2016, Vol. 2(2): 55-64
Propriedades psicométricas da versão Torga do
Teste Stroop
Artigo Original
Inês Queiroz Garcia ⓘ, Inês Amaral Pessoa ⓘ, Bárbara Monteiro ⓘ, Fernanda Daniel ⓘ, Laura Lemos
ⓘ, Helena Espirito-Santo ⓘ ✉
https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2016.2.2.41
Recebido 19 setembro 2016
Aceite 29 setembro 2016
Objetivos: Uma nova
versão portuguesa do teste Stroop é fundamental para a avaliação
neuropsicológica. A versão portuguesa
prévia incluía cores que muitas pessoas não conseguiam distinguir. Assim, é
objetivo descrever as propriedades psicométricas de uma nova versão, designada
versão Torga do Teste Stroop, numa amostra da população portuguesa.
Métodos: Inserida
no projeto Estudos Normativos de Instrumentos Neuropsicológicos, esta
investigação conta com uma amostra global constituída por 544 participantes
(241 homens e 303 mulheres) com idades compreendidas entre os 18 e os 97 anos.
A avaliação foi realizada com recurso à versão Torga do Teste Stroop, à Figura
Complexa de Rey-Osterrieth e à Bateria de Avaliação Frontal enquanto
instrumentos de avaliação das funções executivas.
Resultados: A versão
Torga do Teste Stroop revelou uma consistência interna muito boa (α de
Cronbach = 0,99). Revelou também adequada estabilidade temporal e validade
convergente.
Conclusão: A versão
Torga do Teste Stroop aparenta ser um instrumento apropriado à avaliação
neuropsicológica de adultos portugueses.
Considerando a importância deste teste no contexto da avaliação
neuropsicológica, incentivam-se estudos com novas amostras, incluindo amostras
clínicas.
Palavras chave:
Teste Stroop · Controlo Inibitório · Atenção · Flexibilidade cognitiva · Propriedades psicométricas
As funções executivas têm um papel central
na vida humana, permitindo a realização de ações voluntárias e auto-organizadas
(Capovilla,
Assef, & Cozza, 2007) e, consequentemente, a sua avaliação
neuropsicológica torna-se extremamente relevante nos mais diversos contextos
(e.g., clínico, educacional, forense). O funcionamento executivo figura como um
conjunto de capacidades que cobrem
processos cognitivos, tais como o controlo inibitório, a tomada de decisão, a
flexibilidade cognitiva e a atenção seletiva (Chan, Shum, Toulopoulou, &
Chen, 2008; Lezak, Howieson, & Loring, 2004). No entanto,
apesar da aplicabilidade da avaliação neuropsicológica, não existe consonância
na forma de operacionalizar e medir as funções executivas (Alvarez & Emory, 2006),
sendo o investimento nesta área necessário.
Tal como referido anteriormente, a atenção
seletiva, a flexibilidade cognitiva e o controlo inibitório integram o
funcionamento executivo, cumprindo funções que têm impacto nas tarefas
quotidianas. A atenção seletiva consiste no processamento de informação
necessária e relevante, passando pelo desenvolvimento de mecanismos cerebrais
inibitórios (Dalgalarrondo, 2008). Assim, é a capacidade de
atender a um estímulo relevante ignorando outro que seja irrelevante para a
tarefa em questão (Glisky, 2007; Muir, 1996). A
flexibilidade cognitiva diz respeito à capacidade de alternar entre ações e de
redirecionar a atenção para uma nova ação quando as regras da anterior estão
ainda na mente (Burgess, Alderman, Evans, Emslie, & Wilson, 1998;
Miyake
et al., 2000; Troyer, Moscovitch, Winocur, Alexander, & Stuss,
1998). Por sua vez, o controlo inibitório refere-se à habilidade de
inibir respostas competitivas. Consiste, então, na capacidade de inibir
comportamentos, pensamentos distratores ou respostas a estímulos que
interrompam o percurso eficaz de uma ação (Barkley, 1997; Kaplan,
Sengör, Gürvit, & Güzelis, 2007; Logan, Cowan, & Davis,
1984; Sternberg, 1966).
Neste sentido, um dos instrumentos
neuropsicológicos que avalia as funções executivas, mais precisamente a atenção
seletiva, a flexibilidade cognitiva e o controlo inibitório é o Teste Stroop (Gyurak
et al., 2009; Kanne, Balota, Spieler, & Faust, 1998; Lezak et
al., 2004; Strauss, Sherman, & Spreen, 2006; Treisman
& Fearnley, 1969). Este teste tem como princípio o efeito de
interferência provocado pela incongruência entre uma palavra e a cor da tinta
em que esta é escrita. Este efeito denomina-se efeito de Stroop, sendo explicado pela diminuição da velocidade na
nomeação da cor da palavra comparativamente à velocidade de leitura (Strauss
et al., 2006). Neste sentido, compreende-se que este teste mede
ainda outro domínio e que é a velocidade de processamento da informação (MacLeod,
2005). Originalmente descrito por Stroop (1935), e sendo
necessário inibir a resposta de leitura dando lugar a uma resposta de nomeação,
este efeito reflete uma expressão do funcionamento executivo: o controlo
inibitório (Zacks & Hasher, 1994).
Desde a sua construção, o Teste Stroop tem
sido aplicado em vários contextos, revelando-se importante para a identificação
e diagnóstico de perturbações psíquicas ou de alterações no funcionamento de
diferentes processos cognitivos (Golden, 1978). A sua importância clínica
mantém-se, tal como mostra a revisão dos estudos mais recentes. Assim, este
instrumento tem contribuído para a compreensão de diversos quadros
psicopatológicos e de doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer (Balota et al., 2010; Bélanger,
Belleville, & Gauthier, 2010), a depressão (Dalby et al., 2012;
Epp,
Dobson, Dozois, & Frewen, 2012), a esquizofrenia (Barch,
Carter, & Cohen, 2004), a esclerose múltipla (Denney & Lynch, 2009;
Vitkovitch,
Bishop, Dancey, & Richards, 2002) e a doença de Parkinson (Hsieh,
Chen, Wang, & Lai, 2008).
Desde a sua formulação inicial até às
versões mais recentes, o Teste Stroop é composto, essencialmente, por duas
tarefas. Na versão que vamos usar neste estudo (Trenerry, Crosson, DeBoe, &
Leber, 1995), a primeira tarefa consiste na leitura de 112
palavras-cor presentes num cartão estímulo distribuídas aleatoriamente em
quatro colunas de vinte e oito palavras-cor. Ao participante é pedido que leia
as palavras o mais rápido possível (leitura das colunas na vertical). Na
segunda tarefa o participante é instruído a nomear cores impressas que são
incongruentes com as palavras escritas, de novo o mais rápido possível. O tempo
empregue em cada tarefa é contabilizado até uma duração máxima de 120 segundos.
No sentido de minimizar o enviesamento dos
resultados obtidos e para que as provas sejam compreendidas pelos
participantes, o Teste Stroop disponibiliza ainda um cartão de pré-teste de
reconhecimento de cor e um cartão de leitura e de nomeação de cor, de aplicação
prévia às tarefas. O cartão de pré-teste de reconhecimento de cor apresenta-se
com a impressão de quatro “X” em quatro cores distintas, promovendo a exclusão
de participantes que não reconhecem as cores impressas (e.g., daltonismo,
diabetes). O segundo cartão, permite o treino das tarefas da prova, ou seja,
após a apresentação das instruções quer de leitura quer de nomeação, este
cartão poderá ser utilizado para garantir uma compreensão adequada dessas instruções.
Acrescente-se que o Teste Stroop se caracteriza por ser aplicável apenas a
sujeitos que saibam ler. De sublinhar que apenas as provas realizadas através
do cartão estímulo são cotadas, sendo as tarefas prévias apenas de treino (Fisher,
Freed, & Corkin, 1990; Lezak et al., 2004; Strauss et al., 2006).
No que respeita à pontuação, esta resulta do
somatório do número de respostas corretas em cada tarefa, subtraindo a estas as
respostas incorretas dadas pelo participante. Para que exista controlo nas
diferenças individuais no que respeita à nomeação da cor, o somatório de
respostas corretas é dividido pelo tempo empregue pelo participante na tarefa (Trenerry
et al., 1995). A divisão do número de cores nomeadas corretamente
pelo tempo gasto é considerada uma medida da atenção (Cohen, Dunbar, & McClelland, 1990). Tipicamente,
ocorre diminuição da velocidade na tarefa da nomeação da cor que reflete o efeito Stroop ou efeito de interferência
cor-palavra (Strauss et al., 2006). A diferença de pontuação
entre a divisão da leitura e a divisão da nomeação mede o controlo inibitório (Lansbergen, Kenemans, & van Engeland, 2007).
Como referido em cima, existem vários
formatos deste teste (Lezak et al., 2004; Strauss et al., 2006).
Na versão de Trenerry et al. (1995), uma das mais curtas, o Teste Stroop
inclui 112 itens e é composto por quatro cores (azul, vermelho, verde e
amarelo). No entanto, devido a razões culturais, Castro, Martins e Cunha (2003)
alteraram as cores da versão portuguesa deste instrumento. Esta adaptação do
instrumento à população portuguesa levou a que as cores amarelo e vermelho
fossem alteradas para cinza e rosa, devido à dimensão das palavras (número de
letras) poder levar a um enviesamento dos resultados, nomeadamente, do tempo
utilizado pelos participantes (Castro et al., 2003).
No decurso do Projeto Trajetórias do Envelhecimento de Idosos sob Resposta Social do
Instituto Superior Miguel Torga, houve a necessidade de criar
uma nova versão do Teste Stroop porque, na versão de Castro, Martins e
Cunha (2000) as cores cinza e rosa não eram distintas o suficiente.
As pessoas de idades mais avançadas, em particular, tinham mais dificuldade em
percecionar bem as cores, podendo ser desta forma penalizadas indevidamente (Nascimento,
2012). Nasceu assim uma nova versão do Teste Stroop, denominada por
versão Torga e desenvolvida no projeto Estudos
Normativos de Instrumentos Neuropsicológicos (ENIN), que promoveu a
supressão de saturações baixas de cor e procurou a designação de quatro novas
cores, não perdendo de vista designações com dimensões semelhantes. Para a
seleção das cores, procedeu-se a um estudo piloto com 14 pessoas usando as
cores amarela (XXXXX), castanha (XXXXX), cinza (XXXXX), vermelho (XXXXX), dois tons de azul (XXXXX,
XXXXX), laranja (XXXXX), roxo (XXXXX), preto (XXXXX),
verde (XXXXX) e rosa (XXXXX). As cores mais reconhecidas foram o vermelho, o azul,
o preto, o verde e o rosa. Tendo em consideração a dimensão da designação das
palavras, escolheu-se então o preto (cor hexadecimal 000000), o azul (cor
hexadecimal 0096FF), o rosa (cor hexadecimal FF72DE) e o verde (cor hexadecimal
00E000). As cores utilizadas foram corrigidas por forma a apresentar um valor
tonal baixo (mais escuro) e uma maior saturação de cor (intensidade) para
facilitar o seu reconhecimento e a sua discriminação.
Atendendo à escassez de estudos do Teste
Stroop para a população portuguesa, esta investigação pretende ser um
contributo no desenvolvimento da pesquisa sobre este teste. Por ser um teste
relevante em estudos de atenção, flexibilidade cognitiva e controlo inibitório
(Kaplan
et al., 2007; Langenecker, Nielson, & Rao, 2004; Zacks &
Hasher, 1994) e aplicável em diversos contextos, o presente estudo
tem como objetivo descrever as pontuações obtidas nas provas do Teste Stroop,
averiguar a adequação das cores e verificar as propriedades psicométricas
(consistência interna, estabilidade teste-reteste e validade convergente) da
versão Torga do Teste Stroop numa amostra da população portuguesa.
Participantes
O estudo decorre de uma amostragem por conveniência. De acordo com os
objetivos propostos para este estudo, foram excluídos da amostra global (N = 770) pessoas sem escolaridade (n = 4) e pessoas com défice cognitivo (n = 22). As pessoas com défice cognitivo
foram selecionadas por apresentarem pontuações abaixo de 9 para a Bateria de
Avaliação Frontal (FAB) (Dubois, Slachevsky, Litvan, & Pillon, 2000).
Refira-se que a aplicação do Teste de Stroop não pode ser implementada em
participantes que não reconheçam a cor (e.g., daltonismo, diabetes), sendo que
estes não foram incluídos na amostra global. O Teste Stroop especificamente, caracteriza-se ainda por ser aplicável apenas a
sujeitos que saibam ler. A amostra total ficou, então, constituída por 544 participantes
com idades compreendidas entre os 18 e os 97 anos. A maioria dos sujeitos era
do sexo feminino (55,7%), frequentara o ensino básico (41,5%), vivia na região
Centro (85,3%) e residia numa zona urbana (52,8%) (Tabela 1).
|
Caracterização
Sociodemográfica (N = 544) |
|
|||
|
|
n |
% |
|
|
|
Sexo |
Masculino |
241 |
44,3 |
|
|
Feminino |
303 |
55,7 |
|
|
|
Idade (M = 48,48; DP = 20,26) |
18 - 30 |
125 |
23,0 |
|
|
31
- 40 |
91 |
16,7 |
|
|
|
41
- 50 |
100 |
18,4 |
|
|
|
51
- 60 |
81 |
14,9 |
|
|
|
61
– 70 |
52 |
9,6 |
|
|
|
71
- 80 |
41 |
7,5 |
|
|
|
81
- 90 |
44 |
8,1 |
|
|
|
91
- 100 |
10 |
1,8 |
|
|
|
Escolaridade (M = 11,41; DP = 5,61) |
Ensino básico |
219 |
41,5 |
|
|
Ensino
secundário |
143 |
27,1 |
|
|
|
Ensino
superior |
166 |
31,4 |
|
|
|
Regiões |
Norte |
39 |
7,2 |
|
|
Centro |
464 |
85,3 |
|
|
|
Sul
|
41 |
7,5 |
|
|
|
Tipologia de
áreas urbanas |
Urbano |
287 |
52,8 |
|
|
Misto |
15 |
2,8 |
|
|
|
Rural |
242 |
44,5 |
|
|
|
Nota. M = média; DP = desvio-padrão. |
|
Instrumentos
A Bateria de Avaliação Frontal (FAB,
Frontal Assessment Battery; Dubois et al., 2000) é um instrumento, de
administração rápida, usado para avaliar as funções executivas. A FAB é
composta por seis subtestes que avaliam domínios relacionados com os lobos
frontais, nomeadamente: conceptualização (tarefa das semelhanças),
flexibilidade mental (tarefa da fluência verbal), programação (séries motoras
de Luria), sensibilidade à interferência (tarefa com instruções antagónicas)
controlo inibitório (tarefa de Go-No-Go)
e autonomia ambiental (comportamento de preensão). Cada um tem uma pontuação
variável entre zero e três, num total entre zero e dezoito pontos, verificando
assim a existência ou não de disfunção executiva e a sua graveza (Dubois
et al., 2000; Lima, Meireles, Fonseca, Castro, & Garrett, 2008).
Neste estudo, o valor de alfa de Cronbach foi de 0,60, sendo a consistência
interna aceitável para um instrumento com apenas seis itens. Tendo em
consideração os constructos avaliados pelo teste Stroop, para a validade
convergente deste teste elegeram-se as tarefas da fluência verbal, instruções
antagónicas e a do Go-No-Go da FAB.
A Figura Complexa de Rey-Osterrieth
(FCR-O, Rey Complex Figure Test; Osterrieth, 1944)
consiste numa figura geométrica composta por um retângulo grande, bissetores
horizontais e verticais, duas diagonais e detalhes geométricos adicionais
interna e externamente ao retângulo grande. Este instrumento apresenta-se
repartido em três momentos. Na primeira tarefa, o desenho é apresentado
horizontalmente devendo o participante copiá-lo para uma folha em branco. São
fornecidos lápis de cores diferentes em sequência para a cópia da figura, sendo
pedido aos participantes a troca dos mesmos durante a prova. A distinção de
cores permite que seja observada a sucessão dos elementos copiados e avaliada a
capacidade de desenvolvimento da estratégia utilizada (Spreen & Strauss, 1988).
Três minutos após o término da cópia, e avançando para a segunda tarefa,
solicita-se ao examinando que reproduza de novo a figura de memória. Repete-se
o mesmo procedimento após vinte minutos do termino da segunda tarefa,
concluindo a terceira e última tarefa da FCR-O. Na presente investigação foi
utilizada somente a componente de cópia, com recurso ao método de Osterrieth (1944)
para avaliar os dezoito elementos da figura. A pontuação adjudicada pode variar
entre dois pontos (elemento correto e bem posicionado), um ponto (elemento
correto e reconhecível, mas mal posicionado), meio ponto (elemento que se
encontra mal colocado, incompleto, deformado, mas reconhecível) e zero pontos
(elementos que estejam irreconhecíveis ou ausentes). A pontuação máxima é de
trinta e seis pontos. O alfa de Cronbach deste instrumento revelou uma boa
consistência interna no presente estudo (α de Cronbach = 0,84).
Procedimentos
Esta
investigação está integrada no projeto ENIN
do Instituto Superior Miguel Torga, cujo objetivo é a validação de testes
neuropsicológicos para a população portuguesa. A recolha de dados para
este projeto teve início em outubro de 2014,
tendo o recrutamento decorrido na comunidade e sido realizado por um grupo de
investigadores de proveniências regionais diversas, desde o norte ao sul do
país. Estes investigadores consistiram em alunos de mestrado em Psicologia
Clínica do Instituto Superior Miguel Torga, tendo todos eles treinado
previamente com os seus familiares mais próximos (não incluídos nas análises).
Cada investigador avaliou um conjunto aleatório de pessoas entre todas as suas relações
(familiares, de amizade ou profissionais) com estratificação por idade. Alguns
participantes indicaram outros sujeitos seus conhecidos, muitas vezes de zonas
geográficas diferentes que foram também incluídos. Após cedido o consentimento
informado dos participantes foi iniciada a administração de uma bateria de
testes. Os testes foram administrados individualmente em espaços reservados sem
elementos distrativos. Esta bateria integrou cinco testes neuropsicológicos,
três testes/questionários relativos a sintomatologia e um questionário
sociodemográfico. Neste estudo serão observados os dados que foram recolhidos
da versão Torga do Teste Stroop, da FAB e da FCR-O.
Análise Estatística
Para a análise e
tratamento dos dados, utilizou-se o Programa Estatístico Statistical Package for the Social Sciences (IBM SPSS Statisticss,
versão 24.0 para Macintosh Mavericks, SPSS, 2012).
Na
caracterização da amostra realizaram-se análises estatísticas descritivas,
incluindo frequências (n),
percentagens (%), médias (M) e desvios-padrão (DP).
A normalidade da
distribuição das pontuações da versão Torga do Teste Stroop e dos testes
utilizados na validade convergente foi averiguada através do teste
Kolmogorov-Smirnov (KS) e dos
coeficientes de assimetria e de achatamento seguindo os critérios de Kim (2013)
[valor absoluto de curtose (Ku) inferiores a 7 e de assimetria (SK)
inferiores a 2 são indicadores de normalidade para amostras superiores a 300
sujeitos]. Para amostras inferiores a 300 sujeitos, Kim (2013) considerou
que um valor z absoluto abaixo de 3,29 da curtose e da assimetria são
indicadores de normalidade.
Para
verificarmos a adequação das cores, comparámos as médias entre pares de cores e
determinámos as magnitudes padronizadas das diferenças através do d de Cohen. A interpretação da magnitude
nas diferenças (d de Cohen) seguiu a
revisão de Espirito-Santo e Daniel (2015, p. 9; insignificante: d <
0,20; pequeno: d = 0,20; médio: d = 0,50; grande: d = 0,80; muito grande: d > 1,29).
Para a análise
das propriedades psicométricas, determinou-se a consistência interna através do
alfa de Cronbach. Uma muito boa consistência interna é expressa por um valor de
alfa de Cronbach superior a 0,90; valores entre 0,80 e 0,90 são estimados bons;
entre 0,70 e 0,80 são razoáveis; entre 0,70 e 0,60 são fracos e inferiores a
estes são inadmissíveis (Pestana & Gageiro, 2008).
Para a análise
da estabilidade temporal, recorreu-se às correlações de Pearson e respetivo
tamanho de efeito.
Recorreu-se de
novo à análise correlacional (r de Pearson)
para estabelecer correlações entre as provas da versão Torga do Teste Stroop
com os testes que medem os constructos equivalentes. As correlações que se
situam entre 0,20 e 0,29 são consideradas baixas; entre 0,40 a 0,69 moderadas e
entre 0,70 e 0,89 altas (Pestana & Gageiro, 2008).
Poder estatístico
Para um erro de
probabilidade alfa de 0,05, todos os testes estatísticos obtiveram poder
estatístico adequado: 99,9% para o teste t
para amostras independentes; 100% para um alfa de Cronbach esperado de 0,70;
31,1% para as correlações teste-reteste e 100% para as correlações de Pearson
na validade convergente (Bonett, 2002; Buchner, Erdfelder, Faul, &
Lang, 2014; Chang, 2013; Faul, Erdfelder, Lang, &
Buchner, 2007).
Análises
preliminares
Descritivas. Em
relação às respostas corretas na prova de Leitura, os sujeitos responderam em
média mais acertadamente do que na prova de Nomeação de Cor. Relativamente ao
número de palavras por segundo, na prova de Leitura os sujeitos responderam em
média a mais respostas corretas por segundo do que na prova de Nomeação de
Cor. No índice de controlo inibitório, a
média reflete a diferença entre o número de palavras corretas por segundo e o
número de cores corretamente nomeadas (Tabela 2).
A distribuição verificou-se ser normal na prova da Nomeação de Cor
(Ku = 0,06; Sk = -0,99; apesar de KS
= 0,17; p < 0,05), no número de
palavras por segundo (Ku = -0,66; Sk = -0,32; apesar de KS = 0,11; p < 0,05), no número de cores nomeadas por segundo, (Ku = 0,06; Sk = -0,19; apesar de KS = 0,06; p < 0,05) e no Controlo
Inibitório (Ku = -0,82; Sk = 0,04; apesar de KS = 0,05; p < 0,05). No entanto, a mesma não foi verificada na prova de
Leitura (Ku = 22,85; Sk = -4,53; KS = 0,42; p < 0,05),
na FCR-O (Ku = 30,17; Sk = -16,89; KS = 0,22; p < 0,05),
na FAB (Ku = 5,25; Sk = -7,81; KS = 0,21; p < 0,05),
na FAB – Fluência Lexical (Ku =
165,73; Sk = 38,66; KS = 0,41; p < 0,001), na FAB – Instruções Antagónicas (Ku = 12,12; Sk = -11,64; KS = 0,46; p < 0,001) e na FAB – Go-No-Go (Ku = 3,52; Sk = -7,39; KS = 0,39; p < 0,001).
Considerando as fortes violações à normalidade verificadas,
seguiram-se as indicações de Templeton (2011) para a
transformação para a normalidade. Os valores transformados foram depois
utilizados nas análises correlacionais posteriores.
|
Médias e Desvios-padrão das Provas da Versão Torga do Teste Stroop (N =
544) |
|
|||
|
|
M ± DP |
IC 95% LI - LS |
Amplitude Min - Máx |
|
|
Respostas corretas na
leitura |
108,11 ± 13,29 |
106,99 – 109,23 |
4 - 112 |
|
|
Nomeação correta de cores |
84,92 ± 28,52 |
82,52 – 87,32 |
0 - 112 |
|
|
Leitura de palavras por
segundo |
1,63 ± 0,57 |
1,58 - 1,68 |
0 – 2,80 |
|
|
Nomeação de Cores por
segundo |
0,75 ± 0,29 |
0,73 – 0,78 |
0 – 1,85 |
|
|
Controlo Inibitório |
0,88 ± 0,43 |
0,84 – 0,91 |
-0,49 - 13 |
|
|
Nota. M = Média; DP
= Desvio Padrão; IC 95% =
Intervalo de confiança a 95%; LI =
limite inferior; LS = limite
superior; Min = mínimo; Máx = máximo. O índice de Controlo
inibitório resulta da diferença entre a Leitura de palavras/segundo e a
Nomeação de Cores/segundo. |
|
Em termos de acertos (Tabela 3), os participantes responderam, em
média, mais acertadamente à cor azul, seguida do rosa, do preto e, em último,
do verde. As comparações entre pares de cores revelaram tamanhos do efeito que
se situam entre o pequeno e o insignificante.
|
Análise de Itens da Prova de Nomeação de Cor da Versão Torga do Teste
Stroop (N = 544) |
|
|||
|
|
M ± DP |
IC 95% |
Amplitude |
|
|
LI - LS |
Min - Máx |
|
||
|
Total – Cor
Preta |
21,13 ± 7,12 |
20,53 – 21,73 |
0 - 28 |
|
|
Total – Cor
Rosa |
21,23 ± 7,41 |
20,61 ± 21,86 |
0 - 28 |
|
|
Total – Cor
Verde |
19,84 ± 6,85 |
19,27 ± 20,42 |
0 - 26 |
|
|
Total – Cor
Azul |
23,23 ± 7,47 |
22,60 ± 23,86 |
0 - 30 |
|
|
Nota. M = Média; DP
= Desvio Padrão; IC 95% =
Intervalo de confiança a 95%; LI =
limite inferior; LS = limite
superior; Min = mínimo; Máx = máximo. |
|
Uma vez que entre os homens há mais frequentemente problemas na
discriminação das cores (Kaur & Singh, 2013), usou-se o teste t de Student para amostras independentes
(Tabela
4), tendo-se verificado que os homens pontuam mais alto do que as
mulheres em todas as cores. No entanto, só foram verificadas diferenças
estatisticamente significativas na cor preta (d de Cohen = 0,73; efeito médio) e na cor azul (d de Cohen = 0,74; efeito médio).
|
Médias
das Cores mais Acertadas na Prova de Nomeação de Cor da Versão Torga do Teste
Stroop em função do Sexo (N = 544) |
|
||||
|
|
Sexo |
M
± DP |
IC
95% LI
- LS |
Amplitude Min
- Máx |
|
|
Cor Preta t(542) = 2,18; p < 0,05; d = 0,73 |
Masculino |
21,87 ± 6,77 |
21,01 – 22,73 |
0 - 28 |
|
|
Feminino |
20,53 ± 7,35 |
19,70 – 21,37 |
0 - 28 |
|
|
|
Cor Rosa t(542) = 1,68; p > 0,05; d = 0,59 |
Masculino |
21,83 ± 7,27 |
20,91 – 22,75 |
0 - 28 |
|
|
Feminino |
20,76 ± 7,50 |
19,91 – 21,61 |
0 - 28 |
|
|
|
Cor Verde t(542) = 1,81; p > 0,05; d = 0,74 |
Masculino |
20,44 ± 6,53 |
19,61 – 21,27 |
0 – 26 |
|
|
Feminino |
19,37 ± 7,08 |
18,57 – 20,17 |
0 – 26 |
|
|
|
Cor Azul t(536,34) = 2,14; p < 0,05; d = 0,74 |
Masculino |
23,99 ± 6,91 |
23,11 – 24,86 |
0 – 30 |
|
|
Feminino |
22,64 ± 7,85 |
21,75 – 23,52 |
0 – 30 |
|
|
|
Nota. M = Média; DP
= Desvio Padrão; IC 95% =
Intervalo de confiança a 95%; LI =
limite inferior; LS = limite
superior; Min = mínimo; Máx = máximo. |
|
Na Figura 1 são apresentados o número total de acertos, podendo
observar-se uma clara descida, na prova de Leitura e na prova de Nomeação de
Cor.
Figura 1. Gráfico com o total de acertos na prova de
leitura de palavras em cor congruente e na prova de nomeação de cor de palavras
coloridas de forma incongruente da versão Torga do Teste Stroop. Notas: Os itens são apresentados em
intervalos de 4. As tendências de decréscimo são apresentadas nas duas equações
polinomiais (cores respetivas de cada prova).
Propriedades
Psicométricas
Confiabilidade. No
presente estudo, o alfa de Cronbach obtido nas provas de Leitura e Nomeação de
Cor revelaram-se muito bons (α de Cronbach = 0,99) (Pestana & Gageiro, 2008).
Estabilidade temporal. Apesar do fraco poder estatístico das
correlações devido à pequena dimensão da amostra, prosseguimos cautelosamente
com as análises. Assim, a validade teste-reteste foi verificada através da
reaplicação da versão Torga do Teste Stroop a um grupo de 16 participantes da
nossa amostra. O intervalo de tempo entre as duas aplicações, em média, foi de
5,05 meses (DP = 1,43). A leitura de
palavras por segundo do primeiro momento apresentou uma tendência para se
correlacionar com o segundo momento (r
= 0,48; p = 0,06). As médias foram,
respetivamente de 1,85 (DP = 0,39) e
de 1,85 (DP = 0,36). A nomeação de
cores por segundo apresentou uma correlação de 0,85 (p < 0,001) entre os dois momentos. No teste a média foi de 0,85
(DP = 0,20) e no reteste foi de 0,90
(DP = 0,22). Por fim, o índice de
controlo inibitório apresentou uma correlação de 0,61 (p < 0,01) entre os dois momentos, com média no teste de 1,00 (DP = 0,39) e de 0,95 (DP = 0,43) no reteste.
Validade convergente. Na
Tabela
5 destacam-se as correlações de duas provas da versão Torga do Teste
de Stroop (nomeação de cores por segundo
e controlo inibitório) com a FAB e a
FCR-O que foram entre baixas a moderadas. O índice de controlo inibitório não
se correlacionou com a FCR-O nem com a FAB – Fluência Lexical.
|
Correlações
entre as Pontuações do Stroop (Leitura, Nomeação de Cor e índice de Controlo
Inibitório), Figura Complexa de Rey–Cópia e Provas da Bateria de Avaliação
Frontal (N =544) |
|
||||||||||
|
|
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
8 |
9 |
10 |
|
|
1. RCL |
— |
0,96** |
0,67** |
0,95** |
0,23** |
0,37** |
0,33** |
0,26** |
0,25** |
0,23** |
|
|
2. NCC |
|
— |
0,68** |
0,95** |
0,25** |
0,43** |
0,33** |
0,33** |
0,22** |
0,22** |
|
|
3. LPS |
|
|
— |
0,68** |
0,86** |
0,15* |
0,35** |
0,20** |
0,31** |
0,27** |
|
|
4. NCS |
|
|
|
— |
0,21** |
0,33** |
0,33** |
0,31** |
0,22** |
0,21** |
|
|
5. ICI |
|
|
|
|
— |
-0,01 |
0,21** |
0,06 |
0,23** |
0,19** |
|
|
6. FCR-O-TC |
|
|
|
|
|
— |
0,18** |
0,14* |
0,07 |
0,28** |
|
|
7. FAB-T |
|
|
|
|
|
|
— |
0,59** |
0,62** |
0,71** |
|
|
8. FAB-FL |
|
|
|
|
|
|
|
— |
0,26** |
0,24** |
|
|
9. FAB-IA |
|
|
|
|
|
|
|
|
— |
0,49** |
|
|
10. FAB-GNG |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
— |
|
|
Nota. RCL = Respostas corretas na leitura; NCC = Nomeação
correta de cores; LPS = Nomeação correta de cores; NCS = Nomeação de Cores
por segundo; ICI = Índice de Controlo Inibitório; FCR-O-TC = FCR-O – Total
Cópia; FAB-T = Total na Frontal
Assessment Battery (FAB); FAB-FB-L = Fluência Lexical na FAB; FAB-IA = Instruções Antagónicas na FAB;
FAB-GNG = Prova Go-No-Go da FAB.
*p <
0,05; **p < 0,01; ***p < 0,001. |
|
A presente investigação teve como objetivo a análise
das propriedades psicométricas da versão Torga do Teste Stroop para a população
portuguesa.
A delineação de uma nova versão do Teste Stroop
poderá tornar-se desafiante principalmente no que respeita à adaptação das
cores escolhidas. Deverão ser tidas em conta variáveis como o tipo de cor
selecionada (valor tonal e saturação) e consequente reconhecimento das cores. A
versão Torga do Teste Stroop tem na sua composição cores como o preto, o rosa e
o verde que não correspondem a cores primárias, no entanto necessárias para
que, tal como referido, o número de letras seja semelhante. Uma das limitações
desta versão é a quase inexistência de estudos publicados em torno das
propriedades deste instrumento, sublinhando desta forma a pertinência da
presente investigação.
Os resultados obtidos no presente estudo evidenciam
que, numa primeira análise, existe um maior número de sujeitos que completam a
prova de Leitura, bem como esta apresenta um maior número de acertos. Esta
diferenciação entre provas é corroborada pelas versões anteriores do Teste
Stroop (Kanne et al., 1998;
MacLeod,
2005; Trenerry et al., 1995), suportando assim a adequação
da versão Torga e o cumprimento da função de interferência. No que respeita à
análise das médias de acertos por cor na prova de Nomeação de cores, foi
possível verificar que existe uma diferença estatisticamente significativa da
cor azul em relação às restantes. Este resultado indica que existem mais
acertos na cor azul permitindo concluir que esta cor é mais reconhecida pelos
indivíduos, provocando menor interferência na nomeação. No entanto, este
resultado deverá ser lido com rigor científico, mas sempre contextualizado. A
cor azul apresenta uma diferença de 3 pontos em relação à cor com média de
acertos mais baixa, numa amostra de 544 sujeitos. A premissa “a cor azul é a
mais acertada pelos sujeitos” não poderá ser inferida aquando uma diferença
pontual tão baixa referente a uma amostra tão ampla. De forma prática, apesar
de existir uma diferença estatística (ou seja, matemática), não é viável
inferir uma conclusão à luz do contexto e do tamanho da amostra, para além de
que o tamanho do efeito foi pequeno. Porém, este resultado torna-se ainda mais
interessante pois, a cor azul é a única cor primária existente na versão Torga
do Teste Stroop podendo, assim, justificar a diferença existente e questionando
o efeito de interferência das cores primárias. A maior facilidade em nomear a
cor azul seguida da cor verde pode ainda ser explicada através das teorias
clássicas da visão de cor ainda hoje aceites: teoria tricromática de Young-Helmholtz
e teoria do processo oponente de Hering. A teoria
de Young-Helmholtz estabelece que os três tipos de células sensíveis
à cor (cones) existentes na retina são preferencialmente sensíveis ao
azul, verde e vermelho. Hoje sabe-se que os cones da retina são sensibilizados
de forma tricromática a comprimentos de onda do espetro de luz próximos
do verde, vermelho e azul. Na teoria de Hering foi proposto que
a visão humana interpreta a cor de forma antagonista: azul versus amarelo, verde versus vermelho e preto versus branco (Wyszecki & Stiles, 1982). Assim,
considerando a sensibilidade tricromática dos cones e uma vez que a cor
azul não teve cor oponente (amarelo) e que a cor oponente do verde foi somente
aproximada (rosa em vez de vermelho), então pode ficar explicada a facilidade
da sua nomeação.
É, ainda, interessante analisar as médias de acertos
em função do sexo. É possível observar que o sexo masculino apresenta uma média
de acertos significativamente superior nas cores azul e preto do que o sexo
feminino. Este resultado poderá ser justificado através de vários fatores. Um
dos primeiros pontos será a existência de um melhor desempenho do sexo
masculino na prova da Nomeação de Cor devido às funções executivas de atenção
seletiva e controlo inibitório, necessários no Teste Stroop, aspeto suportado
por algumas investigações (Martin &
Franzen, 1989; Moering, Schinka, Mortimer, & Graves, 2004;
Van
Boxtel et al., 2001), mas não todas (Houx,
Jolles, & Vreeling, 1993; Klein, Ponds, Houx, &
Jolles, 1997; Swerdlow, Filion, Geyer, & Braff, 1995;
Trenerry et al., 1995).
A análise dos resultados das provas de Leitura e
Nomeação de Cor tornam-se interessantes não só pelo efeito de interferência e
da avaliação do controlo inibitório bem como pelo efeito que o cansaço e a aprendizagem
poderão ter nas provas. O gráfico apresentado permite observar claramente um
decréscimo na média de acertos em ambas as provas, possivelmente explicado pelo
cansaço. No entanto, na prova de Nomeação de Cor existe um decréscimo abrupto
que poderá possivelmente sustentar a hipótese de existir menor controlo
inibitório perante estados de cansaços superiores. Este facto poderá ser
interessante de ser analisado no contexto psicométrico bem como para a
compreensão das funções executivas avaliadas e do seu desempenho em tarefas
quotidianas.
No que respeita às propriedades psicométricas da
versão Torga do Teste Stroop, ambas as provas (Leitura e Nomeação de Cor)
apresentaram uma consistência interna muito boas (α de Cronbach = 0,99). É ainda possível observar que
o efeito tempo não interfere com os resultados obtidos, ou seja, existem
correlações estatisticamente significativas dos resultados entre a primeira e a
segunda aplicação do instrumento (p
< 0,05) da Nomeação das cores e do Controlo Inibitório e tendência para
correlação na prova de Leitura. No entanto, na prova de Nomeação de cor verifica-se
um aumento de 5 décimas, o que pode possivelmente indicar um leve efeito de
aprendizagem. De sublinhar que este efeito de aprendizagem poderia ser ou não
mais evidente se a amostra correspondente ao segundo momento de avaliação não
tivesse dimensão tão reduzida, diminuindo consideravelmente o poder estatístico
da análise correlacional.
Foi ainda objetivo deste estudo verificar se a
versão Torga do Teste Stroop avalia os mesmos constructos em relação a outros
instrumentos de avaliação das funções executivas. Assim, a prova de Nomeação de
cor do teste Stroop correlaciona-se com a FAB, tarefas de Instruções
antagónicas, Fluência lexical e Go-No-Go
da FAB e com a FCR-O. De forma semelhante, o índice de controlo inibitório do mesmo
teste correlaciona-se com a FAB, tarefas de instruções antagónicas e Go-No-Go da FAB. Estas correlações são
positivas e fracas a moderadas. Estes resultados poderão ser justificados pela
forma diferente como as funções executivas são avaliadas nos instrumentos
supracitados. Ao avaliarmos o subteste Go-No-Go
da FAB que mede o controlo inibitório, este refere-se a uma resposta motora, ao
passo que no Teste Stroop o controlo inibitório é relativo a uma resposta
verbal. Para além deste facto é ainda importante analisar as tarefas que são
inibidas em cada instrumento, não só na sua natureza, mas também no que
respeita à sua aprendizagem no tempo. A prova Go-No-Go avalia a inibição de uma tarefa que é aprendida no momento
e que não se caracteriza pela sua presença no quotidiano do sujeito (“bater na
mesa perante um estímulo”). Já no Teste Stroop, a resposta inibida refere-se à
leitura da palavra, sendo esta resposta aprendida pelo sujeito ao longo dos
anos. Ao refletirmos em torno do tipo de resposta inibida, a leitura é uma
tarefa que está presente no quotidiano do sujeito e que em alguns momentos é
inconsciente (e.g., comummente exibida, por exemplo, na leitura de rótulos por
distração, leitura de sinais informativos em viagem, etc.), podendo desta forma
não ser comparável à tarefa aprendida no subteste Go-No-Go. É ainda de acrescentar que o Teste Stroop apresenta tempo
limite e é pedido ao sujeito para o realizar “o mais rápido que conseguir”, o
que não se verifica na FAB. Por fim, no que concerne à FCR-O, apesar de existir
uma correlação positiva, esta não é alta pois são avaliadas funções executivas
diferentes, tal como o planeamento.
Limitações. Este estudo apresenta, no entanto, algumas limitações
que devem ser apresentadas e que figuram por si só como incentivos para
investigações futuras. Uma das primeiras limitações é sem dúvida a existência
de poucos estudos na área, mais concretamente referentes à versão Torga do
Teste Stroop. Para além deste défice na investigação, existiram questões
limitativas que devem ser melhoradas, nomeadamente o número de sujeitos no
segundo momento de aplicação do instrumento. Desta forma, para que o teste
estatístico tenha um poder adequado, os dados obtidos devem ser suportados por
estudos com amostras até, pelo menos 67 sujeitos, para se ter um poder
estatístico de, no mínimo, 80% (Buchner et al., 2014).
O viés do investigador poderá figurar como uma
limitação no processo de seleção da amostra, no entanto este esbate-se com a
diversidade e tamanho da amostra. Assim, o facto de o grupo de investigadores
ter realizado a recolha de dados por conveniência, permitiu também que a
amostra obtida fosse tanto alargada como diversificada a nível socioeconómico e
cultural. Consequentemente, e representando um ponto forte desta investigação,
a distribuição geográfica da amostra é bastante abrangente, albergando as
regiões Norte, Centro e Sul de Portugal. Apesar de a maior densidade da amostra
deste estudo estar localizada na região Centro, esta também é a região com
maior dimensão populacional em Portugal (Instituto Nacional
Estatística, 2014).
O investimento na avaliação neuropsicológica é, tal
como mencionado, necessário e representa uma lacuna. Assim, investigações
futuras deverão ser incentivadas para que exista uma melhor compreensão quer
dos resultados obtidos quer do comportamento dos instrumentos e esclarecimento
em torno da avaliação neuropsicológica. A versão Torga do Teste Stroop
apresentou-se como um instrumento com potencialidades, estando apto para
investimento ao nível da investigação e da prática clínica.
Conflito de interesses: nenhum.
Fontes de financiamento: nenhuma.
Agradecimentos: As autoras deste estudo agradecem a Sara Moitinho,
Carla Susana Neves, Inês Torres Pena, Fátima Rodrigues, Sónia Simões e Vanessa
Vigário que apoiaram na construção e recolhas de dados da versão piloto.
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ⓘ PsyM. Recolha e inserção de dados, elaboração do texto,
análise estatística e revisão do texto. Instituto Superior Miguel Torga,
Coimbra, Portugal.
ⓘ PsyM. Recolha e inserção de dados e elaboração do texto.
Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
ⓘ PsyM. Elaboração do trabalho e contributo significativo
para a revisão e discussão do trabalho. Instituto Superior Miguel Torga,
Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Revisão dos procedimentos e análise estatística.
Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Elaboração e revisão do texto. Instituto Superior
Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Coordenação do projeto Estudos Normativos de
Instrumentos Neuropsicológicos, elaboração do trabalho, análise estatística e
revisão do texto. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.