (Sem
escolaridade e Com escolaridade) verificando-se associação
estatisticamente significativa com o diagnóstico (χ2 =
4,09; p < 0,05), havendo ligeiramente mais idosos com AVC com
baixa/nenhuma escolaridade e mais idosos com algum tipo de escolaridade sem
AVC.
|
Caracterização
Sociodemográfica de Idosos com AVC (n = 112) e Idosos sem AVC (n =157) |
|
|||||||
|
|
|
AVC |
|
S/ AVC |
χ²,b/t |
|
||
|
n |
% |
|
n |
% |
|
|||
|
Institucionalização |
Sim |
102 |
91,1 |
|
103 |
65,6 |
22,00*** |
|
|
Não |
10 |
8,9 |
|
54 |
34,4 |
|
||
|
Sexo |
Masculino |
29 |
25,9 |
|
46 |
29,3 |
0,23NS |
|
|
Feminino |
83 |
74,1 |
|
111 |
70,7 |
|
||
|
Idade |
60-70 |
18 |
16,1 |
|
28 |
17,8 |
0,14NS |
|
|
71-80 |
42 |
37,5 |
|
58 |
36,9 |
|
||
|
81-90 |
50 |
44,6 |
|
69 |
43,9 |
|
||
|
91-100 |
2 |
1,8 |
|
2 |
1,3 |
|
||
|
M ± DP |
78,55 ± 7,59 |
|
77,96 ± 7,57 |
0,64NS |
|
|||
|
Escolaridade |
Analfabetos |
39 |
34,8 |
|
37 |
23,6 |
2,33NS |
|
|
Primária |
60 |
53,6 |
|
100 |
63,7 |
|
||
|
Preparatória |
6 |
5,4 |
|
6 |
3,8 |
|
||
|
Secundária |
7 |
6,3 |
|
14 |
8,9 |
|
||
|
M ± DP |
3,38 ± 2,97 |
|
3,94 ± 3,07 |
0,64NS |
|
|||
|
Profissão |
Manual |
97 |
86,6 |
|
126 |
80,3 |
1,44NS |
|
|
Intelectual |
15 |
13,4 |
|
31 |
19,7 |
|
||
|
Tipologia de áreas
urbanas |
Urbano |
31 |
27,7 |
|
71 |
45,2 |
9,88** |
|
|
Misto |
— |
— |
|
4 |
2,5 |
|
||
|
Rural |
81 |
72,3 |
|
82 |
52,2 |
|
||
|
Nota. M = média; DP =
desvio-padrão; χ² = Qui-Quadrado da independência; t = teste t de Student
para amostras independentes; NS = Não Significativo; * p < 0,05; ** p
< 0,01; *** p < 0,001. |
|
Em termos clínicos, é de referir que investigações
prévias mostraram que a presença de alguns problemas físicos se associa ao
défice executivo (Alvarenga, Pereira, & Anjos,
2010; Manschot et al., 2006; Raz,
Rodrigue, & Acker, 2004; Saxby,
Harrington, McKeith, Wesnes, & Ford, 2003). Assim, entre idosos
com AVC, 100% tinha hipertensão arterial e 0,9% diabetes (os restantes idosos e
os seus processos não indicaram a presença de outras doenças). No subgrupo
S/AVC, 26,1% tinha hipertensão arterial e 5,1% diabetes, sem registo de outras
doenças para os restantes idosos. Verificou-se associação entre os diagnósticos
de hipertensão e de AVC (χ² = 34,51; p < 0,001) e
houve tendência para associação entre o diagnóstico de diabetes e o diagnóstico
de AVC (χ² = 3,57; p = 0,059). Os sintomas depressivos
tendem também a associar-se a défice no funcionamento executivo em pessoas
idosas (Philippot & Agrigoroaei, 2016; Vu & Aizenstein, 2013), incluindo em pessoas que sofreram
de AVC (Terroni et al., 2012), tendo sido por isso
testadas as diferenças entre as frequências destes sintomas entre os dois
subgrupos. Ainda, foram apurados sintomas de depressão através do Geriatric
Depression Scale (Yesavage et al., 1983)
em 16,1% dos idosos com AVC e 19,1% dos idosos S/AVC, não se verificando
associação entre as duas condições clínicas (χ² = 0,41; p = 0,521).
Finalmente, acrescente-se que seis idosos do
subgrupo com AVC e três S/AVC se recusaram a ser avaliados com o MoCA.
Análises preliminares
Descritivas. A média das pontuações totais na
FAB foi de 8,90 (DP = 4,40) para o subgrupo com AVC e de 11,11 (DP
= 4,33) para os idosos S/AVC com uma diferença estatisticamente significativa [t(267)
= 4,10; p < 0,001; d = 0,51 (efeito médio)].
Visto que a distribuição não foi normal para
vários testes [(AVC: Stroop, FCR-O – tipo, MMSE, MoCA - Executivo (Ku
entre 3,29 e 17,17; Si entre 4,95 e 8,96; KS entre 0,12 e
0,46; p < 0,05); S/ AVC: FCR-O – tipo, MoCA- Executivo (Ku entre
6,44 e 6,90; Si entre 3,39 e 4,95; KS entre 0,12 e 0,36; p
< 0,05)], recorreu-se ao procedimento de transformação para a normalidade
recomendado por Templeton (2011). Os restantes
testes tiveram distribuição normal (AVC: FCR – Cópia: Ku = 1,86; Si
= 1,19; apesar de KS = 0,12; p < 0,05; MoCA: Ku = 0,67;
Si = 0,37; KS = 0,09; p > 0,05; Alternância verbal: Ku
= 1,48; Si = 2,52; KS = 0,10; p > 0,05; S/ AVC: Stroop:
Ku = 1,05; Si = 2,33; KS = 0,12; p < 0,05; FCR –
Cópia: Ku = 1,62; Si = 1,73; KS = 0,12; p <
0,05; MoCA: Ku = 0,93; Si = 1,36; KS = 0,14; p <
0,01; MMSE: Ku = 0,17; Si = 2,71; KS = 0,14; p <
0,051; Alternância verbal: Ku = 0,50; Si = 0,85; KS =
0,06; p > 0,05). Após o procedimento de transformação, recorreu-se a
análises estatísticas paramétricas.
Poder estatístico. Dado o tamanho dos subgrupos (AVC: n
= 112; S/ AVC: n = 157) e para um erro de probabilidade alfa de 0,05,
todos os testes estatísticos obtiveram poder estatístico adequado: 0,98 para o
teste t de amostras independentes; entre 0,96 (três grupos) e 0,94
(quatro grupos) para a ANOVA de um fator; 0,84 para a ANOVA de dois fatores;
0,76 para o qui-quadrado; 0,99 para um alfa de Cronbach esperado de 0,78 (Dubois et al.,
2000); 0,90 para as correlações de Pearson e um poder de
0,77 (Bonett, 2002; Buchner,
Erdfelder, Faul, & Lang, 2014; Chang, 2013;
Faul, Erdfelder, Lang, & Buchner, 2007).
Influência e interação das variáveis sociodemográficas
Observa-se, através da Tabela 2,
as diferenças obtidas nas pontuações da FAB nos subgrupos consoante as
variáveis sociodemográficas, através do teste t de Student de amostras
independentes ou análises de variância (ANOVA). Nesta análise, em ambos os
subgrupos, há a destacar a ausência de influência do sexo (p > 0,05; d
< 0,5); a influência da idade (p < 0,05), mas com efeito moderado
(η2
< 0,14); a influência da escolaridade (p < 0,01), com efeito
grande no AVC (η2 =
0,21) e moderado no S/AVC (η2 =
0,10). A registar ainda a influência da profissão (p < 0,05), com
tamanho do efeito médio no subgrupo AVC (d = 0,65) e grande no S/AVC (d
= 0,83), tendo os idosos com uma profissão intelectual pontuações mais elevadas
em comparação com os idosos com uma profissão manual, em ambos os subgrupos.
Finalmente, verifica-se ainda que no subgrupo S/AVC e relativamente à tipologia
de áreas urbanas, existiam diferenças estatisticamente significativas [F(2,
154) = 12,77; p < 0,001], com um efeito grande (η2 =
0,14), tendo os idosos S/AVC e residentes numa área urbana pontuações totais
superiores na FAB.
|
Diferenças nas Pontuações da Bateria de Avaliação Frontal entre os Grupos Definidos
pelas Variáveis Sociodemográficas em Idosos com AVC (n = 112) e Idosos sem AVC
(n =157) |
|
|||||||||
|
|
|
n |
M ± DP |
IC 95% |
Amplitude |
|
||||
|
|
|
LI - LS |
Min - Máx |
|
||||||
|
AVC |
S/ AVC |
AVC |
S/ AVC |
AVC |
S/ AVC |
AVC |
S/ AVC |
|
||
|
Sexo AVC: t(110)
= 0,63; p > 0,05; d
= 0,13 S/ AVC : t(155)
= 1,91; p > 0,05; d = 0,34 |
Masculino |
29 |
46 |
9,34 ± 0,87 |
13,13 ± 0,62 |
9,34 ± 0,87 |
9,34 ± 0,87 |
0 - 18 |
4 -18 |
|
|
Feminino |
83 |
111 |
8,75 ± 0,47 |
10,69 ± 0,41 |
8,75 ± 0,47 |
8,75 ± 0,47 |
0 – 18 |
3 – 18 |
|
|
|
Idade AVC: F(3,
108) = 3,62; p < 0,05; η2 = 0,09 S/ AVC : F(3,
153) = 6,20; p < 0,01; η2 = 0,11 |
60 - 70 |
18 |
28 |
10,39 ± 1,26 |
13,29 ± 0,79 |
7,74 – 13,04 |
11,67 – 14,90 |
0 - 18 |
6 - 18 |
|
|
71 - 80 |
42 |
58 |
9,95 ± 0,66 |
11,86 ± 0,56 |
8,61 – 11,29 |
10,74 – 12,99 |
3 -18 |
3 - 18 |
|
|
|
81 - 90 |
50 |
69 |
7,64 ± 0,54 |
9,64 ± 0,48 |
6,56 – 8,72 |
8,68 – 10,60 |
0 - 17 |
3 - 18 |
|
|
|
91 - 100 |
2 |
2 |
5,00 ± 1,00 |
10,00 ± 3,00 |
-7,71 – 17,71 |
-28,12 –
48,12 |
4 – 6 |
7 - 13 |
|
|
|
Escolaridade AVC: F(3,
108) = 9,52; p < 0,001;
η2 = 0,21 S/ AVC : F(3,
153) = 5,82; p < 0,01; η2 = 0,10 |
Analfabetos |
39 |
37 |
6,72 ± 0,63 |
8,97 ± 0,64 |
5,45 – 7,99 |
7,67 – 10,27 |
0 - 13 |
4 - 18 |
|
|
Primária |
60 |
100 |
9,77 ± 0,49 |
11,42 ± 0,39 |
8,78 – 10,75 |
10,64 – 12,20 |
1 - 18 |
13 - 18 |
|
|
|
Preparatória |
6 |
6 |
8,00 ± 2,21 |
13,00 ± 2,42 |
2,33 – 13,67 |
6,77 – 19,23 |
0 - 16 |
3 - 18 |
|
|
|
Secundária |
7 |
14 |
14,43 ± 1,65 |
13,79 ± 1,45 |
10,40 – 18,45 |
10,65 – 16,93 |
7 - 18 |
3 - 18 |
|
|
|
Profissão AVC: t(110)
= 2,35; p < 0,05; d
= 0,65 S/ AVC : t(155)
= 4,15; p < 0,001; d
= 0,83 |
Manual |
97 |
126 |
8,53 ± 0,43 |
10,44 ± 0,37 |
7,67 – 9,38 |
9,71 – 11,17 |
0 - 18 |
3 - 18 |
|
|
Intelectual |
15 |
31 |
11,33 ± 1,21 |
13,87 ± 0,73 |
8,75 – 13,92 |
12,38 – 15,36 |
0 - 18 |
3 - 18 |
|
|
|
Tipologia de áreas urbanas AVC: F(1,
42) = 1,92; p > 0,05; η2 = 0,02 S/ AVC: F(2,
154) = 12,77; p < 0,001; η2 = 0,14 |
Urbana |
31 |
71 |
9,97 ± 0,97 |
12,72 ± 0,46 |
7,98 – 11,95 |
11,81 – 13,63 |
0 - 18 |
4 - 18 |
|
|
Mista |
— |
4 |
— ± — |
14,25 ± 1,93 |
— ± — |
8,10 – 20,40 |
— - — |
10 - 18 |
|
|
|
Rural |
81 |
82 |
8,49 ± 0,44 |
9,57 ± 0,47 |
7,63 – 9,36 |
8,65 – 10,50 |
0 - 18 |
3 - 18 |
|
|
|
Nota. M = média; DP = desvio-padrão; IC 95% = Intervalo de confiança a
95%; LI = limite inferior; LS = limite superior; Min =
mínimo; Máx = máximo; F = ANOVA; t
= teste t de Student para amostras independentes; p = nível de
significância estatística; g = g de Hedges; d = d de Cohen; η2 = eta quadrado (soma dos quadrados entre grupos / soma
total dos quadrados). |
|
Comparações a posteriori entre pares de médias, realizadas
recorrendo ao teste de post hoc Games-Howell com a correção de
Bonferroni, revelaram que em relação aos idosos S/AVC, a faixa etária dos 60
aos 70 anos (M = 13,29; DP = 4,16) obteve pontuações significativamente
mais elevadas na FAB do que nas faixas etárias dos 81 aos 90 anos (M =
9,64; DP = 3,99). A magnitude da diferença foi grande (d de Cohen
= 0,90). Relativamente ao subgrupo com AVC, não se verificaram diferenças
estatisticamente significativas entre as faixas etárias (p > 0,05).
Comparações a posteriori entre pares de médias, realizadas
recorrendo ao teste de post hoc Games-Howell com a correção de
Bonferroni e relativamente aos idosos S/AVC, revelaram que as pontuações dos
sujeitos analfabetos (M = 8,97; DP = 0,64) diferiram
significativamente dos sujeitos com ensino secundário (M = 13,79; DP
= 1,45). A magnitude da diferença encontrada foi grande (d de Cohen =
1,11). Quanto aos idosos com AVC, observaram-se diferenças estatisticamente
significativas entre sujeitos com ensino primário (M = 9,77; DP =
0,49) e os sujeitos analfabetos (M = 6,72; DP = 0,63), sendo a
magnitude do efeito considerada média (d de Cohen = 0,79). Ainda,
verificaram-se diferenças estatisticamente significativas entre os sujeitos com
ensino secundário (M = 14,43; DP = 1,65) e os sujeitos
analfabetos (M = 6,72; DP = 0,63). O tamanho efeito verificado
foi muito grande (d de Cohen = 1,94).
Pretendeu-se observar, através da ANOVA de dois fatores, os possíveis
efeitos da interação entre o nível de escolaridade e a idade (faixas etárias)
sobre as pontuações da FAB nos subgrupos. As médias e desvios-padrão por nível
de escolaridade e idade são apresentadas na Tabela 3 dividida pelos
dois subgrupos.
|
Médias e Desvios-padrão
da Pontuação Total da Bateria de Avaliação Frontal por Nível de Escolaridade
e Idade num subgrupo com AVC (n = 112) e sem AVC (n
= 157) |
|
||||
|
Nível de escolaridade |
Idade por
faixas etárias |
|
|||
|
60-70 |
71-80 |
81-90 |
91-100 |
|
|
|
|
AVC |
|
|||
|
Analfabetos |
5,25 (6,40) |
7,31 (4,03) |
6,80 (3,58) |
5,00 (1,41) |
|
|
Primária |
11,09 (3,99) |
10,30 (3,62) |
8,73 (3,78) |
— (—) |
|
|
Preparatória |
16,00 (—) |
10,00 (1,41) |
4,00 (3,46) |
— (—) |
|
|
Secundária |
14,00 (5,66) |
16,50 (1,73) |
7,00 (—) |
— (—) |
|
|
|
S/AVC |
|
|||
|
Analfabetos |
12,00 (8,49) |
8,67 (4,21) |
8,76 (3,46) |
10,00 (4,24) |
|
|
Primária |
12,11 (3,89) |
12,71 (3,40) |
9,98 (3,97) |
— (—) |
|
|
Preparatória |
17,50 (0,71) |
14,00 (5,66) |
7,50 (6,36) |
— (—) |
|
|
Secundária |
16,60 (0,89) |
12,17 (6,80) |
12,33 (6,66) |
— (—) |
|
|
|
|
Quanto ao subgrupo com AVC, o efeito da interação entre o nível de
escolaridade e faixas etárias sobre as pontuações da FAB não foi
estatisticamente significativo [F(6, 99) = 2,03; p > 0,05].
Neste subgrupo, verificou-se que idosos com idade entre os 60 e os 70 anos e
com o ensino secundário apresentaram a média mais elevada na pontuação total da
FAB (M = 14,00; DP = 5,66) e idosos com idades entre os 81 e os
90 anos com o ensino preparatório apresentaram a média mais baixa na pontuação
total do instrumento (M = 4,00; DP = 3,46).
Por fim e relativamente ao subgrupo S/AVC, o efeito da interação
entre o nível de escolaridade e a idade sobre as pontuações da FAB não foi
estatisticamente significativo [F(6, 144) = 1,60; p > 0,05].
Neste subgrupo, idosos com idades entre os 60 e os 70 anos com o ensino
preparatório revelaram a média mais elevada na pontuação total (M =
17,50; DP = 0,71) e idosos com idades entre os 81 e os 90 anos que
frequentaram a preparatória apresentaram a média mais baixa do subgrupo (M
= 7,50; DP = 6,36).
Análise
dos itens
Na Tabela
4 encontram-se as frequências de cada pontuação nos itens
constituintes da FAB. Através desta análise descritiva, constata-se que o item
com frequência superior de pontuações baixas em idosos com AVC é o item Fluência
lexical (40,2%) e o item com frequência superior de pontuações mais
elevadas é o item Comportamento de preensão (82,1%). Através da análise
do qui-quadrado de Mantel-Haenszel, observou-se que os itens da FAB se associam
de forma estatisticamente significativa com o diagnóstico. Nos itens Semelhanças
(MH = 7,75; p < 0,01) e Fluência lexical (MH =
9,28; p < 0,01), os idosos com AVC obtiveram pontuações mais baixas
comparativamente aos idosos S/AVC.
|
Distribuição
das Frequências das Pontuações das Provas da FAB em Idosos com AVC (n = 112) e Idosos sem AVC (n = 157) |
|
||||||||||||
|
P |
Itens da FAB |
|
|||||||||||
|
Semelhanças |
Fluência Lexical |
Séries Motoras |
Instruções Antagónicas |
Go- No-Go |
Comportamento Preensão |
|
|||||||
|
AVC |
S/ AVC |
AVC |
S/ AVC |
AVC |
S/ AVC |
AVC |
S/ AVC |
AVC |
S/ AVC |
AVC |
S/ AVC |
|
|
|
0 |
44 (39,0) |
43 (27,4) |
45 (40,2) |
41 (26,1) |
21 (18,8) |
13 (8,3) |
38 (33,9) |
38 (24,2) |
32 (28,6) |
31 (19,7) |
6 (5,4) |
1 (0,6) |
|
|
1 |
26 (23,2) |
30 (19,1) |
29 (25,9) |
40 (25,5) |
50 (44,6) |
50 (31,8) |
24 (21,4) |
27 (17,2) |
38 (33,9) |
47 (29,9) |
6 (5,4) |
1 (0,6) |
|
|
2 |
19 (17,0) |
30 (19,1) |
27 (24,1) |
41 (26,1) |
11 (9,8) |
30 (19,1) |
30 (26,8) |
36 (22,9) |
20 (17,9) |
36 (22,9) |
8 (7,1) |
17 (10,8) |
|
|
3 |
23 (20,5) |
54 (34,4) |
11 (9,8) |
35 (22,3) |
30 (26,8) |
64 (40,8) |
20 (17,9) |
56 (35,7) |
22 (19,6) |
43 (27,4) |
92 (82,1) |
138 (87,9) |
|
|
Nota. P =
Pontuação. Os números entre parênteses são percentagens. |
|
A mesma tendência manteve-se nos itens Séries motoras (MH
= 12,88; p < 0,001), Instruções antagónicas (MH = 8,13;
p < 0,01), Go-No-Go (MH = 4,69; p < 0,05) e Comportamento
de preensão (MH = 6,77; p < 0,01), ou seja, os idosos
S/AVC tiveram pontuações mais elevadas. No entanto, é de sublinhar que nos
itens Semelhanças, Instruções antagónicas e Go-No-Go
verificou-se uma frequência equiparável entre os subgrupos nas pontuações mais
baixas.
Precisão
Diagnóstica
A FAB discriminou fracamente idosos com AVC de idosos S/AVC (AUC
= 0,64). O ponto de corte de discriminação situou-se nos 7 pontos (sensibilidade
= 83,4%; especificidade = 66,1 %). Assim, com este ponto de corte, entre os
idosos com AVC, 33,9% apresentam défice executivo e 66,1% não apresentam
défice. No subgrupo de controlo, 16,6% apresenta e 83,4% não apresenta défice
executivo.
As médias nas medidas cognitivas de referência para cada subgrupo
foram: no MMSE de 21,46 (DP = 6,60) para o subgrupo AVC e de 24,25 (DP
= 4,16) para o subgrupo S/AVC [t(267) = 4,24; p < 0,001; d
= 0,52 (efeito médio)]; no MoCA de 14,24 (DP = 6,02) no subgrupo AVC e
de 17,77 (DP = 7,52) no subgrupo S/AVC [t(224) = 3,70; p
< 0,001; d = 0,51 (efeito médio)]. Note-se que se considerarmos o
ponto de corte do MoCA de 26 pontos de Duro et al. (2010),
somente 5,8% (n = 9) dos idosos do subgrupo S/AVC se apresentam sem
défice cognitivo ligeiro.
Propriedades
Psicométricas
Confiabilidade.
No presente estudo, no subgrupo com AVC, o alfa de Cronbach obtido revelou-se
bom tendo em conta o número reduzido de itens e o número de categorias nos itens
(α
de Cronbach = 0,79) (Pallant, 2011; Peterson, 1994).
Relativamente ao subgrupo S/AVC, obteve-se um alfa de Cronbach de 0,78,
considerado este um valor bom novamente devido ao número reduzido de itens.
As médias, desvios-padrão e correlações item-total de cada item da
FAB para cada subgrupo são apresentadas na Tabela 5. Verifica-se que
todos os itens mostraram correlações item-total superiores a 0,30, exceto o
item Comportamento de preensão o qual apresenta uma correlação
item-total entre 0,15 e 0,25. Embora este item não atinja o critério
previamente estabelecido de correlação item-escala superior a 0,30 (Marôco, 2014),
foi mantido nas análises visto que a sua eliminação não aumentava a
consistência interna da escala e dada a sua importância clínica.
|
Médias,
Desvios-padrão, Correlações Corrigidas Item-total e Alfas de Cronbach Quando Eliminado
o Item para Idosos com AVC (n = 112) e para Idosos sem AVC (n = 157) |
|
||||||
|
Itens |
M (DP) |
Item-total r |
Alfa de Cronbach se o item
for excluído |
|
|||
|
AVC |
S/ AVC |
AVC |
S/ AVC |
AVC |
S/ AVC |
|
|
|
Semelhanças |
1,19
(1,17) |
1,61
(1,22) |
0,44 |
0,53 |
0,78 |
0,75 |
|
|
Fluência lexical |
1,04
(1,02) |
1,45
(1,11) |
0,59 |
0,61 |
0,74 |
0,73 |
|
|
Séries motoras |
1,45
(1,08) |
1,92
(1,03) |
0,58 |
0,55 |
0,74 |
0,74 |
|
|
Instruções antagónicas |
1,29
(1,12) |
1,70
(1,19) |
0,66 |
0,67 |
0,72 |
0,71 |
|
|
Go-No-Go |
1,29
(1,09) |
1,58
(1,09) |
0,71 |
0,63 |
0,71 |
0,72 |
|
|
Comportamento preensão |
2,66
(0,81) |
2,86
(0,42) |
0,25 |
0,15 |
0,81 |
0,81 |
|
|
Nota. M = Média; DP
= Desvio-padrão; r = correlação. |
|
Validade convergente. Previamente
há que registar que o componente Atencional-Executivo do MOCA apresentou um alfa
de Cronbach de 0,72 no subgrupo AVC. No entanto, a confiabilidade no subgrupo
S/AVC foi muito baixa (α de Cronbach = 0,45). A análise das
estatísticas item-total revelou que o alfa de Cronbach subiria bastante se o
item Desenho do relógio fosse excluído neste subgrupo, pelo que o total
MoCA - Atencional-Executivo irá incluir somente 6 subtestes (α
de Cronbach = 0,70).
A análise correlacional, como se pode observar na Tabela 6,
mostra que, no subgrupo com AVC, a FAB se relaciona de forma elevada com todas
as provas de funcionamento executivo (Stroop, FCR-cópia e tipo e fator
Atencional-Executivo do MoCA). As correlações da FAB com as provas de
funcionamento cognitivo foram igualmente elevadas.
No subgrupo S/AVC, as correlações descem, sendo a descida
significativa para as correlações entre a FAB e FCR-cópia e tipo, MMSE e
Alternância verbal (Zobs > 1,96).
|
Correlações entre a
Bateria de Avaliação Frontal (FAB), Stroop, Figura Complexa de Rey-Osterrieth
Cópia e Tipo, Montreal Cognitive Assessment (MoCA) e seu Fator
Atencional-Executivo, Mini-Mental State Examination (MMSE) e Alternância
verbal em Idosos com AVC (n = 112) e Idosos sem AVC (n = 157) |
|
||||||||
|
|
Com AVC |
|
|||||||
|
|
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
8 |
|
|
1. FAB |
— |
0,55*** |
0,67*** |
- 0,51*** |
0,74*** |
0,73*** |
0,75*** |
0,66*** |
|
|
2. Stroop |
|
— |
0,51*** |
-0,53*** |
0,51*** |
0,16 |
0,53*** |
0,46*** |
|
|
3. FCR-O-C |
|
|
— |
-0,66*** |
0,67*** |
0,36** |
0,61*** |
0,60*** |
|
|
4. FCR-O-T |
|
|
|
— |
-0,41*** |
-0,16 |
-0,43*** |
-0,58*** |
|
|
5. MoCA |
|
|
|
|
— |
0,41*** |
0,80*** |
0,56*** |
|
|
6. MoCA - A |
|
|
|
|
|
— |
0,41*** |
0,23* |
|
|
7. MMSE |
|
|
|
|
|
|
— |
0,60*** |
|
|
8. AV |
|
|
|
|
|
|
|
— |
|
|
|
Sem AVC |
|
|||||||
|
1. FAB |
— |
0,39*** |
0,45*** |
- 0,23* |
0,67*** |
0,64*** |
0,59*** |
0,44*** |
|
|
2. Stroop |
|
— |
0,44*** |
-0,17 |
0,63*** |
0,37*** |
0,56*** |
0,24* |
|
|
3. FCR-O-C |
|
|
— |
-0,57*** |
0,52*** |
0,36*** |
0,44*** |
0,30** |
|
|
4. FCR-O-T |
|
|
|
— |
-0,26** |
-0,27** |
-0,15 |
-0,17 |
|
|
5. MoCA |
|
|
|
|
— |
0,55*** |
0,82*** |
0,44*** |
|
|
6. MoCA-A |
|
|
|
|
|
— |
0,40*** |
0,12 |
|
|
7. MMSE |
|
|
|
|
|
|
— |
0,39*** |
|
|
8. AV |
|
|
|
|
|
|
|
— |
|
|
Nota. *p < 0,05; **p
< 0,01; ***p < 0,001. FCR-O-C = Figura de
Rey-Osterrieth - Cópia; FCR-O-T = Figura de Rey-Osterrieth - Tipo; MOCA-A = Montreal Cognitive Assessment –
Atencional Executivo; AV = Alternância verbal. |
|
Análise Fatorial. Em ambos os subgrupos, os resultados
mostraram uma adequação da matriz [AVC: KMO = 0,79; teste de
esfericidade de Bartlett χ2(15)
= 203,21; p < 0,001; S/AVC: KMO = 0,79; Bartlett χ2(15) = 253,05; p <
0,001], concluindo que as variáveis estavam correlacionadas significativamente,
pelo que se procedeu ao método de componentes principais (ACP). Na AFE, de
acordo com a regra do eigenvalue superior a 1 e de acordo com os
gráficos de sedimentação (Figura 1) que
evidenciam uma inflexão nítida após o primeiro componente, a
estrutura relacional da FAB ficou explicada por um único fator latente em ambos
os subgrupos.
Figura 1. Gráfico de Sedimentação da Bateria de Avaliação
Frontal Apontando para a Retenção de Um Fator Latente em Ambos os Subgrupos.
Na Tabela
7 apresenta-se a saturação fatorial de item a item, após rotação Varimax,
bem como as comunalidades e percentagens de variâncias totais para cada um dos
fatores em ambos os subgrupos. A AFE realizada sugeriu que a solução de um
fator era responsável por cerca de 49,6% da variância dos resultados no
subgrupo AVC e 48,1% no subgrupo S/AVC (o Fator 1 era constituído pelos 6 itens
da FAB). A variância total explicada de 49,6% é aceitável (Marôco, 2014),
tendo em conta o valor mínimo aceitável do critério (50%). A variância total
explicada no subgrupo S/AVC sobe para 57,0% ao remover o item Comportamento
de preensão cuja saturação fatorial se situava abaixo do valor crítico de
0,45 (Pearson
& Hall, 1993).
|
Análise
de Componentes Principais para os Subgrupos de Idosos com AVC (n
= 112) e Idosos sem AVC (n = 157) |
|
||||
Item |
Com AVC |
Sem AVC |
||||
Componente 1 |
h2 |
Componente 1 |
h2 |
|||
Semelhanças |
0,60 |
0,36 |
0,66 |
0,5 |
||
Fluência
lexical |
0,76 |
0,57 |
0,75 |
0,57 |
||
Séries
motoras |
0,73 |
0,54 |
0,74 |
0,56 |
||
Instruções
Antagónicas |
0,81 |
0,66 |
0,8 |
0,66 |
||
Go-No-Go |
0,85 |
0,72 |
0,8 |
0,64 |
||
Comportamento
de preensão |
0,36 |
0,13 |
0,05 |
0,96 |
||
% de
variância |
49,6 |
48,1 |
||||
Eigenvalues |
2,97 |
2,89 |
||||
Nota. h2 = comunalidades. |
As análises paralelas de Monte Carlo (Watkins, 2000)
confirmaram que somente um fator teve eigenvalues superiores ao valor de
critério correspondente para uma matriz de dados gerada aleatoriamente com a
mesma dimensão (AVC: 6 variáveis x 112 sujeitos; S/ AVC: 6
variáveis x 157 sujeitos).
No subgrupo AVC, a AFC para um fator (Figura 2)
mostrou que o modelo era preciso [χ2(9)
= 14,32; p = 0,112], observando-se um valor de RMSEA de 0,07 (IC
90%: 0,00 - 0,14). Associado ao TLI de 0,95 e ao CFI de 0,97,
estes valores confirmaram a boa precisão do modelo para um fator (Marôco, 2014).
No subgrupo S/AVC, o modelo foi também preciso [χ2(9) = 20,69; p =
0,014; RMSEA = 0,09 (IC 90%: 0,040 - 0,14); TLI = 0,92; CFI =
0,95].
Figura 2. Análise fatorial confirmatória para modelo com
um fator da bateria de avaliação frontal em idosos com AVC e sem AVC (𝛌i = coeficientes padronizados de regressão por item; ei =
variâncias de cada item; 𝛔 = variância do fator).
A presente investigação teve como objetivo estudar o
comportamento da FAB, em diferentes dimensões e em função de uma amostra de
idosos com diagnóstico de AVC.
No que respeita às pontuações totais da FAB,
verifica-se que as médias apresentadas nesta investigação com idosos com AVC (M
= 8,90; DP = 4,40) e S/AVC (M = 11,11; DP = 4,33) são
inferiores às de outros estudos, tais como o de Chong et al. (2010)
(amostra com défice cognitivo precoce: M = 9,74; DP = 3,50) e o
estudo apresentado por Appollonio et al. (2005)
com uma amostra da comunidade (M = 16,10; DP = 1,80). Estas
discrepâncias, no entanto, podem ser explicadas quer pela natureza das
amostras, quer pelas diferenças entre as características sociodemográficas dos
subgrupos do presente estudo e as dos estudos anteriormente citados. Neste
contexto, verifica-se uma diferenciação das amostras no que respeita às
variáveis idade e escolaridade. Os subgrupos do presente estudo contam com um
intervalo de amplitude menor (excluindo indivíduos com idades inferiores aos 60
anos) em comparação com os referidos estudos, bem como, um nível inferior de
escolaridade. No entanto, quanto a pontuação total da amostra de idosos com
AVC, existem similitudes com o estudo apresentado por Mok et al. na sua amostra
clínica (2004) (M = 8,90; DP = 3,70), sendo
que, ainda assim, deverão ser salvaguardadas as diferenças culturais existentes
e a natureza das amostras.
Quanto à comparação entre as médias da FAB entre os
dois subgrupos, o tamanho do efeito foi médio (d = 0,51), o qual foi
muito inferior quando comparado com o computado (folha de cálculo de Espirito-Santo & Daniel, 2015) no estudo de
Chong et al. (2010; d = 2,23). Considerando que a
FAB se correlaciona com a escolaridade (Appollonio et al., 2005),
as características sociodemográficas do estudo de Chong et al. (2010)
explicarão também esta discrepância, pois a sua amostra da comunidade tinha uma
escolaridade média de 9,6 anos (DP = 4,4) e a amostra com défice cognitivo
precoce tinha uma escolaridade média de 6,6 anos (DP = 4,6). Ora, os
subgrupos do presente estudo têm ambos uma escolaridade média muito mais baixa,
sem apresentar diferenças significativas.
Foi ainda objetivada a análise das pontuações
obtidas na FAB, em função das variáveis sociodemográficas. Assim, ao serem
analisados os resultados obtidos, é possível concluir que as variáveis idade e
escolaridade parecem interferir nas pontuações obtidas em doentes com AVC, não
se verificando o mesmo para a variável sexo. Será interessante observar estes
resultados em duas visões distintas. Ao ser analisado o efeito das variáveis
sociodemográficas na FAB, verifica-se que o impacto das variáveis idade e
escolaridade é corroborado por estudos anteriores (Beato et
al., 2012; Benke et al., 2013), bem
como a não-interferência da variável sexo (Beato et
al., 2012). No entanto, a ausência da influência do sexo sobre as
pontuações da FAB deve ser lida à luz das evidências que indicam que o AVC é
uma patologia com maior incidência no sexo masculino (Feigin et al., 2003; Howard
& Grau, 2014; Lavados et al., 2007; Tang et
al., 2014). Assim, a ausência de
efeito pode dever-se a características amostrais relacionadas com o perfil das
pessoas institucionalizadas.
Será ainda pertinente refletir em torno dos
resultados obtidos à luz da literatura relativa ao AVC, integrando os fatores
de risco mencionados anteriormente. Segundo a revisão realizada, a idade e o
baixo nível de escolaridade são fatores de risco de AVC (Delbari et
al., 2011; Feigin et al.,
2003; Lavados et al., 2007),
podendo ser interessante em estudos futuros compreender esta relação. Na
presente amostra, a tipologia de áreas urbanas e a profissão influenciam também
as pontuações totais da FAB, não existindo conhecimento de estudos similares
que avaliem estas variáveis. Ainda assim, podemos recorrer a constructos
aproximados para compreender este resultado. Por exemplo, sabendo que a
inteligência pode ser considerada como a capacidade de adequação eficaz ao
meio, de aprender com a experiência e de ultrapassar adversidades, recorrendo a
diversas formas de raciocínio (Legg & Hutter, 2007) e visto que o
rendimento per capita se associa à inteligência (Almeida, Lemos & Lynn, 2011), e que a
inteligência se associa ao funcionamento executivo (Basile
& Toplak, 2015), levanta-se a hipótese de que os rendimentos
mais altos encontrados nas áreas urbanas e nas profissões intelectuais
expliquem as diferenças encontradas.
Em relação à precisão diagnóstica da FAB, este foi o
primeiro estudo a efetuar uma análise ROC, mostrando-se que a bateria como um
todo não discrimina bem idosos com AVC de idosos sem AVC. No entanto,
provavelmente, este resultado decorre de o subgrupo de controlo incluir idosos
com patologias (diabetes, hipertensão e sintomas depressivos) que se
acompanham, potencialmente, de algum défice executivo. De facto, alguns estudos
mostram que diabetes (Alvarenga et al., 2010; Manschot
et al., 2006), hipertensão
arterial (Raz et al., 2004; Saxby et
al., 2003) e sintomas depressivos se associam a défice no funcionamento
executivo em pessoas idosas (Philippot & Agrigoroaei, 2016; Vu & Aizenstein, 2013).
De realçar ainda que apesar de os dois subgrupos terem pontuações no MoCA
estatisticamente diferentes, o tamanho do efeito foi médio, e no subgrupo sem
AVC todos tinham défice cognitivo ligeiro de acordo com a pontuação de corte
indicada por Duro et al. (2010). Em estudos futuros, sugere-se que a amostra de
controlo inclua sujeitos que tenham pontuações indicativas de funcionamento
cognitivo normal e que não revelem problemas com impacto no funcionamento
executivo.
Por forma a responder ao último objetivo desta
investigação procedeu-se ao estudo das características psicométricas da FAB.
Através da análise item-a-item desta bateria verifica-se que todos os itens se
associam com o diagnóstico, o que permite uma diferenciação de idosos com AVC
de idosos saudáveis ao nível cognitivo. É ainda importante sublinhar que nos
itens Semelhanças e Fluência Lexical, os idosos com AVC obtiveram de forma mais
frequente pontuações mais baixas, o que poderá ser importante aquando do uso
desta bateria. Estes itens referem-se às funções de conceptualização e de
flexibilidade mental, que tal como foi apresentado na revisão realizada, são
catalogadas como funções executivas. Estes dados podem ainda evidenciar a
possível existência de disfunções executivas em idosos com AVC, sublinhando a
necessidade de estas serem avaliadas e estudadas na referida população.
No decorrer da análise das propriedades
psicométricas, verifica-se a existência de uma boa consistência interna. De
notar que, devido ao número reduzido de itens, um alfa de Cronbach entre 0,79
(idosos com AVC) e 0,78 (idosos sem AVC) revelam-se altos, potenciando o uso da
FAB em populações clínicas e não-clínicas.
Quanto à validade convergente, foi possível
verificar que a FAB se correlaciona significativamente com os testes executivos
(Teste de Stroop, Figura Complexa de Rey-cópia e tipo, Fator Atencional-Executivo
do MOCA e Alternância nos testes de Fluência verbal) e com o MOCA e MMSE em
ambos os subgrupos. No que respeita ao Teste de Stroop, a elevada correlação em
doentes com AVC parece ser importante visto que este teste figura como uma das
ferramentas mais utilizadas na avaliação da disfunção executiva de doentes com
AVC (Conti et al., 2015). Note-se que a correlação é moderada no subgrupo
sem AVC (ainda que a descida não seja significativa). Os resultados obtidos na
Figura Complexa de Rey-cópia indicam também uma correlação com a FAB alta em
idosos com AVC, semelhante à de um estudo anterior com doentes com demência
frontotemporal (Castiglioni et al., 2006),
e moderada em idosos sem AVC. Analisando o MMSE, verifica-se que este se
correlaciona com a FAB, de forma alta, sendo que em diversos estudos a
correlação obtida foi também alta nos estudos com amostras clínicas (AVC: Mok et al., 2004, Parkinsonismo: Lima et al., 2008) e fraca
em amostras de controlo (Appollonio
et al., 2005), ainda que no nosso
subgrupo de controlo tenha sido moderada. Relativamente ao MOCA, a correlação
foi alta, tal como aconteceu no estudo de Varalta et al. (2015)
com doentes com Parkinsonismo. Estes dados suportam assim a adequação da FAB
para avaliar o défice executivo no subgrupo clínica que a presente investigação
se propôs a estudar.
Este é um dos poucos estudos a efetuar a validação
da FAB através de AFC. Os resultados confirmam a validade de constructo da FAB
com um modelo a um fator com índices de ajustamento excelentes no subgrupo com
AVC. Iavarone et al. (2004) confirmaram também
a homogeneidade da estrutura da FAB em idosos com doença de Alzheimer e
demência frontotemporal, mas removendo o item Comportamento de Preensão, cuja
variância foi de zero na sua amostra de controlo. De facto, no nosso subgrupo
sem AVC, sem este item, a variância explicada sobe. À semelhança destes autores
(Iavarone et al., 2004), há que considerar a
hipótese deste item ser mais um sinal neurológico do que um subteste a incluir
numa bateria neuropsicológica.
Será ainda importante refletir em torno das
limitações da presente investigação. No que respeita à amostra, a
não-existência de uma distribuição proporcional nas variáveis sexo e
institucionalização poderá ser considerada uma limitação, impedindo a generalização
dos resultados. A falta de informação precisa acerca do distanciamento
existente entre a ocorrência do acidente vascular cerebral e a avaliação
realizada poderá limitar a leitura dos resultados no que respeita à cronicidade
e ao estádio de recuperação que poderão afetar o desempenho dos participantes
na avaliação (Conti et al., 2015). Estudos relativos à disfunção executiva sublinham
a importância da interferência da medicação (Conti et al., 2015). Neste
contexto a presente investigação não verificou se esta variável pode interferir
nos resultados mais baixos. Dado ainda que um estudo imagiológico sugeriu que a
FAB reflete essencialmente a função de algumas regiões frontais laterais
esquerdas e áreas mediais direitas (Kume et al., 2011),
a ausência de informação relativamente à localização e extensão do AVC pode
impedir a devida interpretação de alguns resultados.
Entretanto, tal como foi referido anteriormente, existe
uma escassez de estudos em torno da disfunção executiva após o AVC (Conti et al., 2015). Ora, este facto poderá figurar neste estudo quer
como uma limitação, dificultando a leitura dos resultados em comparação com
estudos semelhantes, quer como um contributo para a investigação da disfunção
executiva em idosos após o acidente vascular cerebral. Em consequência do
número reduzido de estudos, a existência de uma amostra composta por um N = 269 poderá ser considerado como um ponto
forte da investigação, respondendo desta forma a sugestões de estudos
anteriores (Conti et al., 2015). A escolha ponderada dos instrumentos que
integraram a bateria de avaliação neuropsicológica utilizada neste estudo revelou-se
também uma mais-valia suportada pelos resultados obtidos.
Investigações futuras deverão ser realizadas quer
pela escassez de estudos que avaliem a disfunção executiva após o acidente
vascular cerebral quer para a investigação de variáveis que não foram
esclarecidas neste estudo. Variáveis sociodemográficas como a profissão e a
tipologia de áreas urbanas poderão ser estudadas tendo em linha de conta as
características sociais e culturais da população portuguesa. Estes dados
poderão ser importantes tanto para o enriquecimento da investigação
neuropsicológica bem como numa vertente clínica. O mesmo se verifica no estudo
de amostras de pacientes com AVC, sendo importante a recolha de dados que
permitam compreender e diferenciar o impacto de outras patologias (como a
depressão), da medicação e do estádio de recuperação/cronicidade do
diagnóstico. Por fim, deverão ser incentivadas investigações que integrem a
Bateria de Avaliação Frontal em amostras clínicas dadas as suas vantagens de
aplicabilidade.
Conflito de interesses: nenhum.
Fontes de financiamento: nenhuma.
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ⓘ PhD. Coordenação do projeto, elaboração
do trabalho, análise estatística e revisão do texto. Instituto Superior Miguel
Torga, Coimbra, Portugal.
ⓘ PsyM. Elaboração do trabalho, recolha e inserção de dados, análise
estatística e revisão do texto. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra,
Portugal.
ⓘ PsyM. Elaboração do trabalho e contributo significativo para a revisão e
discussão do trabalho. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
ⓘ PsyM. Análise estatística e contributo significativo para a discussão do
trabalho. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Contributo significativo para a revisão e discussão do trabalho.
Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
[1] Ponto de corte de 7 pontos correspondente
às pontuações no MoCA abaixo do percentil 25 para a amostra global. A pontuação
de corte estabelecida por Duro et al. (2010; ausência de défice ≥ 26 pontos) não
foi seguida pois a natureza da amostra de Duro et al. (2010) é muito diferente.
[2] O somatório das pessoas removidas é
superior ao total, pois várias pessoas tinham diagnósticos múltiplos (p. ex.,
epilepsia e doença mental).