2017, Vol. 3(1): 41-52

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Estudo fatorial exploratório das dimensões comportamentais de adesão em pessoas com diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2 - Dimensões comportamentais de adesão[1]

 

Artigo Original   

 

Ilda Massano Cardoso , Fernanda Daniel , Vítor Rodrigues , Vítor Rodrigues

 

https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2017.3.1.47

 

Recebido 12 janeiro 2017

Aceite 27 fevereiro 2017

 

 

ÍNDICE

RESUMO

INTRODUÇÃO

MÉTODOS

RESULTADOS

DISCUSSÃO

REFERÊNCIAS

 

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RESUMO

Objetivos: Analisar as dimensões comportamentais associadas à adesão em pessoas com diabetes mellitus (DM). Testar o modelo teórico composto por fatores internos e relacionais ao paciente tendo por base oito instrumentos de autorresposta.

Métodos: 347 doentes a frequentar consultas de diabetes do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e na Associação Portuguesa de Diabéticos de Portugal que aceitaram colaborar no preenchimento de instrumentos de autorresposta. Os instrumentos utilizados foram a Escala de Autoestima de Ronsenberg, WHOQOL-Bref, Escala de Satisfação com o Suporte Social, Medida de Adesão aos Tratamentos, Attitudes Towards Doctors and Medicine, Inventário de Depressão de Beck, O Perfil de Saúde da Diabetes e Questionário de Autocuidados da Diabetes. Foi realizada uma análise fatorial exploratória (AFE) com recurso ao método das componentes principais. A adequação dos dados à AFE foi verificada por meio dos testes de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e esfericidade de Bartlett. 

Resultados: A estrutura fatorial encontrada no caso da DM tipo 1 é de seis componentes com uma variância total explicada de 70,8%, na DM tipo 2 com tratamento insulínico é de sete componentes com uma variância total explicada de 74,9% e, no caso da DM tipo 2 com tratamento oral, o número de componentes é de seis com uma variância total explicada de 73,4%.

Conclusões: As saturações mais elevadas corresponderam aos construtos a que teoricamente deveriam pertencer. Na DM tipo 1, o fator terapêutico desapareceu, associando-se ao autocuidado. Na DM tipo 2 oral, esta componente emergiu como uma dimensão. Da análise forçada a dois fatores verificou-se que o suporte social não saturou de forma adequada no fator relacional, mas sim no fator interno. Conclui-se a satisfação social pode ser percebida como uma dimensão interna de adesão.

 

Palavras chave: Diabetes mellitus · Dimensões comportamentais · Análise fatorial · Adesão

 

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INTRODUÇÃO

 

A análise dos determinantes ou fatores de adesão tem sido o tema de diversos trabalhos no âmbito do estudo das doenças crónicas. A adesão ao tratamento revela uma natureza multifatorial, sendo influenciada por fontes diversas e estas podem constituir-se, de acordo com Leventhal e Cameron (1987), em grupos ou componentes diferentes. Sackett e Haynes (1976) identificaram mais de duas centenas de variáveis que parecem estar relacionadas com a adesão ao tratamento. Estas variáveis são agrupadas, segundo estes autores, em cinco categorias: as características do doente, as características do tratamento, as características da doença, o relacionamento com os profissionais de saúde e as variáveis organizacionais e estruturais. Com efeito, Sanchez-Sosa (2001) propõe uma classificação mais reduzida, operacionalizada em quatro componentes: o doente, a equipa de saúde, a doença em si e os fatores associados às condições do macrossistema (traços socioeconómicos, geográficos e culturais de um determinado país). É reduzida a probabilidade de que estes quatro fatores “atuem” de forma isolada, sendo de esperar que os fatores se entrecruzem e interajam, produzindo vários graus de adesão ao tratamento.

Entre os determinantes que têm vindo a ser identificados salientamos, no presente estudo, a importância das características comportamentais internas e relacionais no caso da DM, muito embora a literatura reporte a relevância de variáveis externas ao indivíduo.

Sabe-se que as variáveis demográficas predizem fracamente a adesão aos autocuidados gerais na diabetes. Tal não acontece com a idade, que apresenta impacto na adesão (Warren & Hixenbaugh,1998). Importa, contudo, referir que a relação entre a idade e escolaridade surge fracamente associada à adesão ao regime alimentar (Brooks, 2002). Ainda nos determinantes demográficos face à adesão, estudos revelam que adolescentes com DM tipo 1 aderem menos ao tratamento do que as crianças, nomeadamente em relação à regularidade da toma de insulina, exercício físico, cuidados alimentares e automonitorização da glicemia capilar (Hirschberg, 2001).

Os fatores relacionais, tal como o apoio social apresentam efeitos combinados com a idade (Warren & Hixenbaugh,1998). Estes autores verificaram a existência de uma menor probabilidade de aderir à terapêutica quando estão em contexto de trabalho, em idades compreendidas entre os 18 e os 50 anos. A probabilidade de não adesão aumenta nos doentes com idade superior a 50 anos quando em presença de amigos. Este facto ilustra bem o impacto das relações sociais no desempenho terapêutico dos doentes com diabetes. No que respeita aos efeitos combinados do sexo com o apoio social, Warren e Hixenbaugh (1998) afirmam tratar-se de um fator preponderante na adesão, constatando que os homens apresentam uma menor adesão ao tratamento na presença de colegas de trabalho do que as mulheres.

Numa revisão do estudo publicado por Ryan (1997) foram encontradas diferenças significativas quanto à relação idade do doente e às crenças na saúde, podendo estas ser determinantes da adesão. A perceção da gravidade, pelos indivíduos mais novos, parece promover a adesão à terapêutica enquanto para os mais velhos são os benefícios percebidos da adesão ao tratamento que os fazem ter mais autocuidados na diabetes.

Tal como descrito anteriormente, são múltiplos os fatores que poderem determinar a adesão. Assim, através de um modelo meramente exploratório neste trabalho procurou explorar-se as variáveis que podem associar-se à adesão.

 

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MÉTODOS

Na avaliação e refinamento dos instrumentos de avaliação é frequente recorrer-se a procedimentos estatísticos, nomeadamente à análise fatorial exploratória (AFE). Este conjunto de técnicas tem como principal objetivo encontrar uma estrutura subjacente numa matriz e determinar o número e a natureza das variáveis latentes (fatores) que melhor podem representar um conjunto de variáveis observadas (Brown, 2006).

De acordo com Pasquali (2003) a análise fatorial (AF) assenta num pressuposto em que as variáveis empíricas ou observáveis (normalmente traduzidas por indicadores) podem ser explicadas por um número menor de variáveis hipotéticas, comumente designada por fatores.

Participantes

O presente estudo foi conduzido numa amostra de 347 indivíduos a frequentar consultas de diabetes do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e na Associação Protetora de Diabéticos de Portugal (APDP), com diagnóstico da doença há pelo menos um ano e com idade superior a dezoito anos. A técnica de amostragem foi por conveniência.

Material

Foram utilizados instrumentos gerais e específicos para a avaliação dos fatores comportamentais.

Instrumentos gerais

A escala de autoestima de Ronsenberg (RSE) (Ronsenberg, 1965). A RSE, adaptada para Portugal por Santos e Maia (2003), é um instrumento que tem como principal objetivo avaliar a autoestima de forma breve, global e unidimensional. A autoestima é entendida como autoaceitação, como sensação básica de mérito pessoal, de respeito por si próprio, como uma atitude positiva ou negativa relativamente ao self. É aplicável à população de qualquer idade. Este instrumento é constituído por dez itens, apresentado por afirmações em que as respostas são dadas numa escala ordinal de concordância com quatro posições, entre o concordo fortemente a discordo fortemente. A pontuação varia entre 10 e 40. Quanto maior a pontuação maior a autoestima. A consistência interna da escala é de α = 0,86.

WHOQOL-Bref (Canavarro et al., 2006). A WHOQOL-Bref é uma versão revista e reduzida do WHOQOL – 100 (OMS, 1995) constituído por vinte e seis perguntas, das quais duas avaliam a qualidade de vida geral e as restantes vinte e quatro de forma específica, organizadas em 4 domínios. Enquanto no instrumento original cada faceta é avaliada por quatro questões, nesta versão abreviada as facetas são avaliadas apenas por uma questão. Os domínios que avalia são quatro: físico; psicológico; relações sociais e meio ambiente. A pontuação final é avaliada numa escala de 0 a 100. Quanto maior a pontuação maior a qualidade de vida em cada dimensão. A consistência interna da escala total avaliada pelo α de Cronbach, é de α = 0,92 e para cada dimensão α = 0,87, α = 0,84, α = 0,64 e α = 0,78, respetivamente.

Escala de Satisfação com o Suporte Social (ESSS) (Pais-Ribeiro, 1999). A ESSS tem como objetivo avaliar a satisfação com o suporte social percebido em adultos. A versão final é constituída por quinze frases que se apresentam como um conjunto de afirmações que estão distribuídas por quatro dimensões. Os respondentes devem assinalar o grau em que concordam ou não com as afirmações numa escala ordinal de cinco pontos. Quanto mais elevado o valor obtido, maior a satisfação com o suporte social. A pontuação varia de 15 a 75. A consistência interna dos fatores, avaliada através do α de Cronbach é a seguinte: satisfação com os amigos (mede a satisfação com as amizades) (α = 0,83); intimidade (avalia a perceção da existência de suporte social íntimo) (α = 0,74); satisfação com a família (mede a satisfação com o suporte social familiar existente) (α = 0,74); atividades sociais (avalia as atividades sociais que realiza) (α = 0,64). A consistência interna da escala total é de α = 0,85. 

Medida de Adesão aos Tratamentos (MAT) (Delgado & Lima, 2001). A MAT é uma escala que pretende avaliar o comportamento de adesão ao tratamento. A escala é constituída por sete itens, cujas respostas são dadas numa escala ordinal de seis posições. Quanto maior a pontuação, maior a adesão. A pontuação varia de 7 a 42. A consistência interna da escala é de α = 0,74.

Attitudes Towards Doctors and Medicine (EAMM) (Marteau, 1990). A EAMM ou, na versão portuguesa, Escala de Atitudes Face aos Médicos e à Medicina (EAMM) foi adaptada por Pereira e Silva (1999). O principal objetivo deste instrumento é avaliar as atitudes dos indivíduos ou grupos face aos médicos e à medicina, em utentes dos serviços de saúde. Este instrumento é constituído por dezanove itens que se distribuem por quatro subescalas: atitudes positivas face aos médicos; atitudes negativas face aos médicos; atitudes positivas face à medicina; atitudes negativas face à medicina. Cada item constitui uma afirmação em que a resposta é dada numa escala ordinal de intensidade de seis pontos que varia entre o “discordo totalmente” e o “concordo totalmente”. A pontuação mais baixa corresponde a uma atitude negativa face aos médicos e medicina, e a pontuação mais elevada corresponde a uma atitude positiva face aos médicos e medicina.  A consistência interna é de α = 0,74.

Inventário de Depressão de Beck (BDI) (Beck, Ward, Mendelson, Mock, & Erbaugh, 1961) versão portuguesa de Vaz-Serra e Pio-Abreu (1973a). O BDI é um instrumento de autorresposta constituído por vinte e um grupos de afirmações que têm por objetivo medir a sintomatologia depressiva, encontrando-se esta organizada em seis tipos de sintomas: afetivos, cognitivos, motivacionais, delirantes, físicos e funcionais (padrão de sono, apetite, peso e líbido). Cada um destes grupos de afirmações é composto por quatro, cinco ou seis frases ordenadas em função da gravidade crescente do sintoma com que se relacionam. As afirmações presentes em cada conjunto dizem respeito a quatro graus de severidade – inexistente, leve, moderado e grave. Estes graus permitem avaliar o nível de depressão que o indivíduo evidencia. Para tal, o sujeito deverá assinalar apenas uma afirmação em cada grupo, correspondendo essa à que considera como a melhor para descrever o modo como se sente no momento atual. Em termos psicométricos, o BDI revelou possuir boas propriedades no que toca à sua fidedignidade (Beck & Beasmesderfer, 1974 tal como citado por Pinto Gouveia, 1990) e validade (Bumberry et al., tal como citado por Pinto Gouveia, 1990). No presente estudo utilizou-se a versão portuguesa do BDI (Vaz-Serra & Pio Pio-Abreu, 1973a; 1973b), que apresenta um ponto de corte de doze, encontrando-se a população deprimida acima deste valor. Por sua vez, Kendall, Hollon, Beck, Hammem e Ingram (1987) indicam os seguintes valores de corte: 0 a 9 – normal; 10 a 20 – depressão leve (pontuações entre 10 e 17 correspondem a estados disfóricos, e superiores a 17 a estados depressivos); 20 a 30 – depressão moderada; valores superiores a 30 – depressão grave. A pontuação varia entre 0 e 63. A consistência interna é de α = 0,81.

Instrumentos específicos

O Perfil de Saúde da Diabetes (DHP) (Meadows et al., 1996). O DHP é muito utilizado em doentes com DM tipo 1 e DM tipo 2 e permite avaliar o estado de saúde do indivíduo. Contém trinta e dois itens e engloba três subescalas: perturbação psicológica (e.g. humor disfórico, hostilidade e irritabilidade); barreiras para a atividade (e.g. visível debilitação em atividades sociais); refeição desinibida (e.g. refeição em resposta ao despertar emocional), que medem a relação da diabetes com disfunções comportamentais e psicológicas. Este instrumento é de fácil e rápida administração e é o único instrumento que possui versões específicas para os dois tipos de diabetes.  A pontuação varia numa escala de 0 a 100. Quanto maior o total da escala, maior a disfunção. A confiança destas subescalas foi medida pelo alfa de Cronbach em 0,86, 0,82 e 0,77, respetivamente.

Questionário de Autocuidados da Diabetes (QACD) (Silva, Pais-Ribeiro, Cardoso, & Ramos, 2002). O QACD avalia a adesão ao autocuidado em doentes com diabetes e é constituído por onze itens inspirados no The Summary of Diabetes Self-care Activities Questionnaire de Toolbert e Glascow (1994, tal como citado por Pais-Ribeiro, 2007). Trata-se de um questionário de autorresposta que pretende avaliar a adesão ao tratamento da diabetes ao longo da última semana. Os itens estão distribuídos por três subescalas: cuidados alimentares; tratamento insulínico; tratamento antidiabético oral. As respostas são tipo Likert, com possibilidade de cinco a seis opções de resposta, conforme a subescala que está a ser avaliada. Quanto mais elevado for o resultado total das subescalas maior a adesão ao tratamento. Os valores das subescalas variam entre 0 e 28 (cuidados alimentares) e 0 e 16 (tratamento insulínico e antidiabético oral). A consistência interna do total da escala é aceitável, atendendo ao reduzido número de itens (α = 0,66). Cada uma das subescalas tem uma consistência interna de α = 0,62, α = 0,75, α = 0,88, respetivamente.

Procedimentos

Foi solicitado aos doentes que participassem num estudo sobre a diabetes através do preenchimento de instrumentos de autorresposta.

Todos os participantes tiveram informação prévia sobre como deveriam proceder para o preenchimento dos instrumentos e, apesar de serem todos de autorresposta, sempre que solicitado por parte dos doentes estava um psicólogo ou um enfermeiro disponível para apoiar no seu correto preenchimento.

Análise Estatística

A análise estatística dos dados foi efetuada por recurso ao Software estatístico SPSS Statistics (v.21; IBM SPSS Statistics).

Na generalidade são apresentadas as estatísticas descritivas e inferenciais. A análise fatorial exploratória (AFE) foi realizada por recurso ao método das componentes principais. A adequação dos dados à AFE foi verificada por meio dos testes de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e esfericidade de Bartlett. Note-se que o modelo testado engloba três fatores (internos, relacionais e externos ao paciente), no entanto, procedemos a uma AFE forçada a dois fatores dado que o fator correspondente aos aspetos externos ao paciente não integrou a AFE pelo facto das variáveis nele incluídas serem tipo de diabetes (DM tipo 1 e DM tipo 2) e regime terapêutico (insulínico e oral).

Considerações Ético-Legais

O estudo aqui reportado foi submetido à Comissão de Ética para a Saúde dos Hospitais da Universidade de Coimbra (atualmente designado por CHUC) e Direção da Associação Portuguesa de Diabéticos de Portugal tendo sido obtido parecer positivo. Foi concedida autorização de administração de todos os instrumentos por parte dos editores e/ou autores. Todos os participantes deram o seu consentimento informado, por escrito, sendo-lhes assegurado o anonimato e confidencialidade dos dados.

 

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RESULTADOS

 

 

Na Tabela 1 são apresentados os dados relativos ao sexo e tipologia da diabetes dos participantes no estudo.

 

 

 

TABELA 1

Distribuição da Amostra por Sexos e Tipo de Diabetes

 

 

 

Tipo 1

Tipo 2

 

 

n

%

n

%

 

 

Sexo

Masculino

83

52,2

113

60,4

 

 

Feminino

76

47,8

75

39,6

 

 

Total

159

100

188

100

 

 

Nota. n = amostra; % = frequência relativa em percentagem.

 

 

Estrutura fatorial exploratória

Realizou-se uma análise fatorial exploratória com base em todos totais das escalas e subescalas por forma a tentar compreender se as variáveis compósitas dos vários instrumentos se reduziam a fatores comportamentais. Foi igualmente avaliada a adequação dos dados à análise fatorial.

O valor de KMO foi de 0,73 (DM tipo 1) e 0,70 (DM tipo 2) e o teste de Esfericidade de Bartlett alcançou em ambos os casos significância estatística, suportando a fatoribilidade da matriz de correlação. Assim, através do método da análise das componentes principais, foi possível encontrar seis a sete variáveis hipotéticas (fatores). Fatores esses que, teoricamente podiam ser, em nosso entender, determinantes para a adesão e que se enquadravam no modelo teórico a explicar.

A estrutura fatorial encontrada, através da rotação Varimax e com valores próprios superiores a um, foi clara quanto ao tipo de fatores (intrínsecos e externos ao paciente), bem como em função do tipo de diabetes e em função do tratamento.

Apresentamos seguidamente os resultados da AFE por tipologia de diabetes e tratamento.

Na Tabela 2 são reportados os dados da AFE na DM1 tendo emergido seis fatores com valores próprios superiores a um, explicando 32,40%, 13,82%, 9,28%, 6,20%, 5,65% e 4,65% da variância respetivamente, perfazendo um total de variância explicada de 71,96%.

 

 

 

TABELA 2

DM1 - Análise Exploratória das Componentes Principais

 

 

Escalas e subescalas

Componentes

 

 

1

2

3

4

5

6

 

 

Depressão

-0,676

 

 

 

 

 

 

 

Autoestima

0,670

 

 

 

 

 

 

 

Suporte social (ESSS)

0,385

0,884

 

 

 

 

 

 

Satisfação com os amigos (ESSS)

0,341

0,819

 

 

 

 

 

 

Intimidade (ESSS)

0,375

0,462

 

 

 

 

 

 

Satisfação com a família (ESSS)

 

0,727

 

 

 

 

 

 

Atividades sociais (ESSS)

 

0,668

 

 

 

 

 

 

Atitudes face aos médicos e à medicina

 

 

0,771

0,569

 

 

 

 

Atitudes positivas face aos médicos

 

 

 

0,941

 

 

 

 

Atitudes negativas face aos médicos

 

 

0,944

 

 

 

 

 

Atitudes positivas face à medicina

 

 

 

0,941

 

 

 

 

Atitudes negativas face à medicina

 

 

0,944

 

 

 

 

 

Medida de adesão aos tratamentos

 

 

 

 

 

0,734

 

 

Perfil de saúde do diabético (DHP)

-0,369

 

 

 

0,864

 

 

 

Perturbação psicológica (DHP)

-0,497

 

 

 

0,618

 

 

 

Barreiras físicas (DHP)

 

 

 

 

0,832

 

 

 

Refeição desinibida (DHP)

 

 

 

 

0,442

0,556

 

 

Autocuidado alimentar

 

 

 

 

 

0,577

 

 

Autocuidado tratamento insulínico

 

 

 

 

 

0,721

 

 

Qualidade de vida geral (WG)

0,774

 

 

 

 

 

 

 

Qualidade de vida - Físico

0,733

 

 

 

 

 

 

 

Qualidade de vida - Relações sociais

0,751

 

 

 

 

 

 

 

Qualidade de vida – Psicológico

0,644

0,414

 

 

 

 

 

 

Qualidade de vida - Meio ambiente

0,750

 

 

 

 

 

 

 

Nota. Rotação Varimax com normalização de Kaiser. Componentes: 1 = Psicológico; 2 = Social; 3 = Atitudes negativas; 4 = Atitudes positivas; 5 = Perfil de Saúde; 6 = Autocuidado.

 

 

Nas Tabelas 3 e 4 são apresentados os dados relativos à análise das componentes principais no caso da DM tipo 2. A Tabela 3 refere-se aos resultados em situação de tratamento insulínico, da qual resultaram sete componentes com valores próprios superiores a um, explicando 31,34%, 11,90%, 11,09%, 6,77%, 5,55%, 4,56% e 4,24% da variância, respetivamente. O total da variância explicada para estes fatores/componentes situou-se nos 75,45%.

 

 

 

TABELA 3

DM2 (insulina) - Análise das Componentes Principais

 

 

 

Escalas e subescalas

Componentes

 

 

 

1

2

3

4

5

6

7

 

 

Depressão

-0,558

-0,435

 

 

 

 

 

 

 

Autoestima

0,674

 

 

 

 

 

 

 

 

Suporte social (ESSS)

 

0,791

 

 

0,414

 

 

 

 

Satisfação com os amigos (ESSS)

 

0,810

 

 

 

 

 

 

 

Intimidade (ESSS)

 

 

 

 

 

 

-0,747

 

 

Satisfação com a família (ESSS)

 

0,841

 

 

 

 

 

 

 

Atividades sociais (ESSS)

 

 

 

 

0,630

 

 

 

 

Atitudes face aos médicos e à medicina (ADMS)

 

 

0,720

0,594

 

 

 

 

 

Atitudes positivas face aos médicos

 

 

 

0,941

 

 

 

 

 

Atitudes negativas face aos médicos

 

 

0,960

 

 

 

 

 

 

Atitudes positivas face à medicina

 

 

 

0,941

 

 

 

 

 

Atitudes negativas face à medicina

 

 

0,960

 

 

 

 

 

 

Medida de adesão aos tratamentos

 

0,521

 

 

 

 

0,523

 

 

Perfil de saúde do diabético (DHP)

-0,808

-0,352

 

 

 

 

 

 

 

Perturbação psicológica (DHP)

-0,586

-0,478

 

 

 

 

 

 

 

Barreiras físicas (DHP)

-0,808

 

 

 

 

 

 

 

 

Refeição desinibida (DHP)

 

 

 

 

0,407

-0,448

 

 

 

Autocuidado alimentar

 

 

 

 

 

0,768

 

 

 

Autocuidado tratamento insulínico

 

 

 

 

 

0,720

 

 

 

Qualidade de vida geral (WG)

 

0,360

 

 

0,616

 

 

 

 

Qualidade de vida - Físico

0,534

 

 

 

0,579

 

 

 

 

Qualidade de vida - Relações sociais

0,696

 

 

 

0,337

 

 

 

 

Qualidade de vida – Psicológico

 

 

 

 

0,673

 

 

 

 

Qualidade de vida - Meio ambiente

0,503

 

 

 

0,556

 

 

 

 

Nota. Rotação Varimax com normalização de Kaiser. Componentes: 1 = Psicológico; 2 = Social; 3 = Atitudes negativas; 4 = Atitudes positivas; 5 = Perfil de Saúde; 6 = Autocuidado; 7 = Apoio.

 

 

 

 

TABELA 4

DM2 (oral) - Análise das Componentes Principais

 

 

Escalas e subescalas

Componentes

 

 

1

2

3

4

5

6

 

 

Depressão

-0,665

 

 

 

 

-0,354

 

 

Autoestima

0,665

 

 

 

 

 

 

 

Suporte social (ESSS)

 

 

 

0,768

 

0,543

 

 

Satisfação com os amigos (ESSS)

 

 

 

0,838

 

 

 

 

Intimidade (ESSS)

 

 

 

 

 

0,769

 

 

Satisfação com a família (ESSS)

 

 

 

0,906

 

 

 

 

Atividades sociais (ESSS)

 

 

 

 

 

0,835

 

 

Atitudes face aos médicos e à medicina (ADMS)

 

0,737

0,624

 

 

 

 

 

Atitudes positivas face aos médicos

 

 

0,951

 

 

 

 

 

Atitudes negativas face aos médicos

 

0,906

 

 

 

 

 

 

Atitudes positivas face à medicina

 

 

0,951

 

 

 

 

 

Atitudes negativas face à medicina

 

0,906

 

 

 

 

 

 

Medida de adesão aos tratamentos

 

 

 

 

0,839

 

 

 

Perfil de saúde do diabético (DHP)

-0,913

 

 

 

 

 

 

 

Perturbação psicológica (DHP)

-0,798

 

 

 

 

 

 

 

Barreiras físicas (DHP)

-0,748

 

 

 

0,331

 

 

 

Refeição desinibida (DHP)

-0,609

 

 

 

 

 

 

 

Autocuidado alimentar

 

 

 

 

0,763

 

 

 

Autocuidado tratamento insulínico

 

 

 

 

0,759

 

 

 

Qualidade de vida geral (WG)

0,715

 

 

 

 

,305

 

 

Qualidade de vida - Físico

0,674

 

 

0,305

 

 

 

 

Qualidade de vida - Relações sociais

0,771

 

 

 

 

 

 

 

Qualidade de vida – Psicológico

0,713

 

 

0,324

 

0,390

 

 

Qualidade de vida - Meio ambiente

0,766

 

 

 

 

 

 

 

Nota. Componentes: 1 = Psicológico; 2 = Social; 3 = Atitudes negativas; 4 = Atitudes positivas; 5 = Perfil de Saúde; 6 = Apoio.

 

 

Análise das componentes principais (ACP) forçada a dois fatores. Como se apresenta na Tabela 5 explorou-se a forma como se agrupavam os construtos latentes deste estudo. Assim, procedeu-se a uma ACP forçada a dois fatores, de forma testar o modelo teórico composto por três grandes fatores: internos, relacionais e externos ao paciente. Para valores próprios superiores a um, os dois fatores explicam 32,36% 13,82% da variância. A variância total explicada é de 46,17%.

 

 

 

TABELA 5

DM1 - ACP Forçada a Dois Fatores

 

 

Escalas e subescalas

Componentes

 

 

1. Interno

2. Relacional

 

 

Depressão

-0,808

 

 

Autoestima

0,696

 

 

 

Suporte social

0,847

 

 

Satisfação com os amigos

0,735

 

 

Intimidade

0,658

 

 

Satisfação com a família

0,559

 

 

Atividades sociais

0,660

 

 

Atitudes face aos médicos e à medicina

0,930

 

 

Atitudes positivas face aos médicos

0,674

 

 

Atitudes negativas face aos médicos

0,703

 

 

Atitudes positivas face à medicina

0,674

 

 

Atitudes negativas face à medicina

0,703

 

 

Medida de adesão aos tratamentos

0,345

 

 

 

Perfil de saúde do diabético

-0,767

 

 

 

Perturbação psicológica

-0,757

 

 

 

Barreiras físicas

-0,474

 

 

 

Refeição desinibida

-0,537

 

 

 

Autocuidado alimentar

0,331

0,361

 

 

Autocuidado tratamento insulínico

 

0,408

 

 

Qualidade de vida geral

0,688

 

 

 

Qualidade de vida - Físico

0,639

 

 

Qualidade de vida - Psicológico

0,723

 

 

 

Qualidade de vida - Relações sociais

0,783

 

 

Qualidade de vida - Meio ambiente

0,698

 

 

 

Variância explicada

32,359%

13,815%

 

 

Total de variância explicada

46,174%

 

 

Nota. Rotação Varimax com normalização de Kaiser.

 

 

De acordo com o modelo estabelecido, o "autocuidado alimentar" e o "tratamento insulínico" deveriam saturar na componente interna, contudo, como se observa na Tabela 6, tal não se verifica.

Na Tabela 7 pode verificar-se que a satisfação com o suporte social satura de forma bem manifesta na componente "interna" e não na "relacional". A variância explicada situa-se nos 31,34%, 11,90% e 43,24% da variância total, no caso da DM tipo 2 com tratamento oral. No que respeita ao tratamento insulínico a variância é de 32,31%, 12,90% e 45,21% da variância total.

 

 

 

TABELA 6

DM 2 (Insulina) - ACP Forçada a Dois Fatores

 

 

Escalas e subescalas

Componentes

 

 

1. Interno

2. Relacional

 

 

Depressão

-0,777

 

 

Autoestima

0,684

 

 

 

Suporte social

0,779

0,334

 

 

Satisfação com os amigos

0,635

0,476

 

 

Intimidade

0,402

 

 

Satisfação com a família

0,532

0,347

 

 

Atividades sociais

0,498

 

 

Atitudes face aos médicos e à medicina

0,466

 

 

 

Atitudes positivas face aos médicos

0,615

 

 

Atitudes negativas face aos médicos

0,385

-0,680

 

 

Atitudes positivas face à medicina

0,615

 

 

Atitudes negativas face à medicina

0,385

-0,680

 

 

Medida de adesão aos tratamentos

0,493

 

 

 

Perfil de saúde do diabético

-0,819

 

 

 

Perturbação psicológica

-0,814

 

 

 

Barreiras físicas

-0,604

 

 

 

Refeição desinibida

 

 

 

Autocuidado alimentar

 

 

 

 

Autocuidado tratamento insulínico

 

 

 

 

Qualidade de vida geral

0,701

 

 

 

Qualidade de vida - Físico

0,672

 

 

Qualidade de vida - Psicológico

0,769

 

 

 

Qualidade de vida - Relações sociais

0,594

 

 

Qualidade de vida - Meio ambiente

0,819

 

 

 

Variância explicada

31,343%

11,897%

 

 

Total de variância explicada

43,240%

 

 

Nota. Rotação Varimax com normalização de Kaiser.

 

 

 

 

TABELA 7

DM 2 (Oral) - ACP Forçada a Dois Fatores

 

 

Escalas e subescalas

Componentes

 

 

1. Interno

2. Relacional

 

 

Depressão

-0,776

 

 

Autoestima

0,612

 

 

 

Suporte social

0,758

 

 

Satisfação com os amigos

0,650

 

 

Intimidade

0,514

 

 

Satisfação com a família

0,475

 

 

Atividades sociais

0,493

 

 

Atitudes face aos médicos e à medicina

0,951

 

 

Atitudes positivas face aos médicos

0,603

 

 

Atitudes negativas face aos médicos

0,709

 

 

Atitudes positivas face à medicina

0,603

 

 

Atitudes negativas face à medicina

0,709

 

 

Medida de adesão aos tratamentos

 

0,336

 

 

Perfil de saúde do diabético

-0,768

 

 

 

Perturbação psicológica

-0,756

-0,355

 

 

Barreiras físicas

-0,624

 

 

 

Refeição desinibida

-0,389

-0,391

 

 

Autocuidado alimentar

0,301

 

 

 

Autocuidado tratamento insulínico

 

0,304

 

 

Qualidade de vida geral

0,768

 

 

 

Qualidade de vida - Físico

0,696

 

 

Qualidade de vida - Psicológico

0,719

 

 

 

Qualidade de vida - Relações sociais

0,870

 

 

Qualidade de vida - Meio ambiente

0,751

 

 

 

Variância explicada

32,312%

12,899%

 

 

Total de variância explicada

45,211%

 

 

Nota. Rotação Varimax com normalização de Kaiser.

 

 

De ressalvar que esta estrutura denota boas qualidades psicométricas dos instrumentos utilizados. A análise forçada a dois fatores evidenciar que os itens saturam, na sua maioria, de forma mais carregada nos fatores a que teoricamente pertencem, exceção feita para a subescala intimidade que deveria ter saturado na dimensão relacional.

 

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DISCUSSÃO

Os resultados que emergiram da análise exploratória dos totais das escalas e subescalas demonstraram a existência de várias dimensões/fatores comportamentais. Assim, no caso da DM tipo 1, a estrutura encontrada foi de seis fatores denominados psicológico; social; atitudes negativas; atitudes positivas; perfil de saúde e autocuidado. No que respeita ao fator psicológico os construtos que lhe correspondem são a depressão, autoestima e qualidade de vida; ao fator social corresponde-lhe apenas o suporte social; ao fator atitudes negativas são as atitudes face aos médicos e medicina (escala total), atitudes negativas face aos médicos e à medicina; fator atitudes positivas são as atitudes positivas face aos médicos e à medicina; fator perfil de saúde é o perfil de saúde do diabético excetuando a subescala relativa à refeição desinibida; fator autocuidado engloba as medidas de adesão ao tratamento, refeição desinibida, autocuidado alimentar e tratamento insulínico. Assim, os resultados obtidos nesta primeira análise exploratória apontam para a inclusão de aspetos relacionados com a sintomatologia depressiva, o construto avaliativo da autoestima enquanto orientação positiva ou negativa do sujeito em referência a si mesmo (Rosenberg, 1965). De acrescentar a dimensão da qualidade de vida englobando esta a saúde física, o estado psicológico, o nível de independência, as relações sociais, as crenças pessoais e as suas relações com aspetos do meio envolvente (WHOQOL Group, 1995). Já no que se refere ao fator social, o suporte social remete para a ideia de existência ou disponibilidade de outros que se preocupam, confiam, e nos valorizam (Pais-Ribeiro, 1999). Os demais fatores encontrados correspondem ao que seria expectável face aos instrumentos utilizados, sendo de salientar que o fator autocuidado integra fundamentalmente os aspetos inerentes à alimentação e tratamento sendo estes indicadores indiretos de adesão.

No que respeita à DM tipo 2 com tratamento insulínico, a estrutura fatorial aumenta para sete fatores denominados psicológico; social; atitudes negativas; atitudes positivas; qualidade de vida; autocuidado e, por último, apoio. De notar que as variáveis latentes saturam nas componentes adequadas, exceção feita para o suporte social - intimidade e medidas de adesão ao tratamento que saturam na componente apoio. Resulta desta análise exploratória a omissão da componente perfil de saúde, cujas variáveis latentes saturam no fator psicológico e autocuidado. A refeição desinibida, comportamento alimentar e terapêutico encontram-se isoladas do fator que denominámos de autocuidado. Outro dado interessante diz respeito à qualidade de vida - relações sociais que não satura de forma mais carregada na componente qualidade de vida, mas sim na componente psicológica. Uma possível explicação poderá ser a de que as relações sociais avaliadas por esta subescala têm os itens redigidos com base numa avaliação da satisfação pessoal e opinativa, assente na ideia de como o indivíduo se relaciona com os outros. Por exemplo, destacamos os itens estou satisfeito com a quantidade de tempo que passo com os meus amigos, não saio tantas vezes quantas eu gostaria. Esta avaliação por parte de quem responde está assente numa autoperceção sobre si na relação com os outros, pelo que é natural que se agregue à componente psicológica. No que concerne à intimidade, as questões são geralmente baseadas numa avaliação de apoio, e não propriamente de proximidade emocional, caso do item 1 por vezes sinto-me só no mundo e sem apoio, item 4 quando preciso de desabafar com alguém encontro facilmente amigos com quem o fazer, item 5 mesmo nas situações mais embaraçosas, se precisar de apoio de emergência tenho várias pessoas a quem posso recorrer, item 6 às vezes sinto falta de alguém verdadeiramente íntimo que me compreenda e com quem possa desabafar sobre as coisas íntimas.

Reduz-se a seis fatores a AFE no caso da DM tipo 2 terapêutica oral. Assim, considerou-se as seguintes componentes psicológica; atitudes negativas; atitudes positivas; social; autocuidado e apoio. É inequívoca a saturação das variáveis latentes depressão, perfil de saúde e qualidade de vida na primeira componente, isto é, psicológico, bem como as atitudes negativas e atitudes positivas nas componentes 2 e 3 respetivamente. Mais uma vez, a intimidade se isola do fator a que teoricamente deveria pertencer, já que é uma dimensão da ESSS. Contudo, tal como referido anteriormente, a justificação pode estar associada à forma como os itens estão redigidos. Neste caso, na DM tipo 2 com tratamento oral, a subescala atividades sociais associa-se à componente 6, tal como a intimidade. A explicação mantém-se baseada na forma como o doente se sente apoiado pelos amigos, exemplo do item 14 estou satisfeito com as atividade e coisas que faço com o meu grupo de amigos.

A denominação das componentes que resultaram da AFE foi assumida de forma independente, uma vez que se considerou adequado, do ponto de vista metodológico, adotar uma estrutura fatorial com as mesmas denominações quando todo o estudo assenta numa análise diferenciada em função do tipo de DM e terapêutica.

Na tentativa de perceber como se agrupavam as variáveis latentes (escalas e subescalas) foi efetuada uma ACP forçada a dois fatores. Desta feita foi examinada a existência do fator interno e relacional. Conclui-se que o modelo a dois fatores está devidamente encontrado. Com efeito, o construto apoio social não satura no fator relacional, mas sim no fator interno. A ESSS é uma escala manifestamente utilizada em investigações, e cujas propriedades psicométricas se revelam de grande qualidade, contudo, atendendo à forma como os itens estão redigidos, o doente tende a responder de forma muito mais pessoal/individual do que relacional. Sabe-se que as relações sociais são em tudo complexas, que é difícil a destrinça entre o eu e os outros, entre o que são reais necessidades, o que é o suporte real sentido e o suporte social recebido.

Cramer, Henderson e Scott (1997) distinguem suporte social percebido do suporte social recebido. O primeiro refere-se ao suporte social que o indivíduo percebe como disponível se precisar dele, enquanto o segundo descreve o suporte social recebido por alguém.

Uma outra distinção aceitável é o que se entende por suporte social descrito e suporte social avaliado. O suporte social descrito refere-se à presença de um tipo específico de comportamento de suporte, já o segundo, assenta numa base avaliativa desse mesmo comportamento de suporte que pode ser satisfatório e, por isso mesmo, sentido como uma ajuda. Depreende-se facilmente, que a importância individual que atribuímos a tão vasto construto fundamente os resultados encontrados, sobretudo no que se refere à intimidade e relações com os amigos.

No que concerne a estudos no âmbito da saúde, destacamos a investigação levada a cabo por Wethingston e Kessler (1986) que pretenderam determinar se as variáveis de saúde estavam associadas com a perceção de suporte social, propriamente dito, ou com os aspetos objetivos do social. Verificaram que os resultados de saúde eram melhor explicados pela perceção de suporte social do que pelos aspetos tangíveis. Deste modo, e de acordo com Kessler (1985, tal como citado por Pais-Ribeiro, 1999) no caso das doenças crónicas, o suporte social refere-se aos mecanismos pelos quais as relações interpessoais conseguem proteger os indivíduos dos efeitos prejudiciais do stresse sendo que esta variável é muito abrangente, englobando um vasto conjunto de componentes e de aspetos revestindo-se de procedimentos de avaliação muito diversos. Considera-se que esta possível diversidade de avaliação tenha contribuído para uma limitação ao estudo. Acresce a esta reflexão as eventuais limitações do recurso a instrumentos de autorresposta que assentam em pressupostos teóricos complexos e com respostas previamente categorizadas.

A literatura reporta que a adesão ao tratamento na doença crónica implica cumprir escrupulosamente as recomendações terapêuticas (Nieuwlaat et al., 2008; WHO, 2003). A adesão além de ter um efeito positivo na manutenção da saúde, pressupõe aceitação da doença (Sgnaolin & Figueiredo, 2012). Por ser um conceito dinâmico, complexo e multidimensional (Fine et al., 2009; Rosner, 2006) deverá ser entendido tendo por base componentes internas, relacionais e externas ao paciente, tal como explicitado neste artigo. Estas evidências poderão ser um contributo para delinear estratégias educacionais e comportamentais de promoção à adesão.

 

Conflito de interesses: nenhum.

Fontes de financiamento: nenhuma.

 

 

 

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REFERÊNCIAS

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[1] Este artigo apresenta parte dos resultados obtidos num estudo empírico realizado no âmbito da tese de doutoramento da primeira autora.

PhD. Revisão da literatura, conceção da investigação, interpretação e discussão dos resultados e redação do manuscrito. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal. Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Portugal.

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