Estudo
da estrutura fatorial e das qualidades psicométricas da versão portuguesa da Male Body Attitude Scale-Revised
Artigo Original
Cláudia Ferreira ⓘ ✉, Joana
Marta-Simões ⓘ, Sara Oliveira ⓘ, João Duarte
ⓘ
https://doi.org/10.31211/rpics.2018.4.2.74
Recebido 7 março 2018
Aceite 6 junho 2018
RESUMO
Objetivo: A literatura demonstra que a imagem corporal é uma dimensão
central de auto e heteroavaliação e um foco de preocupação não só para as
mulheres, mas também para os homens. Diversos autores têm sublinhado a necessidade
de um maior investimento no desenvolvimento e validação de instrumentos de
medida para a imagem corporal para o sexo masculino, dado que homens e mulheres
se distinguem significativamente em relação às preocupações associadas à
aparência física. A Male Body Attitude Scale-Revised (MBAS-R) é a versão revista de um instrumento de medida (MBAS),
especificamente desenvolvido para a população masculina, que visa avaliar as
atitudes e preocupações em relação à imagem corporal. O presente estudo visa
estudar a estrutura fatorial e as propriedades psicométricas da versão
portuguesa da MBAS-R.
Métodos: O estudo foi conduzido numa amostra constituída
por 222 homens da população geral portuguesa, com idades compreendidas entre os
18 e os 65 anos.
Resultados: Os
resultados de uma série de análises fatoriais confirmatórias demonstraram a
adequação da versão portuguesa da MBAS-R (12-itens) com uma estrutura de dois
fatores (massa muscular e massa gorda). A análise dos itens da versão
portuguesa da MBAS-R revelou que todos os itens contribuem consistentemente
para a respetiva subescala e para a medida global. Adicionalmente, tanto a
escala total como as subescalas da versão portuguesa da MBAS-R revelaram boa
consistência interna. Os resultados mostraram ainda que as preocupações e
atitudes em relação à imagem corporal, avaliadas pela MBAS-R, se associam
positivamente a vergonha externa, vergonha corporal e inflexibilidade alimentar.
Conclusões: Os resultados
sugerem que a MBAS-R é uma medida breve e válida para avaliar e caraterizar as
preocupações masculinas em relação à imagem corporal de um modo global e,
simultaneamente, especificamente em relação a duas dimensões centrais da
vivência da imagem corporal (massa muscular e gordura corporal) nesta população.
Palavras chave:
Análise confirmatória · Imagem
corporal · Instrumentos de medida · Massa muscular · Massa gorda · Sexo
masculino
INTRODUÇÃO
A investigação no âmbito da imagem corporal
tem-se focado quase exclusivamente em estudos com amostras de mulheres, no
entanto as evidências apontam para um crescente interesse pela compreensão da
vivência da imagem corporal nos homens (Cain, Epler, Steinley,
& Sher, 2011; Yean et al., 2013). De facto,
historicamente as preocupações e/ou insatisfação com a aparência física têm
sido reconhecidas como problemas ou dificuldades associadas à população
feminina e ao seu desejo de perder peso ou ficar mais magras (Daniel
& Bridges, 2010; Pope, Phillips, & Olivardia, 2000).
No entanto, os dados empíricos parecem suportar que a imagem corporal é um foco
de preocupação e uma dimensão central na auto e heteroavaliação tanto para as
mulheres como para os homens (McCabe & Ricciardelli, 2001).
Os estudos documentam que na população do
sexo masculino as dificuldades associadas à imagem corporal estão associadas a
comportamentos maladaptativos em relação à aparência física e comportamento
alimentar, com impacto negativo significativo ao nível psicológico, social e da
saúde física (Calogero, 2009; Dakanalis
& Riva, 2013; Dakanalis et al., 2015; Sepúlveda et al., 2016). Entre os efeitos negativos
consequentes da adoção de estratégias de controlo do peso e da massa muscular
no sexo masculino, tem sido reportado um acréscimo do comportamento alimentar
inflexível e perturbado e do uso de esteroides anabolizantes androgénicos e de
suplementos alimentares (Smith, Hawkeswood, Bodell, &
Joiner, 2011), assim como consequentes problemas de saúde física (tais como
problemas renais e hepáticos) (Olivardia, Pope,
Borowiecki, & Cohane, 2004) e um decréscimo da saúde mental (e.g.,
altos níveis de depressão e ansiedade social, baixa autoestima) (e.g., Cafri, Strauss, & Thompson, 2002; McCreary
& Sasse, 2000).
Pela sua importância, estes dados motivaram
um interesse crescente no estudo das preocupações e dificuldades associados à
imagem corporal nos homens, e da forma como estas dificuldades poderão ter um
impacto negativo na saúde física e ajustamento psicológico desta população (Dakanalis & Riva, 2013; Olivardia
et al., 2004; Stanford & McCabe, 2002). No
entanto, na avaliação e estudo das atitudes e preocupações com a imagem
corporal nos homens são consistentemente usadas medidas desenvolvidas com base
em modelos teóricos desenhados para mulheres, prática considerada inapropriada
(Cafri & Thompson, 2004; Ryan,
Morrison, Roddy, & McCutheon, 2011). A consideração da aplicação destes
instrumentos a sujeitos do sexo masculino como inapropriada deve-se
fundamentalmente ao facto de homens e mulheres se distinguirem qualitativamente
em relação às suas preocupações com a imagem corporal (Tylka,
Bergeron, & Schwartz, 2005). Mais especificamente, os estudos mostram
que a maioria dos homens expressa o desejo de ganhar massa muscular e perder
massa gorda, enquanto as mulheres habitualmente reportam o desejo de perder
peso, perder volume e de terem uma silhueta mais filiforme (Cafri
& Thompson, 2004; Ridgeway & Tylka, 2005).
Assim, mais do que a avaliação do grau de (in)satisfação em relação ao peso
corporal, na população do sexo masculino são o grau de (in)satisfação em
relação à massa muscular e massa gorda que devem ser considerados pelos
instrumentos que avaliam a imagem corporal (e.g., Blashill, 2010; Cohane
& Pope Jr., 2001). Adicionalmente, os homens tendem a reportar
insatisfação em relação a áreas corporais diferentes das reportadas como
primordial foco de preocupação ou de avaliação negativa da maioria das mulheres
(Dakanalis
& Riva, 2013; McCabe & Ricciardelli, 2001).
Particularmente, os homens tendem a reportar o desejo de ganhar massa muscular
na parte superior do corpo (e.g., braços, peito e costas), enquanto nas
mulheres o desejo de controlar ou alterar a sua aparência tende a focar-se na
perda de peso e/ou volume na zona inferior do corpo (tal como ancas, coxas e
nádegas) (e.g., Dakanalis
& Riva, 2013).
A maioria dos instrumentos de avaliação da
imagem corporal, tais como Body
Satisfaction Questionnaire (BSQ; Cooper, Taylor, Cooper,
& Fairbum, 1987), as subescalas de procura da magreza e insatisfação
corporal do Eating Disorder Inventory
(EDI; Garner, Olmsted, & Polivy, 1983) ou as
subescalas de preocupação com o peso e preocupação com a forma corporal da Eating Disorders Examination-Questionnaire (EDE-Q;
Fairburn & Beglin, 1994), são constituídos por
itens desenvolvidos para medir a insatisfação com o peso e formas corporais e,
mais especificamente, com o desejo de perder peso e de ter uma silhueta mais
delgada (Cohane & Pope Jr., 2001). No entanto, devido
às diferenças de género em relação à perceção da forma corporal ideal, aquelas
que são consideradas medidas de ouro para a avaliação da imagem corporal nas
mulheres não são medidas válidas para populações do sexo masculino (Cafri & Thompson, 2004). Surge, assim, como imperativo
um maior investimento no desenvolvimento e validação de instrumentos de medida
para a imagem corporal desenvolvidas especificamente para o sexo masculino.
Em
2005, Tylka et al. (2005) desenvolveram a Male Body Attitudes Scales (MBAS) para
medir as preocupações e as atitudes masculinas em relação à aparência física,
atendendo às dimensões mais salientes e associadas a diferentes indicadores de
bem-estar psicológicos nos homens. Assim, a MBAS foi composta por três subescalas:
(i) massa muscular, que avalia o grau
de (in)satisfação do indivíduo com a sua massa muscular, relativamente a
diferentes zonas do seu corpo, (ii)
massa gorda, que avalia a perceção e as atitudes pessoais em relação à massa
gorda (ou gordura corporal), tanto em termos globais como em relação a áreas
específicas do corpo, e (iii) altura
que mede o grau de (in)satisfação com a sua altura e o desejo de ser mais alto.
Os autores originais (Tylka et al., 2005) consideram que
esta composição da escala em diferentes subescalas possibilita uma leitura
compreensiva da insatisfação corporal atendendo às especificidades da população
masculina, e permite, ainda, que investigadores e clínicos optem pelo uso do
total da escala para estimarem um valor global das atitudes em relação à imagem
corporal, ou pelo uso de uma das subescalas para avaliarem domínios ou atitudes
específicas. Os resultados dos estudos originais confirmaram a adequação da
estrutura fatorial da MBAS e boas qualidades psicométricas, revelando adequada
consistência interna (com valores de Cronbach que variam entre 0,90 e 0,91 para
a escala total; entre 0,89 e 0,91 para a subescala massa muscular, entre 0,90 e
0,94 para a subescala de massa gorda e entre 0,66 e 0,88 para a subescala
altura), assim como evidências de boa validade convergente e divergente e
estabilidade temporal (Tylka et al., 2005).
Posteriormente, numa amostra de homens
homossexuais, Blashill e Vander Wal (2009)
reportaram a ambiguidade dos resultados relativos à subescala altura da MBAS e
testaram um modelo com dois fatores/subescalas (insatisfação em relação à
muscularidade e massa gorda), a qual demonstrou forte validade fatorial. A
adequação desta estrutura bidimensional da MBAS foi ainda confirmada para a
população adolescente (Sepúlveda et al., 2016). A
proposta da MBAS composta unicamente pelas subescalas que avaliam a
insatisfação em relação à massa muscular e à massa gorda parece também ser
suportada pelos autores originais da medida, os quais consideraram a subescala
altura questionável (Tylka et al., 2005).
Embora diversos estudos suportem a validade e
a adequação da MBAS, Ryan et al. (2011) consideram que
aspetos conceptuais e de estratégia analítica que presidiram o desenvolvimento
e a validação desta medida são discutíveis. Por um lado, Ryan et al. (2011) consideram que a versão original da MBAS possui itens
problemáticos ou ambíguos, enquanto outros apresentam cross loading em fatores/dimensões diferentes. Paralelamente, estes
autores salientam que o facto da subescala que avalia as atitudes face à altura
ser constituída por apenas por dois itens traduz uma fragilidade, uma vez que é
recomendado um mínimo de 3 a 5 itens por fator/dimensão (Ryan
et al., 2011). Finalmente, Ryan et al. (2011) recomendam
que o formato de resposta dos itens deveria ser alterado da escala de resposta
de 6 para 5 pontos, uma vez que consideram não existir distinção clara entre as
opções Usually e Often. Estes aspetos problemáticos motivaram Ryan et al. (2011) a construir uma versão revista desta medida (MBAS-R)
constituída por 15 itens, na qual foram: eliminados itens que demonstravam
fraca qualidade psicométrica, revisto o conteúdo e a redação de alguns dos
itens, adicionados itens para a subescala “altura” e excluída uma das opções de
resposta. Os resultados do estudo de Ryan et al. (2011)
sugeriram que a MBAS-R (composta por de três fatores) é uma medida válida e
robusta, e de um bom indicador das atitudes e preocupações dos homens em
relação à sua aparência física. No entanto, os seus autores salientam a
necessidade de estudos adicionais que explorem a adequação da estrutura da
escala através de análise fatorial confirmatória e corroborem a validade da
medida em amostras distintas (Ryan et al., 2011).
O presente estudo pretende validar a MBAS-R
para português europeu, explorar a estrutura fatorial mais adequada e examinar
as suas propriedades psicométricas. Especificamente, os objetivos do presente
estudo foram: (a) explorar a estrutura fatorial de três fatores e de dois
fatores (e.g., com a eliminação da subescala altura) numa amostra da população
portuguesa do sexo masculino, através de análises fatoriais confirmatórias; (b)
examinar a consistência interna da escala total e das subescalas; e (c)
analisar a validade convergente da escala com outras medidas de interesse.
MÉTODO
Participantes
A
amostra foi constituída por 222 participantes do sexo masculino da população
geral com idades entre 18 e 65 anos (M = 28,61; DP = 10,30), e
com uma média 14,35 (DP = 2,55) anos de escolaridade. No que concerne ao
estado civil, a maioria dos participantes reportou ser solteiro (n =
177; 79,7%), 39 (17,6%) casado ou em união de facto, e 6 (2,7%) eram
divorciados. Em relação ao Índice de Massa Corporal (IMC) a amostra revelou uma
média (M = 24,60; DP = 4,14) e uma distribuição equivalente à
encontrada na população portuguesa para o sexo masculino, com 4 (1,8%)
participantes a apresentarem um IMC correspondente a magreza (IMC < 18,5),
137 (61,71%) participantes um IMC normoponderal (18,5 ≤ IMC ≤ 25,0), e 81
(36,49) participantes com excesso de peso ou obesidade (IMC > 25,0).
Instrumentos
O
protocolo de avaliação foi constituído por um breve questionário
sociodemográfico (e.g., idade, sexo, anos de escolaridade, profissão, estado
civil), pela versão portuguesa da MBAS-R e por três medidas de autorrespostas (validadas
para a população masculina portuguesa) descritas seguidamente.
Índice de Massa Corporal (IMC). O IMC foi calculado através do índice de
Quetelet, com base no peso e altura reportados pelos participantes.
Male
Body Attitudes Scale-Revised (MBAS-R; Ryan et al., 2011).
A MBAS-R é uma A MBAS-R é uma escala de
autorresposta que resulta do processo de revisão da MBAS (Tylka
et al., 2005) com o objetivo de avaliar atitudes de insatisfação e preocupação
em relação à imagem corporal nos homens. A MBAS-R é composta por 15 itens
divididos por 3 subescalas: massa muscular (MUS; 7 itens), massa gorda (GOR; 5
itens) e altura (ALT; 3 itens). Nesta medida é solicitado aos participantes que
respondam a cada item usando uma escala de 5 pontos (de 1 = “Nunca” a 5 =
“Sempre”), com valores mais elevados a corresponderem a graus superiores de
insatisfação com a imagem corporal. Os valores de consistência interna (α de Cronbach) da MBAS-R
total e subescalas (αTOTAL = 0,88; αMUS
= 0,88; αGOR
= 0,90; αALT = 0,86), assim como os resultados da validade
convergente, reportados no estudo original (Ryan et al., 2011),
sugerem que a MBAS-R é uma medida fidedigna e um bom indicador das atitudes
negativas dos homens em relação à sua aparência física. Esta escala constitui o
principal alvo do presente estudo, pelo que a sua estrutura fatorial e
qualidades psicométricas para a população portuguesa serão apresentadas na
secção dos resultados.
Others as a Shamer-short version (OAS 2; Matos,
Pinto-Gouveia, Gilbert, Duarte, & Figueiredo, 2015). A OAS 2 é uma
medida de autorrelato composta por 8 itens que avaliam a vergonha externa, i.e.,
a perceção de que os outros veem ou avaliam negativamente o sujeito (e.g., “As
outras pessoas vêem-me como se eu fosse pequeno e insignificante”). Os
participantes avaliam a frequência dessas experiências negativas, usando uma
escala de 5 pontos (0 = “Nunca” a 4 = “Quase sempre”). A OAS 2 apresenta boas
qualidades psicométricas na população portuguesa (α de Cronbach = 0,82). No
presente estudo, a OAS 2 apresentou um alfa de Cronbach de 0,91.
Body Image Shame Scale (BISS; Duarte,
Pinto-Gouveia, Ferreira, & Batista, 2015). A BISS é uma medida de
autorrelato, composta por 14 itens, que visa avaliar a experiência de vergonha
focada na imagem corporal. A escala inclui duas dimensões (com 7 itens cada):
Vergonha corporal externa, que avalia a perceção de que os outros avaliam
negativamente o indivíduo com base na sua imagem corporal (e.g., “Sinto-me
desconfortável em situações sociais (por exemplo, jantares, festas) porque
sinto que me podem criticar por causa da minha forma física.”); Vergonha
corporal interna, focada em autoavaliações negativas baseadas na imagem
corporal (e.g., “Quando vejo o meu corpo ao espelho, sinto-me uma pessoa
defeituosa”). Os participantes são solicitados a responder aos itens numa
escala de 5 pontos (de 0 = “Nunca” a 4 = “Quase sempre”). No presente estudo
foi utilizado o total da escala, calculado através do somatório das pontuações
do total dos itens, em que resultados mais altos são indicadores de níveis mais
elevados de vergonha em relação à imagem corporal. A BISS tem revelado boas
qualidades psicométricas em amostras da população masculina (Duarte & Ferreira, 2017). No presente
estudo, a BISS revelou boa consistência interna com um alfa Cronbach de 0,95.
Inflexible Eating Questionnaire (IEQ; Duarte,
Ferreira, Pinto-Gouveia, Trindade, & Martinho, 2017). O IEQ é uma
medida composta por 11 itens que avaliam a inflexibilidade psicológica em
relação ao padrão alimentar (e.g., “Fico preocupado quando não cumpro, mesmo
que só ocasionalmente, as minhas regras alimentares.”). Os
participantes são solicitados a assinalar a sua concordância utilizando uma
escala de resposta de 5 pontos (de 1 = “Discordo totalmente” a 4 = “Concordo
totalmente”), com resultados mais elevados a indicarem um padrão de maior
inflexibilidade em relação às regras alimentares. O IEQ tem apresentado boas
qualidades psicométricas, demonstrando boa consistência interna em amostras da
população masculina (α de Cronbach
= 0,90) (Duarte et al., 2017). No presente estudo
esta medida apresentou um alfa de Cronbach de 0,91.
Procedimentos
O
procedimento relativo ao desenvolvimento da versão portuguesa da MBAS-R foi
conduzido com base nas guidelines internacionais e de acordo com o
método translate – translate back (Hill & Hill, 2008).
Assim, num primeiro momento, os itens da versão original em inglês foram
traduzidos para português europeu por dois investigadores fluentes na língua
inglesa e com conhecimentos sólidos na área da psicologia e da psicopatologia.
Num segundo momento, esta versão portuguesa foi submetida a retroversão por um
nativo da língua inglesa, com fluência na língua portuguesa. Finalmente, foi
verificada a coerência da tradução dos itens e desenvolvida a versão final dos
itens (ver Tabela 1).
Este
estudo respeitou todas as normas éticas e os princípios deontológicos inerentes
à investigação em psicologia, nomeadamente na recolha da amostra e tratamento
dos dados. Após parecer favorável da Comissão de Ética e Deontologia da
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, a
recolha de amostra foi realizada pelo método de amostragem exponencial
não-discriminante de bola-de-neve. Foram endereçados convites a contactos dos
investigadores, via email e através da rede social Facebook, aos
quais foi solicitado a partilha por dois ou mais dos seus contactos. No convite
à participação no estudo foi incluída informação acerca do estudo, o caráter
voluntário e anónimo da participação e a confidencialidade dos dados obtidos e,
ainda, os critérios de inclusão (sexo masculino, idades superiores a 18 anos, e
nacionalidade portuguesa). Este convite online incluía um link
que direcionava para a versão online do protocolo (na plataforma “LimeSurvey”)
após a obtenção do consentimento informado por escrito.
Estratégia Analítica
Análises
Fatoriais Confirmatórias (AFC), com recurso ao software AMOS (v. 21; Analysis
of a Moment Structures, SPSS Inc. Chicago, IL), foram conduzidas para testar a
adequação da estrutura da MBAS-R com três e dois fatores/subescalas. O método
de estimação do modelo utilizado foi o Método de Máxima Verosimilhança. O
recurso a esta estratégia analítica deve-se ao facto de trabalhos anteriores
terem indicado a plausibilidade tanto da solução com três fatores como com dois
fatores (com a eliminação da subescala altura) (e.g., Ryan et
al., 2011).
A
qualidade global da AFC foi analisada através o teste de qui-quadrado (χ2), no entanto e visto que teste estatístico é
extremamente sensível ao tamanho da amostra (Schermelleh-Engel,
Moosbrugger, & Müller, 2003), foram igualmente selecionados outros
indicadores recomendados relativamente independentes ao tamanho da amostra (Floyd & Widaman, 1995): Qui-quadrado normativo (CMIN/gl);
Comparative Fit Index (CFI); Tucker-Lewis Index (TLI),
Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA). Considerou-se
que valores de CFI e TLI entre 0,90 e 0,95 indicam um ajustamento adequado e
valores superiores a 0,95 são indicadores de muito bom ajustamento dos dados (Brown, 2006; Kline, 2005). Em relação ao
RMSEA, considerou-se um intervalo de confiança com 90%, valores iguais
ou inferiores a 0,08 são indicadores de bom ajustamento, e iguais ou inferiores
a 0,10 de um ajustamento marginal (Arbuckle, 2008; Byrne, 2010; Hair, Black, Babin, &
Anderson, 2010).
Na
análise da qualidade do ajustamento local do modelo foram examinados os pesos
fatoriais (≥ 0,40; Tabachnick & Fidell, 2007) e a
fiabilidade individual dos itens (R2 ≥ 0,25; Marôco,
2010).
Para
o estudo da qualidade dos itens foram utilizadas estatísticas descritivas (média
e desvio-padrão) e análises de correlação entre cada item e a respetiva
subescala, e com o total da MBAS-R. De acordo com as recomendações foram
consideradas como aceitáveis correlações item-total (subescala e escala total)
acima de 0,30 (Field, 2013). A consistência interna das
subescalas e total da MBAS-R foi analisada através do alfa de Cronbach,
considerando-se bons indicadores valores acima de 0,70 (Field,
2013). Foram, ainda, examinadas correlações de Pearson entre a MBAS-R
(total e subescalas) e outras medidas de interesse (Cohen,
Cohen, West, & Aiken, 2003). Estas análises foram conduzidas com
recurso ao software IBM SPSS Statistics (v. 21 SPSS; Armonk, NY: IBM
Corp.).
RESULTADOS
Estrutura
Fatorial
No Modelo
1 (três fatores: massa muscular, massa gorda e altura), os resultados da AFC
demonstraram a inadequação do modelo, revelando um χ2
significativo (χ2(87) = 373,507;
p < 0,001), e valores inaceitáveis
nos restantes indicadores de ajustamento (CMIN/gl = 4,29; CFI = 0,84; TLI = 0,81; RMSEA = 0,12; I.C. 90% [0,11 – 0,14]). A análise dos índices de modificação
indicou a pertinência de correlacionar os erros dos pares dos item-8 e item-9,
e item-5 e item-6, assim como do par do item-4 e item-7. A correlação entre
estes erros é ainda suportada pela semelhança da construção gramática (entre o
item-8 e item-9 e o item-5 e item-6), visto que os dois pares de itens começam
de forma muito semelhante, e o par entre de item-4 e item-7 dado o conteúdo
avaliado. Este procedimento resultou num melhoramento da qualidade do modelo
(CMIN/gl = 2,60; CFI = 0,84; TLI = 0,81; RMSEA = 0,12; I.C. 90% [0,11 –0,14]), embora os dados revelem ainda um ajustamento
não adequado deste modelo aos dados. Relativamente à qualidade de ajustamento
local do modelo 1, verificou-se que todos os itens apresentam pesos fatoriais
maiores ou iguais a 0,36 (item 15) e inferiores a 0,93 (item 13) e um R2 entre 0,13 (item 15) e
0,87 (item 13). Os resultados confirmaram a fiabilidade de todos os itens, com
exceção do item 15, o qual apresenta fraca fiabilidade individual (R2 < 0,25; Marôco, 2010).
No Modelo
2, a análise do ajustamento global da medida constituída por 12 itens e pelas
respetivas subescalas massa muscular e massa gorda, indicou o ajustamento
adequado aos dados (CMIN/gl = 2,51; CFI = 0,95; TLI = 0,94; RMSEA = 0,08; I.C. 90% [0,07 – 0,10]). Na análise do ajustamento local
verificou-se que todos os itens apresentaram pesos fatoriais adequados, entre
0,47 (item 7) e 0,95 (item 11), isto é, superiores ao ponto de corte
recomendado (0,40; Tabachnick & Fidell, 2007). A fiabilidade
dos itens foi igualmente confirmada pelos valores de R2, os quais variaram entre 0,37 (item 4) e 0,90 (item
11) (R2 ≥ 0,25; Marôco, 2010) (Tabela 1).
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TABELA 1 Estrutura
final da versão portuguesa da MBAS-R, médias, desvio-padrão e correlação
entre os itens e o total das respetivas subescalas e escala total (N = 222) |
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Itens |
M
(DP)
|
r item-total
subescala
|
r item-total escala |
|
|
Subescala Massa
Muscular |
|
|
|
|
|
1. Eu acho que o
meu corpo é pouco musculado |
3,04 (1,04) |
0,81*** |
0,60*** |
|
|
2. Eu acho que as
minhas pernas não são suficientemente musculadas |
2,60 (1,16) |
0,75*** |
0,51*** |
|
|
3. Eu acho que os
meus braços deveriam ser mais musculados |
3,20 (1,05) |
0,77*** |
0,58*** |
|
|
4. Eu sinto-me
envergonhado em relação à minha massa muscular |
1,99 (1,05) |
0,71*** |
0,67*** |
|
|
5. Eu acho que as
minhas costas deveriam ser mais musculadas (i.e., mais largas) |
2,58 (1,07) |
0,77*** |
0,48*** |
|
|
6. Eu acho que o meu
peito (i.e., músculos peitorais) deveria ser mais musculado |
2,86 (1,16) |
0,79*** |
0,50*** |
|
|
7. Eu sinto-me satisfeito com a massa muscular do meu corpo (*) |
3,20 (0,98) |
-0,60*** |
-0,54*** |
|
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Subescala Massa Gorda |
|
|||
|
8. Eu acho que meu corpo deve ser mais magro (i.e., mais seco) |
2,66 (1,40) |
0,86*** |
0,62*** |
|
|
9. Eu acho que tenho demasiada gordura no meu corpo |
2,50 (1,29) |
0,90*** |
0,71*** |
|
|
10. Comer doces, bolos, ou outros alimentos muito
calóricos faz-me sentir gordo |
2,17 (1,26) |
0,81*** |
0,63*** |
|
|
11. Eu sinto-me excessivamente gordo |
1,83 (1,19) |
0,91*** |
0,74*** |
|
|
12. Ver o meu reflexo (no espelho ou num vidro) faz-me
sentir mal com a minha gordura corporal |
1,91 (1,16) |
0,87*** |
0,76*** |
|
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Nota. (*) = Item invertido. |
|
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Os resultados obtidos nas análises fatoriais confirmatórias revelaram a
adequação da estrutura com 2 fatores/subescalas, com a eliminação da subescala
altura (i.e., dos itens 13, 14 e 15) para a versão portuguesa da MBAS-R. A decisão
da eliminação destes itens e respetiva subescala foi ainda corroborada pela
análise dos valores da correlação entre estes itens e o total da escala (item
13: “Eu desejava ser mais alto” =
0,40; item 14: “Eu sinto-me satisfeito
com a minha altura” = -0,24; item 15: “Eu
sinto vergonha da minha altura” = 0,35). Análises posteriores relativas às
propriedades psicométricas da versão portuguesa da MBAS-R serão avaliadas para
a versão com 12 itens (dois fatores/subescalas).
Análise dos itens e consistência interna
O
estudo das características dos 12 itens que constituem a versão portuguesa da
MBAS-R foi realizado através de análises descritivas (média e desvio-padrão) e
de correlação entre cada item e a respetiva subescala, e com a escala total (Field, 2013; Tabachnick & Fidell,
2007). Os resultados permitiram verificar que todos os itens apresentam
correlações item-subescala iguais ou superiores a -0,60 (item 7) e item-total
da escala iguais ou superiores a 0,50 (item 6), indicando que os itens
contribuem consistentemente para a respetiva subescala e para a medida global
(Tabela 1). O coeficiente de alfa de Cronbach obtido para a escala total (α = 0,87) é indicador de uma boa consistência
interna (Field, 2013; Tabachnick
& Fidell, 2007). Em relação às duas dimensões teóricas que a compõem,
verificou-se igualmente uma adequada consistência interna: 0,87 para a
subescala Massa Muscular e 0,92 para a subescala Massa Gorda.
Validade convergente
O
estudo da validade convergente da versão portuguesa da MBAS-R foi realizado
através de correlações de Pearson entre o seu total e subescalas e medidas de
vergonha externa (OAS 2), vergonha corporal (BISS), e inflexibilidade em
relação ao padrão alimentar (IEQ).
Os
resultados (Tabela 2) demonstraram associações positivas,
com magnitudes de baixas a moderadas, entre MBAS-R total e subescalas e a
medida de vergonha externa (OAS 2). Em relação à medida de vergonha corporal
(BISS) verificou-se uma associação positiva forte tanto com a MBAS-R total,
como com a subescala massa gorda, e moderada com a subescala massa muscular. No
que concerne à inflexibilidade alimentar (IEQ), os resultados revelaram
associações positivas com magnitudes moderadas com a escala total e subescala
massa gorda, e com magnitude fraca com a subescala massa muscular. Finalmente,
o IMC apresentou associações positivas com a MBAS-R total e a subescala massa
gorda (com magnitudes moderada e forte, respetivamente) e uma associação
negativa e fraca com a subescala massa muscular.
|
TABELA 2 Correlações
entre MBAS-R total e subescalas e outras medidas de interesse (N = 222) |
|
||||
|
MBAS-R |
OAS 2 |
BISS |
IEQ |
IMC |
|
|
Total |
0,32*** |
0,64*** |
0,38*** |
0,29*** |
|
|
SMM |
0,26*** |
0,38*** |
0,18** |
-0,14* |
|
|
SMG |
0,22*** |
0,62*** |
0,43*** |
0,58*** |
|
|
Nota. MBAS-R Total e subescalas = Male Body
Attitudes Scales-Revised; SMM = Subescala Massa Muscular; SMG = Subescala
Massa Gorda; OAS 2 = Others as a Shamer-short version; BISS = Body
Image Shame Scale; IEQ = Inflexible Eating Questionnaire; IMC = Índice
de Massa Corporal. *p < 0,05; ** p < 0,01; *** p <
0,001. |
|
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A literatura documenta que a imagem corporal é uma dimensão
importante para a auto e heteroavaliação na população do sexo masculino (McCabe & Ricciardelli, 2001) com impacto significativo
em diferentes indicadores de psicopatologia (Calogero, 2009;
Dakanalis & Riva, 2013; Dakanalis et al., 2015; Sepúlveda
et al., 2016). Diversos autores salientam, no entanto, a inadequação do uso
de medidas desenvolvidas para as mulheres para a compreensão da vivência da
imagem corporal em homens (e.g., Cafri & Thompson,
2004; McCabe & Ricciardelli, 2001; Ridgeway & Tylka, 2005; Ryan et al.,
2011). Neste contexto, Tylka et al. (2005)
desenvolveram a Male Body Attitudes
Scales (MBAS) que visa medir as preocupações e as atitudes masculinas em
relação à aparência física. Posteriormente, Ryan et al. (2011),
tendo em vista a superação das limitações apontadas a esta escala,
desenvolveram uma versão revista (MBAS-R - Male
Body Atitudes Scales-Revised).
Embora a MBAS-R tenha revelado ser uma medida robusta, fidedigna e útil (Ryan et al., 2011), os autores desta medida recomendam a
análise da validade e utilidade deste instrumento em línguas diferentes da
língua inglesa, assim como da adequação da sua estrutura fatorial através de
metodologias estatísticas robustas. Assim, o presente estudo teve como
objetivos: (1) desenvolver a versão portuguesa da MBAS-R; (2) testar a
adequação da estrutura com três e duas subescalas; e (3) examinar as suas
qualidades psicométricas numa amostra de homens da população geral portuguesa.
Em relação ao primeiro objetivo, no processo de tradução e
adaptação da MBAS-R foram seguidas as diretrizes recomendadas de modo a minimizar
os erros de tradução/adaptação e a garantir que deste processo resultasse uma
versão portuguesa equivalente à medida original (Hill &
Hill, 2008).
No que concerne à estrutura fatorial da MBAS-R, e atendendo
aos dados da literatura acerca da MBAS (Blashill &
Vander Wal, 2009; Sepúlveda et al., 2016; Tylka et al., 2005), foram testados dois modelos distintos:
Modelo 1, com três fatores (massa muscular, massa gorda e altura); e Modelo 2,
com dois fatores (massa muscular e massa gorda) através de uma série de
análises fatoriais confirmatórias. Os resultados das AFC do presente estudo dão
suporte unicamente à estrutura de dois fatores, composta pelas subescalas
referentes à avaliação da insatisfação acerca da massa muscular e da massa
gorda. Estes resultados da versão portuguesa da MBAS-R são consistentes com os
dados obtidos na validação da versão da MBAS para a língua espanhola para a
população adolescente, os quais suportam a eliminação da subescala altura (Sepúlveda et al., 2016). Adicionalmente, os resultados do
presente estudo são congruentes com Ryan et al. (2011) que
apontaram as limitações do uso desta subescala altura e com Blashill e Vander
Wal (2009) que mostraram que o modelo da MBAS
composto pelas duas subescalas (massa muscular e massa gorda) apresenta uma
adequação mais forte, comparativamente à versão original de três subescalas. Em
síntese, os resultados indicaram a adequação da versão portuguesa da MBAS-R,
constituída por 12 itens divididos em duas dimensões (massa muscular e massa
gorda).
Os valores de alfas de Cronbach da versão portuguesa da
MBAS-R obtidos tanto para a escala total como para as subescalas massa muscular
e massa gorda são indicadores de boa consistência interna e similares aos
reportados por Ryan et al. (2011).
De modo a confirmar a validade e a utilidade da escala para
avaliar a insatisfação com a imagem corporal em homens, foram exploradas as
associações entre a MBAS-R total e subescalas e medidas de vergonha externa,
vergonha corporal e de inflexibilidade psicológica em relação à alimentação. Os
resultados mostraram que a insatisfação corporal nos homens, avaliada pela
MBAS-R, se associa positivamente a sentimentos de vergonha e sentimentos de
inferioridade. Estes resultados parecem suportar dados de estudos prévios que
documentam uma associação, tanto em amostras do sexo masculino como feminino,
entre insatisfação com a imagem corporal e um sentimento geral de
desvalorização e de inferioridade (Duarte & Pinto-Gouveia,
2016). Tal como esperado, esta associação é mais forte quando estes
sentimentos de inadequação e inferioridade são percecionados como baseados na
imagem corporal dos participantes, tal como avaliado pela Body Image Shame Scale. Adicionalmente, os resultados revelaram que
graus mais elevados de insatisfação corporal (MBAS-R) se associam a maior
inflexibilidade em relação às regras alimentares. Embora este seja o primeiro
estudo que explora a relação entre insatisfação com a imagem corporal e a adoção
de regras rígidas em relação ao plano alimentar em homens, os dados deste
estudo parecem corroborar que uma apreciação negativa da aparência física tende
a associar-se a atitudes e comportamentos alimentares maladaptativos (Calogero, 2009; Dakanalis &
Riva, 2013; Dakanalis et al., 2015; Sepúlveda et al., 2016; Smith et al.,
2011).
No sentido de clarificar a relação entre peso corporal e
insatisfação com a imagem corporal na população do sexo masculino foram
exploradas as relações entre IMC e o total e subescalas da MBAS-R. Os dados
obtidos revelam que os homens que com IMC superiores tendem a reportar níveis
globais de insatisfação corporal e particularmente graus mais altos de
insatisfação em relação à sua massa gorda. No entanto, foi observada uma
relação negativa entre IMC e apreciação da massa muscular, isto é, sujeitos com
IMCs mais baixos tendem a reportar níveis superiores de insatisfação em relação
à massa muscular e desejo de ganhar massa corporal. Estes resultados parecem
corroborar que na população do sexo masculino não existe uma relação linear
positiva entre IMC e insatisfação com a imagem corporal, em contraste com o que
é encontrado em amostras do sexo feminino (Dakanalis
& Riva, 2013; Yean et al., 2013).
Este estudo parece ser um importante contributo para o
desenvolvimento e validação de medidas para o estudo da imagem corporal na
população masculina. No entanto os resultados apresentados devem ser
interpretados tendo em conta algumas limitações. De facto, este é o primeiro
estudo que examina a validade da versão portuguesa da MBAS-R, sendo
recomendável que estudos futuros comprovem a adequação da sua estrutura
fatorial e da qualidade dos itens em diferentes amostras da população masculina
de língua portuguesa. Futuras investigações poderão, ainda, analisar o
comportamento desta escala em amostras masculinas específicas (por exemplo, em
adolescentes). Outra limitação importante, diz respeito ao facto deste estudo
não analisar a validade temporal desta medida. Trabalhos futuros deverão assim
examinar a estabilidade temporal das dimensões avaliadas pela MBAS-R.
Adicionalmente, e não obstante a fraca adequação da subescala altura ter sido
apontada por estudos prévios (Blashill & Vander
Wal, 2009; Tylka et al., 2005), futuros estudos
deverão clarificar se as limitações associadas a esta subescala (mais
especificamente, a fraca adequação da subescala altura e o fraco comportamento
dos itens dessa dimensão, traduzido pelos valores baixos de correlação com o
total da escala) se devem ao número e/ou qualidade dos itens utilizados para
avaliar esta dimensão ou se os resultados obtidos são intrínsecos ao constructo
de altura e à fraca relação entre esta dimensão e a vivência de insatisfação
corporal na população masculina.
Em conclusão, este estudo demonstra que a versão portuguesa
da MBAS-R, constituída por 12 itens, é uma medida breve, válida e com boas
qualidades psicométricas para avaliar a insatisfação com a imagem corporal no
sexo masculino e contribui para colmatar a lacuna existentes no estudo desta
dimensão, dos seus correlatos e impacto psicossocial na população do sexo
masculino.
Conflito de interesses: Nenhum.
Fontes de financiamento: Nenhuma.
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ⓘ PhD. Contribuiu para a revisão da
literatura, tratamento e discussão dos dados e para a redação do manuscrito. CINEICC,
Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção
Cognitivo-Comportamental da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
da Universidade de Coimbra, Portugal.
ⓘ Estudante PhD. Contribuiu para a obtenção e adaptação do instrumento de
medida e para a revisão da redação final do manuscrito. CINEICC, Centro de
Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental da
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra,
Portugal.
ⓘ ScM. Contribuiu para o tratamento dos dados e para a redação do
manuscrito. CINEICC, Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção
Cognitivo-Comportamental da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
da Universidade de Coimbra, Portugal.
ⓘ Psy. Contribuiu para a recolha e inserção dos dados para análise
estatística para a revisão da literatura. CINEICC, Centro de Investigação em
Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental da Faculdade de
Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Portugal.