2017, Vol. 3(1): 41-52
Estudo fatorial exploratório das dimensões
comportamentais de adesão em pessoas com diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2 -
Dimensões comportamentais de adesão[1]
Artigo Original
Ilda Massano Cardoso ⓘ ✉, Fernanda Daniel ⓘ, Vítor
Rodrigues ⓘ, Vítor Rodrigues ⓘ
https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2017.3.1.47
Recebido 12 janeiro 2017
Aceite 27 fevereiro 2017
Objetivos: Analisar as dimensões comportamentais associadas à adesão em
pessoas com diabetes mellitus (DM). Testar o modelo teórico composto por
fatores internos e relacionais ao paciente tendo por base oito instrumentos de
autorresposta.
Métodos: 347 doentes a frequentar consultas de diabetes do Serviço de
Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo no Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra e na Associação Portuguesa de Diabéticos de Portugal que aceitaram
colaborar no preenchimento de instrumentos de autorresposta. Os instrumentos
utilizados foram a Escala de Autoestima de Ronsenberg, WHOQOL-Bref, Escala de
Satisfação com o Suporte Social, Medida de Adesão aos Tratamentos, Attitudes Towards Doctors and Medicine,
Inventário de Depressão de Beck, O Perfil de Saúde da Diabetes e Questionário
de Autocuidados da Diabetes. Foi realizada uma análise fatorial exploratória
(AFE) com recurso ao método das componentes principais. A adequação dos dados à
AFE foi verificada por meio dos testes de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e esfericidade de Bartlett.
Resultados: A estrutura fatorial encontrada no caso da DM tipo 1 é de
seis componentes com uma variância total explicada de 70,8%, na DM tipo 2 com
tratamento insulínico é de sete componentes com uma variância total explicada
de 74,9% e, no caso da DM tipo 2 com tratamento oral, o número de componentes é
de seis com uma variância total explicada de 73,4%.
Conclusões: As saturações mais elevadas corresponderam aos construtos a que
teoricamente deveriam pertencer. Na DM tipo 1, o fator terapêutico desapareceu,
associando-se ao autocuidado. Na DM tipo 2 oral, esta componente emergiu como
uma dimensão. Da análise forçada a dois fatores verificou-se que o suporte
social não saturou de forma adequada no fator relacional, mas sim no fator
interno. Conclui-se a satisfação social pode ser percebida como uma dimensão
interna de adesão.
Palavras chave:
Diabetes mellitus · Dimensões
comportamentais · Análise fatorial · Adesão
A análise dos determinantes ou fatores de
adesão tem sido o tema de diversos trabalhos no âmbito do estudo das doenças
crónicas. A adesão ao tratamento revela uma natureza multifatorial, sendo
influenciada por fontes diversas e estas podem constituir-se, de acordo com
Leventhal e Cameron (1987), em grupos ou componentes diferentes.
Sackett e Haynes (1976) identificaram mais de duas centenas de
variáveis que parecem estar relacionadas com a adesão ao tratamento. Estas
variáveis são agrupadas, segundo estes autores, em cinco categorias: as
características do doente, as características do tratamento, as características
da doença, o relacionamento com os profissionais de saúde e as variáveis
organizacionais e estruturais. Com efeito, Sanchez-Sosa (2001) propõe uma
classificação mais reduzida, operacionalizada em quatro componentes: o doente,
a equipa de saúde, a doença em si e os fatores associados às condições do
macrossistema (traços socioeconómicos, geográficos e culturais de um
determinado país). É reduzida a probabilidade de que estes quatro fatores
“atuem” de forma isolada, sendo de esperar que os fatores se entrecruzem e
interajam, produzindo vários graus de adesão ao tratamento.
Entre os determinantes que têm vindo a ser
identificados salientamos, no presente estudo, a importância das
características comportamentais internas e relacionais no caso da DM, muito
embora a literatura reporte a relevância de variáveis externas ao indivíduo.
Sabe-se que as variáveis demográficas
predizem fracamente a adesão aos autocuidados gerais na diabetes. Tal não
acontece com a idade, que apresenta impacto na adesão (Warren & Hixenbaugh,1998).
Importa, contudo, referir que a relação entre a idade e escolaridade surge
fracamente associada à adesão ao regime alimentar (Brooks, 2002).
Ainda nos determinantes demográficos face à adesão, estudos revelam que
adolescentes com DM tipo 1 aderem menos ao tratamento do que as crianças,
nomeadamente em relação à regularidade da toma de insulina, exercício físico,
cuidados alimentares e automonitorização da glicemia capilar (Hirschberg,
2001).
Os fatores relacionais, tal como o apoio
social apresentam efeitos combinados com a idade (Warren & Hixenbaugh,1998).
Estes autores verificaram a existência de uma menor probabilidade de aderir à
terapêutica quando estão em contexto de trabalho, em idades compreendidas entre
os 18 e os 50 anos. A probabilidade de não adesão aumenta nos doentes com idade
superior a 50 anos quando em presença de amigos. Este facto ilustra bem o
impacto das relações sociais no desempenho terapêutico dos doentes com
diabetes. No que respeita aos efeitos combinados do sexo com o apoio social,
Warren e Hixenbaugh (1998) afirmam tratar-se de um fator preponderante
na adesão, constatando que os homens apresentam uma menor adesão ao tratamento
na presença de colegas de trabalho do que as mulheres.
Numa revisão do estudo publicado por Ryan (1997)
foram encontradas diferenças significativas quanto à relação idade do doente e
às crenças na saúde, podendo estas ser determinantes da adesão. A perceção da
gravidade, pelos indivíduos mais novos, parece promover a adesão à terapêutica
enquanto para os mais velhos são os benefícios percebidos da adesão ao
tratamento que os fazem ter mais autocuidados na diabetes.
Tal como descrito anteriormente, são múltiplos os fatores que poderem
determinar a adesão. Assim, através de um modelo meramente exploratório neste
trabalho procurou explorar-se as variáveis que podem associar-se à adesão.
Na avaliação e refinamento dos
instrumentos de avaliação é frequente recorrer-se a procedimentos estatísticos,
nomeadamente à análise fatorial exploratória (AFE). Este conjunto de técnicas
tem como principal objetivo encontrar uma estrutura subjacente numa matriz e
determinar o número e a natureza das variáveis latentes (fatores) que melhor
podem representar um conjunto de variáveis observadas (Brown, 2006).
De acordo com Pasquali (2003)
a análise fatorial (AF) assenta num pressuposto em que as variáveis empíricas
ou observáveis (normalmente traduzidas por indicadores) podem ser explicadas
por um número menor de variáveis hipotéticas, comumente designada por fatores.
Participantes
O presente estudo foi conduzido numa amostra de 347 indivíduos a
frequentar consultas de diabetes do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e
Metabolismo no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e na
Associação Protetora de Diabéticos de Portugal (APDP), com diagnóstico da
doença há pelo menos um ano e com idade superior a dezoito anos. A técnica de
amostragem foi por conveniência.
Material
Foram utilizados instrumentos gerais e específicos para a avaliação dos
fatores comportamentais.
Instrumentos gerais
A escala de autoestima de
Ronsenberg (RSE) (Ronsenberg, 1965). A RSE, adaptada para
Portugal por Santos e Maia (2003), é um instrumento que tem como
principal objetivo avaliar a autoestima de forma breve, global e
unidimensional. A autoestima é entendida como autoaceitação, como sensação
básica de mérito pessoal, de respeito por si próprio, como uma atitude positiva
ou negativa relativamente ao self. É aplicável à população de qualquer idade.
Este instrumento é constituído por dez itens, apresentado por afirmações em que
as respostas são dadas numa escala ordinal de concordância com quatro posições,
entre o concordo fortemente a discordo fortemente. A pontuação varia entre 10 e
40. Quanto maior a pontuação maior a autoestima. A consistência interna da
escala é de α
= 0,86.
WHOQOL-Bref (Canavarro et
al., 2006). A WHOQOL-Bref é uma versão revista e reduzida do
WHOQOL – 100 (OMS, 1995) constituído por vinte e seis perguntas, das quais duas
avaliam a qualidade de vida geral e as restantes vinte e quatro de forma
específica, organizadas em 4 domínios. Enquanto no instrumento original cada
faceta é avaliada por quatro questões, nesta versão abreviada as facetas são
avaliadas apenas por uma questão. Os domínios que avalia são quatro: físico;
psicológico; relações sociais e meio ambiente. A pontuação final é avaliada
numa escala de 0 a 100. Quanto maior a pontuação maior a qualidade de vida em
cada dimensão. A consistência interna da escala total avaliada pelo α de
Cronbach, é de α = 0,92 e para cada dimensão α = 0,87, α = 0,84, α = 0,64 e α = 0,78, respetivamente.
Escala de Satisfação com o Suporte
Social (ESSS) (Pais-Ribeiro, 1999). A
ESSS tem como objetivo avaliar a satisfação com o suporte social percebido
em adultos. A versão final é constituída por quinze frases que se apresentam
como um conjunto de afirmações que estão distribuídas por quatro dimensões. Os
respondentes devem assinalar o grau em que concordam ou não com as afirmações numa
escala ordinal de cinco pontos. Quanto mais elevado o valor obtido, maior a
satisfação com o suporte social. A pontuação varia de 15 a 75. A consistência
interna dos fatores, avaliada através do α de Cronbach é a seguinte: satisfação com
os amigos (mede a satisfação com as amizades) (α = 0,83); intimidade (avalia a perceção
da existência de suporte social íntimo) (α = 0,74); satisfação com a família (mede
a satisfação com o suporte social familiar existente) (α = 0,74); atividades
sociais (avalia as atividades sociais que realiza) (α = 0,64). A consistência
interna da escala total é de α = 0,85.
Medida de Adesão aos Tratamentos
(MAT) (Delgado & Lima, 2001). A MAT é uma
escala que pretende avaliar o comportamento de adesão ao tratamento. A escala é
constituída por sete itens, cujas respostas são dadas numa escala ordinal de
seis posições. Quanto maior a pontuação, maior a adesão. A pontuação varia de 7
a 42. A consistência interna da escala é de α = 0,74.
Attitudes Towards Doctors and Medicine (EAMM) (Marteau,
1990). A
EAMM ou, na versão portuguesa, Escala de Atitudes Face aos Médicos e à Medicina
(EAMM) foi adaptada por Pereira e Silva (1999). O
principal objetivo deste instrumento é avaliar as atitudes dos indivíduos ou
grupos face aos médicos e à medicina, em utentes dos serviços de saúde. Este
instrumento é constituído por dezanove itens que se distribuem por quatro
subescalas: atitudes positivas face aos médicos; atitudes negativas face aos
médicos; atitudes positivas face à medicina; atitudes negativas face à
medicina. Cada item constitui uma afirmação em que a resposta é dada numa
escala ordinal de intensidade de seis pontos que varia entre o “discordo
totalmente” e o “concordo totalmente”. A pontuação mais baixa corresponde a uma
atitude negativa face aos médicos e medicina, e a pontuação mais elevada
corresponde a uma atitude positiva face aos médicos e medicina. A consistência interna é de α =
0,74.
Inventário de Depressão de Beck
(BDI) (Beck, Ward, Mendelson, Mock, & Erbaugh, 1961)
versão portuguesa de Vaz-Serra e Pio-Abreu (1973a). O BDI
é um instrumento de autorresposta constituído por vinte e um grupos de
afirmações que têm por objetivo medir a sintomatologia depressiva,
encontrando-se esta organizada em seis tipos de sintomas: afetivos, cognitivos,
motivacionais, delirantes, físicos e funcionais (padrão de sono, apetite, peso
e líbido). Cada um destes grupos de afirmações é composto por quatro, cinco ou
seis frases ordenadas em função da gravidade crescente do sintoma com que se
relacionam. As afirmações presentes em cada conjunto dizem respeito a quatro
graus de severidade – inexistente, leve, moderado e grave. Estes graus permitem
avaliar o nível de depressão que o indivíduo evidencia. Para tal, o sujeito
deverá assinalar apenas uma afirmação em cada grupo, correspondendo essa à que
considera como a melhor para descrever o modo como se sente no momento atual.
Em termos psicométricos, o BDI revelou possuir boas propriedades no que toca à
sua fidedignidade (Beck & Beasmesderfer, 1974 tal como citado por Pinto
Gouveia, 1990) e validade (Bumberry et al., tal como citado por Pinto
Gouveia, 1990). No presente estudo utilizou-se a versão portuguesa
do BDI (Vaz-Serra & Pio Pio-Abreu, 1973a; 1973b), que
apresenta um ponto de corte de doze, encontrando-se a população deprimida acima
deste valor. Por sua vez, Kendall, Hollon, Beck, Hammem e Ingram (1987)
indicam os seguintes valores de corte: 0 a 9 – normal; 10 a 20 – depressão leve
(pontuações entre 10 e 17 correspondem a estados disfóricos, e superiores a 17
a estados depressivos); 20 a 30 – depressão moderada; valores superiores a 30 –
depressão grave. A pontuação varia entre 0 e 63. A consistência interna é de α =
0,81.
Instrumentos específicos
O Perfil de Saúde da Diabetes (DHP)
(Meadows et al., 1996). O DHP é muito utilizado em doentes com DM tipo 1 e DM tipo 2 e
permite avaliar o estado de saúde do indivíduo. Contém trinta e dois itens e
engloba três subescalas: perturbação psicológica (e.g. humor disfórico, hostilidade e irritabilidade); barreiras para
a atividade (e.g. visível debilitação
em atividades sociais); refeição desinibida (e.g. refeição em resposta ao despertar emocional), que medem a
relação da diabetes com disfunções comportamentais e psicológicas. Este
instrumento é de fácil e rápida administração e é o único instrumento que
possui versões específicas para os dois tipos de diabetes. A pontuação varia numa escala de 0 a 100.
Quanto maior o total da escala, maior a disfunção. A confiança destas
subescalas foi medida pelo alfa de Cronbach em 0,86, 0,82 e 0,77,
respetivamente.
Questionário de Autocuidados da
Diabetes (QACD) (Silva, Pais-Ribeiro, Cardoso, & Ramos, 2002).
O QACD avalia a adesão ao autocuidado em doentes com diabetes e é constituído
por onze itens inspirados no The Summary
of Diabetes Self-care Activities Questionnaire de Toolbert e Glascow (1994,
tal como citado por Pais-Ribeiro, 2007). Trata-se de um
questionário de autorresposta que pretende avaliar a adesão ao tratamento da
diabetes ao longo da última semana. Os itens estão distribuídos por três
subescalas: cuidados alimentares; tratamento insulínico; tratamento
antidiabético oral. As respostas são tipo Likert, com possibilidade de cinco a
seis opções de resposta, conforme a subescala que está a ser avaliada. Quanto
mais elevado for o resultado total das subescalas maior a adesão ao tratamento.
Os valores das subescalas variam entre 0 e 28 (cuidados alimentares) e 0 e 16
(tratamento insulínico e antidiabético oral). A consistência interna do total
da escala é aceitável, atendendo ao reduzido número de itens (α =
0,66). Cada uma das subescalas tem uma consistência interna de α =
0,62, α
= 0,75, α
= 0,88, respetivamente.
Procedimentos
Foi solicitado aos doentes que participassem num estudo sobre a diabetes
através do preenchimento de instrumentos de autorresposta.
Todos os participantes tiveram informação prévia sobre como deveriam
proceder para o preenchimento dos instrumentos e, apesar de serem todos de
autorresposta, sempre que solicitado por parte dos doentes estava um psicólogo
ou um enfermeiro disponível para apoiar no seu correto preenchimento.
Análise Estatística
A análise estatística dos dados foi efetuada por recurso ao Software
estatístico SPSS Statistics (v.21;
IBM SPSS Statistics).
Na generalidade são apresentadas as estatísticas descritivas e
inferenciais. A análise fatorial exploratória (AFE) foi realizada por recurso
ao método das componentes principais. A adequação dos dados à AFE foi
verificada por meio dos testes de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e esfericidade de Bartlett. Note-se que o modelo testado
engloba três fatores (internos, relacionais e externos ao paciente), no
entanto, procedemos a uma AFE forçada a dois fatores dado que o fator
correspondente aos aspetos externos ao paciente não integrou a AFE pelo facto
das variáveis nele incluídas serem tipo de diabetes (DM tipo 1 e DM tipo 2) e
regime terapêutico (insulínico e oral).
Considerações
Ético-Legais
O estudo aqui reportado foi submetido à Comissão de Ética para a Saúde
dos Hospitais da Universidade de Coimbra (atualmente designado por CHUC) e
Direção da Associação Portuguesa de Diabéticos de Portugal tendo sido obtido
parecer positivo. Foi concedida autorização de administração de todos os
instrumentos por parte dos editores e/ou autores. Todos os participantes deram
o seu consentimento informado, por escrito, sendo-lhes assegurado o anonimato e
confidencialidade dos dados.
Na Tabela 1 são
apresentados os dados relativos ao sexo e tipologia da diabetes dos
participantes no estudo.
|
Distribuição
da Amostra por Sexos e Tipo de Diabetes |
|
|||||
|
|
Tipo 1 |
Tipo 2 |
|
|||
|
n
|
%
|
n
|
%
|
|
||
|
Sexo |
Masculino |
83 |
52,2 |
113 |
60,4 |
|
|
Feminino |
76 |
47,8 |
75 |
39,6 |
|
|
|
Total |
159 |
100 |
188 |
100 |
|
|
|
Nota. n = amostra; % = frequência relativa
em percentagem. |
|
Estrutura
fatorial exploratória
Realizou-se uma análise fatorial exploratória
com base em todos totais das escalas e subescalas por forma a tentar
compreender se as variáveis compósitas dos vários instrumentos se reduziam a
fatores comportamentais. Foi igualmente avaliada a adequação dos dados à
análise fatorial.
O valor de KMO
foi de 0,73 (DM tipo 1) e 0,70 (DM tipo 2) e o teste de Esfericidade de
Bartlett alcançou em ambos os casos significância estatística, suportando a
fatoribilidade da matriz de correlação. Assim, através do método da análise das
componentes principais, foi possível encontrar seis a sete variáveis
hipotéticas (fatores). Fatores esses que, teoricamente podiam ser, em nosso
entender, determinantes para a adesão e que se enquadravam no modelo teórico a
explicar.
A estrutura fatorial encontrada, através da
rotação Varimax e com valores
próprios superiores a um, foi clara quanto ao tipo de fatores (intrínsecos e
externos ao paciente), bem como em função do tipo de diabetes e em função do
tratamento.
Apresentamos seguidamente os resultados da AFE
por tipologia de diabetes e tratamento.
Na Tabela 2 são reportados
os dados da AFE na DM1 tendo emergido seis fatores com valores próprios
superiores a um, explicando 32,40%, 13,82%, 9,28%, 6,20%, 5,65% e 4,65% da
variância respetivamente, perfazendo um total de variância explicada de 71,96%.
|
DM1 - Análise Exploratória das Componentes Principais |
|
||||||
|
Escalas e subescalas |
Componentes |
|
|||||
|
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
|
|
|
Depressão |
-0,676 |
|
|
|
|
|
|
|
Autoestima |
0,670 |
|
|
|
|
|
|
|
Suporte social (ESSS) |
0,385 |
0,884 |
|
|
|
|
|
|
Satisfação com os amigos
(ESSS) |
0,341 |
0,819 |
|
|
|
|
|
|
Intimidade (ESSS) |
0,375 |
0,462 |
|
|
|
|
|
|
Satisfação com a família
(ESSS) |
|
0,727 |
|
|
|
|
|
|
Atividades sociais (ESSS) |
|
0,668 |
|
|
|
|
|
|
Atitudes face aos médicos e
à medicina |
|
|
0,771 |
0,569 |
|
|
|
|
Atitudes positivas face aos
médicos |
|
|
|
0,941 |
|
|
|
|
Atitudes negativas face aos
médicos |
|
|
0,944 |
|
|
|
|
|
Atitudes positivas face à
medicina |
|
|
|
0,941 |
|
|
|
|
Atitudes negativas face à
medicina |
|
|
0,944 |
|
|
|
|
|
Medida de adesão aos
tratamentos |
|
|
|
|
|
0,734 |
|
|
Perfil de saúde do
diabético (DHP) |
-0,369 |
|
|
|
0,864 |
|
|
|
Perturbação psicológica
(DHP) |
-0,497 |
|
|
|
0,618 |
|
|
|
Barreiras físicas (DHP) |
|
|
|
|
0,832 |
|
|
|
Refeição desinibida (DHP) |
|
|
|
|
0,442 |
0,556 |
|
|
Autocuidado alimentar |
|
|
|
|
|
0,577 |
|
|
Autocuidado tratamento
insulínico |
|
|
|
|
|
0,721 |
|
|
Qualidade de vida geral
(WG) |
0,774 |
|
|
|
|
|
|
|
Qualidade de vida - Físico |
0,733 |
|
|
|
|
|
|
|
Qualidade de vida -
Relações sociais |
0,751 |
|
|
|
|
|
|
|
Qualidade de vida –
Psicológico |
0,644 |
0,414 |
|
|
|
|
|
|
Qualidade de vida - Meio
ambiente |
0,750 |
|
|
|
|
|
|
|
Nota. Rotação Varimax com normalização de Kaiser. Componentes: 1 =
Psicológico; 2 = Social; 3 = Atitudes negativas; 4 = Atitudes positivas; 5 =
Perfil de Saúde; 6 = Autocuidado. |
|
Nas Tabelas 3 e 4 são apresentados os dados relativos à análise
das componentes principais no caso da DM tipo 2. A Tabela 3
refere-se aos resultados em situação de tratamento insulínico, da qual
resultaram sete componentes com valores próprios superiores a um, explicando
31,34%, 11,90%, 11,09%, 6,77%, 5,55%, 4,56% e 4,24% da variância,
respetivamente. O total da variância explicada para estes fatores/componentes
situou-se nos 75,45%.
|
DM2 (insulina) - Análise das Componentes Principais |
|
|
||||||
|
Escalas e subescalas |
Componentes |
|
|
|||||
|
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
|
|
|
Depressão |
-0,558 |
-0,435 |
|
|
|
|
|
|
|
Autoestima |
0,674 |
|
|
|
|
|
|
|
|
Suporte social (ESSS) |
|
0,791 |
|
|
0,414 |
|
|
|
|
Satisfação com os amigos
(ESSS) |
|
0,810 |
|
|
|
|
|
|
|
Intimidade (ESSS) |
|
|
|
|
|
|
-0,747 |
|
|
Satisfação com a família
(ESSS) |
|
0,841 |
|
|
|
|
|
|
|
Atividades sociais (ESSS) |
|
|
|
|
0,630 |
|
|
|
|
Atitudes face aos médicos e
à medicina (ADMS) |
|
|
0,720 |
0,594 |
|
|
|
|
|
Atitudes positivas face aos
médicos |
|
|
|
0,941 |
|
|
|
|
|
Atitudes negativas face aos
médicos |
|
|
0,960 |
|
|
|
|
|
|
Atitudes positivas face à
medicina |
|
|
|
0,941 |
|
|
|
|
|
Atitudes negativas face à
medicina |
|
|
0,960 |
|
|
|
|
|
|
Medida de adesão aos
tratamentos |
|
0,521 |
|
|
|
|
0,523 |
|
|
Perfil de saúde do
diabético (DHP) |
-0,808 |
-0,352 |
|
|
|
|
|
|
|
Perturbação psicológica
(DHP) |
-0,586 |
-0,478 |
|
|
|
|
|
|
|
Barreiras físicas (DHP) |
-0,808 |
|
|
|
|
|
|
|
|
Refeição desinibida (DHP) |
|
|
|
|
0,407 |
-0,448 |
|
|
|
Autocuidado alimentar |
|
|
|
|
|
0,768 |
|
|
|
Autocuidado tratamento
insulínico |
|
|
|
|
|
0,720 |
|
|
|
Qualidade de vida geral
(WG) |
|
0,360 |
|
|
0,616 |
|
|
|
|
Qualidade de vida - Físico |
0,534 |
|
|
|
0,579 |
|
|
|
|
Qualidade de vida -
Relações sociais |
0,696 |
|
|
|
0,337 |
|
|
|
|
Qualidade de vida –
Psicológico |
|
|
|
|
0,673 |
|
|
|
|
Qualidade de vida - Meio
ambiente |
0,503 |
|
|
|
0,556 |
|
|
|
|
Nota. Rotação Varimax com normalização de Kaiser. Componentes: 1 = Psicológico;
2 = Social; 3 = Atitudes negativas; 4 = Atitudes positivas; 5 = Perfil de
Saúde; 6 = Autocuidado; 7 = Apoio. |
|
|
DM2 (oral) - Análise das Componentes Principais |
|
||||||
|
Escalas e subescalas |
Componentes |
|
|||||
|
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
|
|
|
Depressão |
-0,665 |
|
|
|
|
-0,354 |
|
|
Autoestima |
0,665 |
|
|
|
|
|
|
|
Suporte social (ESSS) |
|
|
|
0,768 |
|
0,543 |
|
|
Satisfação com os amigos
(ESSS) |
|
|
|
0,838 |
|
|
|
|
Intimidade (ESSS) |
|
|
|
|
|
0,769 |
|
|
Satisfação com a família
(ESSS) |
|
|
|
0,906 |
|
|
|
|
Atividades sociais (ESSS) |
|
|
|
|
|
0,835 |
|
|
Atitudes face aos médicos e
à medicina (ADMS) |
|
0,737 |
0,624 |
|
|
|
|
|
Atitudes positivas face aos
médicos |
|
|
0,951 |
|
|
|
|
|
Atitudes negativas face aos
médicos |
|
0,906 |
|
|
|
|
|
|
Atitudes positivas face à
medicina |
|
|
0,951 |
|
|
|
|
|
Atitudes negativas face à medicina |
|
0,906 |
|
|
|
|
|
|
Medida de adesão aos
tratamentos |
|
|
|
|
0,839 |
|
|
|
Perfil de saúde do
diabético (DHP) |
-0,913 |
|
|
|
|
|
|
|
Perturbação psicológica
(DHP) |
-0,798 |
|
|
|
|
|
|
|
Barreiras físicas (DHP) |
-0,748 |
|
|
|
0,331 |
|
|
|
Refeição desinibida (DHP) |
-0,609 |
|
|
|
|
|
|
|
Autocuidado alimentar |
|
|
|
|
0,763 |
|
|
|
Autocuidado tratamento
insulínico |
|
|
|
|
0,759 |
|
|
|
Qualidade de vida geral
(WG) |
0,715 |
|
|
|
|
,305 |
|
|
Qualidade de vida - Físico |
0,674 |
|
|
0,305 |
|
|
|
|
Qualidade de vida -
Relações sociais |
0,771 |
|
|
|
|
|
|
|
Qualidade de vida – Psicológico |
0,713 |
|
|
0,324 |
|
0,390 |
|
|
Qualidade de vida - Meio
ambiente |
0,766 |
|
|
|
|
|
|
|
Nota. Componentes: 1 = Psicológico; 2 =
Social; 3 = Atitudes negativas; 4 = Atitudes positivas; 5 = Perfil de Saúde;
6 = Apoio. |
|
Análise das componentes principais (ACP) forçada a dois fatores. Como
se apresenta na Tabela
5 explorou-se a forma como se agrupavam os construtos latentes deste
estudo. Assim, procedeu-se a uma ACP forçada a dois fatores, de forma testar o
modelo teórico composto por três grandes fatores: internos, relacionais e
externos ao paciente. Para valores próprios superiores a um, os dois fatores
explicam 32,36% 13,82% da variância. A variância total explicada é de 46,17%.
|
DM1 - ACP Forçada a Dois Fatores |
|
||
|
Escalas e subescalas |
Componentes |
|
|
|
1. Interno |
2.
Relacional |
|
|
|
Depressão |
-0,808 |
|
|
|
Autoestima |
0,696 |
|
|
|
Suporte social |
0,847 |
|
|
|
Satisfação com os amigos |
0,735 |
|
|
|
Intimidade |
0,658 |
|
|
|
Satisfação com a família |
0,559 |
|
|
|
Atividades sociais |
0,660 |
|
|
|
Atitudes face aos médicos e
à medicina |
0,930 |
|
|
|
Atitudes positivas face aos
médicos |
0,674 |
|
|
|
Atitudes negativas face aos
médicos |
0,703 |
|
|
|
Atitudes positivas face à
medicina |
0,674 |
|
|
|
Atitudes negativas face à medicina |
0,703 |
|
|
|
Medida de adesão aos
tratamentos |
0,345 |
|
|
|
Perfil de saúde do
diabético |
-0,767 |
|
|
|
Perturbação psicológica |
-0,757 |
|
|
|
Barreiras físicas |
-0,474 |
|
|
|
Refeição desinibida |
-0,537 |
|
|
|
Autocuidado alimentar |
0,331 |
0,361 |
|
|
Autocuidado tratamento
insulínico |
|
0,408 |
|
|
Qualidade de vida geral |
0,688 |
|
|
|
Qualidade de vida - Físico |
0,639 |
|
|
|
Qualidade de vida -
Psicológico |
0,723 |
|
|
|
Qualidade de vida -
Relações sociais |
0,783 |
|
|
|
Qualidade de vida - Meio
ambiente |
0,698 |
|
|
|
Variância explicada |
32,359% |
13,815% |
|
|
Total de variância
explicada |
46,174% |
|
|
|
Nota. Rotação Varimax com normalização de Kaiser. |
|
De acordo com o modelo estabelecido, o
"autocuidado alimentar" e o "tratamento insulínico" deveriam
saturar na componente interna, contudo, como se observa na Tabela 6, tal não se
verifica.
Na Tabela 7 pode verificar-se
que a satisfação com o suporte social satura de forma bem manifesta na componente
"interna" e não na "relacional". A variância explicada
situa-se nos 31,34%, 11,90% e 43,24% da variância total, no caso da DM tipo 2
com tratamento oral. No que respeita ao tratamento insulínico a variância é de
32,31%, 12,90% e 45,21% da variância total.
|
DM 2 (Insulina) - ACP Forçada a Dois Fatores |
|
||
|
Escalas e subescalas |
Componentes |
|
|
|
1. Interno |
2.
Relacional |
|
|
|
Depressão |
-0,777 |
|
|
|
Autoestima |
0,684 |
|
|
|
Suporte social |
0,779 |
0,334 |
|
|
Satisfação com os amigos |
0,635 |
0,476 |
|
|
Intimidade |
0,402 |
|
|
|
Satisfação com a família |
0,532 |
0,347 |
|
|
Atividades sociais |
0,498 |
|
|
|
Atitudes face aos médicos e
à medicina |
0,466 |
|
|
|
Atitudes positivas face aos
médicos |
0,615 |
|
|
|
Atitudes negativas face aos
médicos |
0,385 |
-0,680 |
|
|
Atitudes positivas face à
medicina |
0,615 |
|
|
|
Atitudes negativas face à
medicina |
0,385 |
-0,680 |
|
|
Medida de adesão aos
tratamentos |
0,493 |
|
|
|
Perfil de saúde do
diabético |
-0,819 |
|
|
|
Perturbação psicológica |
-0,814 |
|
|
|
Barreiras físicas |
-0,604 |
|
|
|
Refeição desinibida |
|
|
|
|
Autocuidado alimentar |
|
|
|
|
Autocuidado tratamento
insulínico |
|
|
|
|
Qualidade de vida geral |
0,701 |
|
|
|
Qualidade de vida - Físico |
0,672 |
|
|
|
Qualidade de vida -
Psicológico |
0,769 |
|
|
|
Qualidade de vida -
Relações sociais |
0,594 |
|
|
|
Qualidade de vida - Meio
ambiente |
0,819 |
|
|
|
Variância explicada |
31,343% |
11,897% |
|
|
Total de variância
explicada |
43,240% |
|
|
|
Nota. Rotação Varimax com normalização de Kaiser. |
|
|
DM 2 (Oral) - ACP Forçada a Dois Fatores |
|
||
|
Escalas e subescalas |
Componentes |
|
|
|
1. Interno |
2.
Relacional |
|
|
|
Depressão |
-0,776 |
|
|
|
Autoestima |
0,612 |
|
|
|
Suporte social |
0,758 |
|
|
|
Satisfação com os amigos |
0,650 |
|
|
|
Intimidade |
0,514 |
|
|
|
Satisfação com a família |
0,475 |
|
|
|
Atividades sociais |
0,493 |
|
|
|
Atitudes face aos médicos e
à medicina |
0,951 |
|
|
|
Atitudes positivas face aos
médicos |
0,603 |
|
|
|
Atitudes negativas face aos
médicos |
0,709 |
|
|
|
Atitudes positivas face à
medicina |
0,603 |
|
|
|
Atitudes negativas face à
medicina |
0,709 |
|
|
|
Medida de adesão aos tratamentos |
|
0,336 |
|
|
Perfil de saúde do
diabético |
-0,768 |
|
|
|
Perturbação psicológica |
-0,756 |
-0,355 |
|
|
Barreiras físicas |
-0,624 |
|
|
|
Refeição desinibida |
-0,389 |
-0,391 |
|
|
Autocuidado alimentar |
0,301 |
|
|
|
Autocuidado tratamento
insulínico |
|
0,304 |
|
|
Qualidade de vida geral |
0,768 |
|
|
|
Qualidade de vida - Físico |
0,696 |
|
|
|
Qualidade de vida -
Psicológico |
0,719 |
|
|
|
Qualidade de vida -
Relações sociais |
0,870 |
|
|
|
Qualidade de vida - Meio
ambiente |
0,751 |
|
|
|
Variância explicada |
32,312% |
12,899% |
|
|
Total de variância
explicada |
45,211% |
|
|
|
Nota. Rotação Varimax com normalização de Kaiser. |
|
De ressalvar que esta estrutura denota boas
qualidades psicométricas dos instrumentos utilizados. A análise forçada a dois fatores
evidenciar que os itens saturam, na sua maioria, de forma mais carregada nos
fatores a que teoricamente pertencem, exceção feita para a subescala intimidade
que deveria ter saturado na dimensão relacional.
Os resultados que emergiram da análise exploratória
dos totais das escalas e subescalas demonstraram a existência de várias
dimensões/fatores comportamentais. Assim, no caso da DM tipo 1, a estrutura
encontrada foi de seis fatores denominados psicológico; social; atitudes
negativas; atitudes positivas; perfil de saúde e autocuidado. No que respeita
ao fator psicológico os construtos que lhe correspondem são a depressão,
autoestima e qualidade de vida; ao fator social corresponde-lhe apenas o
suporte social; ao fator atitudes negativas são as atitudes face aos médicos e
medicina (escala total), atitudes negativas face aos médicos e à medicina;
fator atitudes positivas são as atitudes positivas face aos médicos e à
medicina; fator perfil de saúde é o perfil de saúde do diabético excetuando a
subescala relativa à refeição desinibida; fator autocuidado engloba as medidas
de adesão ao tratamento, refeição desinibida, autocuidado alimentar e
tratamento insulínico. Assim, os resultados obtidos nesta primeira análise exploratória
apontam para a inclusão de aspetos relacionados com a sintomatologia
depressiva, o construto avaliativo da autoestima enquanto orientação positiva
ou negativa do sujeito em referência a si mesmo (Rosenberg, 1965).
De acrescentar a dimensão da qualidade de vida englobando esta a saúde física,
o estado psicológico, o nível de independência, as relações sociais, as crenças
pessoais e as suas relações com aspetos do meio envolvente (WHOQOL Group,
1995). Já no que se refere ao fator social, o suporte social remete para a
ideia de existência ou disponibilidade de outros que se preocupam, confiam, e
nos valorizam (Pais-Ribeiro, 1999). Os demais fatores encontrados
correspondem ao que seria expectável face aos instrumentos utilizados, sendo de
salientar que o fator autocuidado integra fundamentalmente os aspetos inerentes
à alimentação e tratamento sendo estes indicadores indiretos de adesão.
No que respeita à DM tipo 2 com tratamento insulínico,
a estrutura fatorial aumenta para sete fatores denominados psicológico; social;
atitudes negativas; atitudes positivas; qualidade de vida; autocuidado e, por
último, apoio. De notar que as variáveis latentes saturam nas componentes
adequadas, exceção feita para o suporte social - intimidade e medidas de adesão
ao tratamento que saturam na componente apoio. Resulta desta análise
exploratória a omissão da componente perfil de saúde, cujas variáveis latentes
saturam no fator psicológico e autocuidado. A refeição desinibida,
comportamento alimentar e terapêutico encontram-se isoladas do fator que
denominámos de autocuidado. Outro dado interessante diz respeito à qualidade de
vida - relações sociais que não satura de forma mais carregada na componente
qualidade de vida, mas sim na componente psicológica. Uma possível explicação
poderá ser a de que as relações sociais avaliadas por esta subescala têm os
itens redigidos com base numa avaliação da satisfação pessoal e opinativa,
assente na ideia de como o indivíduo se relaciona com os outros. Por exemplo,
destacamos os itens estou satisfeito com a quantidade de tempo que passo com os
meus amigos, não saio tantas vezes quantas eu gostaria. Esta avaliação por
parte de quem responde está assente numa autoperceção sobre si na relação com
os outros, pelo que é natural que se agregue à componente psicológica. No que
concerne à intimidade, as questões são geralmente baseadas numa avaliação de
apoio, e não propriamente de proximidade emocional, caso do item 1 por vezes
sinto-me só no mundo e sem apoio, item 4 quando preciso de desabafar com alguém
encontro facilmente amigos com quem o fazer, item 5 mesmo nas situações mais
embaraçosas, se precisar de apoio de emergência tenho várias pessoas a quem
posso recorrer, item 6 às vezes sinto falta de alguém verdadeiramente íntimo
que me compreenda e com quem possa desabafar sobre as coisas íntimas.
Reduz-se a seis fatores a AFE no caso da DM tipo 2
terapêutica oral. Assim, considerou-se as seguintes componentes psicológica;
atitudes negativas; atitudes positivas; social; autocuidado e apoio. É
inequívoca a saturação das variáveis latentes depressão, perfil de saúde e
qualidade de vida na primeira componente, isto é, psicológico, bem como as
atitudes negativas e atitudes positivas nas componentes 2 e 3 respetivamente.
Mais uma vez, a intimidade se isola do fator a que teoricamente deveria
pertencer, já que é uma dimensão da ESSS. Contudo, tal como referido
anteriormente, a justificação pode estar associada à forma como os itens estão
redigidos. Neste caso, na DM tipo 2 com tratamento oral, a subescala atividades
sociais associa-se à componente 6, tal como a intimidade. A explicação
mantém-se baseada na forma como o doente se sente apoiado pelos amigos, exemplo
do item 14 estou satisfeito com as atividade e coisas que faço com o meu grupo
de amigos.
A denominação das componentes que resultaram da AFE
foi assumida de forma independente, uma vez que se considerou adequado, do
ponto de vista metodológico, adotar uma estrutura fatorial com as mesmas
denominações quando todo o estudo assenta numa análise diferenciada em função
do tipo de DM e terapêutica.
Na tentativa de perceber como se agrupavam as
variáveis latentes (escalas e subescalas) foi efetuada uma ACP forçada a dois
fatores. Desta feita foi examinada a existência do fator interno e relacional.
Conclui-se que o modelo a dois fatores está devidamente encontrado. Com efeito,
o construto apoio social não satura no fator relacional, mas sim no fator
interno. A ESSS é uma escala manifestamente utilizada em investigações, e cujas
propriedades psicométricas se revelam de grande qualidade, contudo, atendendo à
forma como os itens estão redigidos, o doente tende a responder de forma muito
mais pessoal/individual do que relacional. Sabe-se que as relações sociais são
em tudo complexas, que é difícil a destrinça entre o eu e os outros, entre o
que são reais necessidades, o que é o suporte real sentido e o suporte social
recebido.
Cramer, Henderson e Scott (1997) distinguem
suporte social percebido do suporte social recebido. O primeiro refere-se ao
suporte social que o indivíduo percebe como disponível se precisar dele,
enquanto o segundo descreve o suporte social recebido por alguém.
Uma outra distinção aceitável é o que se entende por
suporte social descrito e suporte social avaliado. O suporte social descrito
refere-se à presença de um tipo específico de comportamento de suporte, já o
segundo, assenta numa base avaliativa desse mesmo comportamento de suporte que
pode ser satisfatório e, por isso mesmo, sentido como uma ajuda. Depreende-se
facilmente, que a importância individual que atribuímos a tão vasto construto
fundamente os resultados encontrados, sobretudo no que se refere à intimidade e
relações com os amigos.
No que concerne a estudos no âmbito da saúde,
destacamos a investigação levada a cabo por Wethingston e Kessler (1986)
que pretenderam determinar se as variáveis de saúde estavam associadas com a
perceção de suporte social, propriamente dito, ou com os aspetos objetivos do social.
Verificaram que os resultados de saúde eram melhor explicados pela perceção de
suporte social do que pelos aspetos tangíveis. Deste modo, e de acordo com
Kessler (1985, tal como citado por Pais-Ribeiro, 1999)
no caso das doenças crónicas, o suporte social refere-se aos mecanismos pelos
quais as relações interpessoais conseguem proteger os indivíduos dos efeitos
prejudiciais do stresse sendo que esta variável é muito abrangente, englobando
um vasto conjunto de componentes e de aspetos revestindo-se de procedimentos de
avaliação muito diversos. Considera-se que esta possível diversidade de
avaliação tenha contribuído para uma limitação ao estudo. Acresce a esta
reflexão as eventuais limitações do recurso a instrumentos de autorresposta que
assentam em pressupostos teóricos complexos e com respostas previamente
categorizadas.
A literatura reporta que a adesão ao tratamento na
doença crónica implica cumprir escrupulosamente as recomendações terapêuticas (Nieuwlaat
et al., 2008; WHO, 2003). A adesão além de ter um efeito
positivo na manutenção da saúde, pressupõe aceitação da doença (Sgnaolin
& Figueiredo, 2012). Por ser um conceito dinâmico, complexo e
multidimensional (Fine et al., 2009; Rosner, 2006)
deverá ser entendido tendo por base componentes internas, relacionais e
externas ao paciente, tal como explicitado neste artigo. Estas evidências
poderão ser um contributo para delinear estratégias educacionais e
comportamentais de promoção à adesão.
Conflito de interesses: nenhum.
Fontes de financiamento: nenhuma.
Beck, A. T., Ward, C. H., Mendelson, M., Mock, J., &
Erbaugh, J. (1961). An inventory for measuring depression. Archives
of General Psychiatry, 4(6), 561-571. [Google Scholar] [CrossRef]
Brooks, L. M. (2002). Perceived
barriers to treatment adherence among pregnant African American women with
diabetes (Unpublished doctoral
dissertation). Case Western Reserve University, Ohio. [Google Scholar]
Canavarro, M. C., Simões, M. R., Vaz-Serra, A., Pereira, M.,
Rijo, D., Quartilho, M. J., & Carona, C. (2007). Instrumento de avaliação
da qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde: WHOQOL-Bref [World Health
Organization quality of life assessment tool: WHOQOL-Bref]. In M. Simões, C.
Machado, M. Gonçalves, & L. Almeida (Eds.), Avaliação
psicológica: Instrumentos validados para a população portuguesa (vol. III, pp. 77-100). Coimbra: Quarteto Editora. [Google Scholar]
Cramer, D., Henderson, S., & Scott, R. (1997). Mental
health and desired social support: A four-wave panel study. Journal
of Social and Personal Relationships, 14(6), 761-775. [Google Scholar] [CrossRef]
Delgado, A. B., & Lima, M. L. (2001). Contributo para
validação concorrente de uma medida de adesão aos tratamentos [Contribution to
concurrent validity of treatment adherence]. Psicologia,
Saúde & Doenças, 2(2), 81-100. [Google Scholar] [Handle]
Fine, R. N., Becker, Y., Geest, S., Eisen, H., Ettenger, R.,
Evans, R., . . . Dobbels, F. (2008). Nonadherence consensus conference summary
report. American Journal of
Transplantation, 9(1), 35-41. [Google Scholar] [CrossRef]
Hirschberg, S. L. (2001). The
self-regulation of health behavior in children with insulin-dependent diabetes
mellitus (Unpublished doctoral
dissertation). Faculty of Pacific Graduate School of Psychology, Palo
Alto, California: School of Psychology. [Google Scholar]
Kendall, P. C., Hollon, S. D., Beck, A. T., Hammem, C. L.,
& Ingram, R. E. (1987). Issues and recommendations regarding the use of the
Beck Depression Inventory. Cognitive
Therapy and Research, 11(3), 289-299. [Google Scholar] [CrossRef]
Leventhal, H., & Cameron, L. (1987). Behavioral theories
and the problem of compliance. Patient
Education and Counseling, 10(2), 117-138. [Google Scholar] [CrossRef]
Marteau, T. M. (1990). Attitudes to doctors and medicine: The
preliminary development of a new scale. Psychology
and Health, 4(4),
351-356. [Google Scholar] [CrossRef]
Meadows, K. A., Abrams, C., & Sandbaek, A. (2000).
Adaptation of diabetes health profile (DHP-1) for use with patients with type 2
diabetes mellitus: Psychometric evaluation and cross-cultural comparison. Diabetic
Medicine, 17(8),
572-580. [Google Scholar] [CrossRef]
Meadows, K., Steen, N., McColl, E., Eccles, M., Shiels, C.,
Hewison, J., & Hutchinson, A. (1996). The diabetes health profile (DHP): A
new instrument for assessing the psychosocial profile of insulin requiring
patients-development and psychometric evaluation. Quality
of Life Research, 5(2), 242-254. [Google Scholar] [CrossRef]
Nieuwlaat, R., Wilczynski, N., Navarro, T., Hobson, N.,
Jeffery, R., Keepanasseril, A., . . . Haynes, R. B. (2014). Interventions for
enhancing medication adherence. Cochrane
Database of Systematic Reviews, 11. [Google Scholar] [CrossRef]
Pais-Ribeiro, J. L. (1999). Escala de satisfação com o
suporte social (ESSS) [Satisfaction Scale with Social Support. Análise
psicológica, 17(3),
547-558. [Google Scholar] [Scielo]
Pais-Ribeiro, J. L. (2007). Avaliação
em psicologia da saúde: Instrumentos publicados em português [Evaluation in health psychology: Instruments published in
Portuguese]. Coimbra: Quarteto. [Google Scholar]
Pasquali, L. (2003). Psicometria:
Teoria dos testes na psicologia e na educação [Psychometrics: Test theory in psychology and education].
Petrópolis: Editora Vozes. [Google Scholar]
Pereira, M. G., & Silva, N. S. (1999). Escala de atitudes
face aos médicos e à medicina [Scale of attitudes towards physicians and
medicine]. In A. Soares, S. Araújo, & S. Caires (Eds.), Avaliação
psicológica: Formas e contextos (pp. 496-503). Braga:
APPORT/SHO. [Google Scholar]
Pinto-Gouveia, J. (1990). Factores
cognitivos de vulnerabilidade para a depressão: Estudo da sua interacção com os
acontecimentos de vida (Doctoral
dissertation, Universidade de Coimbra, Coimbra). [Google Scholar] [Handle]
Rosenberg, M. (1965). Society
and the adolescent self-image. Princeton, NJ: Princeton University
Press. [Google Scholar]
Rosner, F. (2006). Patient noncompliance: Causes and
solutions. The Mount Sinai. Journal
of Medicine, 73(2),
553-559. [Google Scholar] [Pmc]
Ryan, C. M. (1997). Psychological factors and diabetes
mellitus. In J. Pickup & G. Williams (Eds.), Textbook
of diabetes (pp. 1-13). Oxford: Blackwell
Science. [Google Scholar]
Sackett, D. L., & Haynes, R. B. (1976). Compliance
with therapeutic regimens. Baltimore, MD: Johns Hopkins
University Press. [Google Scholar] [Handle]
Sanchez-Sosa, J. J. (2001). Treatment adherence: The role of
behavioral mechanisms operating through health care interventions. Mexican
Journal of Psychology, 19(1), 85-92. [Google Scholar] [ResearchGate]
Santos, P. J., & Maia, J. (2003). Análise factorial
confirmatória e validação preliminar de uma versão portuguesa da Escala de
Auto-estima de Rosenberg [Confirmatory factor analysis and preliminary
validation of a Portuguese version of the Rosenberg Self-esteem Scale]. Psicologia:
Teoria, Investigação e Prática, 2, 253-268. [Google Scholar] [Handle]
Sgnaolin, V., & Figueiredo, A. E. P. L. (2012). Adesão ao
tratamento farmacológico de pacientes em hemodiálise [Adherence to
pharmacological treatment of hemodialysis patients]. Jornal
Brasileiro de Nefrologia, 34(2), 109-116. [Google Scholar] [CrossRef]
Silva, I., Pais-Ribeiro, J., Cardoso, H., & Ramos, H.
(2002). Questionário de auto-cuidados na diabetes: contributo para a criação de
um instrumento de avaliação da adesão ao tratamento [Diabetes self-care
questionnaire - contribution to the creation of an instrument for assessing
adherence to treatment]. Psiquiatria
Clínica, 23(3),
227-237. [Google Scholar] [ResearchGate]
Vaz-Serra, A., & Pio-Abreu, J. L. (1973a). Aferição dos
quadros clínicos depressivos. I - Ensaio de aplicação do “Inventário Depressivo
de Beck” a uma amostra portuguesa de doentes deprimidos [Assessment of
depressive clinical conditions. I - "Depressive Beck Inventory"
application test for a Portuguese sample of depressed patients]. Coimbra
Médica, 20(6),
623-644. [Google Scholar]
Vaz-Serra, A., & Pio-Abreu, J. L. (1973b). Aferição dos
quadros clínicos depressivos. II - Estudo preliminar de novos agrupamentos
sintomatológicos para complemento do “Inventário Depressivo de Beck”
[Assessment of depressive clinical conditions. II - Preliminary study of new
symptomatological groupings to complement the "Beck Depressive
Inventory"]. Coimbra Médica, 20, 713-736. [Google Scholar]
Warren, L., & Hixenbaugh, P. (1998). Adherence and
diabetes. In L. B. Myers & K. Midence (Eds.), Adherence
to treatment in medical conditions (pp. 423-453).
Amsterdam: Harwood Academic Publishers. [Google Scholar]
Wethingston, E., & Kessler, R. C. (1986). Perceived
support, received support, and adjustment to stressfull life events. Journal
of Health and Social Behavior, 27(1), 78-89. [Google Scholar] [CrossRef]
World Health Organization [WHO]. (2003). Disease-specific
reviews: Hypertension. In WHO. (Ed.), Adherence
to long-term therapies: Evidence for action (Cap. XIII, pp. 107-114). [Google Scholar] [URL]
[1] Este artigo apresenta parte dos resultados obtidos num
estudo empírico realizado no âmbito da tese de doutoramento da primeira autora.
ⓘ PhD. Revisão da literatura,
conceção da investigação, interpretação e discussão dos resultados e redação do
manuscrito. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal. Faculdade de Medicina
da Universidade de Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Revisão crítica no âmbito científico da estatística. Contributo na
redação do manuscrito. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
CEISUC da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Conceção e desenho de investigação. Revisão da redação final do
manuscrito. CEISUC da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra,
Portugal.
ⓘ PhD. Revisão crítica no âmbito científico da diabetes. Revisão da
redação final do manuscrito. CEISUC da Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra, Portugal.