2017, Vol. 3(2): 2-9
Dimensões
da satisfação dos usuários da Estratégia Saúde da Família
Artigo Original
Laelson Rochelle Milanês Sousa ⓘ ✉, Rafael Fernandes de Mesquita ⓘ, Fátima Regina Ney Matos ⓘ, Luana Kelle
Batista Moura ⓘ, Maria Eliete Batista Moura ⓘ
https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2017.3.2.50
Recebido 08 abril 2017
Aceite 21 setembro 2017
Objetivo: O
objetivo foi analisar as variáveis
explicativas da satisfação da qualidade de serviços da Estratégia Saúde da
Família.
Método:
Estudo quantitativo realizado com 353 usuários da Estratégia Saúde da Família,
atendidos na zona leste do município de Teresina (PI, Brasil). Utilizou-se a
escala SERVQUAL, alimentada por um instrumento adaptado, com frases afirmativas
e analisados por meio de técnicas multivariadas: análise fatorial e regressão
múltipla.
Resultados:
As análises multivariadas possibilitaram a redução da escala utilizada para
cinco dimensões da qualidade de serviços prestadas, que responderam pela
explicação de 99,7% da variação do índice geral calculado e utilizado no modelo
de regressão múltipla. Todos os pressupostos de ambas as técnicas foram
respeitados.
Conclusão: A
confiabilidade foi a dimensão preponderante na percepção da qualidade de
serviços e o modelo testado foi validado, tornando-se possíveis suas réplicas
em outros contextos empíricos e a ampliação de seu escopo.
Palavras chave:
Saúde da Família · Atenção Primária à Saúde · Qualidade
da Assistência à Saúde · Satisfação do Paciente · Análise
Multivariada
A preocupação com a satisfação dos usuários dos serviços de atenção
primária à saúde tem sido constantemente referenciada na literatura acadêmica
especializada internacional (Cimas et al., 2016).
Tanto trabalhos que utilizam escalas já conhecidas e validadas, quanto estudos
que desenvolvem e validam novos instrumentos têm dado atenção à satisfação de
usuários de serviços de saúde por se constituir um elemento fundamental na
assistência centrada no paciente (Mohammadi &
Mohammadi, 2012; Silberman, Moreno-Altamirano, Hernández-Montoya,
Martínez-González, & Díaz-López, 2016; Qin,
Prybutok, & Prybutok, 2016).
O modelo SERVQUAL (Parasuraman, Zeithaml, &
Berry, 1985) é dos mais utilizados quando se busca avaliar a qualidade de
serviços a partir da percepção de seus usuários, sem restrições de tipologia
organizacional, e a Estratégia Saúde da Família (ESF) – anteriormente
denominada Programa Saúde da Família (PSF) – já foi alvo de estudos que
verificavam a satisfação de seus usuários por meio do SERVQUAL (Dias, Vieira, Rios, & Ramos, 2011a).
A ESF busca reorganizar os serviços de Atenção Primária no país, que era
focada numa lógica biomédica. Apesar de suas intenções, há muitos óbices de
cunho político, uso de poder e de distribuição de recursos financeiros, que
dificultam sua efetividade, tornando-a objeto de constantes avaliações de
qualidade de serviços prestados. O uso de diversos instrumentos acadêmicos pode
ser útil neste quadro de análise a apoiar a tomada de decisão quanto ao
desenvolvimento da ESF (Dias, Lopes, Vieira, & Ramos,
2011b; Oliveira & Pereira, 2013; Penna & Queiróz, 2015).
O Service Quality ou
modelo/escala SERVQUAL, medição para qualidade de serviço, foi desenvolvido a
partir de um modelo de verificação da satisfação do cliente, que é função da
diferença entre as expectativas e o desempenho da organização (Oliver,
1980). Esta era sua intenção analítica e seu uso inicial, mas diversos
estudos têm utilizado a escala para avaliar a qualidade de serviços prestados
por organizações, por meio de métodos descritivos e de análises univariadas em
contexto nacional (Dias et al., 2011b; Penna
& Queiróz, 2015).
Em contexto internacional, a situação é complementada por análises
fatoriais e demais técnicas multivariadas, justificando-se o uso destas
modalidades analíticas no cenário brasileiro, que permanece à margem de estudos
que aproveitam este modelo em análises descritivas (Li et al., 2015).
Tais estudos não verificam a consistência interna da escala, os fatores ou
dimensões que se formam a partir das correlações entre as variáveis, e nem a
relevância de cada uma destas na explicação da variação de um índice geral da
qualidade de serviços (Li et al., 2015; Purcărea,
Gheorghe, & Petrescu, 2013), o que se traduz em um gap analítico de uso da escala.
Neste sentido, há relevância em manter em foco a avaliação da qualidade
dos serviços prestados por instituições públicas na Atenção Primária à saúde,
especialmente a ESF, gerando um conhecimento que possa balizar as ações e o
desenvolvimento de novos programas e estratégias. Os resultados de avaliações
constantes também podem melhorar programas já existentes, pois avaliar a
qualidade dos serviços por meio da satisfação dos usuários é uma forma
eficiente na identificação de falhas e contribui para a melhoria da qualidade
dos serviços (Almeida & Brito, 2014; Ogunnowo, Olufunlayo, & Sule, 2015). Desta forma, o
estudo objetivou analisar as variáveis explicativas da satisfação da qualidade
de serviços da Estratégia Saúde da Família.
Esta é uma pesquisa de
abordagem quantitativa e descritiva, que utilizou análise multivariada de dados
obtidos por meio da aplicação de instrumento de coleta adaptado. O questionário
aplicado foi estruturado utilizando frases afirmativas relacionadas à percepção
de satisfação dos usuários de serviços da ESF do posto do Uninovapafi.
As afirmações
correspondem às cinco dimensões da qualidade, conforme modelo SERVQUAL com
poucas adaptações para esta pesquisa (inclusão do nome do posto de saúde em
substituição aos termos genéricos empresa ou organização), também utilizado em
outros estudos mais recentes (Dias et al., 2011a, 2011b). As dimensões investigadas correspondem à confiabilidade (Variáveis P1 a P5), presteza (P6 a P9), segurança (P10 a P13), empatia
(P14 a P18) e tangibilidade (P19 a
P22). As opções de resposta são graduadas em escala Likert, para medir o nível
de concordância em relação às afirmações, variando de “concordo totalmente” a
“discordo totalmente”, com 5 pontos.
A pesquisa foi realizada
com usuários atendidos por duas equipes em um mesmo posto da ESF na zona leste
da cidade de Teresina, no estado do Piauí, Brasil. No momento da pesquisa, 927
famílias eram beneficiadas pelas duas equipes que compunham a ESF investigada.
Foram seguidos os seguintes critérios de inclusão de sujeitos no estudo: estar
cadastrado na ESF do local selecionado; ter idade igual ou superior a 18 anos;
ser capaz de responder ao questionário; e ter sido atendido no mínimo uma vez
na ESF. O critério de exclusão utilizado era ser funcionário da ESF ou de
qualquer outro serviço ligado à Fundação Municipal de Saúde de Teresina. Para
estimar a população de indivíduos atendidos, foi utilizada a média de pessoas
por família em Teresina, calculada conforme dados do último censo realizado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010
(média de 3,65 pessoas) com estimativa de 3.384 pessoas atendidas (IBGE, 2010). Estes dados apoiaram o cálculo para determinação
do tamanho da amostra, que guiou a quantidade de questionários aplicados e,
para isso, utilizou-se fórmula apresentada na Equação 1.
Equação 1.
n = (Z2
x P x Q x N) / [e2 x (N – 1) + Z2 x P x Q
x N]
Com:
Z = nível de
confiança (95%);
P = quantidade de
acerto esperado (50%);
Q = quantidade de
erro esperado (50%);
N = população (3.384
pessoas);
e = nível de
precisão (5%);
n = 345.
Optou-se por realizar a coleta de dados nas próprias
residências dos usuários, pois, durante o pré-teste do questionário feito em
uma ESF de outra região da cidade, os pesquisadores identificaram que os
usuários se sentiam constrangidos ao responder as entrevistas na Unidade Básica
de Saúde. A amostra contou com 353 participantes, oito indivíduos além do
número indicado no cálculo amostral, ou seja, uma margem que possibilitou
substituir questionários incompletos ou incorretos (Mesquita,
Sousa, Martins, & Matos, 2014).
Os dados foram tabulados e analisados com apoio do software estatístico Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS), versão 20.0. Para a análise, foram realizados procedimentos que
identificavam: (i) estatísticas descritivas para dados sociodemográficos; (ii)
análise de confiabilidade da escala; e (iii) técnicas analíticas multivariadas,
com análise fatorial e regressão linear múltipla. Logo após, foi utilizado o
teste do alfa de Cronbach, para verificar a consistência interna da escala
utilizada, e foram efetuados procedimentos de análise fatorial exploratória
(AFE), para identificar as dimensões subjacentes à correlação entre as
variáveis adotadas para o estudo. O teste de regressão linear múltipla utilizou
um índice como variável dependente e os fatores encontrados na análise anterior,
como independentes na equação, possibilitando análise de suas participações na
explicação do Índice de Satisfação da Qualidade de Serviços da ESF (SQS).
A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa
do Centro Universitário UNINOVAFAPI, sendo aprovada, sob parecer nº 893.065 e
CAAE nº 38532614.0.0000.5210. Os usuários que aceitaram participar do estudo
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi garantido o
anonimato de todos os participantes da pesquisa, pois os questionários não
foram identificados.
A amostra
selecionada possuía o seguinte perfil: 253 (71,7%) do sexo feminino; maioria
com idades entre 21 e 30 anos (29,5%) e entre 31 e 40 anos (30,9%); estado
civil solteiro (33,7%) e casado (46,7%); e a escolaridade era Ensino Médio
incompleto (36,8%) e completo (43,3%); a renda familiar de 64,1% da amostra
variava entre um e dois salários mínimos; e 58,9% destes indivíduos não estavam
empregados à época da coleta de dados.
A
confiabilidade da escala de 22 itens adaptada para este estudo foi verificada a
partir do alfa de Cronbach, por meio de modelo de consistência interna baseada
em correlações, aqui com valor de 0,922, ou seja, acima do considerado mínimo
ideal (0,7) (Hair, Black, Babin, Anderson, & Tatham, 2009).
Para proceder com a AFE, primeiro foram verificados seus pressupostos e a
conveniência de sua aplicação. A matriz de correlação entre todas as variáveis
foi gerada e avaliada, demonstrando relações altas e significativas (p < 0,01).
O segundo conjunto
de teste foi constituído por Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e pelo teste de esfericidade de Bartlett, utilizando-se todas
as variáveis da escala, com resultados apresentados na Tabela 1.
|
Teste Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e o teste
de esfericidade de Bartlett – Escala SERVQUAL |
|
||
|
Medida de adequação de
amostra KMO
|
0,890
|
|
|
|
Teste de esfericidade de Bartlett |
X2 aproximado |
4085,085 |
|
|
Grau de liberdade |
231 |
|
|
|
Significância |
< 0,001 |
|
|
|
Nota. X2 = Qui-quadrado. |
|
A significância do teste
de esfericidade de Bartlett rejeitou a hipótese nula de que a matriz de
correlação é uma matriz identidade, situação adequada para a AFE. O KMO também apresentou resultado
adequado. Deste modo, a proposta de análise foi possível e conveniente. No
entanto, esta primeira solução com todas as variáveis inclusas apresentou
algumas inconsistências na associação com os fatores, pois, após extração e rotação,
duas variáveis possuíam cargas fatoriais em duas dimensões com valores próximos
e abaixo de 0,6 – considerado inadequado (Hair et al., 2009).
Foram elas a P6 (“Funcionários da Estratégia Saúde da Família da localidade
dizem exatamente quando os serviços de saúde serão executados”) e a P18 (“Os
funcionários da Estratégia de Saúde da Família da localidade compreendem suas
necessidades específicas de saúde”). Estas variáveis foram excluídas da
análise.
A escala final utilizada
para o estudo possuía 20 variáveis e cinco fatores identificados na AFE.
Para essa solução, foi
calculado um novo KMO (0,880) e foi
realizado um novo teste de esfericidade de Bartlett (p < 0,001), indicando que não houve prejuízo na demonstração de
utilidade da AFE. A Tabela 2 apresenta as cargas fatoriais,
comunalidades (H²) e porcentual de
variância explicado acumulado por cada um dos fatores. Os fatores foram
nomeados a partir de inspiração nas dimensões originais do modelo SERVQUAL.
|
Análise Fatorial Exploratória (AFE) – Escala SERVQUAL |
|
|||||||
|
Itens da escala |
F1 |
F2 |
F3 |
F4 |
F5 |
h² |
|
|
|
P1 |
Quando
a Estratégia Saúde da Família da localidade promete fazer um serviço em certo
tempo, ela o faz |
0,622 |
|
|
|
|
0,506 |
|
|
P2 |
Quando
você tem algum problema de saúde, a Estratégia Saúde da Família da localidade
demonstra o sincero interesse em resolvê-lo |
0,768 |
|
|
|
|
0,671 |
|
|
P3 |
A
Estratégia Saúde da Família da localidade faz o serviço certo da primeira vez |
0,838 |
|
|
|
|
0,748 |
|
|
P4 |
A
Estratégia Saúde da Família da localidade presta os serviços na data
prometida |
0,755 |
|
|
|
|
0,680 |
|
|
P5 |
A
Estratégia Saúde da Família da localidade insiste em registrar os
atendimentos realizados |
0,602 |
|
|
|
|
0,545 |
|
|
P7 |
Funcionários
da Estratégia Saúde da Família da localidade fornecem um serviço imediato a
você |
|
|
|
|
0,740 |
0,644 |
|
|
P8 |
Os
funcionários da Estratégia Saúde da Família da localidade estão sempre
dispostos a ajudá-lo |
|
|
|
|
0,760 |
0,723 |
|
|
P9 |
Empregados
da Estratégia Saúde da Família da localidade nunca estão muito ocupados para
atender as suas procuras por atendimento |
|
|
|
|
0,715 |
0,662 |
|
|
P10 |
O
comportamento dos funcionários da Estratégia Saúde da Família da localidade
gera confiança em você, em relação ao serviço realizado |
|
|
|
0,596 |
|
0,554 |
|
|
P11 |
Você
se sente seguro em solicitar serviços da Estratégia Saúde da Família da
localidade |
|
|
|
0,716 |
|
0,673 |
|
|
P12 |
Funcionários
da Estratégia Saúde da Família da localidade são sempre educados com você |
|
|
|
0,851 |
|
0,734 |
|
|
P13 |
Os
funcionários da Estratégia Saúde da Família da localidade têm o conhecimento
para responder às suas dúvidas, a respeito dos serviços de saúde |
|
|
|
0,658 |
|
0,602 |
|
|
P14 |
Funcionários
da Estratégia Saúde da Família da localidade dão atenção individual a você |
|
|
0,689 |
|
|
0,652 |
|
|
P15 |
A
Estratégia Saúde da Família da localidade tem horário conveniente para
atendê-lo em consultas |
|
|
0,785 |
|
|
0,677 |
|
|
P16 |
A
Estratégia Saúde da Família da localidade tem funcionários que dão atenção
pessoal a você |
|
|
0,745 |
|
|
0,739 |
|
|
P17 |
Os
funcionários da Estratégia Saúde da Família da localidade entendem suas
necessidades |
|
|
0,672 |
|
|
0,644 |
|
|
P19 |
O
posto de saúde da Estratégia Saúde da Família da localidade tem equipamentos
modernos |
|
0,744 |
|
|
|
0,697 |
|
|
P20 |
As
instalações físicas do posto de saúde da Estratégia Saúde da Família da
localidade são visualmente atrativas |
|
0,818 |
|
|
|
0,792 |
|
|
P21 |
Os
empregados do posto de saúde da Estratégia Saúde da Família da localidade são
bem vestidos e asseados |
|
0,796 |
|
|
|
0,755 |
|
|
P22 |
A
aparência das instalações físicas do posto de saúde da Estratégia Saúde da
Família da localidade é conservada de acordo com o serviço oferecido |
|
0,848 |
|
|
|
0,780 |
|
|
Variância explicada acumulada (%) |
38,1 |
46,8 |
54,9 |
61,6 |
67,2 |
|
|
|
|
Nota. F1 = Fator
confiabilidade; F2 = Fator tangibilidade; F3 = Fator empatia; F4 = Fator
segurança; F5 = Fator presteza. h² =
Comunalidades. |
|
Após reduzir a escala
de 22 itens aos cinco fatores expostos na Tabela 2,
procedeu-se a uma análise de regressão múltipla, tendo por variável dependente
o SQS, calculado a partir da média simples dos valores de todas as variáveis da
escala. As variáveis independentes da equação foram os cinco fatores, conforme
Equação 2.
Equação 2.
SQS = b0 + b1F1 + b2F2 + b3F3 + b4F4 + e
(Modelo)
O modelo de regressão
apresentou coeficiente de determinação (R²)
de 99,7% e coeficiente de determinação ajustado (adjusted R square) de 99,4%. Esses altos valores indicaram o quanto
as variáveis independentes utilizadas explicaram a variação do item dependente,
o SQF, fenômeno observado. O modelo, como um todo, possuía significância
estatística (p < 0,001), como se
verifica na Tabela 3, bem como todas as variáveis
independentes em relação ao modelo (p
< 0,001), conforme pode ser observado na Tabela 4.
|
|
Sumária do
Modelo de Regressão |
|
|||||||||
|
|
R |
R² |
R² ajustado |
Erro padrão |
Variações estatísticas |
Durbin-Watson |
|
||||
|
|
Variação do
(R²) |
F modificado |
df1 |
df2 |
Sig. F modificado |
|
|||||
|
|
0,997* |
0,994 |
0,994 |
0,06917 |
0,994 |
10809,738 |
5 |
347 |
< 0,001 |
1,901 |
|
|
|
Nota. *Preditores (constantes): confiabilidade,
tangibilidade, empatia, segurança, presteza; † variável dependente: Índice de
Satisfação da Qualidade dos Serviços da Estratégia Saúde da Família. |
|
|
Coeficientes da Análise de Regressão |
|
|||||||
|
Modelo |
Coeficientes não padronizados |
Coeficientes padronizados |
t |
p |
Tolerância da
estatística colinear |
|
||
B |
Erro padrão |
Beta |
Tolerância |
VIF |
|
||||
|
(Constante) |
3,358 |
0,004 |
|
912,213 |
< 0,001 |
|
|
|
Confiabilidade |
0,435 |
0,004 |
0,506 |
117,934 |
< 0,001 |
1,00 |
1,00 |
|
|
Tangibilidade |
0,396 |
0,004 |
0,460 |
107,337 |
< 0,001 |
1,00 |
1,00 |
|
|
Empatia |
0,383 |
0,004 |
0,446 |
104,016 |
< 0,001 |
1,00 |
1,00 |
|
|
Segurança |
0,337 |
0,004 |
0,392 |
91,487 |
< 0,001 |
1,00 |
1,00 |
|
|
Presteza |
0,358 |
0,004 |
0,416 |
97,107 |
< 0,001 |
1,00 |
1,00 |
|
|
|
Nota. Fator de variância inflacionário. Variável
dependente: Índice de Satisfação da Qualidade dos Serviços da Estratégia
Saúde da Família. |
|
O teste de regressão
múltipla apresentou a soma dos quadrados no valor de 258,615, com resíduos no
valor de 1,660. O valor da soma dos quadrados foi o resíduo quadrado, caso
fosse utilizada apenas a média da variável dependente SQS para predição. No
modelo de regressão, ao incluir as variáveis independentes na equação, esse resíduo
apresentou o valor de 1,160, ou seja, diminuiu e melhorou o poder de predição
do modelo. O teste de Análise de Variância (ANOVA) (F = 10809,738; p < 0,001)
com significância estatística atestou que o modelo foi válido ao rejeitar a
hipótese de que o R² = 0. Estes
resultados são visíveis na Tabela 5.
|
|
Sumária do
Modelo de Regressão |
|
|||||
|
|
Modelo |
Soma dos
quadrados |
Graus de liberdade |
Média do
quadrado |
F |
Significância |
|
|
|
Regressão |
258,615 |
5 |
51,723 |
10.809,738 |
< 0,001 |
|
|
|
Resíduos |
1,660 |
347 |
0,005 |
|
|
|
|
|
Total |
260,276 |
352 |
|
|
|
|
|
|
Nota. *Preditores (constantes): confiabilidade,
tangibilidade, empatia, segurança, presteza; Variável dependente: Satisfação
da Qualidade dos Serviços da Estratégia Saúde da Família. |
|
A Tabela
4 apresenta os coeficientes B da equação, os coeficientes padronizados beta
e os valores de p para significância estatística de cada uma das variáveis na
equação. Todas as variáveis incluídas na equação apresentaram relação
significante (p < 0,01). Deste modo,
a equação do modelo de regressão linear foi expressa conforme a Equação 3.
Equação 3.
SQS = 3,358 + 0,435 F1 + 0,396 F2 + 0,383 F3 + 0,337
F4 + 0,358 F5
Os
pressupostos para a análise de regressão linear foram analisados e respeitados
(autocorrelação serial, multicolinearidade, normalidade dos resíduos e
homocedasticidade). A ausência de autocorrelação serial foi verificada pelo
teste de Durbin-Watson, que indicou valores adequados quando abaixo de 2. Na Tabela 3, o valor de 1,901 para o teste Durbin-Watson foi
considerado apropriado. A multicolinearidade foi pressuposta ausente, pois as
variáveis independentes dessa equação de regressão foram fatores encontrados na
AFE, mas o teste de Fator de Variância Inflacionário e as estatísticas de
colinearidade, indicadas na Tabela 3, apoiaram essa
afirmação. Fator de Variância Inflacionário abaixo de 10 e tolerância até 1
foram indicativos de ausência de colinearidade ou de valores aceitáveis. O
teste Pesarán-Pesarán indicou a homocedasticidade dos resíduos, pois a hipótese
nula, que afirmou esta situação, não foi rejeitada (p = 0,196). A normalidade dos resíduos foi verificada no teste
Kolmogorov-Smirnov, não rejeitando a hipótese nula que afirmou serem normais os
resíduos (p = 0,519).
A
análise dos pressupostos da regressão linear múltipla atestou a validade e a
adequação do modelo e de seus resultados.
Avaliar a
satisfação de usuários de serviços de saúde é um processo complexo que engloba
múltiplas dimensões. O modelo SERVQUAL mostrou-se adequado para avaliação da
satisfação dos usuários da ESF, pois dispõe de cinco dimensões abrangentes que
englobam desde atendimento individual a instalações e estrutura física:
Confiabilidade, Tangibilidade, Empatia, Segurança e Presteza (Parasuraman et al., 1985).
A Tangibilidade
considera as instalações físicas do ambiente, bem como equipamentos e demais
condições tangíveis. Confiabilidade relaciona-se à capacidade das equipes de
oferecerem serviços com confiança e exatidão, desenvolvendo confiança. A
Presteza, por outras vezes denominada “responsabilidade”, está para a
disposição a ajudar dos prestadores de serviço. Segurança relaciona-se à
capacidade para esclarecer dúvidas, à transmissão de confiança e à manutenção
de sigilo sobre determinados assuntos. A Empatia corresponde ao interesse e à
atenção individual (Parasuraman et al., 1985; Dias et al., 2011a, 2011b).
Os fatores encontrados na análise fatorial
foram nomeados a partir de inspiração nas dimensões originais da escala, pois o
modelo exploratório identificou fatores semelhantes àqueles propostos nos
estudos prévios, corroborando estes resultados e ampliando o escopo e as
possibilidades de utilização da escala.
O SERVQUAL é
empregado em diversas realidades e culturas. Em avaliação da qualidade de
serviços de saúde em nove cidades da China, por meio do SERVQUAL, o estudo
apontou que as dimensões Empatia e Confiabilidade foram as mais relevantes na
percepção da qualidade dos serviços (Li et al., 2015). Esta pesquisa
corrobora os resultados encontrados, ao demonstrar a confiabilidade como fator
preponderante, tanto na AFE quanto no modelo de regressão. A aplicação do
instrumento mostrou-se relevante, ao indicar pontos estratégicos para a
melhoria na qualidade do serviço.
Na Nigéria, o uso
do SERVQUAL indicou lacunas nos serviços de saúde como o tempo de espera por
atendimento (Ogunnowo et al., 2015). No contexto do
Sistema Único de Saúde, uma das principais lacunas do serviço e que gera
insatisfação de seus usuários, é a marcação de consultas para especialidades
médicas que demanda muito tempo de espera e resulta em longas filas (Szwarcwald, Damacena, Souza Júnior, Almeida, & Malta, 2016).
Entretanto, não é uma realidade exclusiva do Brasil. Problema semelhante é
encontrado nos serviços de saúde pública da Indonésia onde existe insatisfação
dos usuários pela morosidade no atendimento (Handayani,
Hidayanto, Sandhyaduhita, Kasiyah, & Ayuningtyas, 2015).
Em outra
aplicação do SERVQUAL na busca para identificação do grau de satisfação, na
Arábia Saudita, a dimensão Confiabilidade foi destaque (Al-Momani,
2015). Dados semelhantes foram encontrados em estudos nacionais na ESF (Moreira, Reis,
Bizarria, & Barbosa, 2015). Tratando a confiabilidade como a
dimensão de maior destaque, as pesquisas identificam insatisfações quanto ao
atendimento das expectativas dos usuários.
Um dos pontos de
insatisfação dos usuários de serviços de alta complexidade do Serviço Único de
Saúde Brasileiro - SUS é a pontualidade dos funcionários, porém usuários
cardíacos deram ênfase à dimensão da segurança (Borges, Carvalho,
& Silva, 2010). Presteza e segurança foram citadas como aquelas
dimensões de maior influência na percepção da qualidade dos serviços prestados.
Este resultado, apesar de diferir do que foi encontrado aqui, demonstra que os
cenários não podem ser generalizados, implicando o aprofundamento de condições
que acarretam observação de uma ou outra dimensão como principal.
Elevados níveis
de satisfação de usuários dos serviços de saúde, de forma geral, têm relações
significativas com a qualidade da saúde das pessoas. Durante o planejamento e
implementação de políticas de saúde deve ser levado em consideração à melhoria
da satisfação dos usuários (Cimas et al., 2016). Desta forma, o
modelo SERVQUAL possibilita a identificação de lacunas na prestação de serviços
que podem ser passíveis de preenchimento após análise gerencial da situação,
ampliando a percepção de qualidade de serviços e satisfação do consumidor (Purcărea et al., 2013). A presente pesquisa mostrou-se eficaz
na identificação das possíveis lacunas existentes na prestação de serviços de
saúde em atenção básica, com a identificação das dimensões da satisfação que
receberam menor avaliação e classificação.
Conclusão
A partir de
análises descritivas e multivariadas, encontraram-se cinco fatores, com a
preponderância identificada da confiabilidade, semelhantes às dimensões
originais da escala SERVQUAL, que foram utilizados como variáveis independentes
na análise de regressão múltipla, cuja variável dependente foi a Satisfação da
Qualidade de Serviços da Estratégia Saúde da Família. Dessa forma, foi possível
verificar a influência dessas dimensões identificadas na explicação da variação
do índice calculado, observando a ordem de relevância de cada uma e sua
participação na equação do modelo de regressão. O estudo obteve altos
coeficientes de determinação, utilizando fatores obtidos a partir de uma análise
significativa e com alto Kaiser-Meyer-Olkin. Todos os pressupostos das duas
técnicas multivariadas foram respeitados, validando o modelo e suas
interpretações.
As contribuições
deste trabalho se estendem à ampliação do uso da escala, que já é vastamente utilizada
em diversos contextos, especialmente em estudos de comportamento do consumidor,
e aqui tratou do usuário de serviços públicos de saúde. Buscar a satisfação do
usuário da Estratégia Saúde da Família torna-se outra importante consideração
deste estudo, enquanto contribui para despertar interesse de autoridades em
melhorias nos serviços prestados por programas desse tipo, indicando dimensões
essenciais para a compreensão da percepção de qualidade de serviços prestados.
Apesar do pouco
percentual restante para explicação, além daquele observado no modelo de
análise estatística, considera-se que há muito de aspectos subjetivos a serem
investigados em análises sociais desse fenômeno. Tais aspectos ficaram
evidentes durante a aplicação dos questionários, escapando ao escopo do estudo,
e podem indicar futuras pesquisas na área: delongas em marcações de consulta
para especialidades médicas; ausência do agente comunitário de saúde, que
deveria ser figura periódica na região e nas casas; questões de trato dos atendentes
e subjetividades inerentes às condições socioeconômicas do local de atendimento
do posto da Estratégia Saúde da Família e seu entorno. Essa lista de
observações pode se tornar um problema de pesquisa que auxilie na compreensão
do objeto investigado neste trabalho e contribua para ampliação do escopo deste
estudo.
Conflito de interesses: nenhum.
Fontes de financiamento: CAPES - Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior.
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ⓘ EnfM. Colaborou na concepção do
estudo, revisão teórica, análise e interpretação dos dados, redação do artigo e
aprovação da versão final. Universidade de São
Paulo, São Paulo, Brasil.
ⓘ AeM. Colaborou nas análises estatísticas, revisão crítica relevante do
conteúdo intelectual do trabalho, ajustes na redação e aprovação da versão final. Universidade Potiguar, Rio Grande do Norte, Brasil.
ⓘ PhD. Colaborou nas análises estatísticas, revisão crítica relevante do
conteúdo intelectual do trabalho, ajustes na redação e aprovação da versão final. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
Universidade Potiguar, Rio Grande do Norte, Brasil.
ⓘ PhD. Colaborou na concepção do estudo, revisão teórica, análise e
interpretação dos dados, redação do artigo e aprovação da versão final. Universidade Federal do Piauí, Piauí, Brasil.
ⓘ PhD. Colaborou na concepção do estudo, revisão teórica, análise e
interpretação dos dados, redação do artigo e aprovação da versão final. Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.